Pe. Wladimir Porreca, assessor nacional da Pastoral Familiar
da CNBB
Pe. Wladimir Porreca*
BRASILIA, sexta-feira, 17 de
agosto de 2012 (ZENIT.org) - Hoje, o mercado do trabalho obriga não poucas
pessoas, principalmente se são jovens e mulheres, as situações de incerteza
constante, impedindo-os de trabalhar com a estabilidade e segurança econômica e
social. Impondo “regras” individualistas e egoístas as gerações mais jovens na
formação de uma família, e às famílias, a geração e a educação dos seus filhos.
O trabalho é o gesto de justiça
com que as pessoas participam no bem da sociedade e contribuem para o bem
comum.
A oportuna “flexibilidade” do
trabalho, exigida pela chamada “globalização”, não justifica a permanente
precariedade de quem tem na sua única “força trabalho” o recurso para assegurar
para si mesmo e para a sua família o necessário para viver. Previdências
sociais e mecanismos de proteção adequados devem fazer parte da economia do
trabalho, a fim de que sobretudo as famílias que vivem os momentos mais
delicados, como a maternidade, ou mais difíceis, como a enfermidade e o
desemprego, possam contar com uma razoável segurança econômica.
Os ritmos de trabalho
contemporâneos, estabelecidos pela economia consumista, limitam até quase
anular os espaços da vida comum, sobretudo em família.
O perigo de que o trabalho se
torne um ídolo é válido também para a família que esquece de Deus, deixando-se
absorver completamente pelas ocupações mundanas, na convicção de que nelas se
encontra a satisfação de todos os seus desejos. Isto acontece quando a
atividade de trabalho detêm o primado absoluto das relações familiares e quando
ambos os cônjuges buscam apenas o lucro econômico e depositam a sua felicidade
unicamente no bem-estar material.
O justo equilíbrio de trabalho
exige que todos os membros da família tenham discernimento acerca das opções
domésticas e profissionais: no trabalho doméstico, todos os membros da família
são convidados a colaborar, e não somente as mulheres e a atividade
profissional não diminua o relacionamento familiar. Infelizmente, atualmente, a
ideologia do lucro e do consumo impedem muitos membros da família a buscarem,
com sabedoria e harmonia, o equilíbrio entre trabalho e família. A condição da
vida humana prevê para a família cansaço e dor, sobretudo no que diz respeito
ao trabalho para o próprio sustento. No entanto, o cansaço derivado do trabalho
encontra sentido e alívio quando é assumido não para o enriquecimento egoísta
pessoal, mas sim para compartilhar os recursos de vida na lógica cristã, dentro
e fora da família, especialmente com os mais pobres.
No que se refere aos filhos, às
vezes os pais “pecam“ ao evitar que os filhos enfrentem qualquer dificuldade.
Pois, essa prática pode tornar os filhos incapazes de assumirem num futuro
próximo suas responsabilidades. Aos pais e filhos deve-se sempre recordar que a
família é a primeira escola de trabalho e gratuidade, onde se aprende a ser
responsável por si mesmo e pelos outros.
A vida familiar, com as suas
tarefas domésticas, ensina a apreciar o cansaço e a fortalecer a vontade em
vista do bem-estar comum e do bem recíproco.
Precisamos promover políticas
públicas e sociais que coloquem no centro o ser humano e salvaguardem a criação
para garantir a dignidade humana/ familiar e o justo equilíbrio do trabalho na
vida familiar.
Além é claro de uma atenção aos
pobres, uma dimensão da família saudável, que é uma das mais bonitas formas de
amor ao próximo, que uma família possa viver. Saber que mediante o próprio
trabalho se ajuda aqueles que não dispõem do que lhes é necessário para viver,
fortalece o compromisso e sustêm no cansaço. E mais ainda quando a família se
empenha com a promoção da justiça social colaborando para que as políticas
públicas tenham como centro a pessoa humana desde do início ao fim natural da
sua vida.
Dessa forma a família se torna um
sinal de contradição da propriedade egoísta da riqueza e da indiferença pelo
bem comum.
Os membros da família ainda são
convidados a oferecer aquilo que possuem a quantos nada têm, compartilhar com
os pobres as próprias riquezas, procurando reconhecer que tudo o que recebemos
é graça, e que na origem da nossa prosperidade existe um dom de Deus, que não
pode ser conservado para nós mesmos, mas há de ser dividido com os outro.
*Dr. Pe. Wladimir Porreca é padre da Diocese de São João da Boa
Vista/SP, psicoterapeuta e doutor em psicologia(USP) e serviço social (UNESP)
e pesquisador da temática Família.
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