Reflexões espirituais
de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará
Dom Alberto Taveira
Corrêa
BELEM DO PARÁ, segunda-feira, 6
de agosto de 2012 (ZENIT.org) - Dirijo-me hoje, com grande alegria no coração,
a todos os homens que receberam a graça da paternidade, participação misteriosa
e sempre carregada de surpresas no ato criador de Deus. Com as mulheres, mães
com as quais geraram vidas, vocês são indispensáveis à continuação da espécie
humana sobre a terra, e mais ainda indispensáveis para serem imagens do Pai do
Céu, a quem chamamos de “Pai nosso”.
Em cada homem que se fez pai,
quero saudar o exercício sadio da masculinidade, agradecendo-lhes pela vocação
que Deus lhes confiou de serem personalidades carregadas de força e ao mesmo
tempo de grande ternura. A todos peço
para valorizarem o dom de conquistarem sadiamente o maravilhoso mundo feminino,
presente no recesso do lar que Deus lhes concedeu. Se casados há pouco ou muito
tempo, não importa, suplico a Deus para todos os esposos a graça de
redescobrirem o namoro permanente, feito de olhares e carinhos, surpresas e
gestos gratuitos de atenção. A vocês foi entregue a tarefa de serem testemunhas
do amor misericordioso do “Pai nosso”.
Tomo a liberdade de entrar na
casa daqueles homens que são pais, mas ainda não descobriram a beleza de um
Sacramento feito para o homem e a mulher que se amam. De fato, o Matrimônio é
graça de Deus, do mesmo modo que o Batismo, a Crisma, a Eucaristia e outros
Sacramentos. Ele é um presente de Deus, não instituído para dar mais ou menos
sorte a quem quer que seja, mas para transformar o casal que o recebe num sinal
do amor de Cristo e da Igreja. Serve para que você, pai, aponte, com sua vida e
seu amor, para aquele que, sendo “Pai nosso”, quer ser servido e amado por
todos os homens e mulheres. Você é chamado a se casar na Igreja!
Sei que há muitos pais que
perderam filhos ou filhas e não os esqueço, como o “Pai nosso” não os esquece.
Trata-se algo muito sério, pois relembro muitos homens aos quais me foi dada a
graça de ajudar em momentos dolorosos. Quantas lágrimas correm de rostos enrijecidos
pelas lutas da vida, quando o sofrimento bate à porta. Se palavras muitas vezes
são insuficientes para consolá-los e às suas esposas e famílias, aceitem a
presença da Igreja, que quer, mesmo no silêncio, dizer-lhes que não estão sós.
Desfrutem a companhia da Comunidade católica, com a qual vocês, pais da terra,
podem rezar o “Pai nosso”.
Queridos pais, muitas vezes suas
mãos calejadas, ou os rostos cansados, os passos corridos de quem vai para o
trabalho, uniformes ou ternos, empregos formais ou não, foram usados como sinal
do que vocês representam, a força de trabalho na sociedade. Ainda que tantas
mulheres tenham trabalho, cargos e responsabilidades fora de casa, vocês são
vistos como os provedores das famílias. E o provedor “providencia” e acaba muito
parecido com aquele que é o Senhor da Providência, a quem pedimos o pão de cada
dia, quando rezamos o “Pai nosso”. Em nome da Igreja, reconheço todo o bem que
fazem, o valor de seus esforços, sua labuta, seu cansaço, seu desejo de
melhores condições de vida para suas famílias.
Dirijo-me agora aos pais que
fazem muito e falam pouco, cuja dedicação e consciência são pouco conhecidas
aos olhos humanos, mas patentes aos olhos de Deus. Vocês não são esquecidos por
Deus nem pela Igreja. Desejo que Deus os faça superar a timidez e os ajude a se
introduzirem mais e mais na vida das comunidades cristãs. Ajudem-nos a sermos
bem realistas em nossas decisões. Ajudem seus filhos, sem se omitirem na hora
da correção. Mostrem o rumo, pois esta é a graça própria da paternidade. Afinal
de contas, o “Pai nosso” quis contar com vocês!
Conheço também muitos homens que
não experimentaram a fecundidade e por um motivo ou outro não tiveram filhos.
Muitos de vocês deram um passo bonito, junto com suas esposas, assumindo filhos
dos outros, através da adoção. Outros se tornaram pais de muitos outros, com
sensibilidade social apurada, ajudando a quem precisa. Com todos estes homens,
podemos dizer “Pai nosso”, porque na fecundidade do Pai do Céu cada um pode
encontrar seu modo de fazer o bem e participar de seu amor infinito.
Lanço agora meu olhar para os que
ainda não são pais, mas querem sê-lo, os jovens ou adultos que se sentem
chamados ao casamento e à fecundidade do matrimônio. Lembrem-se de que esta é
uma vocação, um chamado, uma graça de Deus a ser acolhida e vivida com alegria.
Não tenham medo das responsabilidades! Busquem o casamento e a família e não
aventuras fortuitas. Saibam preparar-se bem para se realizarem na participação
do mistério do “Pai nosso”.
Enfim, há homens que foram
chamados a outro tipo de paternidade, pois Deus lhes concedeu a graça de serem
pais da grande família de seus filhos na Igreja. São tão importantes que nós os
chamamos “padres”, mais fecundos do que qualquer pai de família. A eles
agradeço por nos ensinarem a rezar o “Pai Nosso” e por gerarem os filhos de
Deus pela Palavra e pelos Sacramentos.
Com todos os pais no dia que lhes
é dedicado, qualquer que seja sua idade ou situação, fazemos o que existe de
melhor, rezando juntos: “Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o
vosso nome, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso
de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas
livrai-nos do mal”.
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