"Todas as nações cantam as vossas glórias, ó Maria: hoje fostes exaltada acima dos anjos e triunfais com Cristo para sempre" (Antífona da Entrada da Vigília)
Leituras: Ap 11,19;12,1.3-6.10; Sl 44(45),10bc.11.12ab.16 (R/. 106); 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56
A fé na Assunção de Maria é professada tanto
pelos cristãos católicos quanto pelos ortodoxos. É a festa da elevação de Nossa
Senhora em corpo e alma ao céu para participar da glória celestial, reservada
aos santos e justos que viveram conforme os ensinamentos do Senhor. Essa
afirmação foi definida como dogma pelo Papa Pio XII, em 1º de novembro de 1950,
através da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus (que quer dizer: O
mais generoso Deus). É uma festa com caráter de solenidade, que também é
chamada pelos orientais de “Dormição de Nossa Senhora”, uma vez que ela não
morre, mas dorme e é levada ao céu de corpo e alma.
Na referida Constituição, o Papa
afirma que a Assunção de Maria não foi uma necessidade lógica, mas um dom
divino a Maria, como mãe de Jesus. Podemos, no entanto, perceber que ela,
Maria, se torna uma referência à ressurreição final, àquilo que deve acontecer
a todos os cristãos, seguidores e proclamadores de Cristo, do bem e da verdade.
A definição do dogma de forma solene se deu
nas seguintes palavras: "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas
súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de
Deus onipotente que à Virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para
honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte,
para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a
Igreja, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados
apóstolos São Pedro e São Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e
definimos ser dogma divinamente revelado que: a Imaculada Mãe de Deus, a sempre
virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma
à glória celestial". (§44 da Constituição Apostólica)
O Papa Bento XVI, no dia 15 de
agosto de 2011, falando sobre a solenidade, diz que é um dia especial para
admirar e louvar pelas grandes coisas que o Onipotente, por meio da Virgem
Maria, fez e operou. O Papa destacou, ainda, que Maria indica um caminho e uma
meta que podem e devem se tornar, de qualquer modo, o nosso mesmo caminho e a
nossa mesma meta. Acrescenta que Maria é a Arca da Aliança do Novo Testamento,
porque acolheuem si Jesus; acolheu em si a Palavra vivente, todo conteúdo da
vontade de Deus, da verdade de Deus; acolheuem si Aqueleque é a nova e eterna
Aliança, culminando com a oferta de seu corpo e do seu sangue: corpo e sangue
recebidos de Maria, enfatiza.
Neste ano em curso, no último dia
15, ainda recordou o Papa Bento XVI: “Esta verdade de fé era conhecida pela
Tradição, afirmada pelos Padres da Igreja, e era, sobretudo, um aspecto
relevante do culto rendido à Mãe de Cristo. O elemento cultual constitui, por
assim dizer, a força motora que determinou a formulação deste dogma: o dogma
parece um ato de louvor e de exaltação em relação à Virgem Santa. Este emerge
também do próprio texto da Constituição Apostólica, onde se afirma que o dogma
é proclamado “em honra ao Filho, para a glorificação da Mãe e a alegria de toda
a Igreja”.
Vale ressaltar que todos os
feitos realizados na vida de Maria são consequências de sua maternidade divina,
eles existem porque Maria aceitou ser a mãe do Filho de Deus. Portanto, o que a
Ela se refere também se refere a Deus, que nela tudo realizou, como saiu de sua
própria boca no canto do Magnificat: “O Senhor fez em mim maravilhas, santo é o
seu nome”. Recordar toda a obra da vida de Maria é recordar a ação de Deus na
vida de seus eleitos, bem como recordar sua força e poder agindo em favor e
pelo bem de toda a humanidade, restaurada e readquirida no sangue do Cordeiro.
Maria se torna protótipo, modelo da nova humanidade, onde a ação de Deus se faz
visível e opera com toda a sua eficácia. Também esta dimensão o Papa ressalta
quando diz: "também nós somos destinados a esse imenso amor que Deus
reservou, e é Maria quem indica, com luminosa clareza, o caminho em direção à
verdadeira casa, aquela na qual é possível viver a comunhão da glória e da paz
com Deus.
Deus, em sua infinita bondade e
misericórdia, nos destina para a felicidade eterna, aquela que Ele mesmo goza.
Essa felicidade acontece à medida que somos capazes de realizar a finalidade a
que viemos. Todos temos o mesmo objetivo: participar da glória eterna, da visão
beatífica de Deus, nos céus, pela eternidade, e aí está a nossa felicidade
plena e inigualável.
Maria é modelo desta felicidade e
testemunha fiel da beatitude dos santos, aqueles que tiveram suas vestes
lavadas e alvejadas no sangue do Cordeiro.
Maria é, pois, a mais bela de
todas as mulheres, pois são as virtudes que embelezam o corpo. O pecado só descaracteriza
a beleza da criação, criada à imagem e semelhança de seu Criador.
Que olhando para Maria, para sua
vida de total dedicação e obediência a Deus, possamos viver as virtudes e
receber as graças de Deus para que nossa alma cresça sempre mais no amor, no
conhecimento e na contemplação de nosso amado Deus, e assim possamos revelar ao
mundo os sinais de sua bondade e de sua salvação. Que Maria nos ajude a chegar
às alturas, a buscar as coisas do alto onde está Deus, a elevarmos nossa
dignidade tal qual Ele nos garantiu quando, tornando-se opróbrio entre os
homens e oferecendo sua vida na mais humilhante forma de morte na cruz,
devolveu à humanidade a dignidade ferida
pelo pecado.
Que Nossa Senhora nos auxilie com
sua intercessão para que também nós possamos contemplar a glória dos céus, na
eternidade, onde está Cristo, o desejado de nossa alma. Com Ela, com todos os
santos, mártires e bem-aventurados possamos contemplar eternamente a face
Daquele que nos faz subir ao monte santo da eterna adoração – a Jerusalém celeste,
a pátria dos cristãos.
Nossa Senhora da Assunção, rogai
por nós!
† Orani João Tempesta,
O. Cist.
Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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