segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Nossa Senhora do Natal




A reflexão sobre a festa do Natal nos leva a contemplar a figura de Maria a partir de uma ótica ao mesmo tempo divina e histórica e, em ambas, percebemos a beleza de um Deus que não assume apenas a realidade humana, mas também todo um projeto de salvação que envolve todos os homens e todas as mulheres de todos os

tempos. O Natal é, neste sentido, o momento mais importante para nos darmos conta de que Jesus Cristo é o centro da História, tudo converge para ele e tudo encontra, nele, o sentido. É Ele o motivo do Natal porque Ele é Deus que entra na História para dar-lhe luz e sentido profundo.

Um fato, entretanto, nos enternece com a mesma força com que nos faz pensar de maneira mais antropológica. Jesus chega ao mundo e se deixa adorar pela primeira vez nos braços de uma MÃE. É bonito percebermos que a Mãe, na noite de Natal, não é apenas a imagem protetora do Filho recém nascido, ela é, isto sim, o candelabro escolhido pelo Pai para trazer ao mundo a luz da verdade e a própria verdade.

Ao lado de Jesus menino, os pastores e os reis não encontraram anjos, embora os anjos também estivessem lá; mas encontraram José a Maria que enfrentavam as dificuldades reais da vida para serem fiéis aos planos de Deus. Maria, dedicada ao menino, é mãe e é filha, é Rainha e é serva, é pequena e pobre e ao mesmo tempo imensamente feliz! O que é interessante notarmos é que Jesus, centro do Natal é, Ele mesmo, Deus. 

Mas Maria é a primeira e a maior representante da humanidade redimida. Ela não é Deus, mas no centro da História ela está ao lado de Deus. Ali, no presépio existe a mensagem da presença de Deus que se aproxima da humanidade, e o mistério da humanidade que se aproxima de Deus de modo a gerá-lo e protegê-lo, numa relação que assume o grau de uma proximidade tão íntima como a de uma mãe com seu filho. Ela o sabe: “É meu Filho e é meu Deus!”

Quando olhamos para o presépio, observamos Deus que se revela e nesta revelação explicita sinais inequívocos do seu amor pelo ser humano. Ele não está sozinho na gruta de Belém, estão com ele seu pai e sua MÃE. Vínculos por Ele escolhidos para entrar na história com características humanas, culturais, envolvidos num contexto concreto do ponto de vista político, cultural e social. A Nossa Senhora do Natal é o símbolo mais bonito da união real que Jesus veio estreitar conosco, seres humanos.

A pobreza daquele lugar é semelhante a pobreza da nossa condição humana, mas a sua presença naquela gruta é a mensagem de que no âmago da nossa pobreza pessoal, Deus se faz a nossa força e a nossa vida. Lá no presépio, como em nossos corações, é Maria quem nos trás Jesus e, com simplicidade, no-lo dá, de presente, não só na noite de Natal, mas em todos os dias de nossas vidas.

Anselmo Cabral, isga

domingo, 16 de dezembro de 2012

3º DOMINGO DO ADVENTO - ANO C - 16/12/2012


“Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!”. (cf. Fl. 4,4.5).

A Alegria é o tema fundamental deste Terceiro Domingo do Advento, que a antiga liturgia latina chamava de Domingo Gaudete. Quando a esperada vinda está finalmente para se realizar e todos os sinais a confirmam, a esperança e a preparação se transformam em alegria e júbilo. A curto prazo, a perspectiva da vinda transforma-se em antecipação da presença. Por isso o espírito deste domingo é de Alegria, que vem de “Gaudete”, ou seja, “Alegrai-vos”(cf. Fl. 4,4-7). A Alegria que brota do sentimento de viver sempre na presença do Senhor e que assim produz em todos os cristãos não só o sentimento que por si só já deve dizer muito, mas deve produz um novo efeito de vida: o epieikes, ou seja, o bom grado – o cristão não apenas tem alegria, mas é uma alegria para quem o encontra. Isso seria verdade?

Por isso, o Santo Evangelho(Lc 3,10-18), nos ensina que aqueles que acolhem a pregação de João, o Batista, lhe pedem normas de comportamento em vista da vinda do Messias. Essas normas se resumem em uma só palavra: ser gente. O profeta João Batista faz uma pregação muito direta, muito simples e muito objetiva: repartir aquilo que temos. Adverte aos fiscais do governo que devem ser honestos. Para os homens das forças de segurança e do exército de então ensina que não devem molestar as pessoas e contentar-se com o seu soldo. Ser gente para a Sagrada Escritura é viver o Reino de Deus, que deve se realizar no dia a dia de nossas realizações, no chamado cotidiano.

O Profeta João Batista diz que viver o seu código de fé, os seus “sacramentos”, que iluminam a vida de um Profeta mais importante do que ele está no batismo. É um sinal do verdadeiro batismo, que um mais forte do que ele vem administrar: o batismo no Espírito e no fogo: no Espírito, para os justos, que serão impelidos pelo espírito de Deus, transformados em profetas(cf. Jl 3) e santos; no fogo, para os ímpios, que queimarão como o refugo na hora da ceifa. Para o “mais forte” já está a pá na mão para limpar o grão no terreiro.

Meus caros irmãos,

O Evangelho de hoje responde à pergunta que normalmente nasce de um coração arrependido e com boa vontade: “O que devo fazer?” Todos devem fazer-se essa pergunta. Mas cabe a cada um corrigir seu próprio caminho para que se encontre pessoalmente com o caminho do Senhor.

Somos chamados a conversão. Conversão profunda, dinâmica, renovadora, como deu pistas e ensinou João Batista. Reconhecer-se pecador e querer a conversão é reconhecer em Jesus de Nazaré o Messias, que vem na força do Espírito de Deus, repartindo com o convertido o mesmo Espírito Santo.

Por isso Jesus vem no Natal e virá no Juízo final. Durante a primeira vinda, Jesus derrama seu Espírito sobre quantos creram nele. Na segunda vinda, separará o trigo da palha, recolherá o trigo – os bons, que se deixaram fecundar pelo Espírito Santo e produziram furtos de santidade, e queimará a palha – os maus, que se encheram com a própria vontade, estéril para o balanço final. As duas vindas, Natal e Juízo final, são motivo de alegria, tema fortemente presente na Missa de hoje, particularmente nas duas primeiras leituras e no Salmo Responsorial.

Meus irmãos,

Na balança da vida devemos colocar as boas obras e as más inclinações, que são chamados de pecados. Jesus veio para todos. Jesus não quer excluir ninguém, assim veio para os bons, veio para os maus, veio para os justos e veio, também para os pecadores. Não é por acaso que, no Evangelho Lucas cita duas classes sociais desprezadas e tidas como pecadoras, que deviam ser evitadas pelos “bons”, embora estivessem presentes na vida de cada dia de toda a sociedade. A primeira classe é a dos publicanos, que são os cobradores de impostos. Os publicanos cobravam os impostos para os romanos e ganhavam sobre a quantidade arrecadada. Eram odiados pelo povo. Fariseus e saduceus não mantinham nenhuma convivência com eles. A segunda classe é a dos soldados. Eram mercenários, considerados permanentemente impuros pela possibilidade de haverem derramado sangue e de estarem a serviço do poder estrangeiro. Como no tempo de Jesus era proibido aos judeus o serviço militar, esses soldados que foram escutar João Batista deviam ser pagãos a serviço de Herodes Antipas. A todos, indistintamente, João pregava a chegada do Senhor: “Todos, verão a salvação de Deus”. (cf. Lc. 3,6).

Assim, João Batista nos ensina a corrigir nossos defeitos e vícios: apego aos bens materiais, simbolizados na posse de duas túnicas ou no armazenamento de comida. A conversão exige o desapego, que se expressa muitas vezes no repartir o que se tem e o que se é com os necessitados. Nossa fé cristã é uma fé da partilha, por isso o apego generalizado que se fé é um contra-testemunho.

A ganância é combatida porque ela provoca a fraude e o roubo. Devemos mudar de mentalidade, de caminho, e rumar para a justiça, que nunca explora nem extorque, mas prepara a consciência para a caridade fraterna.

O abuso da força é um grave pecado a ser extirpado, como condição para receber o Messias que vem. A violência do tempo de Jesus é a mesma que, infelizmente, nós contemplamos em nossos dias. Violência política, econômica, estrangeira, familiar, abuso de toda a violência que não gera a paz e a concórdia tão necessária no seio da sociedade injusta que se instala o capital em vez da solidariedade, da partilha e do amor.

Os três pecados apontados por João costumam andar juntos. O egoísmo não deixa repartir, a ganância, que exige sempre, mais pedem a violência para a sua defesa. Os três tornam o coração humano impermeável à graça santificante de Deus.

Caros irmãos,

A Primeira Leitura(Sf 3,14-18a) nos apresenta uma mensagem central: “O Senhor está no meio de ti”(Sf 1) exorta à alegria, consola. Deus revogou sua “sentença” – a ameaça dos assírios contra Judá, no final do século VII a.C). Agora é preciso ter coragem. O profeta pede alegria por causa da presença de Javé, Rei de Israel. Em Jesus, Messias, é que esta realidade chega à plenitude.

A Segunda Leitura(Fl 4,4-7) nos aponta a proximidade de Deus: “Alegrai-vos sempre no Senhor: ele está perto”. A proximidade de Deus é razão de alegria e de carinho para com todos os homens e mulheres. Enviado para levar a Boa Nova aos pobres e oprimidos, o apóstolo Paulo, acorrentado, alegra-se com o s seus pela proximidade do Senhor. A certeza de estar em Cristo o torna realmente livre.

Meus irmãos,

Qual é a diferença fundamental entre João Batista e Jesus? Ela está na diferença entre o Batismo com água e o Batismo com o Espírito Santo. João é um profeta. Jesus é o Filho de Deus. João recebe tudo de Deus. Jesus é tudo, porque é Deus. Santo Agostinho nos ensinou que João é a voz no tempo, Jesus é a Palavra eterna, que existe desde o princípio. Se tiramos a palavra, prossegue Agostinho, que sentido teria a voz? O batismo com água era o símbolo de conversão, o símbolo de purificação. O batismo com o Espírito Santo é a santificação, a divinização, a participação na vida nova de Deus.

O Batismo com o fogo significa o calor e a luz, simbolizando a majestade e a força divina, limpando o coração humano, separando o ouro da graça das muitas impurezas. Jesus é o Juiz Supremo que dá o céu aos bons e o inferno aos maus. Jesus vem com a força divina para purificar e para salvar. A criatura humana aceita a salvação, se quiser.

A salvação vem para todos. Bela a palavra de João Batista que disse que ele não era digno de “desamarrar a correia das sandálias” daquele que viria depois dele. Jesus é, claramente, Salvador e Juiz, Juiz benigno e misericordioso, acolhedor e paterno. A esperança/esperança do Advento alimenta a nossa fé.

Que o Domingo Gaudete, seja o momento de conversão, justiça, amor, paz e alegria, para constituir como sinais concretos de renovação em nossa vida para esperarmos pelo Cristo, colocando-nos do jeito que Jesus quer que nós esperemos por Ele: servindo ao irmão e nos amando-nos na diversidade. Amém!

Pe. Wagner Augusto Portugal
Vigário Judicial da Diocese da Campanha - MG

sábado, 15 de dezembro de 2012

Como podemos manifestar de maneira concreta a conversão à qual o Senhor nos chama?


RIO DE JANEIRO, sexta-feira, 14 de dezembro de 2012 (ZENIT.org) - É a pergunta que as diversas situações fazem a João Batista diante da pregação da chegada do Messias, Salvador do Mundo. E João convida a todos à mudança concreta de vida. Essa mudança é para nós demonstrada com a celebração penitencial.

Aproximamo-nos da grande solenidade do Natal do Senhor, quando a liturgia nos fará penetrar no mistério do Salvador, que se faz homem para nos redimir e elevar-nos à Sua divina dignidade. Como na noite de Natal, há dois mil anos passados, somos chamados a reconhecer a luz que ilumina as trevas da humanidade, e, reconhecendo-a, acercar-se dela e contemplá-la, a fim de que ela nos ilumine e nos faça partícipes da sua graça.

Nessa perspectiva, somos chamados a olhar para o nosso interior e perceber o quanto cada um de nós, de maneira tanto particular quanto comunitária, vive o momento propício que o Tempo do Advento nos proporciona, no qual realizamos a caminhada do Povo de Deus da antiga Aliança, que, na expectativa do Messias, vivencia uma caminhada de penitência, a fim de se preparar para a chegada d’Ele.

Precisamente por isso, no tempo do Advento a Igreja celebra o Mistério do Senhor revestida da cor litúrgica roxa, remetendo-nos à penitência e à conversão, chamando-nos a corresponder a esse sinal e a manifestar desse modo que, assim como o povo de Deus de outrora, nós também estamos na expectativa pela chegada do Senhor e desejamos que ela aconteça mediante nossa pureza de coração.

No Evangelho do domingo passado, vimos o clamor de João Batista incitando o povo a “aplainar os caminhos do Senhor” e “endireitar suas veredas”. Esse brado veemente que o precursor do Messias exclamava por onde passava, precisamente na iminência da chegada d’Ele, também hoje é dirigido a todo o povo de Deus. Diante dessa certeza, precisamos assumir a nossa responsabilidade e reconhecermo-nos como sendo esse povo, e, desse modo, mergulhar nesse processo de penitência e conversão a que o Senhor, pelos lábios de João Batista, nos convoca.

Todavia, como podemos manifestar de maneira concreta a conversão à qual o Senhor nos chama? Certamente é preciso tomar parte de um processo de reconciliação que se inicia no íntimo de cada um de nós. A conclusão desse processo, onde se manifesta a graça salvífica de Cristo, é o Sacramento da Confissão. É por ele que somos reconduzidos ao Senhor e, desta forma, reabilitados na vida da graça.

Assim sendo, somos todos convidados a voltar sua atenção para a figura dos pastores, como apresentada na noite de Natal pelos evangelhos. Eles, sempre vigilantes, estavam prontos para caminharem até o Salvador quando da Sua chegada. Precisamente a eles, o anjo do Senhor dirigiu de modo primordial o anúncio alegre e solene da Sua chegada. E este anúncio primordial que os pastores receberam certamente tem sua razão de ser na vigilância em que eles se encontravam na noite em que o Senhor chegou para nós.

E nós, até que ponto somos vigilantes? O próprio Senhor, no Evangelho, nos alerta para a necessidade de mantermos tanto a vigilância quanto a oração, pois não sabemos nem o dia nem a hora em que Ele virá. Exatamente por isso, somos todos convidados a observar a importância do Sacramento da Confissão nesse contexto de penitência e conversão que o tempo do Advento nos proporciona.

Iniciemos por fazer nosso devido exame de consciência e observemos a figura de Maria, mulher da pureza e da oração, sempre confiante nas promessas do Senhor e a primeira a aderir de todo o coração ao convite do próprio Deus que a escolhera para ser a mãe do Salvador e, assim, colaborar com a salvação de toda a humanidade. Em seguida, olhemos para dentro de nós mesmos e observemos até que ponto nos configuramos ao Senhor, tendo por exemplo a figura de Maria.

Nesse sentido, o nosso convite para que todos reconheçamos no tempo litúrgico do Advento o momento propício para reconciliarmo-nos com Deus, para poder assim acolher generosa e dignamente o Salvador. Os sacerdotes são convidados a assumir o papel de João Batista, anunciando a chegada do Salvador e a necessidade de uma conversão verdadeira, que faça de cada cristão verdadeiras manjedouras onde se reclina o Salvador não só na noite de Natal, mas durante toda a caminhada da vida. Os padres assumem o papel de “aplainar a caminho do Senhor” na vida de quantos lhes são confiados, tendo a viva consciência de que são os mediadores da graça sacramental e de que depende largamente de sua eficiente ação pastoral a reconciliação do povo com o seu Deus.

Precisamente por isso, sabendo do valioso momento dos “mutirões de confissões” em todas as paróquias, seria muito importante neste tempo que em todas as paróquias, institutos religiosos, oratórios, comunidades diversas seja ministrado de modo mais frequente o sacramento da Penitência, de maneira auricular, criando-se para isso horários condizentes com as realidades pastorais em que estão inseridos, não se medindo os esforços necessários para que o maior número de fiéis aproxime-se desse sacramento por meio do qual são reconduzidos à vida da graça. Ainda mais neste Ano da Fé será importante essa missão nas Igrejas de “peregrinação” para obter as indulgências.

Reconheçamos no Senhor que está para chegar a “luz” que ilumina a nossa escuridão e nos dá a conhecer a maravilha que Ele traz: a felicidade eterna, a nossa Salvação. Nesta perspectiva, observemos como caminha nossa sociedade nesse período de aproximação do Natal e vejamos que em não poucos ambientes o protagonismo de Cristo, como “o esperado” na noite santa, “o aniversariante” que dá sentido a toda esta comemoração, está sendo cada vez mais ofuscado nos corações e nas vidas de tantas pessoas. Esse “pecado social” certamente possui uma dimensão particular que toca a cada um de nós, porquanto nos faz enxergar que se Cristo está sendo esquecido pela nossa sociedade, há uma parcela de culpa em cada cristão. Precisamente por isso, é preciso que nos reconheçamos pecadores, pois indiretamente somos carentes de um testemunho eficaz que manifeste ao mundo a beleza e a razão de ser do Nascimento do Salvador.
Poderíamos, a partir dessa constatação, iniciar o nosso exame de consciência. A nossa pequenez nos convida a uma reflexão aprofundada, por meio da qual devemos eliminar de nossa vida tudo o que reconheçamos nos afastar de Deus. E o façamos de modo concreto, recorrendo ao Sacramento da Confissão.

Enfim, voltemos novamente o nosso olhar para a figura dos pastores e reconheçamos neles a figura do cristão que vive “acordado” e a quem pode chegar a mensagem solene do anjo na noite santa. Precisamente porque os pastores estavam acordados, a eles chegou a notícia que a humanidade esperava, e diante deles os anjos apareceram entoando louvores a Deus por tão grande evento. Estar acordados significa estar despertados para a realidade objetiva, não se fechando em um mundo particular, onde só existe lugar para nossos próprios impulsos e inclinações. Conduzidos por essa visão particular da vida, muitos mergulham no egoísmo e fecham-se para a liberdade própria da boa-nova de Cristo. Estar acordados, ou melhor, “estar vigilantes”, significa sair do mundo particular e abraçar a Verdade que é o próprio Cristo, que caminha ao nosso encontro e chegará de maneira solene e intensa na liturgia do Natal que estamos a esperar.

É neste sentido que o nosso despertar para o Natal do Senhor concretiza-se quando nos conscientizamos da realidade de que é preciso abandonar o pecado, deixar de lado tudo o que nos afasta de Deus, realizar um sincero e compromissado exame de consciência e mergulhar na graça do Sacramento da Confissão. O mesmo Cristo cujo nascimento celebraremos na noite do Natal do Senhor é o que nos espera nos confessionários. E a luz que guiou outrora os magos do Oriente no seu caminho a Belém para adorar o Messias é a mesma que deseja guiar a nossa vida se lhe formos ao encontro.

Deste modo, enquanto povo de Deus que na liturgia do Tempo do Advento caminha rumo à chegada do Salvador, vivenciamos um tempo de penitência que não deve ser próprio somente da liturgia, mas da nossa vida de maneira completa. Por isso, não tenhamos medo, não recusemos tomar parte dentre os que buscam o Sacramento da Confissão, afim de que, iluminados pela estrela de Belém, sejamos manjedouras onde o Senhor dignamente quer se reclinar na noite santa do seu Natal.

† Orani João Tempesta, O. Cist.
  Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Santo Ambrósio, bispo e doutor da igreja




Luiz Francisco Beccari

De importante família romana, Ambrósio nasceu em 340, na Gália, da qual seu pai era governador. Ainda jovem, viu sua irmã, Santa Marcelina, beijar a mão de um Bispo e deu-lhe a sua a beijar, dizendo: "Também eu serei Bispo um dia".

Estudou direito e retórica em Roma, e fez brilhante carreira: Advogado Consular, Conselheiro do Imperador e Governador das províncias de Emília e Ligúria, com sede em Milão.

Uma singular eleição
No ano 374, morreu o Bispo dessa cidade. Para eleger seu sucessor, a população se dividiu em dois partidos. Os católicos queriam eleger um homem fiel ao Papa, os arianos propugnavam por um sequaz de Ario. A exaltação dos ânimos ameaçava degenerar em guerra civil.

O Governador Ambrósio viu-se obrigado a intervir para manter a ordem. Dispôs suas tropas na praça e fez cessar o tumulto. Em seguida, acompanhado de uma escolta, entrou na Catedral para garantir o bom andamento da eleição. Graças à sua eficaz ação, logo se acalmaram os ânimos exaltados. Então ele postou-se em lugar bem visível a todos os presentes, com olhar vigilante sobre a assembléia. Nesse momento, ouviram-se uns brados partidos do fundo do grandioso templo:

- Ambrosius episcopus! (Ambrósio seja o Bispo!)

Como surgiu essa surpreendente aclamação?

Um menino, tão novo que ainda não sabia falar, foi quem deu o primeiro brado. Altamente admirada de ver o filho pronunciar suas primeiras palavras - e que palavras! - a mãe fez coro com ele, e logo se lhes juntaram outras vozes. Em pouco tempo, todos na Catedral, inclusive os arianos, bradavam em uníssono:

- Ambrosius episcopus! Ambrosius episcopus!

- Sou um pecador! Sou um pecador! - replicava o Governador.

- Não importa, não importa! Invocamos sobre nós os teus pecados! - gritava o povo, a uma só voz.

Ante essa inesperada manifestação, aquela autoridade do maior império do mundo não encontrou outra saída senão o recurso dos indefesos: fugiu e foi esconder-se no sítio de um amigo.  Os cristãos milaneses não desistiram. Enviaram uma delegação para relatar a Valentiniano I o que havia acontecido e rogar-lhe autorização para o Governador Ambrósio ser sagrado Bispo.

O Imperador consentiu, reconhecendo no eleito um verdadeiro "enviado de Deus". À vista disso, o amigo de Ambrósio indicou o lugar onde ele se encontrava.

Reconduzido a Milão, o Santo acabou por reconhecer naqueles acontecimentos a vontade de Deus.

De catecúmeno a Bispo, em oito dias
O Bispo recém-eleito tinha 34 anos de idade e pertencia a uma família cristã, mas era apenas catecúmeno. Foi batizado, recebeu a ordenação sacerdotal logo em seguida e, oito dias depois, foi sagrado Bispo, a 7 de dezembro de 374. O clero e fiéis de todo o Império acolheram com indizível júbilo a notícia dessa prodigiosa intervenção divina.

Não é difícil, sob impulso do Espírito Santo, ordenar um Bispo apenas oito dias após seu Batismo. Mas como, num curto tempo, transformar em pastor de almas um homem que, uma semana antes, era ainda catecúmeno? Pergunta interessante para se ver como a graça divina, quando bem correspondida, opera maravilhas.

Ambrósio era rico, mas não apegado à riqueza deste mundo. Doou para a Igreja as terras que herdara. Quanto aos outros bens, distribuiu parte aos pobres, dando à Igreja o restante. Altos cargos no governo imperial, posição social brilhante, vida familiar - tudo isto ele sacrificou para se ocupar somente do serviço de Deus.

Assim desembaraçado de qualquer preocupação terrena, o novo Bispo aplicou-se ao estudo das Sagradas Escrituras e dos autores eclesiásticos, sobretudo São Basílio. À medida que estudava, fazia pregações. Apenas três anos haviam decorrido, e já ele inaugurava - com a publicação dos livros "As Virgens" e "As viúvas" - a prodigiosa atividade de escritor que lhe valeu os títulos de Doutor e Padre da Igreja. Em breve tempo, ele brilhava no mundo cristão como o campeão da luta contra o arianismo, muito forte naquela época, e os restos do antigo paganismo. Triunfou sobre ambos, impondo silêncio à heresia e conquistando a Itália inteira para a Fé Católica.

Tinha sempre presente sua alta responsabilidade na escolha dos candidatos ao sacerdócio. Por seu espírito de vigilância nesta matéria, adquiriu uma aguda capacidade de discernir quem estava apto ou não a ser admitido à

Museu de Dijon, França recepção da sagrada Ordem. Por exemplo, pelo simples modo de andar, ele podia recusar um pretendente, pois dizia estar persuadido de que os movimentos desregrados do corpo são efeito do desregramento da alma.

Confronto com o Imperador
Teodósio I, o Grande, ascendeu ao trono imperial em 379.

No ano seguinte, declarou o Cristianismo religião do Estado e proibiu os cultos pagãos. Entretanto, embora muito amigos, não deixou de haver certas divergências entre o Bispo e o Imperador, um propugnando pela inteira independência da Igreja, outro, pela do Estado.

Durante uma rebelião no ano 390, foi assassinado em Tessalônica o comandante militar local.

Por excitação de um camareiro intrigante, Teodósio decretou terrível vingança contra os habitantes dessa cidade. Sem distinguir inocentes de culpados, sem mesmo tomar em consideração idade e sexo, as tropas imperiais massacraram sete mil pessoas.

Um clamor de indignação ressoou por todo o Império. Não podendo calar- se ante essa atrocidade criminosa, o Bispo - com solicitude de amigo e respeito de súdito, mas também com firmeza de representante de Deus - admoestou o Soberano de que nenhum sacerdote de sua Diocese lhe daria a absolvição. E, recordando-lhe o exemplo do Rei Davi, o exortou a fazer sincera penitência.

Como para mostrar que ninguém tinha direito de vituperar-lhe o procedimento, o Imperador se dirigiu à igreja com grande aparato, segundo o costume. À porta do recinto sagrado, Ambrósio barrou-lhe a entrada:
"Vejo que por desgraça, ó Imperador, não medes a gravidade do fato sanguinário ordenado por ti (...) Não acrescentes um novo crime ao que já te pesa. Retira-te e submete-te à penitência que Deus te impõe. Já que imitaste David no crime, imitao também na penitência!"

Com lágrimas nos olhos, o Imperador retirou-se. Oito meses se passaram sem ele se apresentar na igreja, nem o Bispo no palácio.

Por fim, porém, a Fé triunfou sobre o orgulho. Na manhã do dia de Natal, banhado em lágrimas, o Imperador disse a seu camareiro: "Não sentes minha desdita? A Igreja de Deus está aberta até para os escravos e mendigos; porém, para o Imperador está fechada e com ela a porta do Céu, pois Cristo disse: ‘O que atares na terra será atado no Céu'".

Decidido a obter o perdão de Deus, dirigiu-se à igreja, onde o esperava Santo Ambrósio, de pé no alto da escadaria.

- Aqui estou, livra-me do meu pecado - rogou.

- Onde está tua penitência? - perguntou o Santo.

- Suplico-te que me livres desta pena, em consideração da clemência de nossa Mãe a Igreja. Não me feches a porta, dize-me o que hei de fazer.

A decisão de Ambrósio mostra o incansável esforço da Santa Igreja para abrandar os costumes pagãos. Exigiu de Teodósio a promulgação de uma lei determinando que as sentenças de morte e de confisco não seriam executadas antes de 30 dias, e deveriam ser reapresentadas ao Imperador para sua confirmação.

Teodósio fez escrever e assinou imediatamente o decreto. Ato contínuo, recebeu a absolvição.

"Agradavam-lhe mais as repreensões que as adulações"
Despojando-se dos ornamentos imperiais, Teodósio entrou na igreja e, prostrado no chão, recitou o salmo de Davi:

A cena não podia ser mais grandiosa. Diante de tanta humildade, o povo suplicava e chorava com o Imperador.

Cinco anos depois, chegado o momento de comparecer perante o Tribunal de Deus, Teodósio clamou pela presença de seu amigo Ambrósio, de cujas mãos recebeu os últimos Sacramentos antes de falecer.

Em sua célebre oração fúnebre, testemunhou o santo Bispo a respeito dele: "Eu amava este varão, porque lhe agradavam mais as repreensões que as adulações. Como Imperador, não se envergonhou da penitência pública, e depois chorou seu pecado todos os dias que lhe restaram".

A conversão de Santo Agostinho
Era tal o poder de irradiação do Bispo Ambrósio, que a rainha dos marcomanos (povo antigo da Germânia), chamada Fretigila, apenas por ter ouvido um cristão falar a respeito de sua ciência e santidade, acreditou em Jesus Cristo e enviou embaixadores a Milão, rogando ao Santo que lhe informasse por escrito o que devia crer.

Uma dama de alta estirpe insistiu com o Santo para ir celebrar Missa em sua casa. Uma mulher paralítica fez-se transportar até lá, tocou na veste episcopal e, instantaneamente curada, levantou-se e se pôs a andar, na presença de todos.

Outros milagres operou nosso Santo, ainda em vida. Porém, a mais preciosa pedra de sua coroa de glória é a conversão de Santo Agostinho, um dos homens mais inteligentes e cultos de todos os tempos, coluna da Santa Igreja.

Com cerca de 30 anos, o futuro Bispo de Hipona foi levado por Santa Mônica a relacionar-se com Santo Ambrósio. De início hostil à Fé Católica, por causa de más influências dos maniqueus, Agostinho era, entretanto, admirador da cultura e da suave eloqüência do Bispo de Milão. Gostava não somente de ouvir seus sermões, mas também de passar horas inteiras em seu gabinete, em silêncio, vendo esse homem de Deus trabalhar ou estudar.

Não sem grande dose de sagacidade, Ambrósio desfez na mente de seu ouvinte os maléficos sofismas da seita maniqueísta. Quem lê as Confissões, é levado a conjeturar que o grande pregador adaptava suas palavras às dúvidas de Agostinho, quando notava sua presença na igreja. Este narra, inclusive, que ele "muitas vezes, vendo-me quando pregava, prorrompia em louvores a ela [Santa Mônica] e me chamava ditoso por ser filho de tal mãe".

Convertido, Santo Agostinho não esconde seu entusiasmo por Santo Ambrósio. "Insigne pregador e piedoso Prelado", homem cujas palavras eram "fonte de água que corria para a vida eterna", "santo Bispo" - são expressões usadas por ele ao referir-se àquele que o batizou na vigília da Páscoa de 387.

Em resumo, ele considerava Santo Ambrósio o arquétipo do Bispo católico. Opinião confirmada pelo Missal Romano, onde se lê que ele "representa a figura ideal do Bispo". Onde encontrar testemunho mais elogioso, mais credenciado e mais insuspeito?

A recompensa
Em 4 de abril de 397, o Divino Redentor chamou seu servo para receber no Céu a recompensa por sua vida de fidelidade e combates em defesa da Fé. No início desse ano, antes de ser atingido pela mortal doença, predisse que tinha pouco tempo de permanência neste mundo, pois viveria só até a Páscoa.
Estando já prostrado no leito de morte, alguns diáconos conversavam no fundo do aposento, levantando hipóteses sobre quem seria seu sucessor. Um deles mencionou o nome de Simpliciano. Não se sabe como, o Santo ouviu e aprovou: "É muito velho, mas é ótimo!"

Pouco depois disto, enquanto ele rezava em voz baixa, apareceu-lhe Jesus Cristo com o rosto belíssimo. Após cinco horas de oração com os braços em forma de cruz, Santo Honorato, Bispo de Arles, foi chamado para darlhe o viático. Logo que o recebeu, entregou sua alma a Deus.

(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2004, n. 36, p. 34 à 37)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

O Papa já tem mais de meio milhão de seguidores no Twitter




VATICANO, 04 Dez. 12 / 01:47 pm (ACI).- O Papa Bento XVI já tem mais de meio milhão de seguidores em sua conta oficial de Twitter e o tema se converteu em um dos mais comentados nesta rede social na América Latina.

Até o fechamento desta edição e somando as contas nos oito idiomas, o Santo Padre tem já mais de 545 mil seguidores que esperam com ânsias seu primeiro tweet, que será emitido no próximo 12 de dezembro, Festa da Virgem de Guadalupe.

Desses 544 mil, mais de 381 mil são da conta em inglês, enquanto que a conta em espanhol @pontifex_es supera os 90 mil seguidores. A conta em português @pontifex_pt tem mais de 14 mil seguidores.
Com seus primeiros tweets, o Papa responderá algumas perguntas sobre argumentos relacionados com a fé, enviadas com o hashtag #askpontifex (pergunte ao Pontífice).

Respeitar os 140 caracteres em cada "tweet" não será certamente difícil para o Papa. Suas mini-mensagens serão "pérolas" de sabedoria, explicou o presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, o Arcebispo Claudio Maria Celli, que retomarão o centro das catequeses. Mas em um futuro, certamente, os "tweets" papais "poderão ter uma freqüência maior", antecipou uma nota do Vaticano.

"Todos os "tweets" do Papa serão palavras do Papa", sublinhou o assessor de comunicação da Secretaria de Estado, Greg Burke: "Ninguém porá palavras alheias em sua boca". Aqueles que digitem os "tweets" papais serão empregados dos escritórios da Secretaria de Estado e os tweets terão aprovação do Pontífice antes de sua publicação.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Preparai o caminho do Senhor... - O tempo do Advento: reflexão de Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro


O tempo do advento, como início do ano litúrgico, é o momento da preparação para a celebração do grande mistério divino que é o Natal do Senhor Jesus Cristo. É o tempo da espera, o tempo de “preparar o caminho do Senhor”. Essa “preparação” nos faz vivenciar uma dupla expectativa, a saber, uma que nos põe em evidência a necessidade de “vigiar e orar”, a fim de que estejamos prontos para a chegada do Senhor que virá no fim dos tempos, mas também, nos evidencia a expectativa do povo de Deus da antiga Aliança, que ardentemente punha-se no aguardo do “Emmanuel”, o “Messias”, o “Deus conosco”.

Iniciando a vivência deste tempo litúrgico de expectativa pela vinda do Senhor que é o Advento, convido a que observemos neste momento qual o nosso papel nesta preparação para a sua vinda não somente no que toca a nós mesmos em particular, mas também no tocante ao contexto no qual estamos inseridos. O tempo do Advento trata-se também de um momento em que somos chamados à missão profética de anunciar o Messias no mundo de hoje, pois Aquele que veio e virá, é também O que vem a cada coração que o acolhe. Por isso este tempo é de preparação de sua renovada acolhida nos corações, tanto dos que já O conhecem, como também dos que ainda não o conhecem verdadeiramente. Infelizmente hoje, mesmo em nosso ocidente cristão, existem muitos que nunca ouviram falar de Cristo ou não O encontraram em suas vidas e história. Nesse contexto, voltemos o nosso olhar para a juventude como depositária da nossa esperança de evangelização no hoje e na esperança dessa missão no “amanhã”.

Os jovens do nosso tempo, assim como todos os cristãos, são chamados a ter diante dos olhos uma figura exemplo de anúncio da vinda do Senhor, o qual encarnando e vivenciando com afinco sua missão de anunciar o Messias, constituiu-se como o “precursor”: João Batista.

A vigilância na fé, na oração e na penitência faz de João Batista um significativo exemplo desta preparação da vinda do Senhor a que os jovens são chamados tanto a aderir quanto a realizar. Assim como João Batista, cada jovem é chamado a pregar no mundo de hoje a conversão, que se inicia de dentro para fora, tratando-se de uma adesão pessoal e verdadeira à pessoa de Cristo, que nos convida a tomar parte na sua amizade que liberta e que nos realiza verdadeiramente. Entretanto, essa verdadeira alegria se traduz na mudança de vida, de costumes, de práticas. Hoje, com pesar, vemos situações e realidades que nos afastam do que somos em essência, ou seja, criados “à imagem de semelhança de Deus”, e ofuscando assim a nossa relação com o Senhor. Uma ilustração bastante significativa desse apelo à conversão é a cor “roxa” com a qual a liturgia se reveste neste tempo litúrgico. Ela nos evoca que necessitamos de uma conversão do coração, das práticas; necessitamos “arrependermo-nos e crer no Evangelho”. Advento é tempo de esperança!

Neste tempo litúrgico, chamados a empreender a missão de João Batista, cada jovem é chamado a manter-se vigilante na fé, na oração, e em uma abertura atenta e disponível para reconhecer os “sinais” da vinda do Senhor em todos os momentos e circunstâncias da vida tanto acerca do hoje quanto acerca do “fim dos tempos”, pois a nossa sociedade se preocupa demasiadamente com a dimensão previdente relativa ao amanhã: empreende os meios necessários para que se possa conhecer hoje “como será o amanhã”, mas esquece-se de vigiar para que a sua chegada não a tome “de assalto”. Nesta perspectiva, o exacerbado tecnicismo da atualidade insere, sobretudo os jovens, sentinelas do amanhã, na incumbência de promover o progresso observando e perscrutando o futuro com os desafios a vencer.

Vivenciar o tempo do Advento significa acolher e reconhecer o Senhor, que continuamente vem ficar conosco e segui-Lo como aquele em quem está a fonte da vida, da felicidade, do progresso, da ciência, Aquele em cuja luz contemplamos a luz (cf. Sl 35,10).

Nessa dimensão de acolhimento e reconhecimento do “Senhor que vem”, a liturgia deste I Domingo nos chama à vivência de uma Igreja sem fronteiras, que se caracteriza pela desvinculação dos paradigmas que impedem que o anúncio do Evangelho seja efetivamente realizado. “Os dias que virão, nos quais o Senhor realizará sua promessa de bens futuros” (cf. Jr 33,14), começa aqui e agora, e evocam a necessidade de desvincular-se do particularismo para abrir-se à totalidade do Evangelho, o qual, congregando num só povo todos os povos, raças e nações, empreende uma efetiva humanização do homem por meio da conversão do coração, mudança de costumes, e realização do agir fundamentado no princípio da caridade cristã e universal.

É assim que a Igreja se prepara para a vinda do Senhor, perfazendo na sociedade atual uma antecipação das realidades perenes do Reino dos Céus. Nessa missão, a juventude é chamada a ser promotora desse modo autêntico e eficaz de espera do Senhor, de preparação da sua vinda.

Caríssimos jovens, não tenham medo de empreender na vida de vocês uma resposta concreta ao chamado a ser profeta e anunciar a chegada de Jesus, o Messias, Aquele que renova os nossos corações e a nossa sociedade. Sejam a voz que clama no deserto dos nossos tempos (cf  Jo 1,23 ) e testemunhem com as celebrações deste singular tempo litúrgico de graça, que é o advento, a alegre expectativa pela contemplação do Senhor que vem, o “Emmanuel”, o “Deus conosco”.

† Orani João Tempesta, O. Cist
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

sábado, 17 de novembro de 2012

Santa Isabel da Hungria



Antífona da entrada: Vinde, benditos de meu Pai, diz o Senhor: eu estava doente e me visitastes. Em verdade vos digo, tudo o que fizerdes ao menor dos meus irmãos, foi  a mim que o fizestes. (Mt 25,34.36.40)

Isabel da Hungria era princesa, foi rainha e se fez santa. Era a filha do rei André II, da Hungria, e da rainha Gertrudes, de Merano, atual território da Itália. Nasceu no ano de 1207, e naquele momento foi dada como esposa a Luís, príncipe da Turíngia, atual Alemanha. Desde os quatro anos viveu no castelo do futuro marido, onde foram educados juntos.

O jovem príncipe Luís amava verdadeiramente Isabel, que se tornava cada dia mais bonita, amável e modesta. Ambos eram católicos fervorosos. Luís admirava a noiva, amável nas palavras e atitudes, que vivia em orações e era generosa em caridade com pobres e doentes.

A mãe de Luís não gostava da devoção da sua futura nora, e tentou convencer o filho de desistir do casamento, alegando que Isabel seria uma rainha inadequada politicamente. A própria Corte a perseguia por causa de seu desapego e simplicidade cristã. Mas Luís foi categórico ao dizer preferir abdicar do trono a desistir de Isabel. Certamente, amava-a muito.

No castelo de Wartenburg, quando atingiu a maioridade, foi corado rei e casou-se com Isabel, que se tornou rainha aos catorze anos de idade. Ela foi a única soberana que se recusou a usar a coroa, símbolo da realeza, durante a cerimônia realizada na Igreja. Alegou que, diante do nosso Rei coroado de espinhos, não poderia usar uma coroa tão preciosa. Foi assim que o então rei Luís IV acompanhou a seu desejo e tornou-se rei sem colocar a sua coroa, também, diante de Cristo.

Foi um casamento feliz. Ele era sincero, paciente, inspirava confiança e era amado pelo povo. Nunca colocou obstáculos à vida de oração, penitência e caridade da rainha, sendo, ao contrário, seu incentivador. Em Marburg, Isabel construiu o Hospital de São Francisco de Assis para os pobres e doentes leprosos. Além de ajudar com seu dinheiro muitos asilos e orfanatos, os quais visitava com freqüência.

Depois de seis anos, a rainha Isabel ficou viúva, com três filhos pequenos. O rei Luís IV, participando de uma cruzada, morreu antes de voltar para a Alemanha. A partir de então, as perseguições da Corte contra ela aumentaram. A tolerância quanto à sua caridade e dedicação religiosa acabou de vez. E o cunhado, para assumir o poder, expulsou-a do palácio junto com os três reais herdeiros ainda crianças.

Isabel ingressou, então, na Ordem Terceira de São Francisco e dedicou-se à vida de religião e à assistência aos leprosos no hospital que ela própria havia construído. Quando os cruzados que acompanhavam seu marido retornaram à Alemanha, ficaram indignados ao constatar como a rainha viúva e os herdeiros haviam sido tratados. Conseguiram fazer a viúva rainha Isabel reassumir o trono, que depois entregou ao seu filho, na maioridade.

Isabel da Hungria faleceu no dia 17 de novembro de 1231, com apenas vinte e quatro anos de idade, em Marburg, Alemanha. Quatro anos depois, em 1235, foi canonizada pelo papa Gregório IX. A Ordem Franciscana Secular venera-a como sua padroeira na festa celebrada no dia de sua morte.

Oração do dia
Ó Deus, que destes a santa Isabel da Hungria reconhecer e venerar o Cristo nos pobres, concedei-nos, por sua intercessão, servir os pobres e aflitos com incansável caridade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Igreja Católica atende mais de 50 mil refugiados sírios na Jordânia




ROMA, 09 Nov. 12 / 03:43 pm (ACI).- O diretor da Cáritas na Jordânia, Wael Suleiman, informou que o total de refugiados sírios em seu país já chegou à casa dos 250 mil. Dentre eles, 50 mil são atendidos pela instituição católica. Suleiman também agradeceu a presença do enviado do Papa na região, o Cardeal Robert Sarah.

Em declarações à agência vaticana Fides, Suleiman explica que se o conflito na Síria não tiver um solução  por volta de abril de 2013 a cifra de refugiados poderia duplicar.

O último relatório elaborado pela Cáritas da Jordânia confirma que diariamente cerca de 500 sírios cruzam a fronteira com o Reino Hachemita fugindo do sangrento conflito entre rebeldes e forças armadas do governo de Bashar al-Assad. A média das chegadas mensais à Jordânia ultimamente já chega a cifras de 12 a 15 mil prófugos. 75 por cento dos acolhidos nos acampamentos e centros de assistência são mulheres e crianças.

No maior campo de refugiados, o de Zaatari, a situação é insustentável. Ali, em uma zona desértica, cerca de 40 mil refugiados vivem em condições sumamente precárias.

Suleiman indicou a agência Fides: "nós comunicamos aos funcionários das Nações Unidas que o acampamento deveria ser fechado. Os refugiados, uma vez que entram, não podem sair. Agora começou a construção de outro campo de refugiados a 22 quilômetros de Zarqa, que deveria estar operativo no início de dezembro, com as infra-estruturas básicas que Zaatari não não possui".

Nesta sexta-feira, 9, o Cardeal Robert Sarah, Presidente do Pontifício Conselho Cor Unum e enviado do Papa à região, se reunirá em Beirute (Líbano) com os representantes de agências católicas que trabalham no Meio Oriente para coordenar os esforços humanitários da Igreja Católica na região.

No Jordânia, os 120 empregados e 1.000 voluntários da Cáritas proporcionam assistência direta a mais de 52 mil refugiados sírios, com especial atenção aos mais debilitados e as crianças. "Com o apoio do Cáritas Polônia –explica Suleiman– estamos trabalhando em um projeto para fazer enfrentar também as emergências psicológicas de muitas destas crianças que correm o risco de ficar marcados pelo resta da vida pelas coisas terríveis que viram".

O compromisso do Cáritas-Jordânia ante o drama sírio começou em novembro de 2011. Comentando a visita do Cardeal Sarah, Suleiman disse que "o povo sírio está esperando alguém que possa pelo menos tentar trazer a paz. As pessoas estão perdendo a esperança e desejam alguém que as ajude. E a Igreja neste aspecto pode fazer muito".

"Eu percebia isso quando acompanhei o Bispo Maroun Lahham em sua visita ao acampamento de Zaatari. Ali, onde só há muçulmanos, todos se aproximaram do Bispo para pedir-lhe ajuda e sobre tudo que (o prelado) rezasse por eles", concluiu.

São Josafá, bispo e mártir




Antífona da entrada: Este santo lutou até a morte pela lei de seu Deus e não temeu as ameaças dos ímpios, pois se apoiava numa rocha inabalável.

Tudo na vida de João Kuncewics aconteceu cedo e rápido. Nascido de família cristã ortodoxa da Ucrânia, em 1580, estudou filosofia e teologia. Aos vinte anos, tornou-se monge na Ordem de São Basílio, recebendo o nome de Josafá. Em pouco tempo, era nomeado superior do convento e, logo depois, arquimandrita de Polotsk. Com apenas trinta e sete anos, assumiu, embora a contragosto, o arcebispado de Polotsk.

Dizem os escritos antigos que a brilhante carreira era plenamente justificada pelos seus dotes intelectuais e, principalmente, pelo exemplo de suas virtudes, obediência total à disciplina monástica e à prática da caridade.

Exemplo disso foi quando, certa vez, sem ter como ajudar uma viúva que passava necessidades, penhorou o pálio de bispo para conseguir dinheiro e socorrê-la.

Vivia-se a época do cisma provocado pelas igrejas do Oriente e Josafá foi um dos grandes batalhadores pela união delas com Roma, tendo obtido vitória em muitas das frentes de batalha.

Josafá defendia com coragem a autoridade do papa e o fim do cisma, com a conseqüente união das igrejas. Pregava e fazia questão de seguir os ensinamentos de Jesus numa só Igreja, sob a autoridade de um único pastor. Sua luta incansável reconquistou muitos hereges e ele é considerado o responsável pelo retorno dos rutenos ao seio da Igreja. Embora outras igrejas do Oriente não o tenham seguido, foi uma vitória histórica e muito importante.

Atuando dessa forma e tendo as origens que tinha, é evidente que sofreria represálias. Foi vítima de calúnias, difamação, acusações absurdas e uma oposição ameaçadora por parte dos que apoiavam o cisma. Em uma pregação, chegou a prever que seu fim estava próximo e seria na mão dos inimigos. Até mesmo avisou "as ovelhas do seu rebanho", como dizia, de que isso aconteceria. Mas não temia por sua vida e jamais deixou de lutar.

Em uma das visitas às paróquias sob sua administração, sua moradia foi cercada e atacada. Muitas pessoas da comitiva foram massacradas. O arcebispo Josafá, então, apresentou-se aos inimigos perguntando porque matavam seus familiares se o alvo era ele próprio. Impiedosamente, a multidão maltratou-o, torturou-o, matou-o e jogou seu corpo em um rio.

Tudo ocorreu no dia 12 de novembro de 1623, na cidade de Vitebsk, na Bielorússia. Seu corpo, depois, foi recuperado e venerado pelos fiéis. Mais tarde, os próprios responsáveis pelo assassinato do arcebispo foram presos, julgados, condenados e acabaram convertendo-se, escapando da pena de morte.

O papa Pio IX canonizou-o em 1876. São Josafá Kuncewics, considerado pelos estudiosos atuais da Igreja o precursor do ecumenismo que vivemos em nossos dias.

Oração
Suscitai, ó Deus, na vossa Igreja o Espírito que impeliu o bispo são Josafá a dar a vida por suas ovelhas e concedei que, por sua intercessão, fortificados pelo mesmo Espírito, estejamos prontos a dar nossa vida pelos nossos irmãos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Se os evangelizadores não forem santos fica difícil ajudar os outros (Parte 2)


Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, explica de forma concreta o texto da mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização

Maria Emília Marega


ROMA, terça-feira, 06 de novembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos a segunda parte da entrevista com Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, que participou da comissão responsável por redigir o texto da mensagem final da XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã.

Novos métodos para uma Nova Evangelização...
Dom Sérgio: Quando se pensa em Nova Evangelização logo se pensa em métodos, isto é verdade, conforme a conhecida frase de João Paulo II. Mas precisamos ter atenção, pois esta diz: novo ardor e novos métodos, primeiro novo ardor e depois novos métodos. É impossível ter este ardor sem a experiência do Encontro e sem a vivencia da Palavra. A pessoa tem que acolher o Evangelho como vida nova para ela, e depois fazer isto com os irmãos.
O encontro pessoal na Igreja é fundamental, conforme cita o terceiro ponto da mensagem. Podemos dizer que o texto tem um primeiro olhar para Cristo, o encontro com Cristo; um segundo olhar para a Igreja e a experiência de vida comunitária, do amor fraterno, da caridade, e aqui se lê: comunidades acolhedoras, solidárias.

Porque existe esta dificuldade de fazer as pessoas se sentirem acolhidas?
Dom Sérgio: Acho que entra a questão pastoral, o modo de se vivenciar uma paróquia, uma comunidade, mas entra muito a própria experiência de fé, de vida fraterna, de caridade na comunidade. Ninguém oferece aquilo que não tem, uma comunidade que vive a caridade entre si também vai se abrir para acolher quem chega. Uma comunidade que for apenas de gente que se encontra, mas não tem vida fraterna, não tem vida comunitária, fica difícil dispor para acolher os outros.
O primeiro desafio é formar comunidades que vivem da fé, que fazem a experiência do encontro com Cristo, mas que vivem a caridade. O Papa fala na Porta Fidei desta dupla dimensão para o Ano da Fé e também para a Nova Evangelização: a fé e a caridade. Você anuncia, mas a caridade é fundamental. Acho que o texto da mensagem cita inclusive Tertuliano: Vede como eles se amam.
O texto da mensagem tem a seguinte estrutura: um olhar para Cristo, o encontro com Cristo e a fé; um olhar para a Igreja, a vida de comunhão, a caridade; um olhar para o mundo, a missão.

Alguns dizem que a mensagem final do Sínodo tem uma visão muito otimista da realidade. É isso mesmo?
Dom Sérgio: A mensagem não tem um olhar pessimista, a Igreja se sente sim desafiada, mas não acuada; a Igreja tem uma proposta, tem algo a oferecer para esse mundo sofrido, algo novo. A Europa sobretudo que tem um quadro mais sofrido em termos de vida de Igreja, de cultura aberta à fé, muito marcado pela secularização, pela exclusão da Igreja dos espaços públicos, mas não é algo que não fica só na Europa. A secularização é um desafio que vai passando para outros países, mesmo assim, se olha para o mundo secularizado como ocasião para a evangelização, e a mensagem diz que isto é uma oportunidade.

Qual era o olhar dos Padres Sinodais para a juventude?
Dom Sérgio: Inicialmente este olhar era muito um olhar para o futuro, os jovens como futuro da Igreja, futuro da humanidade; em um segundo momento, e isto está no texto, isto foi equilibrado destacando a atuação dos jovens no presente. Na verdade, é possível observar que há sim muitos jovens na Igreja, sobretudo na América Latina e na África onde muitos ministérios e serviços da Igreja são exercidos por jovens. Por exemplo, a catequese, a liturgia, a crisma, e outras atividades da paróquia. Mas é também verdade que a grande parte dos jovens não estão na Igreja e nós temos sim que fazer muito.
E nós temos que evangelizar contando com os próprios jovens e a Jornada Mundial da Juventude aparece aqui como um dos grandes meios para evangelizar, que reúne jovens do mundo todo, como vai acontecer no Brasil em 2013.

Como o senhor resumiria a mensagem final do Sínodo sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã?
Dom Sérgio: Acho que a mensagem final poderia ser resumida em termos de atitude em três pontos: gratidão, atitude de esperança e responsabilidade do tempo presente.
Gratidão: em primeiro lugar á Deus, ação de graças a Deus, mas acompanhado de gratidão às pessoas que se lançam na evangelização, todo o clero, os religiosos e as religiosas, os consagrados, os leigos e os movimentos, as pastorais, as novas comunidades. Isto é a Nova Evangelização: a igreja toda evangelizando.
Atitude de esperança: uma visão que não é negativa, mas sim realista, tanto que em alguns momentos podemos ler alguns problemas enfrentados por muitas dioceses do mundo. Mas podemos também ver a realidade do Brasil com muita esperança; é possível ver uma grande atuação dos leigos, dos movimentos e pastorais. Nós não estamos em crise na maior parte das dioceses, é o contrário, nós não sabemos como acolher tanta gente. Precisamos olhar para a Igreja em seu conjunto, claro que cada diocese tem seus próprios desafios, mas não podemos olhar só para a realidade da Europa, ou da África, ou da América Latina. Eu vejo este Sínodo como uma grande partilha, uma grande comunhão.
Responsabilidade do momento presente: estamos em um momento em que não podemos assistir passivamente, nós somos chamados a abraçar a causa da Nova Evangelização pra valer e não pela metade. Cada paróquia, cada pastoral, cada movimento tem que fazer a sua parte para que Jesus, a fé em Cristo, a Palavra, o Evangelho chegue ao coração de toda a sociedade em suas várias expressões: famílias, jovens, (...).

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Se os evangelizadores não forem santos fica difícil ajudar os outros (Parte 1)


Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, explica de forma concreta o texto da mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização

Maria Emília Marega

ROMA, segunda-feira, 05 de novembro de 2012(ZENIT.org) – A Mensagem final da XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã reflete uma Igreja Viva, pronta para enfrentar os desafios e problemas do nosso tempo.
Para aprofundar a mensagem de forma concreta ZENIT conversou com Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, que participou da comissão responsável por redigir o texto.

O senhor foi convocado pelo Papa para compor a comissão responsável por redigir a mensagem final do Sínodo dos Bispos. Como foi?
Dom Sérgio: Para mim foi uma surpresa! Eu na verdade não tinha sido comunicado diretamente, foi em plenário que eu fiquei sabendo da nomeação. Eram 12 bispos representando os 5 continentes; da América, o cardeal de New York e eu, podemos dizer, representando a América Latina. Trabalhamos em conjunto, partilhamos um pouco da experiência que vivemos no próprio continente.

O que significou esta convocação inesperada para a América Latina?
Dom Sergio: Foi muito importante. Os próprios bispos viram neste gesto do Papa, de fato, um gesto de reconhecimento da importância da Igreja que está no Brasil e na América Latina.

Quais foram as novidades desta mensagem?
Dom Sérgio: Uma das novidades do texto atual é que ao final os Padres Sinodais se dirigem especificamente aos 5 continentes. No caso da América Latina foi expresso um pouco da realidade latino americana, tanto os valores como os desafios, na verdade, vão muito além do que o próprio texto consegue expressar.
A mensagem quer expressar a Catolicidade da Igreja sem menosprezar o que é próprio de cada região e por isso tem essa índole geral e somente no final dirige uma palavra específica de apoio, gratidão, esperança e também alguma orientação para cada um dos 5 continentes. Nisto se manifesta a Catolicidade: a Igreja é Uma na diversidade, o mistério Trinitário da Igreja.
A mensagem não quer e não deve ser um resumo do Sínodo, ela é uma referência significativa enquanto não se tem a Exortação Apostólica, que é post-sinodal e demora um pouco, a anterior demorou quase 2 anos. O texto atual é mais longo, pois quis acolher grande parte das reflexões. Apesar de conter grandes aspectos que foram destacados durante a assembléia, não são todos, as proposições são mais completas.

O que foi colocado em evidência para a América Latina?
Dom Sérgio: O texto fala da gratidão à América Latina pelo seu testemunho e destaca a piedade popular como um dos grandes valores; também consta o serviço da caridade e o diálogo com as culturas locais que hoje é também, o diálogo com as culturas modernas.
Os desafios destacados foram: a pobreza, a violência e as novas denominações religiosas.
Como propostas para a América Latina os Bispos recomendam aquilo que está no documento de Aparecida: uma Igreja em estado permanente de missão formando comunidades de discípulos missionários de Jesus Cristo.

Para o senhor o que ficou mais marcado?
Dom Sergio: Eu pessoalmente vejo a referência da Samaritana como um dos aspectos mais genuínos dessa mensagem, embora apareça pouco, em 2 momentos, sobretudo, ilumina a própria mensagem. O primeiro momento é o encontro com Cristo na beira do poço, as condições que ela trazia e a água que Jesus oferece, a água viva; o poço transformando a vida dela. Não dá para fazer Nova Evangelização sem o encontro com Cristo que está na origem e na finalidade. Nós queremos partir do encontro com Cristo e levar as pessoas ao encontro com Cristo. É um encontro que pressupõe conversão, uma vida nova.

Como orientar as pessoas que buscam este poço e têm sede, mas estão perdidas?
Dom Sérgio: Os evangelizadores devem vivenciar, fazer esta experiência do encontro com Cristo; não dá para somente convidar os outros. A Samaritana vai ao encontro do povo e conta a experiência dela, que é muito importante, mas existe um terceiro passo quando as pessoas dizem que já não estão mais acreditando apenas porque ela falou, mas porque eles também fizeram essa mesma experiência, que é contagioso. Nós levamos para os outros o nosso testemunho, porém queremos que eles também façam a mesma experiência.

E como levar as pessoas a esta experiência do Encontro com Cristo?
Dom Sérgio: Os evangelizadores têm que se dispor à conversão, conforme citado no item 5 da mensagem: evangelizar a nós mesmos e dispor-nos à conversão. Se os evangelizadores não forem santos, não se dispuserem a viver na santidade fica muito difícil ajudar os outros.

A parte 2 desta entrevista será publicada amanhã, quarta-feira (07)

domingo, 4 de novembro de 2012

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS



Antífona da Entrada: Exultemos de alegria no Senhor, celebrando este dia de festa em honra de Todos os Santos. Nesta solenidade alegram-se os Anjos e cantam louvores ao Filho de Deus.

Leituras: Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6(R/. cf. 6); 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a

“Festejamos a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos, os santos, vos cercam e cantam eternamente o vosso louvor. Para esta cidade caminhamos pressurosos, peregrinando na penumbra da fé” (Prefácio da Missa de todos os Santos). Neste final de semana, olhamos para cima, buscando as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita do Pai (cf. Cl 3,1), pois Deus, que nos fez para a comunhão com Ele na eternidade, não pensou para nós o nivelamento no pecado, na maldade, na corrupção. Fomos feitos para a perfeição, para a santidade. Ser santos é nossa vocação, partindo da santidade que é dom recebido no Batismo (1 Jo 3,1-3), para percorrer os passos da santidade moral, dever de todo cristão.

O reconhecimento da santidade de homens e mulheres, quando a Igreja celebra beatificações ou canonizações, como fez há poucos dias o Papa Bento XVI (cf. Homilia do Papa Bento XVI, no dia 21 de outubro de 2012), quer mostrar a todas as pessoas, de todas as classes sociais, idades e vocações, que a proposta da vivência do Evangelho lhes é igualmente destinada.

São Jacques Berthie, sacerdote jesuíta francês, missionário em Madagascar, lutou contra a injustiça, levando alívio aos pobres e enfermos. Os malgaxes o consideravam um sacerdote vindo do céu, e diziam: Tu és o nosso "pai e mãe"! Morreu dizendo: «Prefiro antes morrer que renunciar à minha fé». Retidão e coerência na profissão de fé como bússola para a própria vida!

São Pedro Calungsod, catequista, evangelizador, mártir! Demonstrou grande fé e caridade, e continuou catequizando os seus muitos convertidos, dando testemunho de Cristo através de uma vida de pureza e dedicação ao Evangelho. A estrada da santidade é feita também para os jovens, dos quais se espera respostas corajosas!

São Giovanni Battista Piamarta, sacerdote de Brescia, na Itália, apóstolo da caridade e da juventude, dedicou-se ao progresso cristão, moral e profissional das novas gerações, com a sua esplêndida humanidade e bondade, com confiança inabalável na Providência Divina e profundo espírito de sacrifício. O segredo da sua vida, intensa e ativa, residia nas longas horas que ele dedicava à oração. Quando estava sobrecarregado pelo trabalho, aumentava o tempo do encontro, de coração a coração, com o Senhor. Ser santo é ser criativo, buscar saídas novas para os problemas, olhar ao redor para descobrir o que é possível fazer para melhorar o mundo.

Santa Maria del Carmelo Salles y Barangueras, religiosa espanhola deixou a herança de uma obra educativa confiada à Virgem Imaculada, que continua a dar frutos abundantes entre os jovens e através da entrega generosa das suas filhas que, como ela, se confiam ao Deus que pode tudo. Santidade é contagiar outras pessoas com otimismo e virtude! Quem vai atrás de Jesus Cristo é seguido pelas outras pessoas, pois o exemplo arrasta!

Santa Marianne Cope, alemã, cuidou dos leprosos no Havaí, aceitou o convite para abrir uma casa para mulheres e meninas na Ilha de Molokai, partindo com coragem, onde cuidou do Padre Damião, então já famoso pelo seu trabalho heroico com os leprosos, assistindo-o até a sua morte e assumindo o seu trabalho com os leprosos. Procura-se gente que aceite desafios! Inscrições abertas em nossas Igrejas!

Santa Kateri Tekakwitha, indígena, filha de pai Mohawk e de mãe Algoquin cristã, que lhe transmitiu a fé no Deus vivo. Batizada aos vinte anos de idade, manteve-se fiel às tradições culturais do seu povo, morreu com vinte e quatro anos. Levando uma vida simples, Kateri permaneceu fiel ao seu amor por Jesus, à oração e à Missa diária, receitas infalíveis para uma vida de perfeição cristã. Nela, fé e cultura se enriqueceram mutuamente! A ficha para a inscrição na Escola da santidade aceita pessoas de todas as raças, culturas e idades! Sejam também bem vindos os povos indígenas!

A jovem Santa Anna Schäffer, nascida em uma família humilde, conseguiu, trabalhando como doméstica, ajuntar o dote então necessário para poder entrar na vida religiosa. Neste emprego, sofreu um grave acidente com queimaduras incuráveis nos seus pés, que a prenderam em um leito pelo resto da vida. Seu quarto de enferma se transformou em uma cela conventual, e o seu sofrimento, em serviço missionário. Seu apostolado de oração e de sofrimento, de oferta e de expiação seja um exemplo luminoso e que a sua intercessão fortaleça a atuação abençoada dos centros cristãos de curas paliativas para doentes terminais. A vaidade pessoal superada, a oferta da vida a Deus e aos irmãos, sem perder tempo! Um roteiro na estrada das pessoas que “decidem em seu coração fazer a santa viagem”! (cf. Sl 83,6)

Esta é, quem sabe, uma nova espécie de ladainha, à qual se pode acrescentar uma lista de nomes e estilos de vida, inclusive o meu e o seu! Seja uma sadia propaganda para que as propostas das bem-aventuranças (Mt 5,1-12) encontrem eco no coração dos homens e mulheres de nosso tempo.

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Na própria definição do homem está a alternativa entre a morte e imortalidade



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 31 de Outubro de 1979


1. Convém voltarmos ainda hoje ao significado da solidão original do homem, que se patenteia sobretudo na análise do chamado texto javista de Génesis 2. Permite-nos o texto bíblico, como já verificamos nas precedentes reflexões, pôr em relevo não só a consciência do corpo humano (o homem é criado no mundo visível como «corpo entre os corpos»), mas também a do seu significado próprio.

Tendo em conta a grande concisão do texto bíblico, não se pode, sem mais, ampliar muito este encadeamento. É porém certo que tocamos aqui o problema central da antropologia. A consciência do corpo parece identificar-se neste caso com o descobrimento da complexidade da própria estrutura que, baseada numa antropologia filosófica, consiste afinal na relação entre a alma e o corpo. A narrativa javista com a própria linguagem (isto é, com a sua própria terminologia) exprime-o dizendo: O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo*. E precisamente este homem, «ser vivo», distingue-se em seguida de todos os outros seres vivos do mundo visível. O que leva a concluir a existência deste «distinguir-se» do homem, é exactamente o facto de só ele ser capaz de «cultivar a terra» (Cfr. Gén. 2, 5) e de «a dominar» (Cfr. Gén. 1, 28). Pode dizer-se que a consciência da «superioridade», inscrita na definição de humanidade, nasce desde o princípio baseada num actuar ou comportar-se tipicamente humano. Esta consciência traz consigo especial percepção do significado do corpo em si, percepção que resulta de tocar ao homem «cultivar a terra» e «dominá-la». Tudo isto seria impossível sem uma intuição tipicamente humana do significado do corpo em si.

2. Parece pois necessário falar antes de tudo deste aspecto, deixando para depois o problema da complexidade antropológica em sentido metafísico. Se a descrição original da consciência humana, indicada pelo texto javista, compreende, no conjunto da narrativa, também o corpo, se ela encerra quase o primeiro testemunho do descobrimento da própria corporeidade (e mesmo, como foi dito, a percepção do significado do próprio corpo), tudo isto se revela não com base numa concreta subjectividade do homem que seja bastante clara. O homem é um sujeito não só para a sua autoconsciência e autodeterminação, mas também com base no próprio corpo. A estrutura deste corpo é tal que lhe permite ser o autor duma actividade verdadeiramente humana. Nesta actividade o corpo exprime a pessoa. Ele é portanto, em toda a sua materialidade («formou o homem do pó da terra»), quase penetrável e transparente, de maneira que evidencia quem é o homem (e quem deveria ser) graças à estrutura da sua consciência e da sua autodeterminação. Nisto se apoia a percepção fundamental do significado do corpo em si, que não se pode deixar de descobrir ao analisar a solidão original do homem.

3. Ora, com tal compreensão fundamental do significado do próprio corpo, o homem, como sujeito da antiga Aliança com o Criador, é colocado diante do mistério da árvore do conhecimento. Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque no dia em que o comeres, certamente morrerás (Gén. 2, 16-17). O significado original da solidão do homem baseia-se em experimentar a existência, existência que ele obteve do Criador. Tal existência humana caracteriza-se precisamente pela subjectividade, que também inclui o significado do corpo. Mas o homem, que na sua consciência original conhece apenas a experiência do existir e portanto da vida, poderia ele compreender o que significou a palavra «morrerás»? Seria capaz de chegar a compreender o sentido desta palavra através da estrutura complexa da vida, que lhe foi dada quando «O Senhor Deus ... lhe insuflou pelas narinas o sopro da vida ...»? É necessário admitir que esta palavra, completamente nova, apareceu no horizonte da consciência do homem antes que ele lhe tivesse nunca experimentado a realidade, e que ao mesmo tempo esta palavra apareceu diante dele como radical antítese de tudo aquilo de que o homem fora dotado.

O homem ouviu pela primeira vez a palavra «morrerás», sem ter com ela qualquer familiaridade na experiência feita até então; mas, por outro lado, não podia deixar de associar o significado da morte àquela dimensão de vida de que tinha gozado até esse momento. As palavras de Deus-Javé dirigidas ao homem confirmavam uma dependência no existir, tal que fez do homem um ser limitado e, por sua natureza, susceptível de não-existência. Estas palavras sugeriram o problema da morte de maneira condicional: «No dia em que o comeres ... morrerás». O homem, que ouvira tais palavras, devia encontrar-lhes a verdade na mesma estrutura interior da própria solidão. E, afinal, dependia dele, da sua decisão e livre escolha, se entraria também com a sua solidão no círculo da antítese que lhe revelara o Criador, juntamente com a árvore do conhecimento do bem e do mal, e assim tornaria própria a experiência do morrer e da morte. Ouvindo as palavras de Deus-Javé, deveria o homem compreender que a árvore do conhecimento lançara raízes não só no «jardim do Éden», mas também na sua humanidade. Ele, além disso, deveria compreender que aquela árvore misteriosa escondia em si uma dimensão de solidão, até essa altura desconhecida, da qual o Criador o tinha dotado no âmbito do mundo dos seres vivos, aos quais ele, o homem — diante do Criador mesmo —, tinha «designado com nomes», para chegar a compreender que nenhum deles lhe era semelhante.

4. Quando pois o significado fundamental do seu corpo já se encontrava estabelecido graças à distinção que o separava do resto das criaturas, quando por isso mesmo se tornara evidente que o «invisível» determina o homem mais que o «visível», então apresentou-se diante dele a alternativa, íntima e directamente ligada por Deus-Javé à árvore do conhecimento do bem e do mal. A alternativa entre a morte e a imortalidade, que deriva de Gén. 2, 17, ultrapassa o significado essencial do corpo do homem, pois inclui o significado escatológico não só do corpo, mas da humanidade mesma, distinta de todos os seres vivos, dos «corpos». Esta alternativa refere-se contudo de modo particularíssimo ao corpo criado do «pó da terra».

Para não prolongar mais esta análise, limitamo-nos a verificar que a alternativa entre a morte e a imortalidade entra, desde o princípio, na definição do homem e que pertence «desde o princípio» ao significado da sua solidão diante do próprio Deus. Este significado de solidão, impregnado pela alternativa entre morte e imortalidade, tem ainda um significado fundamental para toda a teologia do corpo.

Com esta verificação concluímos por agora as nossas reflexões sobre o significado da solidão original do homem. Tal verificação, que deriva de modo claro e impressionante dos textos do Livro do Génesis, leva também a reflectir tanto sobre os textos como sobre o homem, que tem provavelmente consciência demasiado débil da verdade que lhe diz respeito e se encontra já expressa nos primeiros capítulos da Bíblia.

* * *

* A antropologia bíblica distingue no homem não tanto «o corpo» e «a alma» quanto «corpo» e «vida». O autor bíblico apresenta aqui a entrega do dom da vida mediante o «sopro», que não deixa de ser propriedade de Deus: quando Deus o tira, o homem volta ao pó, do qual foi feito (cfr. Job. 34, 14-15; Sl. 104, 29 s.).

Saudações

Aos sacerdotes de Santa Rosa de Osos (Colômbia)
Saúdo com profundo afecto os sacerdotes de Santa Rosa de Osos, que vieram acompanhar o seu Bispo a Roma por ocasião da visita "ad limina".
Nas vossas pessoas saúdo todos os irmãos sacerdotes da vossa querida Diocese. Sede constantes na vossa missão pastoral de conduzir os fiéis por caminhos de autêntica fé, de esperança renovada e de caridade solidária. A todos dou de coração uma especial Bênção.

Aos peregrinos da diocese de Nardò (Itália)
Desejo também dirigir uma afectuosa saudação aos numerosos peregrinos da diocese de Nardò, que, sob a direcção do seu Bispo, D. António Rosario Mennonna, pretendem iniciar aqui, em Roma, junto do Papa, o ano mariano diocesano para maior incremento da vida espiritual da comunidade e para a santificação das almas.
Exprimo-vos o meu vivo apreço por esta iniciativa, que envolve todas as forças melhores da vossa comunidade. Sede interiormente dóceis às sugestões maternais que Maria Santíssima não deixará de vos inspirar neste período, a fim de poderdes testemunhar, perante o mundo, a vossa fé, que se concretize na adesão alegre e total às exigências morais da mensagem de Jesus; a vossa caridade generosa e operosa para com todos aqueles que se encontram em necessidade; e a vossa constante esperança no Senhor nosso Jesus Cristo (cfr. 1 Tess 1, 2 s.).
Com estes votos invoco sobre todos, sobre o vosso Pastor e sobre os Presidentes das Câmaras das administrações municipais da diocese, a abundância das graças do Senhor e concedo-vos, de coração, a minha Bênção Apostólica.

A vários grupos de língua alemã
Saúdo também de maneira especial a grande peregrinação diocesana de Hildesheim, presidida pelo Bispo Auxiliar D. Henrich Pachowiak; saúdo também os peregrinos das Dioceses de Mainz, Limburg e Fulda, assim como os leitores, aqui presentes, da revista familiar "Leben und Erziehen" (Viver e educar).
A vossa peregrinação a Roma e a vossa oração junto do túmulo dos Apóstolos e dos santos, têm por objectivo não só a recordação venerável de defuntos que um dia fizeram grandes coisas por Cristo e pela Igreja, mas dirigem-se, antes de tudo, a irmãos na fé, insignes e exemplares, que hoje vivem na glória e na contemplação beatífica de Deus. A vossa peregrinação é solene confissão da Comunhão dos Santos, que não é algo passado, mas um presente vivo. A Festividade de amanhã, festividade de Todos os Santos, recorda-nos isto mais uma vez. Deus, que é um Deus de vivos, vos encha com o desejo forte de atingir o alto ideal da santidade, graças ao qual também a nossa vida deve encontrar um dia n'Ele a sua total plenitude. E o que vos desejo de coração a todos com a minha Bênção Apostólica.

Aos jovens
Uma saudação particularmente afectuosa para todos os jovens, que também hoje aqui vieram numerosos alegrar esta Audiência geral. Caríssimos, agradeço-vos de coração esta vossa significativa presença, sinal de doação a Cristo, e de comunhão com o seu Vigário na terra. As generosas aspirações do vosso ânimo proporcionam-me sempre muita alegria. Celebrando a Igreja, amanhã, a festa de Todos os Santos, convido-vos, queridos jovens, a dirigir o vosso pensamento para as realidades indefectíveis, razão da nossa esperança, e a tirar exemplo e conforto de quem seguiu o Senhor com adesão heróica, e quer agora ajudar-nos a percorrer com coragem a mesma estrada de salvação. A todos concedo uma especial Bênção.

Aos doentes
Desejo assegurar a todos vós, doentes, que estou particularmente perto de vós, com o coração e a prece, consciente de quão precioso é o vosso sacrifício, o qual, elevando e reforçando os vossos ânimos, é ao mesmo tempo fonte de muita graça para toda a Igreja. Concluindo-se hoje o mês do Rosário, apraz-me convidar-vos a tirar inspiração, alegria e conforto desta oração tão cara à tradição cristã. Dirigi constantemente o vosso olhar para a Virgem Santíssima: ela, que é a Mãe das Dores e também a Mãe da Consolação, pode compreender-vos até ao fundo e socorrer-vos.
Olhando para Ela, rezando-Lhe, obtereis que o vosso tédio se torne serenidade, a vossa angústia se mude em esperança, e o vosso sofrimento se transforme em amor. Acompanho-vos com a minha Bênção, que de boa vontade faço extensiva a todos aqueles que vos assistem.

Aos jovens Casais
E agora dirijo-me a vós, queridos jovens casais, para vos apresentar as minhas paternais felicitações, que são ao mesmo tempo convite à confiança e à alegria. A alegria, desabrochada nos vossos corações com a graça do Sacramento, vos acompanhe por toda a vida e vos ajude a vencer as tentações que derivam do egoísmo, o grande inimigo da união familiar. Fazei que as novas famílias — nascidas do vosso livre consentimento, vivificado e tornado oferta de amor pela presença de Cristo — sejam sempre acompanhadas da vontade constante e recíproca de bem; permaneçam sólidas na rocha da unidade e da fidelidade; sejam ricas daquelas virtudes cristãs que fundam e garantem a prosperidade do lar doméstico. Acompanho estes votos com a minha Bênção.

LEITURA ORANTE: A perda é salvação

Quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os que, nesta rede da...