quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Na própria definição do homem está a alternativa entre a morte e imortalidade



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 31 de Outubro de 1979


1. Convém voltarmos ainda hoje ao significado da solidão original do homem, que se patenteia sobretudo na análise do chamado texto javista de Génesis 2. Permite-nos o texto bíblico, como já verificamos nas precedentes reflexões, pôr em relevo não só a consciência do corpo humano (o homem é criado no mundo visível como «corpo entre os corpos»), mas também a do seu significado próprio.

Tendo em conta a grande concisão do texto bíblico, não se pode, sem mais, ampliar muito este encadeamento. É porém certo que tocamos aqui o problema central da antropologia. A consciência do corpo parece identificar-se neste caso com o descobrimento da complexidade da própria estrutura que, baseada numa antropologia filosófica, consiste afinal na relação entre a alma e o corpo. A narrativa javista com a própria linguagem (isto é, com a sua própria terminologia) exprime-o dizendo: O Senhor Deus formou o homem do pó da terra e insuflou-lhe pelas narinas o sopro da vida, e o homem transformou-se num ser vivo*. E precisamente este homem, «ser vivo», distingue-se em seguida de todos os outros seres vivos do mundo visível. O que leva a concluir a existência deste «distinguir-se» do homem, é exactamente o facto de só ele ser capaz de «cultivar a terra» (Cfr. Gén. 2, 5) e de «a dominar» (Cfr. Gén. 1, 28). Pode dizer-se que a consciência da «superioridade», inscrita na definição de humanidade, nasce desde o princípio baseada num actuar ou comportar-se tipicamente humano. Esta consciência traz consigo especial percepção do significado do corpo em si, percepção que resulta de tocar ao homem «cultivar a terra» e «dominá-la». Tudo isto seria impossível sem uma intuição tipicamente humana do significado do corpo em si.

2. Parece pois necessário falar antes de tudo deste aspecto, deixando para depois o problema da complexidade antropológica em sentido metafísico. Se a descrição original da consciência humana, indicada pelo texto javista, compreende, no conjunto da narrativa, também o corpo, se ela encerra quase o primeiro testemunho do descobrimento da própria corporeidade (e mesmo, como foi dito, a percepção do significado do próprio corpo), tudo isto se revela não com base numa concreta subjectividade do homem que seja bastante clara. O homem é um sujeito não só para a sua autoconsciência e autodeterminação, mas também com base no próprio corpo. A estrutura deste corpo é tal que lhe permite ser o autor duma actividade verdadeiramente humana. Nesta actividade o corpo exprime a pessoa. Ele é portanto, em toda a sua materialidade («formou o homem do pó da terra»), quase penetrável e transparente, de maneira que evidencia quem é o homem (e quem deveria ser) graças à estrutura da sua consciência e da sua autodeterminação. Nisto se apoia a percepção fundamental do significado do corpo em si, que não se pode deixar de descobrir ao analisar a solidão original do homem.

3. Ora, com tal compreensão fundamental do significado do próprio corpo, o homem, como sujeito da antiga Aliança com o Criador, é colocado diante do mistério da árvore do conhecimento. Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim, mas não comas o da árvore da ciência do bem e do mal, porque no dia em que o comeres, certamente morrerás (Gén. 2, 16-17). O significado original da solidão do homem baseia-se em experimentar a existência, existência que ele obteve do Criador. Tal existência humana caracteriza-se precisamente pela subjectividade, que também inclui o significado do corpo. Mas o homem, que na sua consciência original conhece apenas a experiência do existir e portanto da vida, poderia ele compreender o que significou a palavra «morrerás»? Seria capaz de chegar a compreender o sentido desta palavra através da estrutura complexa da vida, que lhe foi dada quando «O Senhor Deus ... lhe insuflou pelas narinas o sopro da vida ...»? É necessário admitir que esta palavra, completamente nova, apareceu no horizonte da consciência do homem antes que ele lhe tivesse nunca experimentado a realidade, e que ao mesmo tempo esta palavra apareceu diante dele como radical antítese de tudo aquilo de que o homem fora dotado.

O homem ouviu pela primeira vez a palavra «morrerás», sem ter com ela qualquer familiaridade na experiência feita até então; mas, por outro lado, não podia deixar de associar o significado da morte àquela dimensão de vida de que tinha gozado até esse momento. As palavras de Deus-Javé dirigidas ao homem confirmavam uma dependência no existir, tal que fez do homem um ser limitado e, por sua natureza, susceptível de não-existência. Estas palavras sugeriram o problema da morte de maneira condicional: «No dia em que o comeres ... morrerás». O homem, que ouvira tais palavras, devia encontrar-lhes a verdade na mesma estrutura interior da própria solidão. E, afinal, dependia dele, da sua decisão e livre escolha, se entraria também com a sua solidão no círculo da antítese que lhe revelara o Criador, juntamente com a árvore do conhecimento do bem e do mal, e assim tornaria própria a experiência do morrer e da morte. Ouvindo as palavras de Deus-Javé, deveria o homem compreender que a árvore do conhecimento lançara raízes não só no «jardim do Éden», mas também na sua humanidade. Ele, além disso, deveria compreender que aquela árvore misteriosa escondia em si uma dimensão de solidão, até essa altura desconhecida, da qual o Criador o tinha dotado no âmbito do mundo dos seres vivos, aos quais ele, o homem — diante do Criador mesmo —, tinha «designado com nomes», para chegar a compreender que nenhum deles lhe era semelhante.

4. Quando pois o significado fundamental do seu corpo já se encontrava estabelecido graças à distinção que o separava do resto das criaturas, quando por isso mesmo se tornara evidente que o «invisível» determina o homem mais que o «visível», então apresentou-se diante dele a alternativa, íntima e directamente ligada por Deus-Javé à árvore do conhecimento do bem e do mal. A alternativa entre a morte e a imortalidade, que deriva de Gén. 2, 17, ultrapassa o significado essencial do corpo do homem, pois inclui o significado escatológico não só do corpo, mas da humanidade mesma, distinta de todos os seres vivos, dos «corpos». Esta alternativa refere-se contudo de modo particularíssimo ao corpo criado do «pó da terra».

Para não prolongar mais esta análise, limitamo-nos a verificar que a alternativa entre a morte e a imortalidade entra, desde o princípio, na definição do homem e que pertence «desde o princípio» ao significado da sua solidão diante do próprio Deus. Este significado de solidão, impregnado pela alternativa entre morte e imortalidade, tem ainda um significado fundamental para toda a teologia do corpo.

Com esta verificação concluímos por agora as nossas reflexões sobre o significado da solidão original do homem. Tal verificação, que deriva de modo claro e impressionante dos textos do Livro do Génesis, leva também a reflectir tanto sobre os textos como sobre o homem, que tem provavelmente consciência demasiado débil da verdade que lhe diz respeito e se encontra já expressa nos primeiros capítulos da Bíblia.

* * *

* A antropologia bíblica distingue no homem não tanto «o corpo» e «a alma» quanto «corpo» e «vida». O autor bíblico apresenta aqui a entrega do dom da vida mediante o «sopro», que não deixa de ser propriedade de Deus: quando Deus o tira, o homem volta ao pó, do qual foi feito (cfr. Job. 34, 14-15; Sl. 104, 29 s.).

Saudações

Aos sacerdotes de Santa Rosa de Osos (Colômbia)
Saúdo com profundo afecto os sacerdotes de Santa Rosa de Osos, que vieram acompanhar o seu Bispo a Roma por ocasião da visita "ad limina".
Nas vossas pessoas saúdo todos os irmãos sacerdotes da vossa querida Diocese. Sede constantes na vossa missão pastoral de conduzir os fiéis por caminhos de autêntica fé, de esperança renovada e de caridade solidária. A todos dou de coração uma especial Bênção.

Aos peregrinos da diocese de Nardò (Itália)
Desejo também dirigir uma afectuosa saudação aos numerosos peregrinos da diocese de Nardò, que, sob a direcção do seu Bispo, D. António Rosario Mennonna, pretendem iniciar aqui, em Roma, junto do Papa, o ano mariano diocesano para maior incremento da vida espiritual da comunidade e para a santificação das almas.
Exprimo-vos o meu vivo apreço por esta iniciativa, que envolve todas as forças melhores da vossa comunidade. Sede interiormente dóceis às sugestões maternais que Maria Santíssima não deixará de vos inspirar neste período, a fim de poderdes testemunhar, perante o mundo, a vossa fé, que se concretize na adesão alegre e total às exigências morais da mensagem de Jesus; a vossa caridade generosa e operosa para com todos aqueles que se encontram em necessidade; e a vossa constante esperança no Senhor nosso Jesus Cristo (cfr. 1 Tess 1, 2 s.).
Com estes votos invoco sobre todos, sobre o vosso Pastor e sobre os Presidentes das Câmaras das administrações municipais da diocese, a abundância das graças do Senhor e concedo-vos, de coração, a minha Bênção Apostólica.

A vários grupos de língua alemã
Saúdo também de maneira especial a grande peregrinação diocesana de Hildesheim, presidida pelo Bispo Auxiliar D. Henrich Pachowiak; saúdo também os peregrinos das Dioceses de Mainz, Limburg e Fulda, assim como os leitores, aqui presentes, da revista familiar "Leben und Erziehen" (Viver e educar).
A vossa peregrinação a Roma e a vossa oração junto do túmulo dos Apóstolos e dos santos, têm por objectivo não só a recordação venerável de defuntos que um dia fizeram grandes coisas por Cristo e pela Igreja, mas dirigem-se, antes de tudo, a irmãos na fé, insignes e exemplares, que hoje vivem na glória e na contemplação beatífica de Deus. A vossa peregrinação é solene confissão da Comunhão dos Santos, que não é algo passado, mas um presente vivo. A Festividade de amanhã, festividade de Todos os Santos, recorda-nos isto mais uma vez. Deus, que é um Deus de vivos, vos encha com o desejo forte de atingir o alto ideal da santidade, graças ao qual também a nossa vida deve encontrar um dia n'Ele a sua total plenitude. E o que vos desejo de coração a todos com a minha Bênção Apostólica.

Aos jovens
Uma saudação particularmente afectuosa para todos os jovens, que também hoje aqui vieram numerosos alegrar esta Audiência geral. Caríssimos, agradeço-vos de coração esta vossa significativa presença, sinal de doação a Cristo, e de comunhão com o seu Vigário na terra. As generosas aspirações do vosso ânimo proporcionam-me sempre muita alegria. Celebrando a Igreja, amanhã, a festa de Todos os Santos, convido-vos, queridos jovens, a dirigir o vosso pensamento para as realidades indefectíveis, razão da nossa esperança, e a tirar exemplo e conforto de quem seguiu o Senhor com adesão heróica, e quer agora ajudar-nos a percorrer com coragem a mesma estrada de salvação. A todos concedo uma especial Bênção.

Aos doentes
Desejo assegurar a todos vós, doentes, que estou particularmente perto de vós, com o coração e a prece, consciente de quão precioso é o vosso sacrifício, o qual, elevando e reforçando os vossos ânimos, é ao mesmo tempo fonte de muita graça para toda a Igreja. Concluindo-se hoje o mês do Rosário, apraz-me convidar-vos a tirar inspiração, alegria e conforto desta oração tão cara à tradição cristã. Dirigi constantemente o vosso olhar para a Virgem Santíssima: ela, que é a Mãe das Dores e também a Mãe da Consolação, pode compreender-vos até ao fundo e socorrer-vos.
Olhando para Ela, rezando-Lhe, obtereis que o vosso tédio se torne serenidade, a vossa angústia se mude em esperança, e o vosso sofrimento se transforme em amor. Acompanho-vos com a minha Bênção, que de boa vontade faço extensiva a todos aqueles que vos assistem.

Aos jovens Casais
E agora dirijo-me a vós, queridos jovens casais, para vos apresentar as minhas paternais felicitações, que são ao mesmo tempo convite à confiança e à alegria. A alegria, desabrochada nos vossos corações com a graça do Sacramento, vos acompanhe por toda a vida e vos ajude a vencer as tentações que derivam do egoísmo, o grande inimigo da união familiar. Fazei que as novas famílias — nascidas do vosso livre consentimento, vivificado e tornado oferta de amor pela presença de Cristo — sejam sempre acompanhadas da vontade constante e recíproca de bem; permaneçam sólidas na rocha da unidade e da fidelidade; sejam ricas daquelas virtudes cristãs que fundam e garantem a prosperidade do lar doméstico. Acompanho estes votos com a minha Bênção.

sábado, 27 de outubro de 2012

Apresentada a Mensagem final do Sínodo



SEX, 26 DE OUTUBRO DE 2012 15:24 / ATUALIZADO - SEX, 26 DE OUTUBRO DE 2012 15:29
POR:      RÁDIO VATICANO


Momentos finais do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização, que se encerra no sábado, 27/10, no Vaticano. O penúltimo dia foi de intenso trabalho para os padres sinodais, na presença do Santo Padre. Pela manhã, os participantes aprovaram a Mensagem do Sínodo dos Bispos para o Povo de Deus, na conclusão da 13ª Assembleia Geral. O texto foi apresentado ao público na Sala de Imprensa da Santa Sé, em coletiva de imprensa.

Participaram da coletiva o Presidente da Comissão para a Mensagem, Card. Giuseppe Betori, o Secretário Especial, Dom Pierre Marie Carré, o Diretor da Sala de Imprensa, Pe. Federico Lombardi, e mais dois membros da Comissão.

No texto, divido em 14 pontos, os padres sinodais afirmam que conduzir os homens e as mulheres do nosso tempo a Jesus é uma urgência que diz respeito a todas as regiões do mundo, de antiga e recente evangelização. Não se trata de recomeçar do zero, mas de inserir-se num longo caminho de proclamação do Evangelho que, desde os primeiros séculos da era cristã até hoje, percorreu a História e edificou comunidades de fiéis em todas as partes do mundo, fruto da dedicação de missionários e de mártires.

Caminho que começa com o encontro pessoal com Jesus Cristo e com a escuta das Escrituras. “Para evangelizar o mundo, a Igreja deve, antes de tudo, colocar-se à escuta da Palavra”, escrevem os Padres sinodais, ou seja, o convite a evangelizar se traduz num apelo à conversão, a começar por nós mesmos.

Os Bispos apontam como lugar natural da primeira evangelização a família, que desempenha um papel fundamental para a transmissão da fé. Diante das crises pelas quais passa essa célula fundamental da sociedade, com inúmeros laços matrimoniais que se desfazem, os Padres Sinodais se dirigem diretamente às famílias de todo o mundo, para dizer que o amor do Senhor não abandona ninguém, que também a Igreja as ama e é casa acolhedora para todos.

Os jovens também são destinatários da Mensagem do Sínodo, definidos “presente e futuro da humanidade e da Igreja”. A nova evangelização encontra nos jovens um campo difícil, mas promissor, como demonstram as Jornadas Mundiais da Juventude.

Os horizontes da nova evangelização são vastos tanto quanto o mundo, afirma o Sínodo, portanto é fundamental o diálogo em vários setores: com a cultura, a educação, as comunicações sociais, a ciência e a economia. Fundamental é o diálogo inter-religioso que contribua para a paz, rejeita o fundamentalismo e denuncia a violência contra os fiéis, grave violação dos Direitos Humanos.

Na última parte, a Mensagem se dirige à Igreja em cada região do mundo: às Igrejas no Oriente, faz votos de que possa praticar a fé em condições de paz e de liberdade religiosa; à Igreja na África pede que desenvolva a evangelização no encontro com as antigas e novas culturas, pedindo aos governos que acabem com conflitos e violências.

Os cristãos na América do Norte, que vivem numa cultura com muitas expressões distantes do Evangelho, devem priorizar a conversão e estarem abertos ao acolhimento de imigrantes e refugiados.

Os Padres Sinodais se dirigem à América Latina com sentimento de gratidão. “Impressiona de modo especial como no decorrer dos séculos tenha se desenvolvido formas de religiosidade popular, de serviço da caridade e de diálogo com as culturas. Agora, diante de muitos desafios do presente, em primeiro lugar a pobreza e a violência, a Igreja na América Latina e no Caribe é exortada a viver num estado permanente de missão, anunciando o Evangelho com esperança e alegria, formando comunidades de verdadeiros discípulos missionários de Jesus Cristo, mostrando no empenho de seus filhos como o Evangelho pode ser fonte de uma nova sociedade justa e fraterna. Também o pluralismo religioso interroga as Igrejas da região e exige um renovado anúncio do Evangelho.”

Já a Igreja na Ásia, mesmo constituindo uma minoria, muitas vezes às margens da sociedade e perseguida, é encorajada e exortada à firmeza da fé. A Europa, marcada por uma secularização agressiva, é chamada a enfrentar dificuldades no presente e, diante delas, os fieis não devem se abater, mas enfrentá-las como um desafio. À Oceania, por fim, se pede que continue pregando o Evangelho.

A Mensagem se conclui fazendo votos de que Maria, Estrela da nova evangelização, ilumine o caminho e faça florescer o deserto.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Dom Filippo Santoro: Um bom exemplo de fé, vale mais do que mil palavras


Padre Sinodal, Arcebispo de Taranto, conta sua experiência
Salvatore Cernuzio

ROMA, terça-feira, 23 de outubro de 2012(ZENIT.org) – Falta menos de uma semana para a conclusão da XIII assembléia do Sínodo dos Bispos dedicada a Nova Evangelização para a transmissão da fé. Muitas idéias emergiram da assembléia, sobretudo a de dar vida a uma evangelização que envolva todos os âmbitos e aspectos do ser humano, colhendo os desafios da sociedade de hoje. Sobre isto falou a ZENIT, Dom Filippo Santoro, arcebispo de Taranto, nomeado Padre Sinodal por Bento XVI.

ZENIT: Excelência, o senhor teve diversas experiências como Bispo e missionário no Brasil. Quais são, segundo o senhor, os conselhos aos sacerdotes e ao povo católico para a redescoberta de uma fé sólida e alegre, neste ano dedicado à Fé?
Dom Santoro: Com certeza retornar à Palavra. É um aspecto que não pode ser ignorado, elemento constitutivo e alimento da vida de fé. Receber os sacramentos com mais frequência e doar-se aos outros. As Escrituras Sagradas dizem que: a fé sem obras é vã. E amar os outros, seja o colega de trabalho, a esposa, o amigo em dificuldade, trazendo seu próprio testemunho de fé e de coerência de vida. Um bom exemplo vale mais do que mil palavras.

ZENIT: O Sínodo está agora em fase de conclusão. No entanto, muitos fiéis ainda o vêem como algo distante do cotidiano e dos problemas das pessoas. O senhor poderia explicar por que o Santo Padre escolheu realizar esta grande assembléia e, em função dos trabalhos realizados até agora, o que esta pode trazer à Igreja?
Dom Santoro: O Sínodo é a atuação concreta do caminho de comunhão da Igreja: as alegrias, esperanças, dúvidas e problemas são apresentados nesta assembléia extraordinária que segue um fio condutor. Não é um evento distante porque nós pastores, em nossas realidades de referência estamos tentando difundir a mensagem do Sínodo. A 'sorte' da Igreja é ser católica ou universal. No Sínodo se respira a visão mundial da família de Jesus, não é difícil entender que se trata de uma grande oportunidade, onde os irmãos de todo o mundo escutam a voz uns dos outros através dos pastores, que são os Padres Sinodais.

ZENIT: Bispos de todo o mundo se reuniram para falar sobre a Nova Evangelização, expressão que consiste num conceito amplo. Como é possível conseguir isso? E como, depois do Sínodo, as práticas pastorais poderão mudar?
Dom Santoro: Há uma mensagem que permanece inalterada, embora o céu e a terra passem, as palavras do Evangelho, nunca vão mudar, porque Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre ... . O Evangelho nos ensina sempre que devemos reconhecer os sinais dos tempos, pois o Evangelho deve ser encarnado no mundo em que é anunciado. Não é uma "carta morta", mas palavra viva! A nova evangelização nasce de um olhar mais amplo para o mundo, um olhar do bem, não há mundo que não mereça redenção. A prática pastoral ordinária deve ser sempre repensada a partir disto. Deve ser aceito cada desafio e cada necessidade, como matéria de discernimento, mas sem improvisação. O pensar com o sentimento comum da Igreja universal é garantia de verdade e autenticidade.

ZENIT: O senhor realizou um grande trabalho de reconciliação no conflito entre os que gostariam de fechar o Ilva e os trabalhadores que querem restaurar o sistema, mantendo e melhorando o trabalho. Qual é o seu pensamento sobre o assunto, lembrando o recente decreto do Governo para a remediação de Taranto sobre a poluição industrial?
Dom Santoro: Taranto é uma cidade que me fez sentir acolhido desde o primeiro dia de ministério. Esta recepção calorosa, no entanto, não combina com a tendência de colocar seus próprios interesses acima do bem comum. Todos acreditam que têm a solução no bolso, mas não é assim. Você não pode promover um direito sobre outro porque os danos em ambos os casos, seriam incalculáveis. Meu trabalho tem sido até agora de chamar os partidos para a unidade e o diálogo. A conclusão se deu com uma procissão no bairro Tamburi, o mais afetado pela poluição, com a participação de sindicatos e ambientalistas, trabalhadores e cidadãos comuns. Espero que esta autorização ambiental integrada possa unir as necessidades daqueles que têm medo de perder seus empregos com as de quem, justamente, pedem ar puro e garantias para o próprio futuro e o dos seus filhos.

ZENIT: Algumas semanas atrás, alguns trabalhadores do Ilva (indústria que se ocupa da produção e transformação do aço) protestaram no alto do pórtico do auto-forno 5 e da chaminé E312, a dezenas de metros de altura, arriscando suas vidas. Voltando ao discurso da Nova Evangelização, como é possível levar esperança aos corações destas pessoas que aparentemente a perderam?
Dom Santoro: Não existe receita diferente a não ser a do acolher o outro. Àqueles trabalhadores eu levei o abraço da Igreja e eles foram revitalizados. A fé é nutrida graças à experiência de Deus que fazemos em um encontro real, aquele com o sorriso de um irmão, uma palavra de conforto.

ZENIT: Então, o anúncio do Evangelho pode ser feito também em uma particular situação social?
Bispo Santoro: Claro! È realizado da mesma forma, prestando atenção aos mais necessitados, voltando a educar "para a boa vida do Evangelho", quando por vida não se entende, é claro, apenas a esfera religiosa de cada indivíduo, mas todos os ambientes em que o homem se encontra: da escola ao trabalho, da festa ao lazer, através das várias provações da vida.

(Trad.MEM)

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

A solidão original do homem e a sua consciência de ser pessoa



JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 24 de Outubro de 1979

1. Na reflexão precedente, começamos a analisar o significado da solidão original do homem. A sugestão foi-nos dada pelo texto javista, e em particular pelas seguintes palavras: Não é conveniente que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele (Gén. 2, 18. 2). A análise das relativas passagens do Livro do Génesis (cap. 2) levou-nos já a conclusões surpreendentes que dizem respeito à antropologia, isto é à ciência fundamental acerca do homem, contida neste Livro. De facto, relativamente em poucas frases, o antigo texto delineia o homem como pessoa com a subjectividade que a caracteriza.

Quando Deus-Javé dá a este primeiro homem, assim formado, a ordem que diz respeito a todas as árvores que crescem no «jardim do Éden», sobretudo a do conhecimento do bem e do mal, aos delineamentos do homem, acima descritos, junta-se o momento da opção e da autodeterminação, isto é da vontade livre. Deste modo, a imagem do homem, como pessoa dotada de urna subjectividade própria, aparece diante de nós como acabada no seu primeiro esboço.

No conceito de solidão original está incluída quer a auto-consciência, quer a autodeterminação. O facto de o homem estar «só» encerra em si tal estrutura ontológica e ao mesmo tempo é um índice de autêntica compreensão. Sem isto, não podemos compreender correctamente as palavras seguintes, que constituem o prelúdio da criação da primeira mulher: «vou dar-lhe uma auxiliar». Mas, sobretudo, sem aquele significado tão profundo da solidão original do homem, não pode ser compreendida nem correctamente interpretada a situação completa do homem criado «à imagem de Deus», que é a situação da primeira, ou melhor da primitiva Aliança com Deus.

2. Este homem, de quem a narração do capítulo primeiro diz que foi criado «à imagem de Deus», manifesta-se, na segunda narração, como sujeito da Aliança, isto é, sujeito constituído como pessoa, constituído à altura de «companheiro do Absoluto», dado dever discernir e escolher conscientemente entre o bem e o mal, entre a vida e a morte. As palavras da primeira ordem de Deus-Javé (Gén. 2, 16-17) que se referem directamente à submissão e à dependência do homem-criatura do seu Criador, revelam de modo indirecto precisamente tal nível de humanidade, como sujeito da Aliança e «companheiro do Absoluto». O homem está «só»: isto quer dizer que ele, através da própria humanidade, através daquilo que ele é, é ao mesmo tempo constituído numa única, exclusiva e irrepetível relação com o próprio Deus. A definição antropológica contida no texto javista aproxima-se, por seu lado, daquilo que exprime a definição teológica do homem, que encontramos na primeira narração da criação («Façamos o homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança» (Gén. 1, 26).

3. O homem, assim formado, pertence ao mundo visível, é corpo entre os corpos. Retomando e, de certo modo, reconstruindo o significado da solidão original, aplicamo-lo ao homem na sua totalidade. O corpo, mediante o qual o homem participa no mundo criado visível, torna-o ao mesmo tempo consciente de estar «só». De outro modo não teria sido capaz de chegar àquela convicção, a que, efectivamente, como lemos, chegou (Cfr. Gén. 2, 20), se o seu corpo o não tivesse ajudado a compreendê-lo, tornando o facto evidente. A consciência da solidão poderia ter enfraquecido, precisamente por causa do seu próprio corpo. O homem, 'adam, teria podido, baseando-se na experiência do próprio corpo, chegar à conclusão de ser substancialmente semelhante aos outros seres vivos (animalia). E afinal, como lemos, não chegou a esta conclusão, pelo contrário chegou à persuasão de estar «só». O texto javista não fala nunca directamente do corpo; até mesmo quando diz que «o Senhor Deus formou o homem do pó da terra», fala do homem e não do corpo. Apesar disto, a narração tomada no seu conjunto oferece-nos bases suficientes para perceber este homem, criado no mundo visível, exactamente como corpo entre os corpos.

A análise do texto javista permite-nos também relacionar a solidão original do homem com a consciência do corpo, mediante o qual o homem se distingue de todos os animalia e «se separa» deles, e também mediante o qual ele é pessoa. Pode-se afirmar com certeza que aquele homem assim formado tem contemporaneamente o conhecimento e a consciência do sentido do próprio corpo. E isto baseado na experiência da solidão original.

4. Tudo isto pode ser considerado como implicação da segunda narração da criação do homem, e a análise do texto permite-nos um amplo desenvolvimento.

Quando no início do texto javista, ainda antes de se falar da criação do homem do «pó da terra», lemos que «ninguém cultivava a terra e fazia jorrar da terra a água dos canais para regar o solo» (Gén. 2, 5-6. 6) , associamos justamente este trecho ao da primeira narração, em que está expressa a ordem divina: enchei e dominai a terra (Gén. 1, 28). A segunda narração alude de modo explícito ao trabalho que o homem realiza para cultivar a terra. O primeiro meio fundamental para dominar a terra encontra-se no próprio homem.

O homem pode dominar a terra porque só ele — e nenhum outro ser vivo — é capaz de «cultivá-la» e transformá-la segundo as próprias necessidades («fazia jorrar da terra a água dos canais para regar o solo»). E então, este primeiro esboço de uma actividade especificamente humana parece fazer parte da definição do homem, tal como emerge da análise do texto javista. Por conseguinte, pode-se afirmar que tal esboço é intrínseco ao significado da solidão original e pertence àquela dimensão de solidão através da qual o homem, que desde o início, está no mundo visível como corpo entre os corpos, descobre o sentido da própria corporalidade.

Sobre este assunto voltaremos na próxima reflexão.

Saudações

A um grupo de Superiores regionais da "Sociáté des Missions Etrangères de Paris"
Tenho o prazer de saudar de modo particular o Superior-Geral e os Superiores regionais da Sociedade das Missões Estrangeiras de Paris. Acabámos de celebrar o Dia das Missões: vós sois, queridos amigos, a imagem viva do apostolado missionário. Muitos dos vossos irmãos de hábito abandonaram o próprio país natal para consagrar toda a vida, e por vezes até ao martírio, à propagação do Evangelho e à implantação da Igreja nos países da Ásia, sobretudo do Extremo Oriente, e agora noutros continentes. Graças a Institutos como o vosso, foi possível surgirem Pastores autóctones que tomaram a responsabilidade das suas comunidades. Mas não nos esqueçamos que muitos precisam sempre de uma ajuda fraternal e que o zelo missionário da Igreja não deve diminuir, ainda que, infelizmente, lhe sejam hoje inacessíveis alguns campos de apostolado. Vae enim mihi est, si non evangelizavero — Ai de mim se não evangelizar (1 Cor 9, 16). Contribuí para que se mantenha este espírito, e continuai a servir onde quer que sejais chamados. Abençoo de todo o coração todos os vossos missionários.

Aos organizadores da `"Iniciativa da Estafeta internacional" para o desarmamento
Saúdo também os organizadores da "Iniciativa da Estafeta internacional". Encontrastes nela um meio para levar as populações da Europa a compreenderem a necessidade de afastar a ameaça dos armamentos de destruição em massa, e estais prontos a tornar conhecidas aos representantes dos povos as mensagens que dela derivam. O vosso contributo dá um testemunho suplementar dos homens de boa vontade. Quem poderia deixar de concordar com o grito de alarme que se levanta de todas as partes a este propósito? Bem-aventurados os que promovem a paz!

A um grupo de doentes provenientes da Inglaterra
Especiais boas-vindas a um grupo proveniente da Inglaterra: os peregrinos doentes e diminuídos mentais que vieram a Roma com o "Across Trust". Estou muito contente por vos ter sido possível estardes presente hoje aqui, e rezarei por vós e pelos vossos familiares que se encontram em casa. Recomendo-vos todos a protecção da nossa Bendita Mãe Maria.

Aos Superiores e aos Alunos do Colégio Pio Latino-Americano
Vá agora a minha saudação para os Superiores e Alunos do Pontifício Colégio Pio Latino-Americano, presentes nesta Audiência e acompanhados pelos Membros da Comissão Episcopal nomeada pela Santa Sé, que faz a sua visita ordinária.
Sinto grande alegria em receber-vos hoje, queridos Irmãos e Filhos, que formais a actual família de uma Instituição que já conta 120 anos de história.
Aproveitai bem a vossa permanência em Roma para vos formardes solidamente nas ciências sagradas e humanas. Enchei os vossos espíritos de profundo sentido sobrenatural acerca do valor da vossa vida consagrada ao serviço das almas. Deste modo implantareis fundamentos firmes para o vosso futuro ministério.
Transmito-vos a minha mais íntima palavra de coragem, a vós, Bispos, que representais perante o Colégio todo o Episcopado Latino-Americano, a fim de atenderdes com particular esmero e diligência, a esta importante e delicada tarefa.
Asseguro-vos, por fim, que peço ao Senhor por toda a grande família do Colégio e dou-lhe com afecto a minha especial Bênção.

Aos participantes na Assembleia extraordinária da categoria dos ascensoristas
Uma especial saudação também para o numerosíssimo grupo de ascensoristas, que participam nestes dias em Roma na Assembleia extraordinária da sua benemérita categoria.
Peço ao Senhor que vos conceda a graça da fidelidade e da perseverança no vosso compromisso humano e cristão a fim de que os bons propósitos inpirados por este encontro com o humilde Sucessor de Pedro deixem um sulcro profundo na vossa vida, para edificação das vossas famílias e de todos aqueles que encontrareis no âmbito do vosso trabalho. A todos vós a minha Bênção.

A um grupo de peregrinos de Fidenza (Itália)
Uma cordial saudação dirijo agora à numerosa peregrinação da Diocese de Fidenza, acompanhada pelo seu Bispo, D. Mario Zanchin, e exprimo a todos os participantes a minha sincera satisfação por este encontro, que assume o significado de um fervoroso testemunho de fé em Cristo e de afecto filial para com o sucessor de Pedro. Não posso deixar de vos repetir, caríssimos irmãos e irmãs, o meu mais forte encorajamento por tudo aquilo que fazeis de bom, de caritativo e de exemplar; desejo-vos que o compromisso de testemunho cristão seja contínuo e cada vez maior, e seja sempre fonte de verdadeira alegria e de paz operosa.

Aos Assistentes Paroquiais da Acção Católica Italiana
Saúdo de todo o coração o grupo dos Assistentes Paroquiais da Acção Católica Italiana, reunidos nestes dias em Roma para um congresso subordinado ao tema: "O itinerário de espiritualidade do adulto hoje".
O assunto é certamente muito importante, e eu encorajo-vos cordialmente a estudá-lo como convém, desejando de coração que o Senhor vos ajude no vosso precioso ministério, a fim de que, como disse São Paulo, "sejais poderosamente fortalecidos pelo Seu Espírito quanto ao crescimento do homem interior" (El. 3, 16).
E a minha Bênção Apostólica seja para vós louvor e estímulo.

Aos alunos do Distrito escolar de Chiusi-Pienza e Montepulciano (Itália)
Estão presentes na Audiência mais de dois mil rapazes e meninas dos Distritos escolares de Chiusi-Pienza e Monteoulciano, juntamente com o seu Bispo D. Alberto Giglioli, e muitos pais. Sois verdadeiramente tantos e, com certeza, todos felizes por terdes vindo a Roma e ao Papa, acompanhados por aqueles que vos querem bem. Tomastes verdadeiramente a sério o "Ano da Criança", empenhastes-vos de tantos modos para ajudar as crianças que sofrem e quisestes concluir aqui comigo as vossas iniciativas.
Agradeço de coração, a vós e aos vossos Superiores e Pais, esta actividade tão benemérita, e exorto-vos, queridos rapazes e meninas, a sempre vos manterdes assim, bons, generosos, sinceros, estudiosos, para consolação dos vossos pais e professores, para o bem da sociedade, para a edificação espiritual das Dioceses de que provindes, e para a vossa própria alegria interior de autênticos amigos de Jesus.
O meu afecto vos acompanhe sempre com a minha particular Bênção.

Às ex-Alunas do Instituto do Sagrado Coração
Uma afectuosa palavra de saudação, de encorajamento e de felicitações dirijo ao numeroso grupo das ex-Alunas do Instituto do Sagrado Coração, que se encontram em Roma para um congresso sobre o tema: "A oração".
Desejo dizer-vos, caríssimas irmãs, quanto aprecio esta vossa iniciativa espiritual, e — segundo o desejo que vós próprias manifestastes — deixo-vos, como recordação deste nosso encontro, um pensamento muito breve de Santo Agostinho sobre a oração: "Qui vult audiri a Deo, prius audiat Deum" ("Quem quer ser ouvido por Deus, oiça primeiro a Deus" - Serm. XVII, 4): Sim! Ouvi com docilidade a Deus que fala na Sagrada Escritura; que nos guia através do ensinamento e das directrizes da Igreja e dos seus Pastores; escutai a Deus, que se faz ouvir no silêncio misterioso da vossa consciência, rectamente iluminada.
A todas vós e a todos os. Que vos são queridos a minha Bênção Apostólica.

A dois grupos de Peregrinos de língua alemã
Dirijo uma especial saudação de boas-vindas ao numeroso grupo de peregrinos da Diocese de Limburg. Mediante a vossa peregrinação ao túmulo dos Apóstolos, revigora-se de maneira solene a vossa fé em Cristo e a consciência de pertencerdes à santa Igreja. Do mesmo modo que Cristo enviou os seus Apóstolos como mensageiros da fé, também vós sois chamados a ser testemunhas: na família, no trabalho, nas vossas comunidades. Voltai para a vossa pátria conscientes de Cristo, que hoje vos envia, permanecer sempre ao vosso lado, vos confortar e proteger. Permanecei também vós inabalavelmente fiéis a Ele!
Saúdo a seguir com singular satisfação o grupo de peregrinos do "Sindicato patronal católico de Electricistas" (Katholischen Arbeitgeberverbandes für Elektroberufe). A vossa actividade proporciona a muitos homens luz e calor. Em espírito de responsabilidade e solidariedade cristãs, esforçai-vos por alargar sempre essa responsabilidade e solidariedade entre os vossos empregados e colaboradores. Desejaria que este encontro com os lugares célebres da cidade de Roma e com o supremo Pastor da Igreja iluminasse a vossa vida e as vossas obras, como cristãos, com a graça de Deus, e fortalecesse a vossa fé.
Concedo-vos, pois, de coração, e a todos os peregrinos presentes, a Bênção Apostólica.

Aos jovens
Desejamos dirigir agora uma palavra a vós, jovens, alegria e primavera deste encontro. Não é uma imagem gasta que usamos; porque, como a primavera, sentis verdadeiramente em vós o tumulto da vida, e a alegria de a viver. Pois bem, dai lugar, no desdobrar-se da actividade de cada dia, ao autor das coisas, à fonte de todos os dons, à luz de toda a inteligência: a Jesus.

Aos doentes
Perante Deus, Ser dos seres, somos todos pobres doentes, necessitados da sua paterna misericórdia. Mas vós, por seu imperscrutável desígnio, participais mais de perto nesta misteriosa sorte.
E sois mais semelhantes a Cristo, que, embora sendo o Filho de Deus, provou o sofrimento: não da doença, mas da Paixão e da Morte.
Deus vos assista, vos ajude e vos console com a fé certíssima de que o vosso sofrimento é fecundo para a Igreja, e será transformado na mais pura alegria, hoje e na eternidade.

Aos jovens Casais
Aos jovens Casais, além de desejar todo o bem d'Aquele que instituiu a Matrimónio, quereríamos recordar as palavras do Apóstolo São Paulo aos Efésios (5, 22 ss.), o qual compara o Esposo com Cristo, a Esposa com a Igreja. E como Cristo morreu pela Igreja, e esta não tem outro desejo senão agradar-lhe e servi-lo, assim deveis fazer também vós. O pensamento da vossa recíproca dignidade será fonte de profundo respeito, de firmeza, de amor e de toda a ditosa consolação.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Termina a primeira fase do Sínodo dos Bispos: Nova evangelização para renovar a fé




VATICANO, 18 Out. 12 / 02:23 pm (ACI/EWTN Noticias).- Hoje ao meio dia se realizou no Vaticano uma conferência de imprensa com os presidentes delegados do Sínodo dos Bispos que está sendo realizado até o dia 27 de outubro, na qual se informou sobre os trabalhos da assembleia sinodal após a apresentação de ontem do "Relatório depois das discussões gerais".

Na conferência estiveram: o Cardeal John Tong Hon, bispo de Hong Kong (China); o Cardeal Francisco Robles Ortega, Arcebispo de Guadalajara (México); o Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, Arcebispo da Kinshasa (Congo) e Dom Ján Babjak, arcebispo Metropolita di Prešov para os católicos de rito bizantino.

Os Bispos fizeram um balanço desta primeira parte do Sínodo sobre a Nova evangelização e traçaram os limites, o contexto e o material sobre o qual agora os padres sinodais, depois das discussões gerais na Sala do Sínodo, dispõem-se a tratar e avaliar em grupos linguísticos, nos chamados círculos menores onde será elaborado o rascunho da mensagem final.

Ontem pela tarde, o Cardeal Donald Wuerl, relator geral do Sínodo, assinalou que "a nova evangelização não é um programa temporário, mas sim uma maneira de ver o futuro da Igreja e de ver-nos a todos comprometidos na renovação da fé, porque o anúncio do Evangelho é a missão primordial da Igreja".

Em presença do Papa Bento XVI, o Arcebispo de Washington apresentou o "Relatório depois das discussões gerais" que contém os temas mais importantes do Sínodo.

Ele disse que "hoje especialmente, o ministério da Igreja se encontra em uma fase de revisão de sua maneira de levar a Palavra de Deus em um contexto novo, globalizado, cheio de desafios e onde há uma grande ignorância da fé, especialmente nos países de antiga tradição cristã".

O relator geral destacou que na prática o que se necessita é uma "renovação espiritual que a Igreja deve proclamar e aplicar".

O Cardeal Wuerl recordou alguns temas que foram tratados no Sínodo: o diálogo inter-religioso, especialmente com o mundo muçulmano; a violência e a redução da liberdade religiosa; o compromisso ecumênico e a Igreja nos meios de comunicação.

Continuando, indicou alguns "instrumentos" válidos para um novo anúncio do Evangelho: as paróquias, as pequenas comunidades, as escolas, as universidades, as peregrinações e os catequistas.

"Mas é principalmente o matrimônio, a família, a Igreja doméstica, a instituição que consegue transmitir a fé nas situações mais difíceis, formar à pessoa humana, que hoje tem necessidade de apoio em um mundo secularizado".

O Arcebispo dedicou um amplo espaço aos sacerdotes e consagrados insubstituíveis para a nova evangelização em uma época onde as vocações são escassas; e recordou igualmente a necessidade de integrar os leigos a todos os níveis na organização da igreja local, já que todos os católicos devem convocar às pessoas à prática da fé.

Conforme assinala a Rádio Vaticano, o relatório do Cardeal Wuerl contém 14 perguntas, às que terão que responder os Padres sinodais, preparando assim o terreno para a elaboração dos documentos finais.

"Agora que a Igreja é consciente de suas dificuldades, tensões, preocupações, pecados e sua debilidade humana, é hora de olhar um novo Pentecostes, para viver a Palavra de Deus e compartilhá-la com alegria", concluiu.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

SÃO LUCAS, EVANGELISTA



“São Lucas transmitiu-nos o Evangelho do Senhor,
e anunciou-nos Jesus Cristo, Sol nascente lá do alto.”
(Antífona do cântico evangélico das laudes)

Leituras: 2Tm 4,10-17b; Sl 144(145),10-11.12-13ab.17-18 (R/. 12ª); Lc 10,1-9

Lucas é um dos quatro evangelistas. O seu Evangelho é reconhecido como o do amor e da misericórdia. Foi escrito sob o signo da fé, nos tempos em que isso podia custar a própria vida. Mas falou em nascimento e ressurreição, perdão e conversão, na salvação de toda a humanidade. Além do terceiro evangelho, escreveu os Atos dos Apóstolos, onde registrou o desenvolvimento da Igreja na comunidade primitiva, relatando os acontecimentos de Jerusalém, Antioquia e Damasco, deixando-nos o testemunho do Cristo da bondade, da doçura e da paz.

Lucas nasceu na Antioquia, Síria. Era médico e pintor, muito culto, e foi convertido e batizado por são Paulo. No ano 43, já viajava ao lado do apóstolo, sendo considerado seu filho espiritual. Escreveu o seu Evangelho em grego puro, quando são Paulo quis pregar a Boa-Nova aos povos que falavam aquele idioma. Os dois sabiam que mostrar-lhes o caminho na própria língua facilitaria a missão apostólica. Assim, através de seus escritos, Lucas tornou-se o relator do nascimento de Jesus, o principal biógrafo da Virgem Maria e o primeiro a expressá-la através da pintura.

Quando das prisões de são Paulo, Lucas acompanhou o mestre, tanto no cárcere como nas audiências. Presença que o confortou nas masmorras e deu-lhe ânimo no enfrentamento do tribunal do imperador. Na segunda e derradeira vez, Paulo escreveu a Timóteo que agora todos o haviam abandonado. Menos um. "Só Lucas está comigo" E essa foi a última notícia certa do evangelista.

A tradição cristã diz-nos que depois do martírio de são Paulo o discípulo, médico e amigo Lucas continuou a pregação. Ele teria seguido pela Itália, Gálias, Dalmácia e Macedônia. E um documento traduzido por são Jerônimo trouxe a informação que o evangelista teria vivido até os oitenta e quatro anos de idade. A sua morte pelo martírio em Patras, na Grécia, foi apenas um legado dessa antiga tradição.

Todavia, por sua participação nos primeiros tempos, ao lado dos apóstolos escolhidos por Jesus, somada à vida de missionário, escritor, médico e pintor, transformou-se num dos pilares da Igreja. Na suas obras, Lucas dirigia-se a um certo Teófilo, amigo de Deus, que tanto poderia ser um discípulo como uma comunidade, ou todo aquele que entrava em contato com a mensagem da Boa-Nova através dessa leitura. Com tal recurso literário, tornou seu Evangelho uma porta de entrada à salvação para todos os povos, concedendo o compartilhamento do Reino de Deus por todas as pessoas que antes eram excluídas pela antiga lei.

Oração
Ó Deus, que escolhestes São Lucas para revelar em suas palavras e escritos o mistério do vosso amor para com os pobres, concedei aos que já se gloriam do vosso nome perseverar num só coração e numa só alma, e a todos os povos do mundo ver a vossa salvação. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir



“Eu procuro Aquele que por nós deu a vida,
e desejo Aquele que por nós ressurgiu.”
(Antífona do cântico evangélico das laudes)

No centro do Coliseu romano, o bispo cristão aguarda ser trucidado pelas feras, enquanto a multidão exulta em gritos de prazer com o espetáculo sangrento que vai começar. Por sua vez, no estádio, cristãos incógnitos, misturados entre os pagãos, esperam, horrorizados, que um milagre salve o religioso. Os leões estão famintos e excitados com o sangue já derramado na arena. O bispo Inácio de Antioquia, sereno, esperava sua hora pronunciando com fervor o nome do Cristo.

Foi graças a Inácio que as palavras cristianismo e Igreja Católica surgiram. Era o início dos tempos que mudaram o mundo, próximo do ano 35 da era cristã, quando ele nasceu. Segundo os estudiosos, não era judeu e teria sido convertido pela primeira geração de cristãos, os apóstolos escolhidos pelo próprio Jesus. Cresceu e foi educado entre eles, depois sucedeu Pedro no posto de bispo de Antioquia, na Síria, considerada a terceira cidade mais importante do Império Romano, depois de Roma e Alexandria, no Egito. Gostava de ser chamado Inácio Nurono. Inácio deriva do grego "ignis", fogo, e Nurono era nome que ele mesmo dera a si, significando "o portador Deus". Desse modo viveu toda a sua vida: portador de Deus que incendiava a fé.

Mas sua atuação logo chamou a atenção do imperador Trajano, que decretou sua prisão e ordenou sua morte. Como cristão, deveria ser devorado pelas feras para diversão do povo ávido de sangue. O palco seria o recém-construído Coliseu.

A viagem de Inácio, acorrentado, de Antioquia até Roma, por terra e mar, foi o apogeu de sua vida e de sua fé. Feliz por poder ser imolado em nome do Salvador da humanidade, pregou por todos os lugares por onde passou, até no local do martírio. Sua prisão e condenação à morte atraiu todos os bispos, clérigos e cristãos em geral, de todas as terras que atravessou. Multidões juntavam-se para ouvir suas palavras. Durante a viagem final, escreveu sete cartas que figuram entre os escritos mais notáveis da Igreja, concorrendo em importância com as do apóstolo Paulo. Em todas faz profissão de sua fé, e contêm ensinamentos e orientações até hoje adotados e seguidos pelos católicos, como ele tão bem nomeou os seguidores de Jesus.

Numa dessas cartas, estava o seu especial pedido: "Deixai-me ser alimento das feras. Sou trigo de Deus. É necessário que eu seja triturado pelos dentes dos leões para tornar-me um pão digno de Cristo". Fazia-o sabendo que muitos de seus companheiros poderiam influenciar e conseguir seu perdão junto ao imperador. Queria que o deixassem ser martirizado. Sabia que seu sangue frutificaria em novas conversões e que seu exemplo tocaria o coração dos que, mesmo já convertidos, ainda temiam assumir e propagar sua religião.

Em Roma, uma festa que duraria cento e vinte dias tinha prosseguimento. Mais de dez mil gladiadores dariam sua vida como diversão popular naquela comemoração pela vitória em uma batalha. Chegada a vez de Inácio, seus seguidores e discípulos esperavam, ainda, o milagre.

Que não viria, porque assim desejava o bispo mártir. Era o dia 17 de outubro de 107, sua trajetória terrena entrava para a história da humanidade e da Igreja.

Oração
Deus eterno e todo poderoso, que ornais a vossa Igreja com o testemunho dos mártires, fazei que a gloriosa paixão que hoje celebramos, dando a Santo Inácio de Antioquia a glória eterna, nos conceda contínua proteção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

Fui em peregrinação ao Santuário vivo do Povo de Deus



JOÃO PAULO II
AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 17 de Outubro de 1979

1. «O Bispo, que visita as comunidades da sua Igreja, é o autêntico peregrino que chega àquele particular santuário do Bom Pastor, que é o Povo de Deus, participante do sacerdócio real de Cristo. Mais, este santuário é cada homem cujo 'mistério' somente se explica e se resolve 'no mistério do Verbo encarnado'» (Gaudium et Spes, 22)

Ofereceu-se-me ocasião de pronunciar as sobreditas palavras na Capela Matilde, quando o Papa Paulo VI me convidou a pregar os exercícios espirituais no Vaticano.

Estas palavras vêm-me de novo à mente hoje, porque parecem encerrar em si o que foi o conteúdo mais essencial da minha viagem à Irlanda e aos Estados Unidos, viagem a que deu ocasião o convite do Secretário-Geral da ONU.

Esta viagem, em ambas as etapas, foi, por sinal, autêntica peregrinação ao santuário vivo do Povo de Deus.
Se o ensinamento do Concílio Vaticano II nos permite olhar assim para todas as visitas do Bispo a uma paróquia, o mesmo se poderá dizer também desta visita do Papa. Julgo ter especial obrigação de expressar-me sobre este tema. Muito desejo também que aqueles que me acolheram com tanta hospitalidade saibam que procurei encontrar-me na intimidade com aquele mistério que foi e continua a ser modelado por Cristo, Bom Pastor, nas suas almas, na sua história e na sua comunidade. Para dar relevo a esta verdade, decidi interromper, nesta quarta-feira, o ciclo de reflexões a respeito das palavras de Cristo sobre o tema do matrimónio. Retomá-lo-emos daqui a uma semana.

2. Quero, primeiro que tudo, dar testemunho do encontro com o mistério da Igreja na terra irlandesa. Não esquecerei nunca aquele lugar, em que parámos brevemente, nas horas da manhã do domingo, 30 de Setembro: Clonmacnois. As ruínas da abadia e do templo falam da vida que aí pulsava outrora. Trata-se dum daqueles mosteiros, cujos monges irlandeses não só enxertaram o Cristianismo na Ilha Verde, mas donde também o levaram aos outros Países da Europa. Difícil é olhar para esse conjunto de ruínas apenas como monumento do passado; gerações inteiras da Europa devem-lhes a luz do Evangelho e a base fundamental da sua cultura. Essas ruínas continuam a ter uma grande missão. Constituem sempre um estímulo. Falam sempre daquela plenitude de vida, a que nos chamou Cristo. É difícil que um peregrino chegue àqueles locais sem que esses vestígios do passado, aparentemente morto, revelem uma dimensão, permanente e não perecedoira, da vida. É assim a Irlanda: no âmago tem a missão perene da Igreja, a que deu começo São Patrício.

Peregrinando no seguimento das suas pegadas, caminhámos em direcção da Sé primacial de Armagh, e detivemo-nos, no percurso, em Drogheda, onde para essa ocasião estavam solenemente expostas as relíquias de Santo Olivério Plunkett, Bispo e Mártir. Só ajoelhando-nos diante daquelas relíquias podemos exprimir toda a verdade sobre a Irlanda histórica e contemporânea, e pode-mos tocar também nas suas feridas, com a esperança de que elas cicatrizem e não impeçam a todo o organismo pulsar com plenitude de vida. Tocamos também, na verdade, os dolorosos problemas contemporâneos, mas não interrompemos o peregrinar através daquele magnífico santuário do Povo de Deus, que se abre diante de nós, em tantos lugares, em tantas maravilhosas assembleias litúrgicas, durante as celebrações da Eucaristia em Dublim, em Galway, em Knock santuário mariano, em Maynooth e em Limerick. Em particular, tenho e terei sempre presente no meu espírito também o encontro com o Presidente da Irlanda, Senhor Patrick J. Hillery, e com as ilustres Autoridades daquela Nação. Recordem-se todos aqueles, com quem me encontrei — sacerdotes, missionários, irmãos e irmãs religiosas, alunos, leigos, esposos e pais, a juventude irlandesa, os doentes, todos — recordem-se sobretudo os amados irmãos no Episcopado, de que eu estive presente no meio deles como peregrino, de visita ao Santuário do Bom Pastor, que habita na universalidade do Povo de Deus; e recordem-se que fui atravessando aquele magnífico leito da história da salvação, que desde os tempos de São Patrício foi a Ilha Verde, e que o fiz levando a cabeça inclinada e o coração agradecido, na procura, juntamente com as pessoas referidas, dos caminhos que orientam para o futuro.

3. O mesmo quero também dizer aos meus Irmãos e às minhas Irmãs de além Oceano. Jovem é ainda essa Igreja, porque jovem é a sua grande sociedade: passaram só dois séculos da sua história no mapa político do globo. Desejo agradecer-lhes a todos o acolhimento que me reservaram; a resposta que deram a esta visita e a esta presença, necessariamente breve. Confesso ter ficado surpreendido com tal acolhimento e com tal resposta. Mantivemo-nos debaixo de chuva a cântaros, durante a Missa para os jovens, na primeira tarde em Boston. A chuva acompanhou-nos pelas ruas daquela cidade, assim como depois pelas de Nova Iorque, entre os arranha-céus. Aquela chuva não impediu muitos homens de boa vontade que perseverassem na oração, que esperassem ó momento da minha chegada, a minha palavra e a minha bênção.

Para mim ficarão inesquecíveis: os bairros de Harlem, com a maioria da população negra; de South Bronx, com os recém-chegados dos Países da América Latina; os encontros com a juventude no Madison Square Garden e no Battery Park, debaixo de chuva torrencial e tempestade furiosa, e no Estádio em Brooklyn, quando finalmente apareceu o sol; na véspera, o grande Yankee Stadium, cheio até ao máximo para a participação na liturgia eucarística; e depois, a ilustre Filadélfia, a primeira capital dos Estados independentes, com o seu sino da liberdade e talvez quase dois milhões de participantes na Santa Missa da tarde, no centro mesmo da cidade; o encontro com a América rural em Des Moines; em seguida, Chicago, onde, de modo mais apropriado se pôde desenvolver a analogia sobre o argumento «e pluribus unum»; e, por fim, a cidade de Washington, capital dos Estados Unidos, com todo o sobrecarregado programa até à última Missa, tendo-se o Capitólio à vista.

O Bispo de Roma, como peregrino, entrou, seguindo as pegadas do Bom Pastor, no Seu santuário do novo continente e procurou viver, junto a vós, a realidade da Igreja, que brota do ensinamento do Concílio Vaticano II, com toda a profundidade e rigor que esta doutrina traz consigo. Parece, na realidade, que tudo isto foi sobretudo acompanhado por uma grande alegria, pelo facto de sermos esta Igreja; de sermos o Povo, a que o Pai oferece redenção e salvação no Seu Filho e no Espírito Santo. A alegria de - entre todas as tensões da civilização contemporânea, da economia e da política — se dar exactamente tal dimensão da existência humana sobre a terra; e de nós participarmos nela. E embora no pensamento nos orientemos ainda para essas tensões, que desejamos se resolvam de modo humano e digno, todavia a divina alegria do Povo — que toma consciência de ser o Povo de Deus e, dentro deste carácter, procura a própria unidade — é maior e está cheia de esperança.

4. Neste contexto, também as palavras pronunciadas diante da Organização das Nações Unidas se tornaram fruto particular da minha peregrinação sobre estas importantes etapas da história de toda a Igreja e do Cristianismo. Que outra coisa podia eu dizer perante aquele supremo «Forum» de carácter político, senão aquilo que forma a medula mesma da mensagem evangélica? As palavras de grande amor pelo homem. que vive nas comunidades de tantos povos e nações, dentro das fronteiras de tantos Estados e tantos sistemas políticos. Se a actividade política, nas dimensões de cada Estado e nas dimensões internacionais, deve assegurar um primado real ao homem sobre a terra e deve servir a verdadeira dignidade dele, precisa do testemunho do espírito e da verdade, prestado pelo Cristianismo e pela Igreja. Por isso, em nome do Cristianismo e da Igreja, estou agradecido a todos os que a 2 de Outubro de 1979 quiseram escutar as minhas palavras na sede da ONU em Nova Iorque. Como também estou profundamente reconhecido pelo acolhimento que me foi reservado, a 6 de Outubro, pelo Presidente dos Estados Unidos, Senhor Jimmy Carter, no histórico encontro na Casa Branca, com ele e a sua querida Família, e ainda com todas as altas Autoridades lá reunidas.

5. Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer (Lc. 17, 10). Assim ensinava Cristo aos apóstolos. Também eu, com estas palavras que provêm do meu mais profundo convencimento, ponho termo a esta alocução de hoje, cuja necessidade me foi ditada pela importância da minha última viagem. Pelo menos deste modo pague eu aquela grande dívida que contraí com o Bom Pastor e com aqueles que abriram os caminhos do meu peregrinar.

***

Saudação

A vários grupos de peregrinos
Com particular afecto dirijo uma especial saudação a vós, Religiosas e leigas, membros da numerosa peregrinação vinda a Roma para a beatificação do sacerdote Henrique de Ossó y Cervelló.
Sei que viestes, em grande parte, da Espanha, mas também do México, Venezuela, Colômbia, Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Itália, França, Portugal, Angola, Brasil e Estados Unidos.
Vivestes aqui dias de intensa alegria interior, tanto vós Religiosas da Companhia de Santa Teresa de Jesus, como as alunas, ex-alunas e amigos que vos acompanharam nestes dias tão dignos de memória.
Oxalá a recordação destes dias, e sobretudo o exemplo admirável do Beato Henrique de Ossó, sejam para todas vós uma chamada perene para as metas cada vez mais elevadas de espiritualidade, de entrega generosa à difusão do Reino de Cristo e de inserção fecunda nos vossos respectivos ambientes de trabalho.

A peregrinos de Vitória (Espanha)
Uma cordial saudação quero fazer chegar aos componentes da peregrinação da cidade de Vitória.
Alegra-me muito saber que viestes a Roma para celebrar os 25 anos da Coroação canónica da Virgem Branca, Padroeira de Vitória.
Animo-vos a cultivar sempre com esmero a devoção à Santíssima Virgem Maria, de tal modo que Ela vos conduza a Cristo, o Salvador. Oxalá Ela vos conceda também esse verdadeiro espírito filial que considera todos, sem limites nem distinção, irmãos em Cristo e filhos da doce Mãe da Igreja.
Juntamente com as minhas saudações para as Autoridades aqui presentes, exprimo-vos a minha profunda estima e concedo-vos, a vós e a todos os filhos da querida província de Alava, a minha especial Bênção.

Aos peregrinos da região apostólica `Midi-Pyrénées"
 e da diocese de Digne (França)
E agora dirijo-me aos peregrinos franceses da região apostólica "Midi-Pyrénées" e também aos da diocese de Digne. Exprimo-vos a minha alegria, a minha grande alegria por receber a vossa visita, antes de ir, talvez um dia, se Deus quiser, ao vosso país encorajar e estimular a fé dos vossos compatriotas. E prometo-vos também rezar por vós, para que a vossa peregrinação vos dê forças novas no testemunho que deveis prestar perante Deus e perante os homens: mostrai-vos convictos, não hesiteis, estai contentes por crer e proclamar tudo o que recebestes da Igreja. Deveis enfrentar muitos problemas que neste momento dizem respeito à clareza e à fidelidade. Obrigado, obrigado por aquilo que cada um de vós, do mais humilde ao que tem sobre si o peso das responsabilidades, fará para anunciar generosamente a Boa Nova.

Aos fiéis provenientes da Suíça Romanda
Queridos Irmãos e Irmãs da Suíça Romanda.
Mesmo que quisesse não vos poderia esquecer. Os meus guardas chamar-me-iam à ordem! Podeis adivinhar com quanta satisfação o Papa vos recebe e se encontra com o vosso Bispo D. Pierre Mamie. Quereis certamente confiar-me muitas intenções, as vossas preocupações pelo apostolado, os vossos projectos pastorais, as vossas famílias, os vossos amigos. Tudo isto que trazeis no fundo do coração apresentarei ao Senhor e à Santíssima Virgem. Da minha parte, permanecerei unido a vós, por meio da oração, nas vossas tarefas quotidianas, na vossa vida pessoal e nos vossos compromissos eclesiais, prolongando assim de qualquer modo o nosso encontro de hoje.

A peregrinação de doentes do combóio austríaco
Saúdo com especial cordialidade os numerosos doentes e o pessoal que os acompanha, do combóio austríaco da peregrinação organizada pelo Serviço de socorro da Soberana Ordem Militar de Malta. Aos irmãos e irmãs provados por sofrimentos e necessidades dirijo sempre a minha especial atenção nas audiências gerais. Quando o auxílio do homem se revela ineficaz, exorto-vos a terdes ainda mais confiança em Deus e na sua amorosa providência e bondade. Ele .sabe transformar a dor e os sofrimentos. e até mesmo a morte — segundo o exemplo e pela graça da salvação em Cristo — em nosso benefício. Por conseguinte, peço para vós ao Senhor coragem, fé e confiança consoladora, assim como a proximidade corroborante de Deus, e concedo-vos de coração, a todos vós e àqueles que vos acompanham, a Bênção Apostólica.

Aos responsáveis da União Apostólica do Clero
Uma saudação fraterna e cordial aos Responsáveis da União Apostólica do Clero, aos Conselheiros internacionais e aos Directores nacionais, provenientes de 44 nações de todas as partes do mundo, que se encontram reunidos nestes dias em Roma numa importante Assembleia Internacional da Associação.
Caríssimos sacerdotes! Agradeço-vos sentidamente a vossa presença na Audiência geral, junto do povo de Deus! Sabei que sigo o vosso trabalho com ânsia de pai e de amigo, e aprecio a vossa obra, como .lá o fizeram os meus Prede¬cessores, porque, especialmente o Clero diocesano, nas várias situações do seu ministério, tem necessidade de auxílio fraterno e concreto.
De facto a União Apostólica quer ser precisamente um auxílio aos sacerdotes para viverem de modo mais completo e autêntico a espiritualidade típica do ministro de Cristo; quer ser um serviço, a fim de que as directrizes do Papa e do Bispo sejam fielmente recebidas e executadas com espírito de generosidade e convicção; e por fim quer ainda ser um ideal para que o sacerdote necessitado de apoio espiritual e de amizade elevadora para manter firmes os compromissos da sua consagração, saiba onde o encontrar.
Quanto é, pois, necessária, especialmente hoje, a vossa obra! Continuai no vosso intento em todas as nações onde trabalhais. O Sagrado Coração de Jesus vos ilumine e vos encoraje! Maria Santíssima, a quem os sacerdotes se confiam de modo particular, nas suas alegrias e nas suas tribulações, vos inspire! Faço votos por que a União Apostólica possa contribuir com eficácia para que se realize entre o clero a unidade de doutrina, de caridade e de disciplina, absolutamente necessária para a Evangelização.
De coração vos abençoo assim como a todos os membros da União.

Aos Superiores Provinciais
do Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas
Tenho o prazer de dirigir agora a minha saudação ao grupo dos Superiores Provinciais do Instituto dos Irmãos Maristas das Escolas, chamados também Irmãozinhos de Maria, os quais, juntamente com o Superior-Geral, Frei Basílio Rueda Guzman, se reuniram em Roma para discutir juntos os problemas que dizem respeito à Congregação perante as hodiernas exigências espirituais e pastorais do mundo moderno.
Caríssimos irmãos, agradeço-vos de coração esta visita e, ao mesmo tempo, manifesto-vos também o meu apreço e encorajamento pela vossa presença na Igreja católica, pela terna devoção a Maria, de quem toma o nome e em quem se inspira o vosso Instituto, e pela vossa benemérita actividade no campo da instrução e da educação cristã da juventude nas escolas, nos internatos, nos externatos e nos orfanatos, espalhados pelos cinco continentes, sem excluir as terras de missão.
O Senhor Jesus vos ilumine nos trabalhos desta vossa Conferência Geral, para responderdes cada vez mais às imensas necessidades das almas, que encontrais ao longo dos caminhos do mundo; a Virgem Maria, Sede da Sapiência, vos guie cada vez para mais perto de Jesus para vossa alegria e bem dos homens, por Ele remidos, de modo que possais realizar plenamente o que está escrito no mote do vosso Instituto: Ad Iesum per Mariam.
Com esse fim concedo-vos uma Bênção especial que de boa vontade faço extensiva a todos os membros da vossa Congregação.

Aos participantes no Congresso Internacional sobre o tema "A violência contra os anciãos. Os anciãos contra a violência"
E agora dirijo-me ao numeroso grupo de participantes no Congresso internacional subordinado ao tema "A violência contra os anciãos. Os anciãos contra a violência".
Caríssimos, saúdo-vos todos cordialmente e exprimo-vos o meu sincero apreço pelas vossas iniciativas, destinadas a estudar e a promover a condição das pessoas anciãs, um dos problemas mais urgentes na sociedade actual. Estou de facto convencido de que o respeito e o amor pela pessoa anciã são índice evidente e garantia segura do respeito e do amor por cada homem e por todos os homens. Os vossos problemas, por conseguinte, são próprios da sociedade inteira, que na sua solução encontrará para si mesma uma medida mais humana.
Abençoo-vos de coração assim como a todos aqueles que se dedicam com amorosa solicitude em favor dos anciãos.

A uma peregrinação de Pescara (Itália)
Dirijo uma cordial saudação à peregrinação da cidade de Pescara, que, acompanhada pelo Pároco da Catedral, está aqui presente para realizar um acto de fé eclesial e pedir a bênção do Papa para as três estátuas de bronze que serão colocadas na fachada da mesma Igreja Catedral.
Benzo de boa vontade estas estátuas, ao mesmo tempo que invoco a protecção de Nossa Senhora, de São Pedro e de São Cetteo —  que elas representam — para toda a comunidade de Pescara.

Aos jovens
Uma saudação particularmente calorosa e afectuosa aos jovens e às jovens, aos rapazes e às meninas presentes na Audiência!
Por ocasião do próximo Dia Mundial das Missões, quero repetir também a vós as palavras que dirigi à multidão de jovens reunidos no "Madison Square Garden" de Nova Iorque, durante a minha recente viagem apostólica: "Convido-vos a olhar para Cristo. Quando estiverdes pasmados com o mistério de vós mesmos, olhai para Cristo que vos dá o significado da vida. Quando procurardes saber que significa estar uma pessoa já adulta, olhai para Cristo que é a plenitude do ser humano. E quando procurardes imaginar qual será o vosso papel no futuro do mundo e da vossa Pátria. olhai para Cristo. Só em Cristo realizareis as vossas possibilidades como cidadãos da vossa Pátria e da Comunidade mundial" (Discurso de 3 de Outubro de 1979).
Tende presente este meu convite e sede também vós missionários de Cristo. hoje e durante toda a vossa vida.

Aos doentes
E agora, uma saudação e um abraço cheio de sentimento e simpatia humana e cristã chegue a cada um de vós, caríssimos doentes!
Também a vós, em vésperas do Dia das Missões, tão importante para a vida da Igreja, quero repetir considerações que me estão particularmente a peito: "Com o seu sofrimento e a sua morte, Jesus tomou sobre si todo o sofrimento humano conferindo-lhe novo valor. De facto, chama cada doente, chama cada pessoa que sofre, a colaborar conSigo na salvação do mundo. Por isso, a dor e o sofrimento nunca são suportados por uma só pessoa nem em vão. Embora seja difícil compreender o sofrimento, Jesus explicou que o valor do sofrimento de cada pessoa está ligado ao seu próprio sofrimento, ao seu próprio sacrifício. Por outras palavras, com os vossos sofrimentos vós ajudais Jesus na sua obra de salvação... A vossa chamada para o sofrimento requer uma fé forte e paciência. Sim, isto quer dizer que vós sois chamados para o amor com uma particular intensidade. Mas recordai que a Bem-aventurada Mãe de Deus está junto de vós, tal como estava junto de Jesus, aos pés da Cruz. E nunca vos deixará sozinhos" (Homilia aos doentes no Santuário de Knock, Irlanda, 30 de Setembro de 1979).
Coragem, pois, queridos doentes! Vós sois os primeiros na obra missionária da Igreja! A minha Bênção vos ajude e conforte sempre.

Aos jovens Casais
E por fim, mais uma saudação afectuosa e de felicitações aos jovens Casais que aqui vieram para iniciar a sua vida conjugal com a Bênção do Papa! Obrigado pela vossa alegre e significativa presença.
Pensando no trabalho indefesso de tantos missionários e missionárias espalhados pelo mundo para anunciar o Evangelho, digo-vos com ânsia e calor: Conservai firme a vossa fé! "A mensagem de amor trazida por Cristo é sempre importante, sempre interessante. Não é difícil ver como o mundo moderno — não obstante a sua beleza e grandeza, não obstante as conquistas da ciência e da tecnologia, não obstante os procurados e abundantes bens materiais que oferece — está desejoso de mais verdade, de mais amor, de mais alegria. E tudo isto se encontra em Cristo e no modelo de vida que apresenta" (Homilia no "Boston Common", 1 de Outubro de 1979).
Sede também vós missionários no vosso ambiente! Pedi a Deus a graça de virdes a ser pais de futuros missionários e missionárias!
Por estes grandes motivos concedo-vos de boa vontade a minha particular Bênção.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Santa Teresa de Jesus, virgem e doutora da igreja



Antífona da entrada: “Como a corça que suspira pelas águas da torrente, assim minha alma suspira por vós, Senhor. Minha alma tem sede do Deus vivo.” (Sl 41,2s)

Nunca um santo ou santa mostrou-se tão "carne e osso" como Teresa d'Ávila, ou Teresa de Jesus, nome que assumiu no Carmelo. Nascida no dia 28 de março de 1515, seus pais, Alonso Sanchez de Cepeda e Beatriz d'Ávila y Ahumada, a educaram, junto com os irmãos, dentro do exemplo e dos princípios cristãos. Aos sete anos, tentou fugir de casa e peregrinar ao Oriente para ser martirizada pelos mouros, mas foi impedida. A leitura da vida dos santos mártires tinha sobre ela uma força inexplicável e, se não fossem os parentes terem-na encontrado por acaso, teria fugido, levando consigo o irmão Roderico.

Órfã de mãe aos doze anos, Teresa assumiu Nossa Senhora como sua mãe adotiva. Mas o despertar da adolescência a levou a ter experiências excessivas ao lado dos primos e primas, tornando-se uma grande preocupação para seu pai. Aos dezesseis anos, sua atração pelas vaidades humanas era muito acentuada. Por isso, ele a colocou para estudar no colégio das agostinianas em Ávila. Após dezoito meses, uma doença grave a fez voltar para receber tratamento na casa de seu pai, o qual se culpou pelo acontecido.

Nesse período, pela primeira vez, Teresa passou por experiências espirituais místicas, de visões e conversas com Deus. Todavia as tentações mundanas não a abandonavam. Assim atormentada, desejando seguir com segurança o caminho de Cristo, em 1535, já com vinte anos, decidiu tornar-se religiosa, mas foi impedida pelo pai. Como na infância, resolveu fugir, desta vez com sucesso. Foi para o Convento carmelita da Encarnação de Ávila.

Entretanto a paz não era sua companheira mais presente. Durante o noviciado, novas tentações e mais o relaxamento da fé não pararam de atormentá-la. Um ano depois, contraiu outra doença grave, quase fatal, e novamente teve visões e conversas com o Pai. Teresa, então, concluiu que devia converter-se de verdade e empregou todas as forças do coração em sua definitiva vivência da religião, no Carmelo, tomando o nome de Teresa de Jesus.

Aos trinta e nove anos, ocorreu sua "conversão". Teve a visão do lugar que a esperaria no inferno se não tivesse abandonado suas vaidades. Iniciou, então, o seu grande trabalho de reformista. Pequena e sempre adoentada, ninguém entendia como conseguia subir e descer montanhas, deslocar-se pelos caminhos mais ermos e inacessíveis, de convento em convento, por toda a Espanha. Em 1560, teve a inspiração de um novo Carmelo, onde se vivesse sob as Regras originais. Dois anos depois, fundou o primeiro Convento das Carmelitas Descalças da Regra Primitiva de São José em Ávila, onde foi morar.

Porém, em 1576, enfrentou dificuldades muito sérias dentro da Ordem. Por causa da rigidez das normas que fez voltar nos conventos, as comunidades se rebelaram junto ao novo geral da Ordem, que também não concordava muito com tudo aquilo. Por isso ele a afastou. Teresa recolheu-se em um dos conventos e acreditou que sua obra não teria continuidade. Mas obteve o apoio do rei Felipe II e conseguiu dar seqüência ao seu trabalho. Em 1580, o papa Gregório XIII declarou autônoma a província carmelitana descalça.

Apesar de toda essa atividade, ainda encontrava espaço para transmitir ao mundo suas reflexões e experiências místicas. Na sua época, toda a cidade de Ávila sabia das suas visões e diálogos com Deus. Para obter ajuda, na ânsia de entender e conciliar seus dons de espiritualidade e as insistentes tentações, ela mesma expôs os fatos para muitos leigos e não apenas aos seus confessores. E ela só seguiu numa rota segura porque foi devidamente orientada pelos últimos, que eram os agora santos Francisco Bórgia e Pedro de Alcântara, que perceberam os sinais da ação de Deus.

A pedido de seus superiores, registrou toda a sua vida atribulada de tentações e espiritualidade mística em livros como "O caminho da perfeição", "As moradas", "A autobiografia" e outros. Neles, ela própria narra como um anjo transpassou seu coração com uma seta de fogo. Doente, morreu no dia 4 de outubro de 1582, aos sessenta e sete anos, no Convento de Alba de Torres, Espanha. Na ocasião, tinha reformado dezenas de conventos e fundado mais trinta e dois, de carmelitas descalças, sendo dezessete femininos e quinze masculinos.

Beatificada em 1614, foi canonizada em 1622. A comemoração da festa da transverberação do coração de Santa Teresa ocorre em 27 de agosto, enquanto a celebração do dia de sua morte ficou para o dia 15 de outubro, a partir da última reforma do calendário litúrgico da Igreja. O papa Paulo VI, em 1970, proclamou santa Teresa d'Ávila doutora da Igreja, a primeira mulher a obter tal título.

Oração
Ó Deus, que pelo vosso Espírito fizestes surgir santa Teresa para recordar à Igreja o caminho da perfeição, dai-nos encontrar sempre alimento em sua doutrina celeste e sentir em nós o desejo da verdadeira santidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

LEITURA ORANTE: A perda é salvação

Quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os que, nesta rede da...