Antífona da entrada: Anunciai todos os dias a salvação
de Deus, proclamai a sua glória às nações (Sl 95,2s).
Leituras: Ap 21,9b-14; Sl 144(145),10-11.12-13ab.17-18 (R/. cf. 12a); Jo 1,45-51
O Santo Apóstolo Bartolomeu foi
um dos doze apóstolos de Jesus. Após o Pentecostes, tendo recebido, junto com
os demais, o Espírito Santo, que desceu sobre eles em forma de línguas de fogo
quando se encontravam reunidos no cenáculo com Maria, São Bartolomeu seguiu com
o apóstolo Felipe para pregar o Evangelho na Síria e Ásia Menor. Os dois
partiram dali, primeiro pregando juntos, depois, se separando, enquanto
visitavam várias cidades individualmente. Mais tarde, outra vez juntos, levaram
a muita gente a salvação pela fé em Jesus Cristo. Na Ásia Menor, o apóstolo
Felipe se separou mais uma vez de Bartolomeu por algum tempo, levando à
conversão os ferozes e selvagens habitantes de Lidia e Misia.
Enquanto isso,
São Bartolomeu, que anunciava o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo nas
cidades dos arredores, recebeu um mandato do Senhor para que fosse ao encontro
de Felipe para ajudá-lo. Juntos, mais uma vez, São Bartolomeu desempenhou, com
muito esforço, suas tarefas apostólicas, em unidade de pensamento e ação com
Felipe. Felipe foi seguido por sua irmã, a virgem Mariamna, e todos trabalhavam
juntos pela salvação das almas. Durante a passagem por Lidia e Misia, ao
difundir as boas novas da Palavra de Deus, sofreram todo o tipo de perseguição,
suportaram muitas provações, açoites e tribulações nas mãos dos infiéis. Apesar
de tudo isso, porém, seguiram adiante com a tarefa de anunciar o Evangelho e
difundir a fé cristã por onde passavam. Numa das aldeias de Lidia
encontraram-se com São João, o Teólogo, o Discípulo amado de Cristo, e em sua
companhia viajaram par a terra de Frígia. Ao entrar na cidade de Hierápolis,
começaram desde logo a anunciar o Evangelho de Cristo. Por esta época, a cidade
se encontrava repleta de ídolos que eram adorados por todos os seus habitantes.
Entre estas falsas divindades, havia uma víbora para a qual tinham edificado um
templo especial. Ali se ofereciam alimentos e outros tantos e variados
sacrifícios. Esta gente adorava, igualmente, outras serpentes e víboras. São
Felipe e sua irmã se protegeram a si mesmos com orações contra os ataques das
víboras, e foram ajudados por São Bartolomeu e São João, o Teólogo que ainda
estava com eles neste momento. Todos juntos venceram a serpente com orações
poderosas, quais lanças, e com o poder de Cristo as mataram. Depois disso, São
João, o Teólogo, separou-se deles deixando-lhes em Hierápolis para que ali
anunciassem a Palavra de Deus. Ele seguiu para outras cidades para difundir as
jubilosas boas novas do Evangelho de Cristo. Felipe, Bartolomeu e Mariamna
permaneceram em Hierápolis, esforçando-se com muito empenho, para expulsar a
obscuridade da idolatria, e para que a luz do conhecimento da verdade pudesse
brilhar entre os desviados. Dedicaram-se, dia e noite, a este trabalho,
ensinando a Palavra de Deus aos incrédulos, instigando aos fracos e
encaminhando aos errantes pelo caminho da verdade.
Nesta cidade, havia um homem de
nome Eustáquio, cego há quarenta anos. Os santos apóstolos, valendo-se do poder
da oração, recobraram luz aos seus olhos físicos e, pregando a Cristo,
iluminaram também a cegueira espiritual da que era vítima. Depois de batizar
Eustáquio, os santos permaneceram por alguns dias em sua casa. A notícia da
recuperação da visão ao cego se espalhou logo pela cidade, uma grande multidão
acorreu para junto da casa onde estavam. Os santos apóstolos ensinavam a todos
que chegavam a boa-nova de Jesus Cristo, conduzindo-os à fé. Muitos enfermos
foram levados aos apóstolos e foram curados pela oração e os demônios foram
expulsos de tal modo que uma inumerável multidão aderiu à fé, se fazendo
batizar.
A esposa do governador desta
cidade, um homem chamado Nicanor, tinha sido mordida por uma serpente e se
encontrava enferma, já à beira da morte. Sabendo que os santos apóstolos
estavam hospedados na casa de Eustáquio, e que curavam toda espécie de males
somente com a palavra, na ausência de seu marido, pediu aos seus servos que a
levassem aos encontro dos santos. Ali, recebeu uma dupla cura: a do corpo,
atingido pela mordida da serpente; e a do espírito, libertando-se do engano
demoníaco ao acolher os ensinamentos dos santos apóstolos e crer em Cristo.
No seu retorno, o governador foi
informado por seus escravos que a sua mulher havia recebido ensinamentos sobre
a fé em Cristo de alguns estrangeiros que estavam hospedados na casa de
Eustáquio. Furioso, Nicanor mandou que fossem trazidos à sua presença os santos
apóstolos e que a casa de
Eustáquio fosse queimada. Reuniu depois uma grande multidão de pessoas e, à
vista de todos, os três santos, Bartolomeu, Felipe e sua irmã Mariamna, foram
arrastados pela cidade, sendo por todos ridicularizados e esbofeteados e,
finalmente, colocados na prisão. O governador, então, tomou seu lugar no
tribunal da cidade para presidir o julgamento daqueles que pregavam os
ensinamentos de Cristo. Apresentaram-se todos os sacerdotes dos ídolos e da
serpente que havia sido morta, e expuseram suas queixas contra
os santos apóstolos, dizendo: -”Ó
senhor, com estes estrangeiros veio a desonra para nossos deuses, porque desde
que apareceram em nossa cidade, os altares de nossos grandes deuses foram
esquecidos, e as pessoas já não se lembram de oferecer-lhes seus sacrifícios
como de costume. Nossa grande deusa, a serpente, foi morta, e a cidade inteira
está cheia de iniqüidades, Portanto, morte aos feiticeiros!
O governador ordenou então que
Felipe fosse despojado de suas vestes, desconfiado que escondesse por debaixo
delas seus mágicos poderes de encanto. Nada encontraram. O mesmo fizeram com
Bartolomeu, porém, tampouco encontraram alguma coisa. Quando se aproximaram de
Mariamna para fazer o mesmo, despir-lhe de suas vestes deixando seu corpo
virginal descoberto, ela se transformou diante de todos, repentinamente, numa
chama ardente, pondo em fuga apavorados os ímpios. Os santos apóstolos foram
condenados pelo governador à crucifixão. O primeiro foi São Felipe;
perfuraram-lhe os orifícios entre os ossos do tornozelo por onde passaram
cordas, crucificando-o com a cabeça para baixo diante do portal do templo da
serpente. Enquanto estava suspenso à cruz, atiravam-lhe pedras. Depois foi a
vez do santo Apóstolo Bartolomeu, que foi crucifixado na parede do templo. De
repente, um terremoto sacudiu violentamente a terra que se abriu engolindo o
governador, os sacerdotes idólatras e um grande número de infiéis. Os que
sobreviveram, crentes e pagãos, cheios de temor rogavam aos santos que tivesse
piedade deles e suplicasse ao verdadeiro Deus para não permitir que a terra
também lhes tragasse. Rapidamente, começaram a retirar da cruz os apóstolos.
São Bartolomeu estava crucificado não muito acima do solo e, por isso, pode ser
retirado mais depressa. Felipe, porém, estava suspenso muito acima e não pode
ser retirado. Era, pois, da vontade de Deus que seu apóstolo, depois dos
tormentos, sofrimentos e morte na cruz, passasse da terra ao céu para onde ele
mesmo havia dirigido seus passos durante toda a sua vida.
Assim, São Felipe
orou a Deus por seus inimigos, para que seus pecados fossem perdoados e suas
mentes fossem iluminadas para aprenderem o conhecimento da verdade. O Senhor
atendeu seu pedido e, imediatamente, a terra trouxe de volta e com vida, as
vítimas que haviam sido tragadas, com exceção do governador e dos sacerdotes da
serpente. Todos então confessaram e glorificaram em alta voz o poder de Cristo,
expressando o desejo de serem batizados. Quando se apressavam para retirar
Felipe da Cruz, perceberam que este já havia entregue à Deus a sua alma, e
desceram seu corpo já desfalecido. Mariamna, sua irmã, que havia, durante todo
tempo, presenciado os sofrimentos de irmão Felipe, abraçou-o, beijando com amor
o seu corpo, alegrando-se por ele ter sido honrado em sofrer por amor a Cristo.
São Bartolomeu batizou aos que
aderiram ao Senhor, pela fé, e consagrou bispo a Eustáquio. Os cristãos recém
convertidos sepultaram, com grande honra, o corpo do santo apóstolo Felipe. No
lugar onde o sangue do apóstolo foi derramado cresceu, em três dias, uma
videira como sinal de que Felipe estava junto do Senhor, pelo sangue derramado
em nome de Cristo. Depois que o corpo de São Felipe foi sepultado, São
Bartolomeu e a bem-aventurada virgem Mariamna, permaneceram em Hierápolis por
alguns dias mais para consolidar a fé em Cristo da igreja recém formada,
separando-se mais tarde. Santa Mariamna foi a Licaonia onde, depois de anunciar
triunfalmente a palavra de Deus, repousou no Senhor (comemoração em 7 de
fevereiro). São Bartolomeu ainda esteve na Índia onde passou muito tempo
trabalhando na pregação do evangelho de Jesus Cristo e, pelas cidades e aldeias
por onde passava, curava os doentes e iluminava com sua fé aos pagãos que
encontrava. Depois de estabelecer muitas igrejas, traduziu o Evangelho Segundo
São Mateus que trazia consigo, para a língua local. Também deixou um Evangelho
escrito em hebraico que, um século mais tarde, foi levado para Alexandria pelo
filósofo cristão Panteno.
Da Índia, São Bartolomeu foi para
Armênia Maior. Ao chegar neste lugar, os ídolos, ou melhor, os demônios que os
habitavam, calaram-se, lamentando com suas últimas palavras, a presença
atormentadora de Bartolomeu e que muito logo lhes expulsaria. Na realidade, os
espíritos imundos foram expulsos, não só dos ídolos, mas também daquelas
pessoas, só com a aproximação do apóstolo e, por isso, muitos se converteram a
Cristo.
Polimio, o rei desta terra, tinha
uma filha que estava possuída pelo demônio que exclamava através de seus
lábios: “Bartolomeu, também nos expulsarás deste lugar?” O rei, ao ouvir isto,
ordenou que Bartolomeu fosse trazido imediatamente à sua casa. Estando já o
apóstolo ao lado da jovem possuída, o demônio fugiu naquele instante, deixando
livre e curada a filha do rei. Este, desejando demonstrar sua gratidão para com
o santo, enviou-lhe camelos carregados de ouro, prata e pedras preciosas raras.
O apóstolo, em sua grande humildade, nada conservou do que havia recebido.
Devolvendo tudo ao rei, disse: “Eu não busco estas coisas, mas as almas dos
homens, para lhes mostrar e conduzi-las à mansão celestial e, assim, me tornar
um grande mercador aos olhos do Senhor.” O rei Polimio, impactado com estas
palavras e a atitude do apóstolo, passou a crer em Cristo juntamente com toda a
sua família, recebendo, ele, a rainha e a filha curada, o batismo pelas mãos do
santo apóstolo. O mesmo aconteceu com um grande número de nobres de sua corte e
outras pessoas deste lugar e de todos os outros lugares do reino, seguindo o
exemplo do seu rei.
Ao ver o que estava acontecendo,
os sacerdotes idólatras ficaram encolerizados contra Bartolomeu, lamentando
pela destruição de seus cultos e divindades, a queda da idolatria e o abandono
dos templos de onde obtinham seus lucros. Convenceram então o irmão do rei,
Astiago, a vingar-se pelas “ofensas” praticadas contras as suas divindades.
Astiago, esperando o momento oportuno, apresentou o santo apóstolo na cidade de
Albano e o fez crucificar com a cabeça para baixo. O santo apóstolo, por amor a
Cristo, padeceu suspenso na cruz sem, no entanto, deixar de proclamar a Palavra
de Deus. Com coragem e determinação, firmou seus fiéis na fé, exortando aos
descrentes a conhecerem a verdade e a abandonar a obscuridade dos ídolos e dos
demônios em direção à luz de Cristo. O tirano se recusou a dar ouvidos às suas
palavras e, em vez disso, ordenou que fosse esfolado vivo. O santo, porém,
suportando tudo com grande paciência, não se calou, mas seguiu ensinando e
glorificando a Deus. Por último, o tirano ordenou que lhes arrancassem a cabeça
e que fosse escalpelado. Só então seus lábios se aquietaram, ainda que seu
corpo, ao ter sua cabeça retirada, permaneceu fixado à cruz com as pernas para
o alto, dando a impressão de estar a caminho do Alto.
Assim chegou ao final de sua vida
terrena o apóstolo de Cristo, Bartolomeu, sofrendo as mais terríveis dores,
para a maior glória do Senhor (por volta do ano 90 d.C.). Os fiéis que estavam
presentes no momento de seu adormecimento em Cristo, retiraram seu corpo da
cruz, juntando sua cabeça e pele e colocando tudo em um caixão e procederam o
sepultamento que se deu na cidade de Albano (atual Baku) na Armênia Maior.
Através de suas relíquias, os enfermos receberam curas milagrosas, razão pela
qual, muitos descrentes foram convertidos para a Igreja Cristã.
Tradução e publicação neste site
com permissão de Ortodoxia.org
Trad.: Pe. Andre
Oração
Ó Deus, fortalecei em nós aquela fé que levou são Bartolomeu a seguir
de coração o vosso Filho e fazei que, pelas preces do apóstolo, a vossa Igreja
se torne sacramento da salvação para todos os povos. Por Nosso Senhor Jesus
Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.