Reflexões espirituais de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém
do Pará
Dom Alberto Taveira Corrêa
BELÉM DO PARÁ, terça-feira, 21 de
agosto de 2012 (ZENIT.org) - A frase é de uma das maiores personalidades do
século XX, Mahatma Gandhi, que conduziu seu país, a Índia, assim como muitos
outros, a encontrarem o caminho da independência e da democracia, através da
não violência ativa: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Viver
para servir! Proposta desafiadora, fonte de realização para todos os seres
humanos, caminho de felicidade. Parece-nos encontrar aí uma das muitas Sementes
do Verbo de Deus plantadas na sabedoria e na prática religiosa da humanidade,
pois a própria Palavra Eterna do Pai encarnada, Jesus Cristo, mostrou a que
veio, abrindo perspectivas novas para seus discípulos e para toda a humanidade:
"Eu vim não para ser servido, mas para servir e dar a vida por resgate de
muitos" (Mc 10,45). Jesus Cristo veio ao mundo para fazer a vontade do
Pai, para servir.
O Antigo Testamento reporta a
história de Josué, a quem foi dada a tarefa de introduzir o Povo de Deus na
Terra prometida. Como havia acontecido na chamada Assembleia do Sinai, quando
Moisés, em nome de Deus, pediu ao povo, conhecido pela sua cabeça dura, a
definição de rumos, diante da Aliança estabelecida, também em Siquém se reúnem
todas as tribos de Israel (Js 24,1-18). A escolha de Josué, em nome de toda a
sua família, é muito clara: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”! Nas
diversas etapas da história da Salvação, retorna a provocação positiva que toca
no mais profundo da liberdade humana. Trata-se de escolher o serviço a Deus,
optar pela fidelidade à sua Palavra, cumprir seus mandamentos, assumir a missão
confiada àquele povo escolhido. A resposta do povo de Deus a Josué é decidida:
“Nós também serviremos ao Senhor, porque ele é o nosso Deus” (Js 24,18).
Durante os séculos que se seguiram, continuamente o Senhor enviou emissários
que o chamaram de novo à fidelidade!
Veio Jesus, chamou discípulos,
começou uma nova forma de viver, do meio deles escolhe apóstolos, cria relacionamento
diferente, acolhe crianças, chama justos e pecadores, derruba barreiras
culturais e religiosas, abre a estrada da fraternidade. Também o Senhor,
verdadeiro Deus e verdadeiro homem, entra no maravilhoso jogo de provocação à
liberdade humana. Depois das primeiras etapas da pregação do Reino e da
constituição de uma nova comunidade de irmãos, os chamados evangelhos sinóticos
pede aos discípulos uma definição: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Cf. Mt
16,13-20; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21). Já o Evangelho de São João, no texto que a
Igreja proclama no vigésimo primeiro Domingo do Tempo Comum (Jo 6,60-69), traz
uma pergunta altamente provocante, após a multiplicação de Pães e o Discurso de
Jesus sobre o Pão da Vida: “Vós também quereis ir embora?” Vem de Pedro a
resposta que continua a ressoar pelos séculos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens
palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo
de Deus!” Os discípulos aprenderam a seguir Jesus, a partir da fé professada
naquele que é o Santo de Deus, Messias, Cristo, Filho de Deus. A Igreja não se
cansará de proclamar a mesma fé em Jesus Cristo, até o fim dos tempos.
Após a Ressurreição e Ascensão de
Cristo e o Pentecostes, foi chamado aquele que, perseguidor implacável, veio a
ser Apóstolo das gentes. É o próprio Paulo que conta, numa das narrativas de
sua conversão, a pergunta que brota no coração de todas as pessoas que se
encontram com Jesus Cristo: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 22,10) A
graça do apostolado continua a se multiplicar na Igreja. Quantas pessoas são
chamadas a servir ao Senhor no anúncio da Boa Nova da Salvação, nos ministérios
e serviços existentes nas Comunidades Cristãs! Que profusão de carismas
suscitados pelo Espírito no coração da Igreja, através dos quais as palavras do
Evangelho são postas em prática e “lidas” nas inúmeras obras de caridade e de
serviço existentes em toda parte! E como não reconhecer a beleza do serviço
prestado por homens e mulheres, adultos e jovens, que desempenham a missão de
catequistas em nossas Paróquias?
São todas pessoas que
experimentaram a graça do seguimento de Jesus e não podem se calar. São leigos
e leigas que nos serviços internos da Igreja, nas inúmeras frentes de trabalho
apostólico e na caridade, podem dizer com o Apóstolo São Paulo: “Anunciar o
evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade que se me
impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1 Cor 9,16). Por isso fixam
os seus corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Com todas estas
pessoas, agradecemos a Deus pelo mês dedicado às vocações. Em sua conclusão,
temos o direito e o dever de acolher as novas e muitas vocações para o serviço
ao Senhor e à sua Igreja.
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