segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Santificar o começo do dia

15 de agosto de 1966-por ocasião dos exercícios em Aríccia.

O argumento que vos convido a meditar é este: santificar o começo do dia. De manhã, quando o céu se apresenta sereno, espera-se um dia maravilhoso. Assim em nosso íntimo, pela manhã, haja serenidade recebendo da graça do Senhor um novo dia e a graça de poder enchê-lo de méritos. Noite a noite levai até o céu os méritos alcançados no dia. Muitos negociantes talvez não ganhem nada no dia, mas vós fazendo bem tudo o que deveis fazer, todas as noites podereis mandar para o céu o conjunto dos méritos do dia. 

Deve-se também dizer que não é somente o dia que serve para merecer para a eternidade, mas também à noite. Como nos alimentamos para manter-nos no serviço de Deus, igualmente há a obrigação de dormir e descansar. Por isso dizemos: “Abençoai-nos, ó Senhor, a nós e ao alimento que vamos tomar...”, e iniciando assim ou estando já na cama: “para manter-nos no vosso santo serviço”. O que se diz do alimento se diz também do descanso. Tomar o alimento que é necessário para a vida é mérito. E Jesus tomava o seu alimento, Jesus tomava o seu descanso, o seu sono. Está escrito no Evangelho. Mas oferecê-lo ao Senhor, torna-se um mérito. Por isso não pensemos somente em oferecer ao Senhor os méritos alcançados no dia, mas também o próprio descanso. Ofereçamos tudo ao Senhor, as vinte e quatro horas, totalmente vividas para ele. 

Como devemos agradecer ao Senhor para que todas essas horas do dia mereçam e enriqueçam a alma de méritos, cada vez maiores! Quando a alma é orientada mais perfeitamente para Deus — com amor sempre mais intenso — então cada coisa se torna mais preciosa: o que se refere às vossas obrigações, a oração e todas as atividades do dia. 

Comecemos bem o dia. É um sacrifício que se tem de fazer. Outros descansam além da conta. Mas para regular a nossa vida, à noite se vá cedo à cama, e se levanta cedo pela manhã. Sim, na medida justa, porque se o dia não começou bem, não enriquecerá a alma como devia enriquecê-la. Depois de termos descansado, cumpramos os deveres de piedade, da oração, desde o momento em que oferecemos o dia ao despertar, até as outras práticas de piedade. 

O segredo do dia é o início do dia; o segredo, isto é, a chave. E o que fazer? A missa, a meditação, a comunhão, quando se pode. E depois, as outras práticas de piedade, ou orações que estais acostumadas a fazer. Começai o dia com o Senhor. Então se começa com as graças de Deus para a viagem do dia. Quando temos de fazer uma viagem um pouco longa, nos fornecemos do necessário, pelo menos do dinheiro e do alimento para o dia. Assim durante as 24 horas devemos preparar-nos e ter conosco as graças do Senhor, porque não sabemos o que será o dia, que tentações encontraremos, que dificuldades poderemos ter etc. Fornecer-se do necessário para o caminho do dia. 

O que assegura um bom dia, um dia santo, é a oração. Então falemos em primeiro lugar da missa. Na vossa condição, se podeis participar dela cada dia, muito bem! Participar! A missa é a oração maior, do máximo valor, portanto, demos sempre suma importância à missa. 

O que é a missa, isto é, o sacrifício realizado por nosso Senhor Jesus Cristo no Calvário? A primeira parte da missa é a que se chama a liturgia da Palavra, ele nos serve de tema de meditação. Pode-se fazer a meditação à parte, como geralmente acontece. Na primeira parte da missa há a liturgia da Palavra, do início até o Credo inclusive, quando o Credo é recitado segundo a liturgia. Devemos considerar bem as palavras do intróito [antífona de entrada], a leitura, o evangelho, e os versículos nele incluídos. Meditá-los bem, compreendê-los sempre melhor, sentir que o Senhor quer que nossa mente se eleve a pensamentos divinos. O intróito [antífona de entrada], e o próprio oremos, a leitura e o evangelho, servem para reforçar e viver com pensamentos divinos, com pensamentos da Sagrada Escritura. 

Seria grande mérito ler o evangelho, a leitura e, podendo-se, também toda a Escritura. Entretanto, se não há sempre tempo, leiamos ao menos aquelas partes das Escrituras que vem no Lecionário. Estas partes são as principais, portanto, consideremo-las, leiamo-las atentamente, não só, mas aprofundemo-las, aprofundemos as palavras da leitura e do evangelho que cotidianamente ouvimos na missa. A palavra de Deus não é a palavra do homem, não é a palavra de um santo, mas é a palavra de Deus. Por mais que um homem seja sábio, a palavra da Escritura é de valor imensamente superior. Portanto, sigamos a palavra de Deus na missa, lendo-as até antes. 

Mas a missa não dispensa das orações comuns começando pelo Ângelus. Embora as orações sejam breves, não devem faltar, elas se referem às necessidades do dia. E se não se pode participar da missa por alguma razão, que pelo menos as orações sejam recitadas com atenção, com fé, com humildade. Sim, para começarmos bem o dia! 

A segunda parte refere-se à liturgia eucarística e, portanto, ao sacrifício realizado no Calvário, o oferecimento de Jesus, o oferecimento da sua vida ao Pai Celeste. Jesus! É útil participar ao sacrifício da missa com Maria. Como Maria estava aos pés da cruz, e como assistiu, como viu, quando o Filho de Deus encarnado expirou na cruz. Se estivermos acompanhados com ela, temos mais graças, mais intimidade, maior compreensão do sacrifício da missa, o qual é para adoração ao Pai Celeste, agradecimento ao Pai Celeste, satisfação dos pecados ao Pai Celeste e súplicas das graças ao Pai Celeste. Os quatro fins que tem a missa. 

Sigamos bem a liturgia como é apresentada hoje, segundo o Concílio Vaticano II, que conheceis muito bem. E é bom querer, ou ao menos podendo, completar o sacrifício, isto é, receber a hóstia santa. Então temos o viático do dia que nos serve para cumprir as coisas mais santamente e no meio de muitas dificuldades e também de sofrimentos. Jesus está conosco e nós estamos com Jesus e vivemos unidos a ele. Portanto, por maiores que sejam as dificuldades do dia, estamos com Jesus. Estou com Jesus e Jesus está comigo, isto nos consola sempre. E quando chega algum temor, ou desconforto, ou dificuldade, estamos com Jesus e Jesus está conosco. 

Depois, a meditação, que pode ser mais breve ou mais longa. Penso, porém, que já foi explicado muitas vezes o que é a meditação. Não é muito fácil fazer a meditação. É uma oração em que devemos agir, isto é, pôr em movimento o nosso ser e, portanto, a mente, a vontade, o coração. É todo o ser que é acionado para a santificação do dia. Não é simples leitura. Uma coisa é leitura espiritual, outra é meditação. Pode acontecer que se comece com a leitura, e geralmente se começa lendo uma passagem de um livro adapto. Mas, a parte principal da meditação é refletir, considerar, fazer nossas aquelas verdades que foram lidas. Segue-se o exame de consciência para verificar se fizemos o que era aconselhado no livro. Depois, os propósitos e a oração para cumpri-los. Após a reflexão e os propósitos vem à oração. Muitos aconselham empregar a metade do tempo para a leitura e as reflexões e a outra metade para a oração. Com efeito, podemos fazer muitos propósitos, mas sem a graça e o conforto do Senhor durante o dia, fracassamos muitas vezes. Então, oremos! Mas, sou distraído! dirá alguém. Então se és distraído, procura recolher-te, e se for difícil recolher-te, reze o terço para ocupar uma parte do tempo ou todo o tempo da meditação. 

De manhã, com a meditação, organizemos o dia. Que farei? Como o farei? Isto, aquilo, este sacrifício, aquela dificuldade que me espera, o trabalho que vou encontrar, os sofrimentos ou as coisas que são de conforto. Em suma, prever as condições e andamento do dia, o que cada um pode prever que lhe aconteça. Geralmente se leva uma vida ordinária, a de ontem, a de hoje e a de amanhã, portanto, podemos estabelecer e fazer o programa do dia. E como fazê-lo? Pensar aos vários deveres, programá-los para os cumprir bem e depois orar para termos sucesso: deste modo o dia terá bom êxito. Este conjunto que quer dizer? É como um exame preventivo. À noite se fará um exame retrospectivo do dia, mas pela manhã as almas de vida interior fazem um exame preventivo: deverei fazer isto, deverei fazer aquilo. Se houver uma dificuldade, deverei tomar esta ou aquela medida... Então façamos o exame preventivo: como farei as coisas do dia, uma a uma, como dispô-las de maneira que não perca o tempo. E durante o dia os méritos aumentam. 

Quantas pessoas perdem tempo! Não nos percamos em coisas inúteis, mas santifiquemos cada minuto. Digamos: cada minuto. Devem fazer-se aquelas coisas que servem para a convivência social, certamente, e por social entendemos, quer na família, quer na paróquia, quer na sociedade em geral. Sim, é preciso dispor bem tudo, como estais nas circunstâncias em que vos encontrais. Certamente, é preciso pôr sempre um aumento de fé. Quero dizer que para vós que estais no mundo, é preciso ter uma graça mais abundante do que para as pessoas que levam a vida no claustro. Estas pessoas têm tudo ordenado, e já sabem como as coisas do dia se apresentam; mas na vossa vida, estas coisas se apresentam inesperadamente. Vós deveis praticar mais virtudes, em comparação com a vida do claustro. Sim, é grande o mérito de viver segundo a obediência, segundo as disposições, segundo as regras dos Institutos regulares. Mas agora que, segundo o Concílio, sois também Instituto regular religioso, para vós a prática da pobreza, da castidade, da obediência é mais difícil. Portanto, pela manhã precisai prever o dia e estabelecer como agir. Porque pensando, por exemplo, na observância da pobreza, quantas circunstâncias diversas entre uma pessoa e outra! Por isso, é útil prever pela manhã. Prever como viver castamente, delicadamente, e como praticar a obediência. 

É necessário, além disso, que na oração se peça ao Senhor a graça de observar os votos que foram emitidos: a pobreza, a castidade e a obediência; mas durante o dia, pormenorizadamente; nas várias circunstâncias. Ás vezes, pode-se praticar com perfeição. Há pessoas que são verdadeiramente edificantes e dão boa impressão. São como pessoas que difundem o odor religioso, santo, o perfume da graça que têm no seu íntimo. Temos de considerar as dificuldades, mas pedir o aumento da graça mais do que os que estão na vida do claustro. Dizer ao Senhor que temos necessidade de graças mais abundantes, maiores, para que o dia seja santificado. Tanto mais que há muita liberdade de escolha em muitas coisas. Então que haja luz que nos guie, que nunca haja capricho. Muitas vezes se prefere fazer uma coisa mais simples comparada com outra mais difícil, mas destinada a dar maiores frutos. É preciso que haja oração particular para vós, no sentido de pedir as graças particulares para vós, durante o dia. 

Quando já estamos bem fornecidos do que é necessário para fazer a viagem do dia, então comecemos o dia com o trabalho, com as obras às quais somos chamados. Sim, para viverdes verdadeiramente na vossa condição de Instituto religioso leigo. Ele vos colocou numa ordem de vida de grande riqueza de graças e de méritos na hora da morte. Oh! Como estareis contentes por terdes abraçado esta vida e por a terdes vivido bem! Que riquezas de méritos e, portanto, de prêmio. Viveis no meio do mundo! Parece que viveis como os outros, mas existe uma diferença muito importante entre a vida cristã e a vida consagrada, é diferença grande, profunda. E vós superais a vida cristã. Mas nas vossas circunstâncias, a vossa vida se enriquece de méritos imensos, superiores. 

Certamente fareis bons propósitos neste curso de exercícios. 

Todos juntos, unidos, oremos pelo progresso: Que estes dias tragam a todos e a cada um de vós grande bem e grande alegria. Desde o dia em que eu soube a data em que fareis os exercícios, sempre vos encomendei na missa. E assim oremos todos juntos, consideremo-nos unidos, para fazermos todos juntos força junto de Deus, para obtermos abundância e riqueza de dons, de graça e de consolação. 

(Pe. Alberione, Meditazioni per consacrate secolari)

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