domingo, 29 de janeiro de 2012

4º DOMINGO DO TEMPO COMUM





Leituras: Dt 18,15-20; Sl 94(95); 1Cor 7,32-35

“Uma nova doutrina e com tal autoridade!” (Mc.1,27)

1. Jesus surpreende, não tanto pelo que ensina, mas pelo modo como ensina: «porque os ensinava com autoridade e não como os escribas» (Mc.1,22). O que está em causa, não é a matéria de ensino; é sobretudo a viva «impressão» que a pessoa de Jesus, causa nos seus interlocutores! A sua autoridade não lhe vem da idade, nem do curso superior, nem do voto do povo, nem de um lugar de poder! Vem-lhe, afinal, de dentro, vem-lhe da coerência do seu testemunho:Ele diz e faz. Ele faz o que diz. A sua Palavra é eficaz e os seus gestos falam por si! Sem dúvida, “o testemunho da vida é a forma simples e espontânea de irradiar valores e a credencial das palavras que se comunicam”[1]!

2. Aqui está um verdadeiro desafio, para todos os educadores, para padres, pais, padrinhos, catequistas e professores: o de uma autoridade “que é mais do que um poder”. Assim o disse, aliás, um conhecido escriba da praça, o psiquiatra Daniel Sampaio. Num artigo publicado há oito dias[2], dizia ele: “Não se pode educar, ensinar ou dirigir sem autoridade! Um pai recebe um poder legítimo para educar; um professor é investido do poder para ensinar; um chefe democrático é escolhido para dirigir. A autoridade, todavia, é mais do que um poder, permite ir mais além se for legitimada pela dignidade pessoal de quem a exerce”. Há muito o tinham dito os Bispos Portugueses, numa Nota sobre a Educação: “A autoridade do «mestre» em educação, passa mais pelo que ele vive e faz e não só pelo que diz. Educar, como processo de conduzir e alimentar, não é substituir-se ao educando: é caminhar com ele. Nesse caminho comum, os modelos e a palavra testemunhada pela vida têm lugar relevante, mesmo insubstituível”[3].

3. Fala-se hoje muito de voltar a dar autoridade aos professores, até de penalizar os pais, que são permissivos na educação dos filhos, de investir na autoridade dos agentes de segurança. E a tentação, para repor a ordem na casa, na escola e na sociedade, pode ser a de um novo autoritarismo! Temos de parar para pensar! Todos reconhecemos que “numa sociedade em que os direitos são sempre realçados e onde não é usual falar de deveres, em territórios onde impera o individualismo e o narcisismo, o exercício da autoridade não é fácil”[4].

4. Todavia, “pais e professores lúcidos sabem que não podem voltar a espancar os mais novos, mas por vezes hesitam no caminho a seguir, deixando instalar a permissividade e o caos, como acontece em muitas casas e em tantas escolas. A pedagogia da submissão acabou, mas a pedagogia da liberdade organizada, tem ainda de fazer o seu caminho. Os adultos que educam ou ensinam, por vezes esquecem como o afeto e a exigência são as armas fundamentais a utilizar junto dos mais novos. Ser exigente sem afeto é introduzir a frieza das regras e dos castigos, onde deveria estar o amor e a compreensão. Ser afectuoso sem exigir, é acolher sem limites e impedir a autonomia e a resistência à frustração. A verdade é que a autoridade, face às crianças, tem de partir de uma base segura de entendimento, onde o mais novo, sinta confiança no mais velho e este esteja disponível para a viagem conjunta que é a construção de uma relação. Os pais com autoridade, sem autoritarismo, são calorosos com os seus filhos e educam com firmeza para a responsabilidade, pois não ignoram que o mais importante é ligar a disciplina ao ensino e ao autocontrolo da criança. Nunca ao medo do castigo, ou ao fantasma da retaliação. Por isso, a educação tem de se preocupar com a formação do caráter dos mais novos, para além do esforço exigido com a melhor aprendizagem dos conteúdos”[5].

5. Falo daqui a cristãos educadores e a educadores cristãos. E lembro-vos mais uma vez: “Na tradição cristã, o testemunho faz parte essencial do anúncio: o ser é o processo mais eficaz e o suporte didáctico mais autêntico do aprender a ser. Por isso se aplica a todo o educador cristão, esta máxima de vida: “crê o que lês, ensina o que crês, vive o que ensinas” (Pontifical da Ordenação de Diácono)[6]”. Esta, e não outra, é a verdadeira força da autoridade do educador cristão, que bem sabe que “a educação é coisa do coração e que só Deus é o seu dono!”[7]



[1] CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Nota Pastoral, Educação: Direito e dever, 6.01.2002, n.14

[2] DANIEL SAMPAIO, A deriva autoritária, in Pública, 22.01.12, pág.49

[3] CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Nota Pastoral, Educação: Direito e dever, n.14

[4] DANIEL SAMPAIO, A deriva autoritária, 49

[5] Ibidem

[6] Cf. CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Nota Pastoral, Educação: Direito e dever, n.14

[7] SÃO JOÃO BOSCO, Epistolário, 4, 209; op. Cit. BENTO XVI, Discurso, 05.06.2005

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