quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Em união com os peregrinos de Nossa Senhora de Guadalupe



JOÃO PAULO II

13ª AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 24 de Janeiro de 1979

1. Na festa da Epifania lemos a passagem do Evangelho de São Mateus, que descreve a chegada a Belém dalguns Magos do Oriente: Entrando na casa viram o Menino com Maria, sua Mãe. Prostrando-se, adoraram-no; e, abrindo os cofres, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso e mirra (Mt. 2, 11-12).

Já falámos um dia, neste local, dos pastores que encontraram o Menino, o Filho de Deus nascido, que estava deitado na manjedoura (Lc. 2, 16).

Hoje ocupamo-nos mais uma vez dessas personagens que, segundo diz a tradição, eram três: os Reis Magos. O texto conciso de São Mateus exprime bem o que faz parte da substância mesma do encontro do homem com Deus: «prostrando-se adoraram-no». O homem encontra a Deus no acto de veneração, de adoração e de culto. Convém notar que a palavra «culto» (cultus) está em relação íntima com o termo «cultura». A substância mesma da cultura humana, das diversas culturas, compete a admiração, a veneração do que é divino, do que levanta o homem para o alto. Um segundo elemento do encontro do homem com Deus, colocado em realce pelo Evangelho, está encerrado nas palavras: «abriram os cofres e ofereceram-lhe presentes ...». Nestas palavras, indica São Mateus um factor que profundamente caracteriza a substância mesma da religião, entendida ao mesmo tempo como conhecimento e como encontro. O conhecimento só abstracto de Deus não constitui, não forma ainda, tal substância.

O homem conhece a Deus encontrando-se com Ele, e vice-versa encontra-o no acto do conhecimento. Encontra-se com Deus quando se abre diante d'Ele com o dom interior do próprio «eu» humano, para aceitar e receber em troca o Seu Dom.

Os Reis Magos, no momento em que se apresentam diante do Menino que se encontrava nos braços da Mãe, aceitam, na luz da Epifania, o Dom de Deus Encarnado, a sua inefável entrega ao homem no mistério da Encarnação. Ao mesmo tempo, «abrem os seus cofres com os presentes»; trata-se dos dons concretos de que fala o Evangelista, mas sobretudo abrem-se a si mesmos diante d'Ele, com o dom interno do próprio coração. E é este o verdadeiro tesouro por eles oferecido, de que o ouro, o incenso e a mirra constituem somente a expressão exterior. Neste dom consiste o fruto da Epifania: reconhecem a Deus e encontram-se com Ele.

2. Ao meditar assim, juntamente convosco aqui reunidos, aquelas palavras do Evangelho de Mateus, vêm-me ao espírito os textos da Constituição Lumen Gentium, que falam da universalidade da Igreja. O dia da Epifania é a festa da universalidade da Igreja, da sua missão universal. Ora, no Concílio lemos: «O povo de Deus encontra-se em todos os povos da terra, já que de todos recebe os cidadãos, que o são dum reino não terrestre mas celeste. Pois todos os fiéis espalhados pelo orbe comunicam com os restantes por meio do Espírito Santo, de maneira que 'aquele que vive em Roma sabe que os indianos são membros seus'» (Lumen Gentium, 13). Portanto, como o Reino de Cristo não é deste mundo (Cfr. Jo. 18, 36), a Igreja, isto é, o Povo de Deus, levando aqui e acolá este Reino, nada tira ao bem temporal deste ou daquele, mas pelo contrário favorece e acolhe todas as capacidades e todos os recursos e costumes dos povos, enquanto são recomendáveis, e, acolhendo-os, purifica-os, consolida-os e eleva-os. De facto, ela recorda-se bem que há-de «recolher» juntamente com aquele Rei, a que foram dados em herança os povos (Cfr. Sl. 2, 6), e a cuja cidade levam os Magos os seus dons e ofertas (Cfr. Sl. 71 (72), 10; Is. 60, 4-7; Apoc. 21, 24). Este carácter de universalidade, que adorna e distingue o Povo de Deus, é dom do mesmo Senhor, e com ele tende a Igreja católica, eficazmente e sem paragens, a concentrar a humanidade inteira, com todos os seus bens, em Cristo Cabeça, na unidade do Seu Espírito.

«Em virtude desta mesma catolicidade, cada uma das partes traz às outras e a toda a Igreja os seus dons particulares, de maneira que o todo e cada uma das partes aumentam, pela comunicação mútua entre todos e pela aspiração comum à plenitude da unidade. Daí vem que o Povo de Deus ... se recolhe de diversos povos» (Lumen Gentium, 13).

Aqui temos diante dos olhos a mesma imagem, já presente no Evangelho de São Mateus, lido na Epifania; só que se encontra aqui muito ampliada. Cristo, que em Belém, como Menino, recebeu os presentes dos Reis Magos, é ainda e sempre Aquele diante de quem os homens e Povos inteiros «abrem os seus tesouros». Os dons do espírito humano, no acto desta abertura diante de Deus Encarnado, adquirem valor especial, tornam-se os tesouros de várias culturas, riqueza espiritual dos Povos e das Nações, património comum de toda a humanidade. Este património forma-se e alarga-se sempre, através daquela «troca de dons», de que fala a constituição Lumen Gentium. O centro daquela troca é Ele: o mesmo que recebeu os presentes dos Reis Magos. Ele mesmo, que é o Dom visível e encarnado, causa a abertura das almas e aquela troca de presentes, de que vivem não só cada homem, mas também os Povos, as Nações e a Humanidade inteira.

3. Toda a meditação precedente é, em certo modo, introdução e prefácio daquilo que desejo agora dizer.

Amanhã devo começar, com a graça de Deus, uma viagem ao México, a primeira do meu pontificado. Quero nisto seguir o grande Papa Paulo e continuar a tradição por Ele iniciada. Dirijo-me ao México, a Puebla, por ocasião da Conferência Episcopal da América Latina, que inicia os seus trabalhos no próximo sábado na concelebração eucarística do Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe. Manifesto já hoje a minha gratidão, tanto aos representantes do Episcopado pelo convite a mim dirigido, como aos representantes das Autoridades Mexicanas, de modo especial ao Presidente da República desse País, pela benévola atitude quanto a esta viagem, que me permite cumprir um dever pastoral tão importante.

Refiro-me neste momento à liturgia da festa da Epifania como também às palavras da Constituição Lumen Gentium, que permitem que nós todos lancemos um olhar para aqueles dons especiais, que o Povo, e a Igreja que está no México, trouxeram e continuam a trazer para o tesouro comum da humanidade e da Igreja.

Quem não ouviu pelo menos falar dos esplendores do México antigo? Da sua arte, dos seus conhecimentos no campo da astronomia, das suas pirâmides e dos seus templos, em que se exprimia a aspiração para o divino, embora imperfeita e ainda não iluminada?

E que dizer das catedrais e igrejas, dos palácios e câmaras, que depois da cristianização ergueram no México artistas mexicanos? Tais edifícios são eloquente expressão da admirável simbiose que o povo mexicano soube realizar entre os melhores elementos do seu passado e os do seu futuro cristão, em que ia então ingressando. O México fez porém novos e grandes progressos na época mais recente. Ao lado das famosas construções de estilo chamado colonial, há hoje os arranha-céus, as grandes estradas, os impressionantes edifícios públicos e as empresas industriais do México moderno. Todavia — e nisto está outro mérito seu no meio do progresso político, técnico e civil moderno, a alma mexicana mostra claramente que deseja ser agora e continuar no futuro a ser cristã: até na sua música popular típica, canta o mexicano a sua eterna saudade de Deus e a sua devoção à Virgem Santa. E em tempos difíceis do passado, agora felizmente vencidos, patenteou o mexicano não só bons sentimentos religiosos mas uma fortaleza e firmeza de fé não indiferente, antes por vezes heróica, como muitos recordarão ainda.

Estou convencido que, diante de Cristo e Sua Mãe, se poderá de novo realizar aquela «abertura e troca de dons», a que o Episcopado da América Latina, eu mesmo e toda a Igreja liga-mos tão grandes esperanças para o futuro.

4. Voltemos ainda à descrição de São Mateus. O Evangelho diz que essa «abertura de dons» dos Reis Magos se realizou em Belém diante do Menino e Sua Mãe.

Acrescentemos que tal situação continua a repetir-se exactamente assim. Não o provam a história do México e a história da Igreja naquela terra? Dirigindo-me lá, alegro-me de maneira especial por ir encontrar-me a seguir as pegadas de tantos peregrinos, que de toda a América, se encaminham para o Santuário da Mãe de Deus em Guadalupe.

Provenho duma terra e dum País, cujo coração bate nos grandes Santuários Marianos, sobretudo no Santuário de Jasna Gora. Desejo uma vez mais, como no dia da inauguração do pontificado, repetir as palavras do maior poeta polaco: «Virgem Santa, que defendes a clara Czestochowa, e resplandeces na Porta Aguda ...».

É o que me permite compreender o Povo, os Povos, a Igreja e o Continente, cujo coração bate no Santuário da Mãe de Deus em Guadalupe.

Espero também que isto me abra o caminho para o coração daquela Igreja, daquele Povo e daquele Continente.

***

Saudações

Aos doentinhos

Quero dirigir uma saudação especial aos enfermos aqui presentes. Quero sobretudo garantir-lhes que o Papa não os esquece, antes sempre lhes reserva um lugar especial no seu coração e nas suas orações. Coragem!

Ao mesmo tempo, desejo formular cordiais votos de pleno êxito em favor do Dia Mundial dos Leprosos, que se realizará também aqui em Roma no dia 28 do corrente, incluindo algumas iniciativas cujo ponto mais alto será a Concelebracão Eucarística, presidida pelo Cardeal Vigário na Basílica de São João de Latrão. Conserve o Senhor e fecunde o trabalho humilde mas esplêndido dos que se dedicam a exterminar este mal terrível. como as Irmãs da Ordem Terceira de São Francisco de Syracuse (E.U.A.), algumas das quais estão aqui presentes. Também neste esforço nos podemos todos mostrar discípulos do nosso Mestre e Senhor, Jesus, que diante dos leprosos adoptou atitudes de bondade, que não ficaram só em compaixão mas levaram a concretas e prodigiosas intervenções salvadoras (cfr. Mc. 1, 40-41).

Sejam fecundados estes votos pela assistência divina, e seja a todos de conforto a minha paternal Bênção Apostólica,

A peregrinos de várias dioceses da Itália

Saúdo agora, com viva cordialidade e paternal afecto a Peregrinação das Dioceses de Civita Castellana, Orte e Gallese e das Dioceses de Nepi e Sutri, presidida pelo próprio Bispo.

Caríssimos, ao expressar-vos o apreço c a satisfação do meu espírito, agradeço-vos esta significativa e agradável visita, que retribuo com votos ardentes. Desejo que todos vós aqui presentes juntamente com todos quantos representais, sejais sempre "fortes na fé" (1 Ped. 5), "exultantes na esperança" (Rom. 12, 12), e afirmadores de verdade e caridade (cfr. Ef. 4, 15), a fim de que possais oferecer, em todos os tempos e em toda a parte, um testemunho sincero, luminoso e convincente de vida, inspirado na Pessoa, na doutrina e no exemplo de Cristo Jesus (cfr. Act. 1, 8).

Corroboro esse auspício com a propiciadora Bênção Apostólica, aplicável também a todas as vossas famílias e às pessoas que vos são queridas.

A peregrinos de algumas paróquias romanas

Acrescento em seguida uma saudação dirigida às peregrinações paroquiais; são hoje especialmente numerosas as dalgumas Paróquias Romanas: a de São Pedro e São Paulo na EUR, a do SS.mo Nome de Maria no Bairro Appio-Latino, e a de São Tomás Moro na Via Tiburtina.

A todos prometo a minha lembrança constante na oração e com afecto a todos abençoo.

A jovens casais

Também hoje estão presentes vários casais de jovens esposos. Apresento-lhes os meus votos e desejo certificá-los duma especial oração minha para que, na vida nova que iniciam juntos, o Senhor os acompanhe e abençoe.

Palavras da Mensagem aos Fiéis do México

Muitos amados irmãos e irmãs a presença das Câmaras da Televisão Mexicana nesta Audiência, oferece-me a agradável oportunidade de enviar uma afectuosa saudação, vinda do fundo da alma, a todos os queridíssimos filhos mexicanos. Sabeis que amanhã, querendo Deus, darei início à primeira viagem do meu Pontificado. Vou ao México inaugurar, com uma celebração eucarística no Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, os trabalhos da Terceira Conferência do Episcopado Latino-Americano. Quero manifestar desde já a minha gratidão aos Representantes do Episcopado pelo seu convite e às Autoridades mexicanas, em particular ao Senhor Presidente da República, pela sua benevolência que me permite cumprir um dever pastoral tão importante.

Vou ao México, país moderno, que tem sido e quer ser cristão; cuja alma, até na música popular, canta a saudade eterna de Deus e a devoção à Santíssima Virgem; os seus próprios sentimentos religiosos, a firmeza da sua fé, ficaram bem demonstrados em momentos históricos difíceis, às vezes até de maneira heróica.

Do mesmo modo que na minha terra natal, sinto que o coração bate forte no Santuário da Mãe de Deus. Espero que Guadalupe me abra o caminho para o coração da Igreja, daquele Povo e de todo aquele Continente.

A todos a minha Bênção Apostólica.

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