RIO DE JANEIRO, sexta-feira, 14
de dezembro de 2012 (ZENIT.org) - É a pergunta que as diversas situações fazem
a João Batista diante da pregação da chegada do Messias, Salvador do Mundo. E
João convida a todos à mudança concreta de vida. Essa mudança é para nós
demonstrada com a celebração penitencial.
Aproximamo-nos da grande
solenidade do Natal do Senhor, quando a liturgia nos fará penetrar no mistério
do Salvador, que se faz homem para nos redimir e elevar-nos à Sua divina
dignidade. Como na noite de Natal, há dois mil anos passados, somos chamados a
reconhecer a luz que ilumina as trevas da humanidade, e, reconhecendo-a,
acercar-se dela e contemplá-la, a fim de que ela nos ilumine e nos faça
partícipes da sua graça.
Nessa perspectiva, somos chamados
a olhar para o nosso interior e perceber o quanto cada um de nós, de maneira
tanto particular quanto comunitária, vive o momento propício que o Tempo do
Advento nos proporciona, no qual realizamos a caminhada do Povo de Deus da
antiga Aliança, que, na expectativa do Messias, vivencia uma caminhada de
penitência, a fim de se preparar para a chegada d’Ele.
Precisamente por isso, no tempo
do Advento a Igreja celebra o Mistério do Senhor revestida da cor litúrgica
roxa, remetendo-nos à penitência e à conversão, chamando-nos a corresponder a
esse sinal e a manifestar desse modo que, assim como o povo de Deus de outrora,
nós também estamos na expectativa pela chegada do Senhor e desejamos que ela
aconteça mediante nossa pureza de coração.
No Evangelho do domingo passado,
vimos o clamor de João Batista incitando o povo a “aplainar os caminhos do
Senhor” e “endireitar suas veredas”. Esse brado veemente que o precursor do
Messias exclamava por onde passava, precisamente na iminência da chegada d’Ele,
também hoje é dirigido a todo o povo de Deus. Diante dessa certeza, precisamos
assumir a nossa responsabilidade e reconhecermo-nos como sendo esse povo, e,
desse modo, mergulhar nesse processo de penitência e conversão a que o Senhor,
pelos lábios de João Batista, nos convoca.
Todavia, como podemos manifestar
de maneira concreta a conversão à qual o Senhor nos chama? Certamente é preciso
tomar parte de um processo de reconciliação que se inicia no íntimo de cada um
de nós. A conclusão desse processo, onde se manifesta a graça salvífica de
Cristo, é o Sacramento da Confissão. É por ele que somos reconduzidos ao Senhor
e, desta forma, reabilitados na vida da graça.
Assim sendo, somos todos
convidados a voltar sua atenção para a figura dos pastores, como apresentada na
noite de Natal pelos evangelhos. Eles, sempre vigilantes, estavam prontos para
caminharem até o Salvador quando da Sua chegada. Precisamente a eles, o anjo do
Senhor dirigiu de modo primordial o anúncio alegre e solene da Sua chegada. E
este anúncio primordial que os pastores receberam certamente tem sua razão de
ser na vigilância em que eles se encontravam na noite em que o Senhor chegou para
nós.
E nós, até que ponto somos
vigilantes? O próprio Senhor, no Evangelho, nos alerta para a necessidade de
mantermos tanto a vigilância quanto a oração, pois não sabemos nem o dia nem a
hora em que Ele virá. Exatamente por isso, somos todos convidados a observar a
importância do Sacramento da Confissão nesse contexto de penitência e conversão
que o tempo do Advento nos proporciona.
Iniciemos por fazer nosso devido
exame de consciência e observemos a figura de Maria, mulher da pureza e da
oração, sempre confiante nas promessas do Senhor e a primeira a aderir de todo
o coração ao convite do próprio Deus que a escolhera para ser a mãe do Salvador
e, assim, colaborar com a salvação de toda a humanidade. Em seguida, olhemos
para dentro de nós mesmos e observemos até que ponto nos configuramos ao
Senhor, tendo por exemplo a figura de Maria.
Nesse sentido, o nosso convite
para que todos reconheçamos no tempo litúrgico do Advento o momento propício
para reconciliarmo-nos com Deus, para poder assim acolher generosa e dignamente
o Salvador. Os sacerdotes são convidados a assumir o papel de João Batista,
anunciando a chegada do Salvador e a necessidade de uma conversão verdadeira,
que faça de cada cristão verdadeiras manjedouras onde se reclina o Salvador não
só na noite de Natal, mas durante toda a caminhada da vida. Os padres assumem o
papel de “aplainar a caminho do Senhor” na vida de quantos lhes são confiados,
tendo a viva consciência de que são os mediadores da graça sacramental e de que
depende largamente de sua eficiente ação pastoral a reconciliação do povo com o
seu Deus.
Precisamente por isso, sabendo do
valioso momento dos “mutirões de confissões” em todas as paróquias, seria muito
importante neste tempo que em todas as paróquias, institutos religiosos,
oratórios, comunidades diversas seja ministrado de modo mais frequente o
sacramento da Penitência, de maneira auricular, criando-se para isso horários
condizentes com as realidades pastorais em que estão inseridos, não se medindo
os esforços necessários para que o maior número de fiéis aproxime-se desse
sacramento por meio do qual são reconduzidos à vida da graça. Ainda mais neste
Ano da Fé será importante essa missão nas Igrejas de “peregrinação” para obter
as indulgências.
Reconheçamos no Senhor que está
para chegar a “luz” que ilumina a nossa escuridão e nos dá a conhecer a
maravilha que Ele traz: a felicidade eterna, a nossa Salvação. Nesta
perspectiva, observemos como caminha nossa sociedade nesse período de
aproximação do Natal e vejamos que em não poucos ambientes o protagonismo de
Cristo, como “o esperado” na noite santa, “o aniversariante” que dá sentido a
toda esta comemoração, está sendo cada vez mais ofuscado nos corações e nas
vidas de tantas pessoas. Esse “pecado social” certamente possui uma dimensão
particular que toca a cada um de nós, porquanto nos faz enxergar que se Cristo
está sendo esquecido pela nossa sociedade, há uma parcela de culpa em cada
cristão. Precisamente por isso, é preciso que nos reconheçamos pecadores, pois
indiretamente somos carentes de um testemunho eficaz que manifeste ao mundo a
beleza e a razão de ser do Nascimento do Salvador.
Poderíamos, a partir dessa
constatação, iniciar o nosso exame de consciência. A nossa pequenez nos convida
a uma reflexão aprofundada, por meio da qual devemos eliminar de nossa vida
tudo o que reconheçamos nos afastar de Deus. E o façamos de modo concreto, recorrendo
ao Sacramento da Confissão.
Enfim, voltemos novamente o nosso
olhar para a figura dos pastores e reconheçamos neles a figura do cristão que
vive “acordado” e a quem pode chegar a mensagem solene do anjo na noite santa.
Precisamente porque os pastores estavam acordados, a eles chegou a notícia que
a humanidade esperava, e diante deles os anjos apareceram entoando louvores a
Deus por tão grande evento. Estar acordados significa estar despertados para a
realidade objetiva, não se fechando em um mundo particular, onde só existe
lugar para nossos próprios impulsos e inclinações. Conduzidos por essa visão
particular da vida, muitos mergulham no egoísmo e fecham-se para a liberdade
própria da boa-nova de Cristo. Estar acordados, ou melhor, “estar vigilantes”,
significa sair do mundo particular e abraçar a Verdade que é o próprio Cristo,
que caminha ao nosso encontro e chegará de maneira solene e intensa na liturgia
do Natal que estamos a esperar.
É neste sentido que o nosso
despertar para o Natal do Senhor concretiza-se quando nos conscientizamos da
realidade de que é preciso abandonar o pecado, deixar de lado tudo o que nos
afasta de Deus, realizar um sincero e compromissado exame de consciência e
mergulhar na graça do Sacramento da Confissão. O mesmo Cristo cujo nascimento
celebraremos na noite do Natal do Senhor é o que nos espera nos
confessionários. E a luz que guiou outrora os magos do Oriente no seu caminho a
Belém para adorar o Messias é a mesma que deseja guiar a nossa vida se lhe
formos ao encontro.
Deste modo, enquanto povo de Deus
que na liturgia do Tempo do Advento caminha rumo à chegada do Salvador,
vivenciamos um tempo de penitência que não deve ser próprio somente da
liturgia, mas da nossa vida de maneira completa. Por isso, não tenhamos medo,
não recusemos tomar parte dentre os que buscam o Sacramento da Confissão, afim
de que, iluminados pela estrela de Belém, sejamos manjedouras onde o Senhor
dignamente quer se reclinar na noite santa do seu Natal.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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