Leituras: Sb 2,12.17-20; Sl 53(54),3-4.5.6.7 (R/. 6b); Tg 3,16-4,3; Mc 9,30-37
Jesus, sabendo que os discípulos
“haviam discutido entre si qual deles seria o maior” (Mc 9,34), lhes dá uma
lição de humildade: “Se alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos e
o servo de todos” (Mc 9,35).
A humildade encontra-se nos
fundamentos da vida interior, ou seja, ela está na raiz de outras virtudes. A
humildade remove os obstáculos para que a pessoa receba as graças de Deus, já
que “Deus resiste aos soberbos e dá a sua graça aos humildes” (Tg 4,6). A
humildade e a fé formam um par maravilhoso: a primeira remove os obstáculos à
graça, entre os quais o orgulho; a segunda estabelece o primeiro contato com
Deus.
A humildade se funda na verdade e
na justiça. Santa Teresa dizia que a humildade é andar em verdade. A humildade
nos dá o conhecimento, cada vez mais profundo, sobre nós mesmos. Também se
funda na justiça porque exige que o ser humano dê a Deus toda a honra e toda a
glória.
Na prática, humildade não é dizer
que não se tem qualidades, quando na verdade se tem (isso seria hipocrisia);
tampouco se trata de inventar qualidades que não possuímos (isso seria mentira
e soberba). Não podemos buscar uma espécie de “humildade de jogadores de
futebol” em entrevistas, mais ou menos assim e com os clássicos erros de
português: “É, nós estamos de parabéns, apesar de nós não ter feito todos os
gol que queria, agente seguimos as orientações do técnico e joguemo com
humildade, e, provamos que com nós ninguém pode…”. Além de evitar este tipo de
humildade, o cristão não pode ser uma pessoa encolhida: sem ideias próprias,
meio covarde, com cara de coitado, um “Jeca Tatu”.
A humildade autoriza o filho de
Deus a admirar todos os dons, naturais e sobrenaturais, que recebeu, mas sem
atribuir-se a si mesmo o magnífico lenço pintado que vê em si, pois sabe que o
divino Artista é Deus, para quem deve ir encaminhada toda a glória. Esta
virtude também nos ajuda a ver a nossa pequenez e o quanto somos fracos. Em
suma, a humildade é uma disposição da alma que nos inclina a moderar o apetite
da própria excelência, levando-nos a evitar tanto a hipocrisia quanto a
soberba.
A hipocrisia é ridícula! Andar
cabisbaixo, com a cabeça meio torta e negar virtudes que se tem são, no fundo,
características de uma falsa humildade. O curioso é que tais pessoas poderiam
dizer de si mesmas: “eu sou um pobre pecador, não valho nada, sou um orgulhoso.
Que Deus tenha pena de mim!”. Mas, se alguém lhe diz: “você é um orgulhoso e um
pobre pecador”, então elas se irritam ao extremo. Ou seja: outros não podem
dizer aquilo que elas dizem sem acreditar. É preciso lutar também contra a
sensibilidade doentia: “o que pensarão de mim?”, “o que dirão de mim?”, “será
que eles gostaram?”, “magoaram-me!” Nós não precisamos desprezar-nos diante dos
outros para mostrar que somos humildes, mas também não precisamos
supervalorizar-nos internamente. É suficiente mostrar-nos como somos, isto é,
com autenticidade e moderando a própria desordem interior. Quando se é
inteligente, por exemplo, e alguém elogia isso em nós, podemos dizer
simplesmente um “obrigado”. Também é importante que, aceitado o elogio,
dirijamos, no silêncio do nosso coração, esse louvor ao Senhor: “para Deus toda
a glória!”
Por outro lado, não vamos andar
por aí divulgando as nossas virtudes, os nossos cargos e as nossas
responsabilidades; poderiam ser manifestações de soberba. Outra coisa seria a
necessidade de utilizar alguma vez uma coisa meritória que tenhamos feito para
reclamar um direito que por justiça nos pertence. Um exemplo: o aluno que
estudou muito e fez uma boa prova tem o direito de que lhe deem uma boa nota;
se fez uma ótima prova, a nota também deverá ser ótima. Não é soberba ir
reclamar com o professor no caso de que a nota tenha sido baixa ou menor do que
aquela que ele julgava justa. Em nome da verdade e sem falsa humildade, o tal
aluno pode – e até deveria – reclamar e lutar pelos seus direitos.
Como se pode ver: a humildade nos
ajuda a andar em verdade!
Pe. Françoá Costa
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