Por Pe. Pavlos
Tamanini, Eparquia Ortodoxa Grega do Brasil
São João Crisóstomo nasceu na cidade de Antioquia. Cresceu no
meio da multidão sem deixar-se contaminar por ela. Conheceu os pobres e
desafortunados e soube amá-los como eram. Sua família era culta e possuía
muitos bens . O pai de João, oficial de alto nível, morrera jovem.
Desde criança foi educado pela mãe, mulher admirável que, aos
vinte anos, sacrificou sua juventude, renunciou a novas núpcias, para
dedicar-se inteiramente a seu filho. João recebeu o Batismo mais ou menos aos
dezoito anos de idade.
Concluídos seus estudos de cultura geral, de retórica e de
filosofia, de forma brilhante, renunciou a uma carreira que se apresentava
promissora, para receber as ordens menores. Quis partir para o deserto, mas sua
mãe, que por ele sacrificara tudo, não lho permitiu. Fugiu, então, da agitação
de Antioquia e estabeleceu-se fora das portas da cidade, a fim de encontrar a
paz, consagrando-se à ascese e ao estudo bíblico.
Antioquia era um centro teológico de grande reputação. João
lá aprende de forma brilhante a exegese bíblica. Depois passou a viver nas
montanhas entre monges uma vida austera a ponto de prejudicar sua saúde. Após
algum tempo nas montanhas, achou-se preparado para enfrentar a ação
missionária. O amor aos outros, mais do que sua saúde abalada, fê-lo voltar a
Antioquia, onde o bispo Melécio o ordenou diácono, em 381.
Escreveu aos 34 anos o tratado sobre o Sacerdócio, que é
conhecido e estudado até os nossos dias. Com 39 anos foi ordenado padre.
Consagrou-se à pregação, substituindo o bispo, nas homilias pois esse era pouco
dotado para falar.
Durante doze anos, pregou ao povo contra o paganismo e tinha
esperança de transformá-lo em gente de fé cristã. É dele a frase: "Basta
um só homem, para reformar todo um povo."
Sua tarefa era séria. Precisava denunciar os abusos
existentes no interior da Igreja e na sociedade; defender os pobres, clamar
contra as injustiças sociais. Manteve ainda uma intensa atividade literária,
respondendo a todos os que lhe pediam conselho.
A maioria de suas homilias era comentários a respeito do
Antigo e o Novo Testamento: explicou o Gênesis, comentou Isaías e os Salmos. O
que fazia com mais agrado era pregar sobre o Evangelho. Comentou longamente o
de Mateus e o de João. São Paulo era seu autor preferido: sentia afinidade com
o Apóstolo dos gentios. Cognominaram-no de o "novo Paulo".
Resta-nos, de João Crisóstomo, uma série de catequeses
batismais, que preparavam os catecúmenos para o batismo. As últimas foram
reencontradas em 1955, no monte Atos. João Crisóstomo era um orador nato e
igualmente um moralista que analisava os segredos do coração em profundidade e
com rara psicologia. O povo de Antioquia sabia que João só repreendia para
corrigir e para converter.
Inúmeras vezes João tomou a defesa dos pobres e dos
infelizes, dos que morriam de fome e sede. Com veemência, João-Boca-de-Ouro
ergueu sua voz contra os flagelos sociais, o luxo e a cobiça. Lembrou a
dignidade do homem, mesmo pobre, e os limites da propriedade. Dizia:
"Libertai o Cristo da fome, da necessidade, das prisões, da nudez."
A fama de João ultrapassava as fronteiras de Antioquia e
chegava à nova capital do império. Em 397, o bispo da capital, Nectário, que
sucedera a Gregório Nazianzeno, acabava de morrer. Intimado a comparecer à
Capital do Império, foi eleito o Bispo de Constantinopla, a Sé do Oriente. João
começou uma grande reforma, desembaraçando a casa episcopal do luxo, fazia suas
refeições sozinho e acabou com as recepções suntuosas. Reformou as ordens de
vida dos clérigos e dos monges, organizou a Reforma Litúrgica com a preocupação
de levar Deus aos homens pela Divina Liturgia.
O texto da Divina Liturgia (Santa Missa) que toda a Igreja
Ortodoxa celebra em todo o mundo, é conhecida como sendo de São João
Crisóstomo.
Empreendeu a evangelização das zonas agrícolas e esforçou-se
para trazer à ortodoxia aos pagãos, que eram numerosos na região. Combateu as
seitas heréticas com intransigência e rudeza.
Em 402, São João Crisóstomo foi deposto e exilado acusado de
não coadunar os interesses da Igreja com as do Império. O bispo foi detido em
sua catedral, durante a celebração pascal. Depois de uma palavra de despedida,
João deixou a sua igreja que jamais haveria de rever. O exílio foi penoso. João
foi enviado para uma aldeia, Cucusa, na fronteira com a Armênia.
A saúde do bispo achava-se enfraquecida. O clima era duro e
desfavorável para o seu estado. A maior parte de suas cartas data dessa época.
Este homem atingido em cheio pela provação procurou mais consolar do que ser
consolado.
No sofrimento, pensava nos outros. Finalmente morreu, no dia
14 de setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz. Suas últimas palavras
foram: "Glória a Deus por tudo."
Os contemporâneos descrevem-nos João Crisóstomo como um homem
de estatura baixa, de rosto magro, de testa enrugada, de cabeça calva. Tinha
voz fraca. As austeridades comprometeram definitivamente sua saúde. Não falava
para ser escutado, falava para instruir, exortar, reformar, preocupado com o
combate aos costumes pagãos e com a instauração da moral do Evangelho. Era um
reformador, um missionário. Se não era um teólogo original, era um pastor
incomparável. Sua pregação desempenhou na liturgia bizantina o mesmo papel que
a de Agostinho no Ocidente. Ele foi lido, copiado, traduzido, imitado. De todos
os Padres da Igreja, São João Crisóstomo é aquele cuja pregação menos
envelheceu. Sua pregação moral e social parece escrita hoje.
A honra da Igreja consiste em contar com homens, como João
Crisóstomo, que não pactuaram com o poder, com o dinheiro, e que souberam tomar
o partido dos pobres. Toda a fé deste homem exprime-se em sua palavra. E esta
palavra vive sempre.
FONTE:
Hamman. Os Padres da Igreja. Ed Paulinas, 1985
Spaneut, Michel. Os Padres da Igreja. Ed Loyola. 1999
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