Conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando e o Pe.
Paulo Ricardo
Por Thácio Siqueira
BRASILIA, terça-feira, 4 de
setembro de 2012 (ZENIT.org) – São três os valores inegociáveis segundo Bento
XVI – em discurso ao Partido Popular Europeu no ano de 2006: vida, família
monogâmica e educação dos filhos. Valores estes que não podem “seguir a arte da
política e da negociação”, - afirma Pe. Paulo Ricardo - em uma conversa
organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando Melo, vice-presidente
Pró-vida e pró-família e membro da comissão de bioética da arquidiocese de
Brasília, e o Pe. Paulo Ricardo Azevedo Junior, do clero da arquidiocese de
Cuiabá, e famoso pregador brasileiro.
Oferecemos aos nossos leitores a
primeira parte dessa reflexão. A segunda será publicada amanhã.
Prof. Paulo Fernando: Como é que o senhor vê a situação da comunidade
católica, da sociedade no geral, diante dessa questão da legalização do aborto
previsto no anteprojeto do código penal?
Pe. Paulo Ricardo: Na realidade, o católico está, infelizmente
alienado da vida política. Enquanto católico criou-se uma mentalidade de que
porque o Estado é laico as pessoas não podem manifestar seus valores éticos e
religiosos no mundo da política. Essa mentalidade é completamente absurda
porque nós sabemos que toda lei manifesta um Ethos, toda lei manifesta uma
visão de mundo e um quadro de valores. Ora, o Estado pode ser laico, mas os
brasileiros são religiosos. E eles têm não somente o direito mas o dever de
levar esse seu Ethos à própria confecção das leis. Ora, por causa dessa
ideologia laicista o católico introjetou uma espécie de minoridade. Enquanto
ele é religioso, católico, possui as suas convicções, mas é como se fosse um
cidadão de segunda categoria. Só tem direito de se manifestar aquele que é
ateu, materialista militante... o católico fica de lado. Na realidade
precisamos acordar o católico consciente, convicto, praticante, fiel à Igreja e
ao Papa, para a sua missão, a sua vocação no mundo da política. O diabo, na
verdade, fez o trabalho dele muito bem feito. Colocou na cabeça do católico que
política é para gente soncha, para pessoa soncha. Portanto, ele não deve
imiscuir-se nesse ponto. É assim que, então, temos no Brasil uma situação
bastante esdrúxula de uma maioria silenciosa que é governada quase que
ditatorialmente por uma minoria que conseguiu amordaçar essa maioria.
Prof. Paulo Fernando: Padre, nós estamos em anos de eleições, para
prefeito e vereador. O que diz a doutrina social da Igreja da participação
efetiva de católicos na política? Quais são os critérios de um bom candidato
para que o eleitor faça uma boa escolha?
Pe. Paulo Ricardo: Na
verdade, nós devemos sempre olhar para o fato de que a Igreja não tem
candidatos próprios, mas a Igreja orienta o fiel para escolher candidatos que
trabalhem para o bem comum, homens e mulheres que tenham um histórico e uma
competência para trabalhar para o bem comum. Essa realidade incide fortemente
quando nós olhamos para o curriculum do candidato e vemos que ele tem ou não um
histórico de defesa daqueles valores que o Papa Bento XVI chama de valores não
negociáveis.
São três tipos de valores não
negociáveis, praticamente, que o Papa colocou num discurso dele ao Partido
Popular Europeu no ano 2006 (Clique aqui para ler o texto) Primeiro: respeito à vida humana desde a sua
concepção até a sua morte natural. Aqui entra toda a questão do aborto, da
eutanásia, etc. Segundo: a família, constituída por um casamento monogâmico,
único, indissolúvel, entre um homem e uma mulher. E esse é um valor que a
Igreja considera não negociável. Ou seja, não há aqui a arte da política e da
negociação. E terceiro: a educação dos filhos, ou seja, a liberdade dos pais de
educarem os seus filhos sem ingerência do Estado naquilo que são os valores a
serem transmitidos aos filhos.
Essas três colunas mestras estão
sendo, hoje, atacadas frontalmente pelo abortismo, pelo gaysismo, pelo
feminismo, e por um Estado cada vez mais aparelhado por militantes de esquerda
que querem exatamente solapar essas colunas mestras da moralidade da
civilização ocidental, que não é só algo específico nem do católico e nem do
cristão, mas são os valores encima dos quais foi construída a civilização
ocidental.
Prof. Paulo Fernando: Padre, o Senhor poderia esclarecer-nos se, de
acordo com a doutrina e o magistério da Igreja, um eleitor que vote num
candidato ou num partido que, sabidamente é contrário a esses valores que o
senhor falou – se o partido claramente no seu programa defende a legalização do
aborto – se, teoricamente, esse eleitor, votando deliberadamente nesse partido
e nesse candidato, estaria incorrendo em pecado?
Pe. Paulo Ricardo: De fato existe uma situação bastante delicada no
Brasil porque a realidade do nosso país é que, praticamente, todos os partidos
tem nas suas plataformas, nos seus programas, políticas contrárias a esses
valores. O que, na verdade, nós deveríamos atentar é para o fato não se os
partidos tem ou não esse tipo de valores, mas se o partido permite ou não uma
liberdade ao candidato de exercer o seu mandato a partir dos valores que ele
professa. De tal forma que não aja uma rigidez ou uma disciplina interna no partido
que obrigue os candidatos, uma vez eleitos, a uma camisa de força doutrinal.
Então, nesse caso, se uma pessoa sabe que o partido tem esse tipo de disciplina
interna, e que, portanto, não irá permitir ao candidato o exercício do seu
mandato conforme os valores que o próprio candidato professa, então o eleitor
tem a sua consciência gravemente honerada na hora de votar, porque sabe que
está votando não num candidato com valores cristãos, mas num partido que irá
impor seus valores anticristãos e imorais.
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