Reflexões espirituais de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém
do Pará
BELÉM DO PARÁ, segunda-feira, 17
de setembro de 2012 (ZENIT.org) - “Jesus e seus discípulos atravessavam a
Galileia, mas ele não queria que ninguém o soubesse. Ele ensinava seus
discípulos” (Mc 9,30-31). Jesus foi reconhecido e chamado muitas vezes de Rabi,
Mestre. Reuniu em torno de si discípulos que dele aprendiam as lições da vida,
aproveitando os encontros e desencontros diários. Uma das mais incômodas de
tais lições, e a mais decisiva, foi o anúncio da paixão, repetida pelo menos
três vezes. “Mas eles não compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de
perguntar” (Mc 9,32). Eram como estudantes cujo interesse não tem coragem de ir
ao fundo das questões. No final das contas, na hora decisiva, a “turma de
alunos” se dispersou. Após a Ressurreição, “Jesus apareceu aos onze discípulos,
enquanto estavam comendo. Ele os criticou pela falta de fé e pela dureza de
coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado”
(Mc 16, 14). Com eles e muitas vezes gazeteiros na Escola do discipulado,
aprendamos de novo.
Quando crianças, nossos pais nos
ensinaram lições de civilidade. Quantas vezes ouvimos recomendações tão
concretas e importantes: não “avançar” na comida, esperar os outros servirem
primeiro, dizer “muito obrigado”, pedir a bênção, lavar as mãos, prestar
atenção, não dizer palavrões! E se cristãs as nossas famílias, tivemos a
alegria de ouvir que o que se faz ao próximo, é ao próprio Jesus que se faz.
Quantas e belas lições nos deixaram os gestos de caridade dos que nos
precederam no caminho da vida, imprimindo em nossos corações valores que dão um
timbre diferente ao que fazemos pela vida afora. Como “é de pequeno que se
torce o pepino”, ou aprendemos cedo ou então podemos converter-nos, fazendo-nos
crianças depois de grandes!
Os discípulos de Jesus entraram
continuamente na escola. Quando disputavam os primeiros lugares ou queriam
saber quem era o maior, Jesus convida, numa das lições mais preciosas, a
assumirem o último lugar, o espaço do serviço humilde, superando as
competições, “criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos outros (Cf.
Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram
competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes” (Novo Millenio ineunte 43).
O mundo competitivo em que
vivemos convida a uma corrida tantas vezes desenfreada e desrespeitosa à
dignidade e aos direitos básicos das pessoas humanas. No vale-tudo cotidiano,
percorre-se um roteiro que vai do troco da mercearia às grandes fortunas
alcançadas a preço de corrupção, lavagem de dinheiro e outras mazelas hoje
postas à vista de todos, inclusive nos julgamentos realizados nas mais altas
esferas da magistratura e que podem ser assistidos pelos meios de comunicação.
Para passar à frente, conquistar e manter o poder, os limites éticos são
ignorados ou desprezados e as cifras, descritas pelo menos em milhões, causam
indignação aos que têm um mínimo de consciência da cidadania. Menos mal que
alguma luz, esperamos consistente, aparece no fundo do túnel.
A disputa pelo poder legislativo
e executivo municipal, corrente nos dias que precedem as eleições, é legítima
numa sociedade democrática, mas cabe aos cidadãos o filtro da consciência que
lhes possibilite decidir bem, alçando aos cargos em jogo pessoas que sejam
dignas, as melhores ou pelo menos as “menos piores”.
Se nos referimos às raízes
familiares das pessoas no processo educativo, vale aqui recomendar com
simplicidade e clareza a todos que os candidatos aos cargos devem ter uma folha
de serviços que possibilite conferir o que fizeram e como fizeram pelo bem da
sociedade. É bom saber com que “companhia” andaram ou andam, para recordar os
antigos e sábios conselhos dos mais velhos. Quem compartilhou aventuras com as
muitas quadrilhas existentes, pode até mudar, mas é bom verificar com calma.
Foram ainda os nossos pais que ensinaram o quanto são complicadas as pessoas
que contam muitas vantagens. O valentão da esquina, o que pensa ser dono da rua
ou do mundo, costuma ter muita coisa a esconder! Espero que sejamos mais
sábios, pois as promessas correntes nas campanhas são tantas vezes irreais.
Enfim, há valores para nós
cristãos irrenunciáveis: a vida desde a fecundação até seu ocaso natural, o
plano de Deus que criou o homem e a mulher, no maravilhoso projeto de
realização descrito no livro do Gênesis, a dignidade do matrimônio e da
família, a não interferência dos poderes públicos na paternidade e maternidade
responsáveis, a liberdade religiosa, ao lado de outros deles decorrentes.
Dentro de tal horizonte, restam-nos alguns dias para refletir e decidir
conscientemente. O Senhor nos ajude, para que possamos contribuir para uma
sociedade mais digna e justa.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém
Nenhum comentário:
Postar um comentário