Convivência e liberdade nas sociedades multirreligiosas
BARCELONA, sexta-feira, 14 de outubro de 2011 (ZENIT.org) – A Catalunha é um território repleto de religiosidade há séculos. Agora, a chegada de novas religiões tinge o mapa confessional com outras cores e práticas de culto que convivem com o cristianismo.
Com o objetivo de gestioná-lo bem, o governo desta comunidade autônoma espanhola criou, há anos, uma Direção Geral de Assuntos Religiosos. Seu novo diretor, o professor e advogado Xavier Puigdollers i Noblom, recebeu-nos em seu novo escritório e nos esclareceu que, sem o fator religioso, não se entende o tecido social.
Puigdollers esteve vinculado a várias entidades sociais e é o presidente da Asociación de Amigos y Devotos de San Raimon de Penyafort (http://www.ramondepenyafort.com), padroeiro dos advogados.
ZENIT: Imagino que algumas cartas que o senhor tem aqui em cima da escrivaninha são felicitações pelas festas religiosas de judeus, muçulmanos, budistas...
Xavier Puigdollers: Efetivamente, o governo catalão busca uma relação fluida com todas as religiões presentes em nosso país, de maneira que tentamos que todas as entidades nos sintam como próximos.
Felicitá-los em suas festas, assim como atender suas petições ou assistir aos atos a que somos convidados é nossa maneira de expressar que o fato religioso é importante e que queremos apoiar as comunidades no exercício de sua liberdade religiosa.
ZENIT: Poucos governos têm um Escritório de Assuntos Religiosos. Por que vocês se ocupam institucionalmente do tema?
Xavier Puigdollers: A Catalunha é um país milenar, com uma diversidade religiosa sem parâmetros na Espanha. Além disso, a religião é um fenômeno que não pode ser reduzido a nenhuma das suas facetas: cultura, beneficência, educação...
Por outro lado, era lógico que a Generalitat criasse uma direção geral para a interlocução com as igrejas e demais comunidades religiosas. O que nos interessa é que a compreensão chegue às bases, aos vizinhos, à cotidianidade.
ZENIT: A diversidade de religiões é uma realidade. Como distinguem, no trato, as de mais arraigo histórico e os movimentos novos?
Xavier Puigdollers: Em definitiva, trata-se de um organismo que permite que as entidades religiosas possam ser atendidas levando em consideração a particularidade de cada uma delas, sem tratar todas como se fossem iguais em estrutura, incidência pública, implantação, objetivos etc.
Neste âmbito, onde o simbólico é tão significativo, os poderes públicos têm de ser especialmente cautelosos para tratar cada um segundo seus costumes, mas sem confundir as parcelas que correspondem a cada um.
No final das contas, essas diferenças não são marcadas pelo governo, mas pelas próprias confissões, ao estabelecer suas prioridades, linhas de trabalho ou propostas de colaboração.
ZENIT: Às vezes se fala de certa obsessão, mania, perseguição contra o religioso, seja em forma de anticristianismo, antissemitismo, anti-islamismo... Na Catalunha também é assim?
Xavier Puigdollers: As entidades religiosas são moderadas em suas formas, de maneira que costumam ter grande prestígio e poucas inimizades.
As situações conflitivas que ocorreram na Catalunha foram pontuais e, em todo caso, não se devem a nenhum enfrentamento por motivos de crenças, mas pelo medo do desconhecido ou por questões sociais.
ZENIT: Foi feito um mapa das religiões na Catalunha. Descobriram algo que os surpreendeu?
Xavier Puigdollers: Estamos fazendo mapas religiosos desde 2001 e, desde então, muitas outras comunidades viram a necessidade de contar também com este instrumento.
Os resultados indicam, em primeiro lugar, um grande crescimento das minorias. Em segundo lugar, é preciso destacar que a magnitude de cada confissão nem sempre tem a ver com sua presença midiática, que, em alguns casos, é exagerada e, em outros, relegada. E, finalmente, deixa-nos mais conscientes de que a diversidade religiosa não é um dado circunstancial, causado pela imigração, mas um novo traço do conjunto da sociedade catalã.
ZENIT: Os municípios têm de reservar solo público para ceder a entidades religiosas?
Xavier Puigdollers: O projeto de lei que o governo aprovou recentemente estabelece que, nos municípios em que exista a demanda de mais lugares de culto, as prefeituras têm de prever, no planejamento urbanístico, onde se admitirá a instalação de templos.
Mas esses terrenos não ficam reservados exclusivamente para os centros de culto nem o proprietário tem a obrigação de cedê-los a uma entidade religiosa.
Trata-se de favorecer a liberdade religiosa nos povoados e cidades contando com a administração municipal, sem vulnerar o princípio de autonomia local. Esperamos que o Parlamento aprove logo essa lei.
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