quinta-feira, 6 de setembro de 2012

COMUNIDADE CATÓLICA DIANTE DA LEGALIZAÇÃO DO ABORTO PREVISTO NO ANTEPROJETO DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO (PARTE I)


Conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando e o Pe. Paulo Ricardo

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, terça-feira, 4 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – São três os valores inegociáveis segundo Bento XVI – em discurso ao Partido Popular Europeu no ano de 2006: vida, família monogâmica e educação dos filhos. Valores estes que não podem “seguir a arte da política e da negociação”, - afirma Pe. Paulo Ricardo - em uma conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando Melo, vice-presidente Pró-vida e pró-família e membro da comissão de bioética da arquidiocese de Brasília, e o Pe. Paulo Ricardo Azevedo Junior, do clero da arquidiocese de Cuiabá, e famoso pregador brasileiro.
Oferecemos aos nossos leitores a primeira parte dessa reflexão. A segunda será publicada amanhã.

Prof. Paulo Fernando: Como é que o senhor vê a situação da comunidade católica, da sociedade no geral, diante dessa questão da legalização do aborto previsto no anteprojeto do código penal?
Pe. Paulo Ricardo: Na realidade, o católico está, infelizmente alienado da vida política. Enquanto católico criou-se uma mentalidade de que porque o Estado é laico as pessoas não podem manifestar seus valores éticos e religiosos no mundo da política. Essa mentalidade é completamente absurda porque nós sabemos que toda lei manifesta um Ethos, toda lei manifesta uma visão de mundo e um quadro de valores. Ora, o Estado pode ser laico, mas os brasileiros são religiosos. E eles têm não somente o direito mas o dever de levar esse seu Ethos à própria confecção das leis. Ora, por causa dessa ideologia laicista o católico introjetou uma espécie de minoridade. Enquanto ele é religioso, católico, possui as suas convicções, mas é como se fosse um cidadão de segunda categoria. Só tem direito de se manifestar aquele que é ateu, materialista militante... o católico fica de lado. Na realidade precisamos acordar o católico consciente, convicto, praticante, fiel à Igreja e ao Papa, para a sua missão, a sua vocação no mundo da política. O diabo, na verdade, fez o trabalho dele muito bem feito. Colocou na cabeça do católico que política é para gente soncha, para pessoa soncha. Portanto, ele não deve imiscuir-se nesse ponto. É assim que, então, temos no Brasil uma situação bastante esdrúxula de uma maioria silenciosa que é governada quase que ditatorialmente por uma minoria que conseguiu amordaçar essa maioria.

Prof. Paulo Fernando: Padre, nós estamos em anos de eleições, para prefeito e vereador. O que diz a doutrina social da Igreja da participação efetiva de católicos na política? Quais são os critérios de um bom candidato para que o eleitor faça uma boa escolha?
Pe. Paulo Ricardo: Na verdade, nós devemos sempre olhar para o fato de que a Igreja não tem candidatos próprios, mas a Igreja orienta o fiel para escolher candidatos que trabalhem para o bem comum, homens e mulheres que tenham um histórico e uma competência para trabalhar para o bem comum. Essa realidade incide fortemente quando nós olhamos para o curriculum do candidato e vemos que ele tem ou não um histórico de defesa daqueles valores que o Papa Bento XVI chama de valores não negociáveis.
São três tipos de valores não negociáveis, praticamente, que o Papa colocou num discurso dele ao Partido Popular Europeu no ano 2006 (Clique aqui para ler o texto)  Primeiro: respeito à vida humana desde a sua concepção até a sua morte natural. Aqui entra toda a questão do aborto, da eutanásia, etc. Segundo: a família, constituída por um casamento monogâmico, único, indissolúvel, entre um homem e uma mulher. E esse é um valor que a Igreja considera não negociável. Ou seja, não há aqui a arte da política e da negociação. E terceiro: a educação dos filhos, ou seja, a liberdade dos pais de educarem os seus filhos sem ingerência do Estado naquilo que são os valores a serem transmitidos aos filhos.
Essas três colunas mestras estão sendo, hoje, atacadas frontalmente pelo abortismo, pelo gaysismo, pelo feminismo, e por um Estado cada vez mais aparelhado por militantes de esquerda que querem exatamente solapar essas colunas mestras da moralidade da civilização ocidental, que não é só algo específico nem do católico e nem do cristão, mas são os valores encima dos quais foi construída a civilização ocidental.

Prof. Paulo Fernando: Padre, o Senhor poderia esclarecer-nos se, de acordo com a doutrina e o magistério da Igreja, um eleitor que vote num candidato ou num partido que, sabidamente é contrário a esses valores que o senhor falou – se o partido claramente no seu programa defende a legalização do aborto – se, teoricamente, esse eleitor, votando deliberadamente nesse partido e nesse candidato, estaria incorrendo em pecado?
Pe. Paulo Ricardo: De fato existe uma situação bastante delicada no Brasil porque a realidade do nosso país é que, praticamente, todos os partidos tem nas suas plataformas, nos seus programas, políticas contrárias a esses valores. O que, na verdade, nós deveríamos atentar é para o fato não se os partidos tem ou não esse tipo de valores, mas se o partido permite ou não uma liberdade ao candidato de exercer o seu mandato a partir dos valores que ele professa. De tal forma que não aja uma rigidez ou uma disciplina interna no partido que obrigue os candidatos, uma vez eleitos, a uma camisa de força doutrinal. Então, nesse caso, se uma pessoa sabe que o partido tem esse tipo de disciplina interna, e que, portanto, não irá permitir ao candidato o exercício do seu mandato conforme os valores que o próprio candidato professa, então o eleitor tem a sua consciência gravemente honerada na hora de votar, porque sabe que está votando não num candidato com valores cristãos, mas num partido que irá impor seus valores anticristãos e imorais.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Os olhos da Virgem de Guadalupe oferecem ao mundo uma mensagem a favor da família, destaca perito




Lima, 28 Ago. 12 / 07:37 pm (ACI).- Segundo o cientista José Aste Tonsmann, quem há 34 anos investiga as imagens encontradas nos olhos da Virgem de Guadalupe, ao centro do olhar da Guadalupana se observa uma família. Para o Dr. Tonsmann esta é uma mensagem de Nossa Senhora a favor da vida e da família em um momento em que ambos são duramente atacados em todo mundo.

Em uma conferência oferecida este sábado, 25, no Instituto Cultural Teatral e Social (ICTYS) em Lima, Peru, Aste Tonsmann, peruano naturalizado mexicano e doutor em Engenharia de Sistemas pela universidade de Cornell, Estados Unidos, compartilhou com os presentes que no centro dos olhos da Virgem de Guadalupe se pode observar um total de 13 figuras.

As seis primeiras figuras descritas pelo perito se encontram na área do olho da Virgem correspondente à córnea. Estas imagens são: um indígena sentado; um ancião que, baseado nas representações de Miguel Cabreras, pintor do século XVIII, trataria-se do bispo Juan de Zumárraga; um homem jovem que se trataria de Juan González, tradutor do bispo; o santo mexicano São Juan Diego Cuauhtlatoatzin; uma mulher negra que teria embarcado com o bispo na Espanha para servi-lo no México e a quem o prelado concedeu a liberdade antes de seu falecimento, e um homem barbado com facções européias.

As demais sete figuras, achadas exatamente ao centro do olhar da Virgem conformam o que o Dr. Tonsmann denomina um “grupo familiar indígena”. 

Trata-se de um agrupamento composto por uma moça que se destaca por estar ao centro do grupo e parece olhar para baixo, e que o perito acredita ser a mãe desta família. Junto a ela está um homem com chapéu e entre ambos, um casal de crianças. Outro par de figuras representando um homem e mulher maduros (provavelmente os avós desta família, segundo o Dr. Tonsmann) encontram-se de pé, atrás dos demais. O homem maduro é a única figura que o investigador só encontrou no olho direito da Imagem da Guadalupana.

O perito destacou que os olhos da Virgem trazem para os homens de hoje eloquentes mensagens.

Um delas se fundamenta no argumento de que todas as raças da américa estão no centro do olhar da Virgem: brancos, negros, e índios. Para o investigador isto ressalta o fato de que a Virgem, Patrona das Américas e Filipinas, acolhe filhos de todas as raças. “Em minha este opinião é uma mensagem contra o racismo, um fato que está cada vez pior no mundo de hoje”, destacou.

Entretanto, o Dr. Tonsmann acredita que a mensagem mais importante escondida nos olhos da Guadalupana é que ao centro de seu olhar se encontre uma família. “É como se a Virgem nos assinalasse a importância da família em um tempo em que esta sofre constantes ataques”, ressaltou o perito.

Em entrevista exclusiva à ACI Digital em Lima o Dr. Tonsmann afirmou que não foi uma coincidência que só com a atual tecnologia possamos “decifrar” esta mensagem oculta nos olhos da Virgem. “O avanço da tecnologia coincidiu com uma época em que a família é denegrida em todo mundo, por isso, podemos afirmar que a Virgem quis que em nosso tempo a família seja posta de relevo”.

A outra mensagem da Virgem de Guadalupe para nosso tempo, segundo o cientista latino-americano, é que ao aparecer grávida, fala aos homens e mulheres de hoje que a vida nascente deve ser respeitada.

“É triste mas é um fato, a agenda do aborto começou nos países desenvolvidos e chegou a nossas terras. Não há dúvida que a Virgem de Guadalupe traz para o mundo de hoje uma forte mensagem a favor da família e também do direito à vida de todos os latinos, de todas as crianças do mundo”, concluiu o cientista católico.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Martírio de São João Batista




Com grande maestria literária, os Evangelistas Marcos e Mateus narram o martírio de São João Batista. Começam descrevendo a situação na corte: a relação ilegítima de Herodes com sua cunhada, as admoestações e as acusações do Batista e o rancor passional de Herodíades. Celebrava-se o aniversário do Rei em clima de grande festa, onde os convidados se refestelavam com bons vinhos e comidas requintadas.
Os convivas vieram de muitos reinos e a ocasião era propícia para demonstrar dons e ostentação da família real para possíveis pretendentes, selar acordos e mostrar o quanto o Imperador era bondoso. Nestas ocasiões era tradição conceder perdão a algum criminoso ou perdoar as dívidas.

A princesa exibe sua dança num solo onde não houve lugar para erros, conseguindo arrancar aplausos e elogios do público masculino. A ovação foi unânime e, o rei movido pela empáfia e para não fazer feio diante daquela platéia, prometeu dar-lhe tudo quanto aquela jovem moça lhe pedisse, ainda que fosse a metade de seu reino, caso dançasse mais uma vez em sua homenagem.

Depois de dançar a moça consulta sua mãe, para pedir a coisa certa.Herodíades aproveita a ocasião propícia para calar  a voz que acusava sua união incestuosa, pedindo a cabeça do Profeta, numa bandeja . A vingança e o ódio despertam na mente ardilosa de Herodíades um "gran finale" para aquele aniversário que entraria para a história. A inesperada petição da princesa coloca o rei numa situação onde a única saída era atender-lhe prontamente, pois tinha jurado e as testemunhas estavam ali diante dele. O rei cede à sensualidade e aos compromissos da corte e manda executar aquele cuja voz era ouvida nos desertos. A festa tem um final macabro denunciando a imoralidade e corrupção que reinavam naquele palácio. João Batista não teve nenhum defensor, todos se calaram esperando o espetáculo, tornando-se cúmplices de um assassinato.

Foi Mártir porque Profeta; foi Profeta porque Precursor. Sua missão era preparar os caminhos para o SENHOR e viveu esta missão de forma plena. Mesmo diante da morte não vacilou, tinha confiança em Deus, pois foi-lhe sempre fiel. Enfrentou as autoridades constituídas mostrando sua personalidade forte, acusando os erros e pregando a conversão.

O Salmo 118 retrata a coragem do Batista;

«Falei de tuas leis na presença dos Reis, sem os temer;
pois amo praticar a verdade de tuas leis.»

Em outra passagem do Antigo Testamento, encontramos semelhante coragem e confiança em
Jeremias, o Profeta, quando o próprio Senhor lhe diz:

«Não te atemorizes diante dos adversários
porque eu farei que tu não temas a sua presença (...).
Pelejarão contra ti, mas não prevalecerão  porque estou contigo sempre» (Jr 1,17-19).

Parece que o Precursor não só herdou o dom da profecia como também a coragem e a confiança de seus antecessores.

Sua morte não silenciou as vozes daqueles que denunciam a imoralidade. Sua voz não foi calada! Talvez porque a voz mais perturbadora não seja a que é decifrada pelos nossos ouvidos, mas aquela que grita no mais profundo de nossa consciência.

Bíblia do Peregrino - Novo Testamento
Luis Alonso Schokel - Paulus Editora

«A«««A  AA morte de João Batista  morte de João Batista»»»»
«Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Baptista.».
S. João Crisóstomo (c. 345-407), Homilia de S. Mateus

E Deus consentiu-o, não lançou o Seu raio do alto dos céus para devorar o rosto insolente; não ordenou à terra que se abrisse e engolisse os convidados daquele hediondo banquete: Deus dava assim uma mais bela coroa ao justo e deixava uma magnífica consolação àqueles que, no futuro, seriam vítimas de injustiças semelhantes.

Escutemos, então, todos nós, os que, apesar da nossa vida honesta, temos de suportar os maldosos... O maior dos filhos nascidos de mulher (Lc 7,28), foi levado à morte a pedido de uma filha impudica, de uma mãe perdida; e isso por ter defendido as leis divinas. Que estas considerações nos façam agüentar corajosamente os nossos próprios sofrimentos...

Mas repara no tom moderado do Evangelho que, na medida do possível, procura circunstâncias atenuantes para este crime. Em relação a Herodes, faz notar que ele agiu «por causa do seu juramento e dos convidados» e que «ficou penalizado»; em relação à rapariga, ele refere que ela foi «induzida por sua mãe»...
Nós, também, não odiemos os maus, não critiquemos os erros do próximo, escondamo-los o mais discretamente possível; acolhamos a caridade na nossa alma. Pois sobre esta mulher impudica e sanguinária, o Evangelista falou com toda a moderação possível...

Tu, pelo contrário, não hesitas em tratar o teu próximo com maldade... Muito diferente é a maneira de agir dos santos: eles lastimam os pecadores, em vez de os maldizer. Façamos como eles: lamentemos Herodíades e aqueles que a imitam. É que se vêem hoje muitas refeições do gênero da de Herodes; Nelas, não se leva o Precursor à morte, mas despedaçam-se os membros de Cristo. 

«És «««És  ÉsÉs tu aquele que deve vir?  tu aquele que deve vir?»»»»
Santo Ambrósio (340-397), Comentário ao Evangelho de Lucas

O Senhor, sabendo que sem o Evangelho ninguém pode ter uma fé plena – porque se a Bíblia começa pelo Antigo Testamento, é no Novo que ela atinge a perfeição – não esclarece as questões que lhe põem acercadele próprio por palavras, mas pelos seus atos. “Ide, disse ele, contai a João o que virão e ouviram: os cegos vêem, os coxos andam, os surdos ouvem, os leprosos são purificados, os mortos ressuscitam, a Boa Nova é anunciada aos pobres”. Este testemunho é completo porque foi dele que profetizaram:”O Senhor liberta os prisioneiros; o Senhor dá vista aos cegos; o Senhor levanta os caídos... O Senhor reinará eternamente” (Sl 145,7s). Estas são as marcas de um poder não humano mas divino...

Contudo estes não são ainda senão os mais pequenos exemplos do testemunho trazido por Cristo. O que funda a plenitude da fé, é a cruz do Senhor, a sua morte, o seu sepulcro. É por isso que, depois da resposta que citamos, ele diz ainda:”Feliz daquele que não cair por minha causa”. Com efeito, a cruz podia provocar a queda dos próprios escolhidos, mas não há testemunho maior de uma pessoa divina, nada que mais pareça ultrapassar as forças humanas, que esta oferta de um só pelo mundo inteiro. Somente por isso o Senhor se revela plenamente. Aliás, é assim que João o designa: ”Eis o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).

«Testemunha de Cristo na vida e na morte «««Testemunha de Cristo na vida e na morte»»»»
Orígenes, presbítero e teólogo, Homilia 6

Admiremos João Batista por causa do seguinte testemunho: "Entre os filhos de mulher, ninguém ultrapassa João Batista" (Lc 7,28); ele mereceu ser elevado a  uma tal reputação de virtude que muitas pessoas pensavam que ele era o Cristo (Lc 3,15). Mas há uma coisa ainda mais admirável: Herodes, o tetrarca, detinha poder real e podia fazê-lo morrer quando quisesse. Ora ele tinha cometido uma ação injusta e contrária à lei de Moisés ao tomar a mulher do seu irmão. João, sem ter medo dele nem fazer acepção de pessoas, sem dar importância ao poder real, sem recear a morte..., sem escamotear qualquer destes perigos, repreendeu Herodes com a liberdade dos profetas e condenou o seu casamento. Lançado na prisãopor causa desta audácia, não se preocupou nem com a morte nem com um julgamento com sentença incerta mas, a partir do cárcere, os seus pensamentos iam para o Cristo que ele tinha anunciado.

Não podendo ir em pessoa ao seu encontro, envia os seus discípulos para lhe trazerem informações: "Tu és aquele que deve vir ou temos que esperar outro?" (Lc 7,15). Notem bem que, mesmo na prisão, João ensinava. Mesmo naquele lugar ele tinha discípulos; mesmo na prisão, João cumpria o seu dever de mestre e instruía os seus discípulos, conversando sobre Deus.

Nestas circunstâncias, levantou-se a questão de Jesus e João envia-lhe alguns discípulos... Os discípulos regressam e trazem ao mestre o que o Salvador lhes tinha encarregado de anunciar. Essa resposta foi para João uma arma para enfrentar o combate; morre com confiança e com grande coragem se deixa decapitar, seguro na palavra do próprio Senhor em como aquele em quem acreditava era verdadeiramente o Filho de Deus. Esta foi a liberdade de João Batista, aquela foi a loucura de Herodes que, aos seus numerosos crimes, acrescentou primeiro a prisão, depois o martírio de João Batista.

Fonte: Evangelho Cotidiano

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Santo Agostinho, bispo e doutor da igreja




Aurélio Agostinho nasceu, no dia 13 de novembro de 354, na cidade de Tagaste, hoje região da Argélia, na África. Era o primogênito de Patrício, um pequeno proprietário de terras, pagão. Sua mãe, ao contrário, era uma devota cristã, que agora celebramos, como santa Mônica, no dia 27 de agosto. Mônica procurou criar o filho no seguimento de Cristo. Não foi uma tarefa fácil. Aliás, ela até adiou o seu batismo, receando que ele o profanasse. Mas a exemplo do provérbio que diz que "a luz não pode ficar oculta", ela entendeu que Agostinho era essa luz.

Aos dezesseis anos de idade, na exuberância da adolescência, foi estudar fora de casa. Na oportunidade, envolveu-se com a heresia maniqueísta e também passou a conviver com uma moça cartaginense, que lhe deu, em 372, um filho, Adeodato. Assim era Agostinho, um rapaz inquieto, sempre envolvido em paixões e atitudes contrárias aos ensinamentos da mãe e dos cristãos. Possuidor de uma inteligência rara, depois da fase de desmandos da juventude centrou-se nos estudos e formou-se, brilhantemente, em retórica. Excelente escritor, dedicava-se à poesia e à filosofia.

Procurando maior sucesso, Agostinho foi para Roma, onde abriu uma escola de retórica. Foi convidado para ser professor dessa matéria e de gramática em Milão. O motivo que o levou a aceitar o trabalho em Milão era poder estar perto do agora santo bispo Ambrósio, poeta e orador, por quem Agostinho tinha enorme admiração. Assim, passou a assistir aos seus sermões. Primeiro, seu interesse era só pelo conteúdo literário da pregação; depois, pelo conteúdo filosófico e doutrinário. Aos poucos, a pregação de Ambrósio tocou seu coração e ele se converteu, passando a combater a heresia maniqueísta e outras que surgiram. Foi batizado, junto com o filho Adeodato, pelo próprio bispo Ambrósio, na Páscoa do ano de 387. Portanto, com trinta e três e quinze anos de idade, respectivamente.

Nessa época, Agostinho passou por uma grande provação: seu filho morreu. Era um menino muito inteligente, a quem dedicava muita atenção e afeto. Decidiu, pois, voltar com a mãe para sua terra natal, a África, mas Mônica também veio a falecer, no porto de Óstia, não muito distante de Roma. Depois do sepultamento da mãe, Agostinho prosseguiu a viagem, chegando a Tagaste em 388. Lá, decidiu-se pela vida religiosa e, ao lado de alguns amigos, fundou uma comunidade monástica, cujas Regras escritas por ele deram, depois, origem a várias Ordens, femininas e masculinas. Porém o então bispo de Hipona decidiu que "a luz não devia ficar oculta" e convidou Agostinho para acompanhá-lo em suas pregações, pois já estava velho e doente. Para tanto ele consagrou Agostinho sacerdote e, logo após a sua morte, em 397, Agostinho foi aclamado pelo povo como novo bispo de Hipona.


Por trinta e quatro anos Agostinho foi bispo daquela diocese, considerado o pai dos pobres, um homem de alta espiritualidade e um grande defensor da doutrina de Cristo. Na verdade, foi definido como o mais profundo e importante filósofo e teólogo do seu tempo. Sua obra iluminou quase todos os pensadores dos séculos seguintes. Escreveu livros importantíssimos, entre eles sua autobiografia, "Confissões", e "Cidade de Deus".

Depois de uma grave enfermidade, morreu amargurado, aos setenta e seis anos de idade, em 28 de agosto de 430, pois os bárbaros haviam invadido sua cidade episcopal. Em 725, o seu corpo foi transladado para Pavia, Itália, sendo guardado na igreja São Pedro do Céu de Ouro, próximo do local de sua conversão. Santo Agostinho recebeu o honroso título de doutor da Igreja e é celebrado no dia de sua morte.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Santa Mônica




Mônica nasceu em Tagaste, atual Argélia, na África, no ano 331, no seio de uma família cristã. Desde muito cedo dedicou sua vida a ajudar os pobres, que visitava com freqüência, levando o conforto por meio da Palavra de Deus. Teve uma vida muito difícil. O marido era um jovem pagão muito rude, de nome Patrício, que a maltratava. Mônica suportou tudo em silêncio e mansidão. Encontrava o consolo nas orações que elevava a Cristo e à Virgem Maria pela conversão do esposo. E Deus recompensou sua dedicação, pois ela pôde assistir ao batismo do marido, que se converteu sinceramente um ano antes de morrer.

Tiveram dois filhos, Agostinho e Navígio, e uma filha, Perpétua, que se tornou religiosa. Porém Agostinho foi sua grande preocupação, motivo de amarguras e muitas lágrimas. Mesmo dando bons conselhos e educando o filho nos princípios da religião cristã, a vivacidade, inconstância e o espírito de insubordinação de Agostinho fizeram que a sábia mãe adiasse o seu batismo, com receio que ele profanasse o sacramento.

E teria acontecido, porque Agostinho, aos dezesseis anos, saindo de casa para continuar os estudos, tomou o caminho dos vícios. O coração de Mônica sofria muito com as notícias dos desmandos do filho e por isso redobrava as orações e penitências. Certa vez, ela foi pedir os conselhos do bispo, que a consolou dizendo: "Continue a rezar, pois é impossível que se perca um filho de tantas lágrimas".

Agostinho tornou-se um brilhante professor de retórica em Cartago. Mas, procurando fugir da vigilância da mãe aflita, às escondidas embarcou em um navio para Roma, e depois para Milão, onde conseguiu o cargo de professor oficial de retórica.

Mônica, desejando a todo custo ver a recuperação do filho, viajou também para Milão, onde, aos poucos, terminou seu sofrimento. Isso porque Agostinho, no início por curiosidade e retórica, depois por interesse espiritual, tinha se tornado freqüentador dos envolventes sermões de santo Ambrósio. Foi assim que Agostinho se converteu e recebeu o batismo, junto com seu filho Adeodato. Assim, Mônica colhia os frutos de suas orações e de suas lágrimas.

Mãe e filho decidiram voltar para a terra natal, mas, chegando ao porto de Óstia, perto de Roma, Mônica adoeceu e logo depois faleceu. Era 27 de agosto de 387 e ela tinha cinqüenta e seis anos.

O papa Alexandre III confirmou o tradicional culto a santa Mônica, em 1153, quando a proclamou Padroeira das Mães Cristãs. A sua festa deve ser celebrada no mesmo dia em que morreu. O seu corpo, venerado durante séculos na igreja de Santa Áurea, em Óstia, em 1430 foi trasladado para Roma e depositado na igreja de Santo Agostinho.

domingo, 26 de agosto de 2012

21º DOMINGO DO TEMPO COMUM




Antífona da entrada: Inclinai, Senhor, o vosso ouvido e escutai-me; salvai, meu Deus, o servo que confia em vós. Tende compaixão de mim, clamo por vós o dia inteiro (Sl 85,1ss)

Leituras: Js 24,1-2ª.15-17.18b; Sl 33(34),2-3.16-17.18-19.20-21.22-23 (R/. 9a); Ef 5,21-32; Jo 6,60-69)
Estamos no final do episódio que começou com a multiplicação dos pães e dos peixes (cf. Jo 6,1-15) e que continuou com o “discurso do pão da vida” (cf. Jo 6,22-59). Trata-se de um episódio atravessado por diversos equívocos e onde se manifesta a perplexidade e a confusão daqueles que escutam as palavras de Jesus… A multidão esperava um messias rei que lhe oferecesse uma vida confortável e pão em abundância e Jesus mostrou que não veio “dar coisas”, mas oferecer-Se a Ele próprio para que a humanidade tivesse vida; a multidão esperava de Jesus uma proposta humana de triunfo e de glória e Jesus convidou-a a identificar-se com Ele e a segui-l’O no caminho do amor e do dom da vida até à morte… Os interlocutores de Jesus perceberam claramente que Jesus os tinha colocado diante de uma opção fundamental: ou continuar a viver numa lógica humana, virada para os bens materiais e para as satisfações mais imediatas, ou o assumir a lógica de Deus, seguindo o exemplo de Jesus e fazendo da vida um dom de amor para ser partilhado. Instalados nos seus esquemas e preconceitos, presos a aspirações e sonhos demasiado materiais, desiludidos com um programa que lhes parecia condenado ao fracasso, os interlocutores de Jesus recusaram-se a identificar-se com Ele e com o seu programa.

O nosso texto mostra-nos a reação negativa de “muitos discípulos” às propostas que Jesus faz. Nem todos os discípulos estão dispostos a identificar-se com Jesus (“comer a sua carne e beber o seu sangue”) e a oferecer a sua vida como dom de amor que deve ser partilhado com toda a humanidade. Temos de situar esta “catequese” no contexto em que vivia a comunidade joânica, nos finais do séc. I… A comunidade cristã era discriminada e perseguida; muitos discípulos afastavam-se e trilhavam outros caminhos, recusando-se a seguir Jesus no caminho do dom da vida. Muitos cristãos, confusos e perplexos, perguntavam: para ser cristão é preciso percorrer um caminho tão radical e de tanta exigência? A proposta de Jesus será, efetivamente, um caminho de vida plena, ou um caminho de fracasso e de morte? É a estas questões que o “catequista” João vai tentar responder.

MENSAGEM

A perícopa divide-se em duas partes. A primeira (vers. 60-66) descreve o protesto de um grupo de discípulos face às exigências de Jesus; a segunda (vers. 67-69) apresenta a resposta dos Doze à proposta que Jesus faz. Estes dois grupos (os “muitos discípulos” da primeira parte e os “Doze” da segunda parte) representam duas atitudes distintas face a Jesus e às suas propostas.

Para os “discípulos” de que se fala na primeira parte do nosso texto, a proposta de Jesus é inadmissível, excessiva para a força humana (vers. 60). Eles não estão dispostos a renunciar aos seus próprios projetos de ambição e de realização humana, a embarcar com Jesus no caminho do amor e da entrega, a fazer da própria vida um serviço e uma partilha com os irmãos. Esse caminho parece-lhes, além de demasiado exigente, um caminho ilógico. Confrontados com a radicalidade do caminho do Reino, eles não estão dispostos a arriscar.

Na resposta à objeção desses “discípulos”, Jesus assegura-lhes que o caminho que propõe não é um caminho de fracasso e de morte, mas é um caminho destinado à glória e à vida eterna. A “subida” do Filho do Homem, após a morte na cruz, para reentrar no mundo de Deus, será a “prova provada” de que a vida oferecida por amor conduz à vida em plenitude (vers. 61-62). Esses “discípulos” não estão dispostos a acolher a proposta de Jesus porque raciocinam de acordo com uma lógica humana, a lógica da “carne”; só o dom do Espírito possibilitará aos crentes perceber a lógica de Jesus, aderir à sua proposta e seguir Jesus nesse caminho do amor e da doação que conduz à vida (vers. 63).

Na realidade, esses discípulos que raciocinam segundo a lógica da “carne” seguem Jesus pelas razões erradas (a glória, o poder, a fácil satisfação das necessidades materiais mais básicas). A sua adesão a Jesus é apenas exterior e superficial. Jesus tem consciência clara dessa realidade. Ele sabe até que um dos “discípulos” O vai trair e entregar nas mãos dos líderes judaicos (vers. 64). De qualquer forma, Jesus encara a decisão dos discípulos com tranquilidade e serenidade. Ele não força ninguém; apenas apresenta a sua proposta – proposta radical e exigente – e espera que o “discípulo” faça a sua opção, com toda a liberdade.
Em última análise, a vida nova que Jesus propõe é um dom de Deus, oferecido a todos os homens (vers. 65). O termo deste movimento que o Pai convida o “discípulo” a fazer é o encontro com Jesus e a adesão ao seu projeto. Se o homem não está aberto à ação do Pai e recusa os dons de Deus, não pode integrar a comunidade dos discípulos e seguir Jesus.

A primeira parte da cena termina com a retirada de “muitos discípulos” (vers. 66). O programa exposto por Jesus, que exige a renúncia às lógicas humanas de ambição e de realização pessoal, é recusado… Esses “discípulos” mostram-se absolutamente indisponíveis para percorrer o caminho de Jesus.

Confirmada a deserção desses “discípulos”, Jesus pede ao grupo mais restrito dos “Doze” que façam a sua escolha: “também vós quereis ir embora?” (vers. 67). Repare-se que Jesus não suaviza as suas exigências, nem atenua a dureza das suas palavras… Ele está disposto a correr o risco de ficar sem discípulos, mas não está disposto a prescindir da radicalidade do seu projeto. Não é uma questão de teimosia ou de não querer dar o braço a torcer; mas Jesus está seguro que o caminho que Ele propõe – o caminho do amor, do serviço, da partilha, da entrega – é o único caminho por onde é possível chegar à vida plena… Por isso, Ele não pode mudar uma vírgula ao seu discurso e à sua proposta. O caminho para a vida em plenitude já foi claramente exposto por Jesus; resta agora aos “discípulos” aceitá-lo ou rejeitá-lo.

Confrontados com esta opção fundamental, os “Doze” definem claramente o caminho que querem percorrer: eles aceitam a proposta de Jesus, aceitam segui-l’O no caminho do amor e da entrega. Quem responde em nome do grupo (uso do plural) é Simão Pedro: “Para quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna” (vers. 68). A comunidade reconhece, pela voz de Pedro, que só no caminho proposto por Jesus encontra vida definitiva. Os outros caminhos só geram vida efêmera e parcial e, com frequência, conduzem à escravidão e à morte; só no caminho que Jesus acabou de propor (e que “muitos” recusaram) se encontra a felicidade duradoura e a realização plena do homem (vers. 68).

É porque reconhece em Jesus o único caminho válido para chegar à vida eterna que a comunidade dos “Doze” adere ao que Ele propõe (“cremos” – vers. 69a). A “fé” (adesão a Jesus) traduz-se no seguimento de Jesus, na identificação com Ele, no compromisso com a proposta que Ele faz (“comer a carne e beber o sangue” que Jesus oferece e que dão a vida eterna).

A resposta posta na boca de Pedro é precisamente a resposta que a comunidade joânica (a tal comunidade que vive a sua fé e o seu compromisso cristão em condições difíceis e que, por vezes, tem dificuldade em renunciar à lógica do mundo e apostar na radicalidade do Evangelho de Jesus) é convidada a dar: “Senhor, as tuas propostas nem sempre fazem sentido à luz dos valores que governam o nosso mundo; mas nós estamos seguros de que o caminho que Tu nos indicas é um caminho que leva à vida eterna. Queremos escutar as tuas palavras, identificar-nos contigo, viver de acordo com os valores que nos propões, percorrer contigo esse caminho do amor e da doação que conduz à vida eterna.

ATUALIZAÇÃO

O Evangelho deste domingo põe claramente a questão das opções que nós, discípulos de Jesus, somos convidados a fazer… Todos os dias somos desafiados pela lógica do mundo, no sentido de alicerçarmos a nossa vida nos valores do poder, do êxito, da ambição, dos bens materiais, da moda, do “politicamente correto”; e todos os dias somos convidados por Jesus a construir a nossa existência sobre os valores do amor, do serviço simples e humilde, da partilha com os irmãos, da simplicidade, da coerência com os valores do Evangelho… É inútil esconder a cabeça na areia: estes dois modelos de existência nem sempre podem coexistir e, frequentemente, excluem-se um ao outro. Temos de fazer a nossa escolha, sabendo que ela terá consequências no nosso estilo de vida, na forma como nos relacionamos com os irmãos, na forma como o mundo nos vê e, naturalmente, na satisfação da nossa fome de felicidade e de vida plena. Não podemos tentar agradar a Deus e ao diabo e viver uma vida “morna” e sem exigências, procurando conciliar o inconciliável. A questão é esta: estamos ou não dispostos a aderir a Jesus e a segui-l’O no caminho do amor e do dom da vida?

Os “muitos discípulos” de que fala o texto que nos é proposto não tiveram a coragem para aceitar a proposta de Jesus. Amarrados aos seus sonhos de riqueza fácil, de ambição, de poder e de glória, não estavam dispostos a trilhar um caminho de doação total de si mesmos em benefício dos irmãos. Este grupo representa esses “discípulos” de Jesus demasiado comprometidos com os valores do mundo, que até podem frequentar a comunidade cristã, mas que no dia a dia vivem obcecados com a ampliação da sua conta bancária, com o êxito profissional a todo o custo, com a pertença à elite que frequenta as festas sociais, com o aplauso da opinião pública… Para estes, as palavras de Jesus “são palavras duras” e a sua proposta de radicalidade é uma proposta inadmissível. Esta categoria de “discípulos” não é tão rara como parece… Em diversos graus, todos nós sentimos, por vezes, a tentação de atenuar a radicalidade da proposta de Jesus e de construir a nossa vida com valores mais condizentes com uma visão “light” da existência. É preciso estarmos continuamente numa atitude de vigilância sobre os valores que nos norteiam, para não corrermos o risco de “virar as costas” à proposta de Jesus.

Os “Doze” ficaram com Jesus, pois estavam convictos de que só Ele tem “palavras que comunicam a vida definitiva”. Eles representam aqueles que não se conformam com a banalidade de uma vida construída sobre valores efêmeros e que querem ir mais além; representam aqueles que não estão dispostos a gastar a sua vida em caminhos que só conduzem à insatisfação e à frustração; representam aqueles que não estão dispostos a conduzir a sua vida ao sabor da preguiça, do comodismo, da instalação; representam aqueles que aderem sinceramente a Jesus, se comprometem com o seu projeto, acolhem no coração a vida que Jesus lhes oferece e se esforçam por viver em coerência com a opção por Jesus que fizeram no dia do seu Batismo. Atenção: esta opção pelo seguimento de Jesus precisa de ser constantemente renovada e constantemente vigiada, a fim de que o nível da coerência e da exigência se mantenha.

Na cena que o Evangelho de hoje nos traz, Jesus não parece estar tão preocupado com o número de discípulos que continuarão a segui-l’O, quanto com o manter a verdade e a coerência do seu projeto. Ele não faz cedências fáceis para ter êxito e para captar a benevolência e os aplausos das multidões, pois o Reino de Deus não é um concurso de popularidade… Não adianta escamotear a verdade: o Evangelho que Jesus veio propor conduz à vida plena, mas por um caminho que é de radicalidade e de exigência. Muitas vezes tentamos “suavizar” as exigências do Evangelho, a fim de que ele seja mais facilmente aceite pelos homens do nosso tempo… Temos de ter cuidado para não desvirtuarmos a proposta de Jesus e para não despojarmos o Evangelho daquilo que ele tem de verdadeiramente transformador. O que deve preocupar-nos não é tanto o número de pessoas que vão à Igreja; mas é, sobretudo, o grau de radicalidade com que vivemos e testemunhamos no mundo a proposta de Jesus.

Um dos elementos que aparece nitidamente no nosso texto é a serenidade com que Jesus encara o “não” de alguns discípulos ao projeto que Ele veio propor. Diante desse “não”, Jesus não força as coisas, não protesta, não ameaça, mas respeita absolutamente a liberdade de escolha dos seus discípulos. Jesus mostra, neste episódio, o respeito de Deus pelas decisões (mesmo erradas) do homem, pelas dificuldades que o homem sente em comprometer-se, pelos caminhos diferentes que o homem escolhe seguir. O nosso Deus é um Deus que respeita o homem, que o trata como adulto, que aceita que ele exerça o seu direito à liberdade. Por outro lado, um Deus tão compreensivo e tolerante convida-nos a dar mostras de misericórdia, de respeito e de compreensão para com os irmãos que seguem caminhos diferentes, que fazem opções diferentes, que conduzem a sua vida de acordo com valores e critérios diferentes dos nossos. Essa “divergência” de perspectivas e de caminhos não pode, em nenhuma circunstância, afastar-nos do irmão ou servir de pretexto para o marginalizarmos e para o excluirmos do nosso convívio.

Fonte: Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)

sábado, 25 de agosto de 2012

Eu e minha casa serviremos ao Senhor




Reflexões espirituais de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará
Dom Alberto Taveira Corrêa

BELÉM DO PARÁ, terça-feira, 21 de agosto de 2012 (ZENIT.org) - A frase é de uma das maiores personalidades do século XX, Mahatma Gandhi, que conduziu seu país, a Índia, assim como muitos outros, a encontrarem o caminho da independência e da democracia, através da não violência ativa: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Viver para servir! Proposta desafiadora, fonte de realização para todos os seres humanos, caminho de felicidade. Parece-nos encontrar aí uma das muitas Sementes do Verbo de Deus plantadas na sabedoria e na prática religiosa da humanidade, pois a própria Palavra Eterna do Pai encarnada, Jesus Cristo, mostrou a que veio, abrindo perspectivas novas para seus discípulos e para toda a humanidade: "Eu vim não para ser servido, mas para servir e dar a vida por resgate de muitos" (Mc 10,45). Jesus Cristo veio ao mundo para fazer a vontade do Pai, para servir.

O Antigo Testamento reporta a história de Josué, a quem foi dada a tarefa de introduzir o Povo de Deus na Terra prometida. Como havia acontecido na chamada Assembleia do Sinai, quando Moisés, em nome de Deus, pediu ao povo, conhecido pela sua cabeça dura, a definição de rumos, diante da Aliança estabelecida, também em Siquém se reúnem todas as tribos de Israel (Js 24,1-18). A escolha de Josué, em nome de toda a sua família, é muito clara: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor”! Nas diversas etapas da história da Salvação, retorna a provocação positiva que toca no mais profundo da liberdade humana. Trata-se de escolher o serviço a Deus, optar pela fidelidade à sua Palavra, cumprir seus mandamentos, assumir a missão confiada àquele povo escolhido. A resposta do povo de Deus a Josué é decidida: “Nós também serviremos ao Senhor, porque ele é o nosso Deus” (Js 24,18). Durante os séculos que se seguiram, continuamente o Senhor enviou emissários que o chamaram de novo à fidelidade!

Veio Jesus, chamou discípulos, começou uma nova forma de viver, do meio deles escolhe apóstolos, cria relacionamento diferente, acolhe crianças, chama justos e pecadores, derruba barreiras culturais e religiosas, abre a estrada da fraternidade. Também o Senhor, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, entra no maravilhoso jogo de provocação à liberdade humana. Depois das primeiras etapas da pregação do Reino e da constituição de uma nova comunidade de irmãos, os chamados evangelhos sinóticos pede aos discípulos uma definição: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Cf. Mt 16,13-20; Mc 8,27-30; Lc 9,18-21). Já o Evangelho de São João, no texto que a Igreja proclama no vigésimo primeiro Domingo do Tempo Comum (Jo 6,60-69), traz uma pergunta altamente provocante, após a multiplicação de Pães e o Discurso de Jesus sobre o Pão da Vida: “Vós também quereis ir embora?” Vem de Pedro a resposta que continua a ressoar pelos séculos: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus!” Os discípulos aprenderam a seguir Jesus, a partir da fé professada naquele que é o Santo de Deus, Messias, Cristo, Filho de Deus. A Igreja não se cansará de proclamar a mesma fé em Jesus Cristo, até o fim dos tempos.

Após a Ressurreição e Ascensão de Cristo e o Pentecostes, foi chamado aquele que, perseguidor implacável, veio a ser Apóstolo das gentes. É o próprio Paulo que conta, numa das narrativas de sua conversão, a pergunta que brota no coração de todas as pessoas que se encontram com Jesus Cristo: “Senhor, que queres que eu faça?” (At 22,10) A graça do apostolado continua a se multiplicar na Igreja. Quantas pessoas são chamadas a servir ao Senhor no anúncio da Boa Nova da Salvação, nos ministérios e serviços existentes nas Comunidades Cristãs! Que profusão de carismas suscitados pelo Espírito no coração da Igreja, através dos quais as palavras do Evangelho são postas em prática e “lidas” nas inúmeras obras de caridade e de serviço existentes em toda parte! E como não reconhecer a beleza do serviço prestado por homens e mulheres, adultos e jovens, que desempenham a missão de catequistas em nossas Paróquias?

São todas pessoas que experimentaram a graça do seguimento de Jesus e não podem se calar. São leigos e leigas que nos serviços internos da Igreja, nas inúmeras frentes de trabalho apostólico e na caridade, podem dizer com o Apóstolo São Paulo: “Anunciar o evangelho não é para mim motivo de glória. É antes uma necessidade que se me impõe. Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho!” (1 Cor 9,16). Por isso fixam os seus corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Com todas estas pessoas, agradecemos a Deus pelo mês dedicado às vocações. Em sua conclusão, temos o direito e o dever de acolher as novas e muitas vocações para o serviço ao Senhor e à sua Igreja.



LEITURA ORANTE: A perda é salvação

Quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os que, nesta rede da...