terça-feira, 14 de agosto de 2012

São Maximiliano Maria Kolbe, presbítero e mártir




Maksymilian Maria Kolbe (8 de Janeiro de 1894 – 14 de Agosto de 1941), nascido em Zdunska Wola, como Rajmund Kolbe, foi um frade franciscano da Polónia que se voluntariou para morrer de fome em lugar de um pai de família no campo de concentração nazi de Auschwitz, como castigo pela fuga de um prisioneiro. É venerado pela Igreja.

Filho de uma família de operários profundamente religiosos, que lhe deram pouco conforto material, mas proporcionaram-lhe um ambiente de fé e acolhida da vontade de Deus.

Aos 13 anos, entrou no seminário dos Frades Menores Conventuais e, emitindo sua profissão religiosa, recebeu o nome de Maximiliano Maria. Concluindo os estudos preliminares, foi enviado a Roma para obter doutorado em filosofia e teologia.

Em 1917, movido por um incondicional amor a Maria, fundou o movimento de apostolado mariano “Milícia da Imaculada”. A milícia seria uma ferramenta nas mãos da Medianeira Imaculada para a conversão e santificação de muitos. No ano seguinte, 1918, foi ordenado sacerdote e voltou à sua pátria, onde foi designado para lecionar no Seminário Franciscano, em Cracóvia. Então, organizou o primeiro grupo da milícia fora da Itália.

Durante a Segunda Guerra Mundial deu abrigo a muitos refugiados, incluindo cerca de 2000 judeus. Em 17 de Fevereiro de 1941 é preso pela Gestap e transferido para Auschwitz em 25 de Maio como prisioneiro #16670.

Em Julho de 1941, um homem do bunker de Kolbe foge e como represália, os nazis enviam para uma cela isolada 10 outros prisioneiros para morrer de fome e sede (o prisioneiro fugitivo é mais tarde encontrado morto, afogado numa latrina).

Um dos dez lamenta-se pela família que deixa, dizendo que tinha mulher e filhos, e Kolbe pede para tomar o seu lugar. O pedido é aceito.

Na realidade, o Padre Kolbe aceitava o martírio para praticar heroicamente seu múnus sacerdotal, dando assistência religiosa e ajudando a morrer virtuosamente aqueles pobres condenados. Duas semanas depois, só quatro dos dez homens sobrevivem, incluindo Kolbe. Os nazis decidem então executá-los com uma injeção de ácido carbólico.

O corpo de Maximiliano Kolbe foi cremado e suas cinzas atiradas ao vento. Numa carta, quase prevendo seu fim, escrevera: “Quero ser reduzido a pó pela Imaculada e espalhado pelo vento do mundo”.

Ao final da Guerra, começou um movimento pela beatificação do Frei Maximiliano Maria Kolbe, que ocorreu em 17 de outubro de 1971, pelo Papa Paulo VI.

Em 1982, na presença de Franciszek Gajowniczek, homem cujo lugar tomou e que sobreviveu aos horrores de Auschwitz, São Maximiliano foi canonizado pelo Papa João Paulo II, como mártir da caridade.

Em Julho de 1998 a Igreja de Inglaterra ergueu uma estátua de Kolbe em frente à Abadia de Westminster em Londres, como parte de um conjunto monumental dedicado à memória de dez mártires do século XX.

Oração

Ó Deus, inflamastes São Maximiliano Maria, presbítero e mártir, com amor à Virgem Imaculada e lhe destes grande zelo pastoral e dedicação ao próximo. Concedei-nos, por sua intercessão, que trabalhemos intensamente pela vossa glória no serviço do próximo, para que nos tornemos semelhantes ao vosso Filho até a morte. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Carta aos pais




Reflexões espirituais de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará
Dom Alberto Taveira Corrêa


BELEM DO PARÁ, segunda-feira, 6 de agosto de 2012 (ZENIT.org) - Dirijo-me hoje, com grande alegria no coração, a todos os homens que receberam a graça da paternidade, participação misteriosa e sempre carregada de surpresas no ato criador de Deus. Com as mulheres, mães com as quais geraram vidas, vocês são indispensáveis à continuação da espécie humana sobre a terra, e mais ainda indispensáveis para serem imagens do Pai do Céu, a quem chamamos de “Pai nosso”.

Em cada homem que se fez pai, quero saudar o exercício sadio da masculinidade, agradecendo-lhes pela vocação que Deus lhes confiou de serem personalidades carregadas de força e ao mesmo tempo de grande ternura.  A todos peço para valorizarem o dom de conquistarem sadiamente o maravilhoso mundo feminino, presente no recesso do lar que Deus lhes concedeu. Se casados há pouco ou muito tempo, não importa, suplico a Deus para todos os esposos a graça de redescobrirem o namoro permanente, feito de olhares e carinhos, surpresas e gestos gratuitos de atenção. A vocês foi entregue a tarefa de serem testemunhas do amor misericordioso do “Pai nosso”.

Tomo a liberdade de entrar na casa daqueles homens que são pais, mas ainda não descobriram a beleza de um Sacramento feito para o homem e a mulher que se amam. De fato, o Matrimônio é graça de Deus, do mesmo modo que o Batismo, a Crisma, a Eucaristia e outros Sacramentos. Ele é um presente de Deus, não instituído para dar mais ou menos sorte a quem quer que seja, mas para transformar o casal que o recebe num sinal do amor de Cristo e da Igreja. Serve para que você, pai, aponte, com sua vida e seu amor, para aquele que, sendo “Pai nosso”, quer ser servido e amado por todos os homens e mulheres. Você é chamado a se casar na Igreja!

Sei que há muitos pais que perderam filhos ou filhas e não os esqueço, como o “Pai nosso” não os esquece. Trata-se algo muito sério, pois relembro muitos homens aos quais me foi dada a graça de ajudar em momentos dolorosos. Quantas lágrimas correm de rostos enrijecidos pelas lutas da vida, quando o sofrimento bate à porta. Se palavras muitas vezes são insuficientes para consolá-los e às suas esposas e famílias, aceitem a presença da Igreja, que quer, mesmo no silêncio, dizer-lhes que não estão sós. Desfrutem a companhia da Comunidade católica, com a qual vocês, pais da terra, podem rezar o “Pai nosso”.

Queridos pais, muitas vezes suas mãos calejadas, ou os rostos cansados, os passos corridos de quem vai para o trabalho, uniformes ou ternos, empregos formais ou não, foram usados como sinal do que vocês representam, a força de trabalho na sociedade. Ainda que tantas mulheres tenham trabalho, cargos e responsabilidades fora de casa, vocês são vistos como os provedores das famílias. E o provedor “providencia” e acaba muito parecido com aquele que é o Senhor da Providência, a quem pedimos o pão de cada dia, quando rezamos o “Pai nosso”. Em nome da Igreja, reconheço todo o bem que fazem, o valor de seus esforços, sua labuta, seu cansaço, seu desejo de melhores condições de vida para suas famílias.

Dirijo-me agora aos pais que fazem muito e falam pouco, cuja dedicação e consciência são pouco conhecidas aos olhos humanos, mas patentes aos olhos de Deus. Vocês não são esquecidos por Deus nem pela Igreja. Desejo que Deus os faça superar a timidez e os ajude a se introduzirem mais e mais na vida das comunidades cristãs. Ajudem-nos a sermos bem realistas em nossas decisões. Ajudem seus filhos, sem se omitirem na hora da correção. Mostrem o rumo, pois esta é a graça própria da paternidade. Afinal de contas, o “Pai nosso” quis contar com vocês!

Conheço também muitos homens que não experimentaram a fecundidade e por um motivo ou outro não tiveram filhos. Muitos de vocês deram um passo bonito, junto com suas esposas, assumindo filhos dos outros, através da adoção. Outros se tornaram pais de muitos outros, com sensibilidade social apurada, ajudando a quem precisa. Com todos estes homens, podemos dizer “Pai nosso”, porque na fecundidade do Pai do Céu cada um pode encontrar seu modo de fazer o bem e participar de seu amor infinito.

Lanço agora meu olhar para os que ainda não são pais, mas querem sê-lo, os jovens ou adultos que se sentem chamados ao casamento e à fecundidade do matrimônio. Lembrem-se de que esta é uma vocação, um chamado, uma graça de Deus a ser acolhida e vivida com alegria. Não tenham medo das responsabilidades! Busquem o casamento e a família e não aventuras fortuitas. Saibam preparar-se bem para se realizarem na participação do mistério do “Pai nosso”.

Enfim, há homens que foram chamados a outro tipo de paternidade, pois Deus lhes concedeu a graça de serem pais da grande família de seus filhos na Igreja. São tão importantes que nós os chamamos “padres”, mais fecundos do que qualquer pai de família. A eles agradeço por nos ensinarem a rezar o “Pai Nosso” e por gerarem os filhos de Deus pela Palavra e pelos Sacramentos.

Com todos os pais no dia que lhes é dedicado, qualquer que seja sua idade ou situação, fazemos o que existe de melhor, rezando juntos: “Pai nosso, que estais nos Céus, santificado seja o vosso nome, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR



Leituras: Dn 7,9-10.13-14 ou Pd 1,16-19; Sl 96(97),1-2.5-6.9 (R/. 1a e 9a); Lc 9,28b-36

“O Espírito Santo apareceu na nuvem luminosa e a voz do Pai se fez ouvir: Este é o meu Filho amado, nele depositei todo o meu amor. Escutai-o.” (Mt. 17,5)

Meus irmãos,

A Festa da Transfiguração celebra o mistério de Jesus Cristo. Para nós, mineiros, é a festa do Senhor Bom Jesus. O Bom Jesus que ilumina a vida de todos os cristãos. Por isso, manifesta-se o Cristo e toda a sua divindade, a sua glória sobre o mundo, como nosso salvador. É esse o sentido do Evangelho que lemos no dia de hoje; é nesse sentido que São Marcos procura iluminar-nos à sombra da cruz de Jesus, um cruz dolorosa, entretanto, triunfante. Aquele símbolo de ignomínia para os gentios, de maldição para os judeus, torna-se um sinal de bênção. Eis que na cruz morre o Filho de Deus e, nessa mesma cruz, brota a vida plena para todas as criaturas, para a humanidade redimida por ela.

A Transfiguração tem um significado muito singular: revelar aos apóstolos que a passagem pela morte era temporária e a ela sucederia o fato impensável da ressurreição. Isso porque Jesus de Nazaré era o Filho de Deus e tinha o “poder de dar e retomar a vida” (Jo 10,18).

Mas, o que é a Transfiguração? Não é uma aparição, podemos dizer inicialmente. Podemos, contudo, afirmar tratar-se de um parecer sob outra forma, senão a forma costumeira que Jesus aparecia aos seus discípulos. Ele não apareceu no Tabor, mas tomou outra figura. Como o fenômeno é inteiramente desconhecido no Antigo Testamento, não há uma palavra própria para descrevê-lo ao entendimento humano. Assim, os Evangelistas foram buscar uma nova terminologia usada na linguagem pagã, quando falavam de deuses que não assumiam a forma humana. E usam um termo que a língua nossa, a língua de Camões, também guardou do grego: metamorfose, isto é, assunção de outra forma. Desta maneira, temos uma outra forma quando a água assume a forma de gelo, ou quando a lagarta se transforma em borboleta.

No Monte Tabor, não temos um outro Jesus; é o mesmo Jesus de Nazaré que assume uma forma divina. Embora não possamos dizer que Deus tenha uma outra forma, o Evangelista teve de ater-se ao linguajar e à compreensão humana. Ainda que o Antigo Testamento não conte com transfigurações em sua linguagem, os termos com que se descreve a de Jesus são todos desconhecidos ao descrever a divindade: luz resplandecente, vestes brancas, alto de um monte, nuvem da qual sai uma voz.

Meus irmãos,

A Transfiguração ocorreu em um monte, local para os judeus de contato com a Divindade. As vestes brancas simbolizam a eternidade, o pertencer ao céu e ser santo como Deus é santo. Por isso, o anjo da ressurreição estará vestido de vestes brancas. A Santa Igreja conservou a figura da veste branca e a impõe ao recém-batizado, para simbolizar a pertença à família de Deus e expressar que o sagrado Batismo devolveu à criatura a santidade que a coloca em comunhão com Deus, conforme nos ensinou São Paulo: “Passais por uma transformação espiritual de vossa mentalidade e vos revestis do homem novo, criado segundo Deus na justiça e verdadeira santidade” (Ef 4,24). Tudo isso levando-se para a santidade e para a comunhão íntima com Deus e com a comunidade.

Outro símbolo da Transfiguração é a luz. Deus mora na luz inacessível, conforme nos ensina a IV Oração Eucarística, tão rica de significados teológicos. São João nos ensina: “Deus é Luz” (1Jo 1,5). Jesus de Nazaré definiu-se como sendo a encarnação da luz (Jo 1,7s; 3,19; 12,46).

A nuvem, simboliza a presença de Deus, como a manifestação no Monte Sinai (Ex 19,16) e a aliança entre Deus e o povo. Isaías cantava que a nuvem é o carro de Deus (Is 19,1; Sl 104, 3). Quando Jesus subir ao céu, em certo momento, será envolto por uma nuvem (At 1,9). Ora, o Tabor tem muito do significado do Sinai. Cristo estava para dar à luz um novo povo, uma nova e definitiva aliança, um novo Testamento por meio do sangue derramado na cruz. Como vimos, a Transfiguração tem todo um sentido pascal. E a Páscoa tem um sentido de recriação.

Para o angélico Santo Tomás de Aquino, o Tabor tem a presença do Espírito Santo: “A Trindade inteira apareceu: o Pai, na voz; o Filho, no homem; o Espírito, na nuvem luminosa”. A voz do Pai, saída da nuvem, é o centro do episódio: “Este é meu filho bem-amado. Escutai o que Ele diz!” (Mc 9, 8). Aqui está uma clara afirmação da filiação divina de Jesus, de sua autoridade de Filho de Deus, de sua natureza divina. Por isso Ele tem palavras de vida eterna.

Para nos transfigurarmos, devemos nos revestirmos de Cristo para sermos como Ele é.

É muito importante termos presente que a festa de hoje nos sinaliza que, pelo caminho do sofrimento e da cruz, chegaremos à ressurreição. São Pedro nos representa a todos, quando pretendemos viver e anunciar a alegria da ressurreição, sem passar pela generosa entrega e pela morte. Também nós preferimos montar a nossa tenda na montanha. Mas é preciso ter a experiência mística e coletiva da missão, do anúncio do Evangelho. Não podemos ficar na “fresca” da contemplação da Montanha, mas descer para o dia a dia da vida missionária.

Nesta reflexão sobre a Transfiguração, torna-se oportuno atermo-nos a alguns aspectos. Primeiro, o discípulo reza unindo a oração à realidade do dia-a-dia, principalmente pedindo a força de Deus para vencer os obstáculos, pedindo as forças que vêm de Deus. Depois, somos convidados a dar espaço e oportunidade a novas experiências. Para isso é preciso rezar e amar, conforme nos ensina São João Maria Vianney no silêncio do confessionário e na acolhida da partilha de seu ministério.

A experiência do Monte Tabor, a Transfiguração do Senhor, deu força aos apóstolos para aguentarem a experiência amarga do Monte Calvário. São Marcos relatou a história para fortalecer a fé vacilante dos membros de sua comunidade, quarenta anos depois do acontecido. O texto os convidou a renovar a fé em Jesus e na sua Palavra. O texto, ainda hoje, convida-nos a essa mesma atitude, conforme o convite de Deus Pai: “Este é o meu Filho amado. Escutem o que ele diz!” O convite de ontem vale hoje também para nós. Mais do que um convite é uma convocação para a missão e para o engajamento na realidade concreta da missão.

Contemplando hoje a face de Jesus transfigurado e escutando o que ele diz, encontraremos força para passar suportar os sofrimentos e dificuldades da vida, até o dia em que poderemos contemplá-Lo na glória do Pai, realização definitiva da aliança e das promessas.

Que Deus nos ajude e que as palavras finais do saudoso amigo Dom Lucas nos interpele: “Que eu possa sempre ver o rosto sereno e radioso do meu Cristo”. E eu completo: sempre na realidade da oração e do amor no irmão que vive e convive conosco no cotidiano. Amém!

Padre Wagner Augusto Portugal

sábado, 4 de agosto de 2012

São João Maria Vianney, presbítero




João Maria Batista Vianney sem dúvida alguma, se tornou o melhor exemplo das palavras profetizadas pelo apóstolo Paulo: "Deus escolheu os insignificantes para confundir os grandes". Ele nasceu em 8 de maio de 1786, no povoado de Dardilly, ao norte de Lyon, França. Seus pais, Mateus e Maria, tiveram sete filhos, ele foi o quarto. Gostava de freqüentar a igreja e desde a infância dizia que desejava ser um sacerdote.

Vianney só foi para a escola na adolescência, quando abriram uma na sua aldeia, escola que freqüentou por dois anos apenas, porque tinha de trabalhar no campo. Foi quando se alfabetizou e aprendeu a ler e falar francês, pois em sua casa se falava um dialeto regional.

Para seguir a vida religiosa, teve de enfrentar muita oposição de seu pai. Mas com a ajuda do pároco, aos vinte anos de idade ele foi para o Seminário de Écully, onde os obstáculos existiam por causa de sua falta de instrução.
Foram poucos os que vislumbraram a sua capacidade de raciocínio. Para os professores e superiores, era considerado um rude camponês, que não tinha inteligência suficiente para acompanhar os companheiros nos estudos, especialmente de filosofia e teologia. Entretanto era um verdadeiro exemplo de obediência, caridade, piedade e perseverança na fé em Cristo.

Em 1815, João Maria Batista Vianney foi ordenado sacerdote. Mas com um impedimento: não poderia ser confessor. Não era considerado capaz de guiar consciências. Porém para Deus ele era um homem extraordinário e foi por meio desse apostolado que o dom do Espírito Santo manifestou-se sobre ele. Transformou-se num dos mais famosos e competentes confessores que a Igreja já teve.

Durante o seu aprendizado em Écully, o abade Malley havia percebido que ele era um homem especial e dotado de carismas de santidade. Assim, três anos depois, conseguiu a liberação para que pudesse exercer o apostolado plenamente. Foi então designado vigário geral na cidade de Ars-sur-Formans. Isso porque nenhum sacerdote aceitava aquela paróquia do norte de Lyon, que possuía apenas duzentos e trinta habitantes, todos não-praticantes e afamados pela violência. Por isso a igreja ficava vazia e as tabernas lotadas.
Ele chegou em fevereiro de 1818, numa carroça, transportando alguns pertences e o que mais precisava, seus livros. Conta a tradição que na estrada ele se dirigiu a um menino pastor dizendo: "Tu me mostraste o caminho de Ars: eu te mostrarei o caminho do céu". Hoje, um monumento na entrada da cidade lembra esse encontro.

Treze anos depois, com seu exemplo e postura caridosa, mas também severa, conseguiu mudar aquela triste realidade, invertendo a situação. O povo não ia mais para as tabernas, em vez disso lotava a igreja. Todos agora queriam confessar-se, para obter a reconciliação e os conselhos daquele homem que eles consideravam um santo.

Na paróquia, fazia de tudo, inclusive os serviços da casa e suas refeições. Sempre em oração, comia muito pouco e dormia no máximo três horas por dia, fazendo tudo o que podia para os seus pobres. O dinheiro herdado com a morte do pai gastou com eles.

A fama de seus dons e de sua santidade correu entre os fiéis de todas as partes da Europa. Muitos acorriam para paróquia de Ars com um só objetivo: ver o cura e, acima de tudo, confessar-se com ele. Mesmo que para isto tivessem que esperar horas ou dias inteiros. Assim, o local tornou-se um centro de peregrinações.

O Cura de Ars, como era chamado, nunca pôde parar para descansar. Morreu serenamente, consumido pela fadiga, na noite de 4 de agosto de 1859, aos setenta e três anos de idade. Muito antes de ser canonizado pelo papa Pio XI, em 1925, já era venerado como santo. O seu corpo, incorrupto, encontra-se na igreja da paróquia de Ars, que se tornou um grande santuário de peregrinação. São João Maria Batista Vianney foi proclamado pela Igreja Padroeiro dos Sacerdotes e o dia de sua festa, 4 de agosto, escolhido para celebrar o Dia do Padre.


Segunda leitura (Liturgia das Horas)

Do Catecismo de São João Maria Vianney, presbítero
(Catéchisme sur la prière: A.Monnin, Esprit du Curé d’Ars, Paris1 899, pp.87-89)
(Séc.XIX)
A mais bela profissão do homem é rezar e amar
Prestai atenção, meus filhinhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas nos céus. Por isso, o nosso pensamento deve estar voltado para onde está o nosso tesouro. Esta é a mais bela profissão do homem: rezar e amar. Se rezais e amais, eis aí a felicidade do homem sobre a terra.

A oração nada mais é do que a união com Deus. Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, sente em si mesmo uma suavidade e doçura que inebria, e uma luz maravilhosa que o envolve. Nesta íntima união, Deus e a alma são como dois pedaços de cera, fundidos num só, de tal modo que ninguém pode mais separar. Como é bela esta união de Deus com sua pequenina criatura! É uma felicidade impossível de se compreender. Nós nos havíamos tornado indignos de rezar. Deus, porém, na sua bondade, permitiu-nos falar com ele. Nossa oração é o incenso que mais lhe agrada.

Meus filhinhos, o vosso coração é por demais pequeno, mas a oração o dilata e torna capaz de amar a Deus. A oração faz saborear antecipadamente a felicidade do céu; é como o mel que se derrama sobre a alma e faz com que tudo nos seja doce. Na oração bem feita, os sofrimentos desaparecem, como a neve que se derrete sob os raios do sol.

Outro benefício que nos é dado pela oração: o tempo passa tão depressa e com tanta satisfação para o homem, que nem se percebe sua duração. Escutai: certa vez, quando eu era pároco em Bresse, tive que percorrer grandes distâncias para substituir quase todos os meus colegas que estavam doentes; nessas intermináveis caminhadas, rezava ao bom Senhor e – podeis crer! – o tempo não me parecia longo.

Há pessoas que mergulham profundamente na oração, como peixes na água, porque estão inteiramente entregues a Deus. Não há divisões em seus corações. Ó como eu amo estas almas generosas! São Francisco de Assis e Santa Clara viam nosso Senhor e conversavam com ele do mesmo modo como nós conversamos uns com os outros.

Nós, ao invés, quantas vezes entramos na Igreja sem saber o que iremos pedir. E, no entanto, sempre que vamos ter com alguém, sabemos perfeitamente o motivo por que vamos. Há até mesmo pessoas que parecem falar com Deus deste modo: “Só tenho duas palavras para vos dizer e logo ficar livre de vós.”. Muitas vezes penso nisto: quando vamos adorar a Deus, podemos alcançar tudo o que desejamos, se o pedirmos com fé viva e coração puro.


Oração
Deus de poder e misericórdia, que tornastes São João Maria Vianney um pároco admirável por sua solicitude pastoral, dai-nos, por sua intercessão e exemplo, conquistar no amor de Cristo os irmãos e irmãs para vós e alcançar com eles a glória eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

NOSSA SENHORA DOS ANJOS, FESTA DO PERDÃO DE ASSIS




São Francisco de Assis pode ser considerado um dos santos mais conhecidos mundo afora.

Nesta quinta-feira, 2, celebra-se o "Perdão de Assis", na Festa de Nossa Senhora dos Anjos, também conhecida como "Porciúncula". Essa é uma das datas mais importantes para a Família Franciscana e todos os fiéis que têm especial afeição pelo santo italiano.

"Ao dirigirmos nossa oração a Maria Santíssima, desejo recordar outra data significativa: amanhã se poderá obter a indulgência conhecida como da Porciúncula ou o 'Perdão de Assis'", lembrou Bento XVI.

Nessa data (das 12h do dia 1º até as 24h do dia 2), pode-se obter a Indulgência Plenária, com as habituais condições (saiba mais clicando aqui). É possível acompanhar as celebrações que acontecem na Basílica de Nossa Senhora dos Anjos, cujo interior abriga a igreja de Porciúncula, próximo a Assis (Itália), ao vivo pela internet (clique aqui).
De acordo com o ministro da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, frei Fidêncio Vanboemmel, "além das celebrações e orações realizadas internamente pelas comunidades, os freis estão ainda mais disponíveis para atender as confissões". Ele também recorda a grandeza dessa indulgência, que a pessoa pode lucrar para a sua própria alma.

Compreender o verdadeiro significado da Porciúncula também é importante para adentrar na essência desta data, de acordo com frei Fidêncio. Para os franciscanos, ela é muito mais que a igreja pobre e simples que os monges beneditinos concederam a Francisco e seus companheiros, que cresciam em número de forma significativa.

"Foi ali que São Francisco ouviu o Santo Evangelho do envio missionário dos 12 apóstolos e, após pedir explicações ao padre ao final da Missa, exclamou: 'É isso que desejo e quero!'. É o local da grande descoberta da vocação, é também onde Santa Clara se consagrou e os frades se congregavam para tomar decisões, rezar, se encontrar. Ali nasceu a forma franciscana de vocação à vida evangélica. Quando falamos em Porciúncula, reunimos todos os elementos e valores da nossa espiritualidade; representa a essência do carisma", explica.

Para entender melhor o significado da data, é preciso remontar ao ano de 1216.

De acordo com as Fontes Franciscanas – conjunto de escritos que sintetizam os acontecimentos da vida do santo –, Francisco estava rezando na igrejinha da Porciúncula, próximo a Assis, quando o local ficou totalmente iluminado e o santo viu sobre o altar o Cristo e, à sua direita, Nossa Senhora, rodeados por uma multidão de anjos.

Perguntado sobre o que desejava para a salvação das almas, Francisco respondeu: "Santíssimo Pai, mesmo que eu seja um mísero pecador, te peço que, a todos quantos arrependidos e confessados, virão a visitar esta igreja, lhes conceda amplo e generoso perdão, com uma completa remissão de todas as culpas".

O Senhor teria lhe respondido: "Ó Irmão Francisco, aquilo que pedes é grande, de coisas maiores és digno e coisas maiores tereis: acolho portanto o teu pedido, mas com a condição de que tu peças esta indulgência, da parte minha, ao meu Vigário na terra (o Papa)".

Logo após, Francisco apresentou-se ao Santo Padre Honório III, partilhou a visão que teve e o Papa concedeu sua aprovação. "Não queres nenhum documento?", teria perguntado o Pontífice. E Francisco respondeu: "Santo Pai, se é de Deus, Ele cuidará de manifestar a obra sua; eu não tenho necessidade de algum documento. Esta carta deve ser a Santíssima Virgem Maria, Cristo o Escrivão e os Anjos as testemunhas".

Alguns dias após, junto aos Bispos da Úmbria, ao povo reunido na Porciúncula, Francisco anunciou a indulgência plenária e disse: "Irmãos meus, quero mandar-vos todos ao paraíso!".

Indulgências
As indulgências têm o poder de apagar as consequências dos pecados (penas temporais) que já foram perdoados pelo sacramento da confissão (que perdoa a culpa). A indulgência pode ser parcial, que redime parcialmente dessa pena, ou plenária, que apaga totalmente a pena temporal dos pecados.

Para se receber a indulgência, os fiéis precisam da confissão sacramental para estar em graça de Deus (oito dias antes ou depois); participar da Missa e Comunhão Eucarística; visitar uma igreja paroquial, onde se reza o Credo e o Pai Nosso e rezar pelas intenções do Papa. A graça da indulgência pode ser pedida para si mesmo ou para um falecido.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da igreja




Afonso de Ligório nasceu no dia 27 de setembro de 1696, no povoado de Marianela, em Nápoles, na Itália, filho de pais cristãos, ricos e nobres, que, ao se depararem com sua inteligência privilegiada, deram-lhe todas as condições e todo o suporte para tornar-se uma pessoa brilhante. Enquanto seu pai o preparava nos estudos acadêmicos e científicos, sua mãe preocupava-se em educá-lo nos caminhos da fé e do cristianismo. Ele cresceu um cristão fervoroso, músico, poeta, escritor e, com apenas dezesseis anos de idade, doutorou-se em direito civil e eclesiástico.

Passou a advogar e atender no fórum de Nápoles, porém jamais abandonou sua vida espiritual, que era muito intensa. Sempre foi muito prudente, nunca advogou para a Corte, atendia a todos, ricos ou pobres, com igual empenho. Porém atendia, em primeiro lugar, os pobres, que não tinham como pagar um advogado, não por uma questão moral, mas porque era cristão.

Depois de dez anos, tornara-se um memorável e bem sucedido advogado, cuja fama chegara aos fóruns jurídicos de toda a Itália. Entretanto, por exclusiva interferência política, perdeu uma causa de grande repercussão social, ocasionando-lhe uma violenta desilusão moral. A experiência do mundo e a forte corrupção moral já eram objeto de suas reflexões, após esse acontecimento decidiu abandonar tudo e seguir a vida religiosa.

O pai, a princípio, não concordou, mas, vendo o filho renunciar à herança e aos títulos de nobreza, com alegria no coração, aceitou sua decisão. Afonso concluiu os estudos de teologia, sendo ordenado sacerdote aos trinta anos, em 1726. Escolheu o nome de Maria para homenagear o Nosso Redentor por meio da Santíssima Mãe, aos quais dedicava toda a sua devoção, e agora também a vida.

Desde então, colocou seus muitos talentos a serviço do Povo de Deus, evidenciando ainda mais os da bondade, da caridade, da fé em Cristo e do conforto espiritual que passava a seus semelhantes. Em suas pregações, Afonso Maria usava as qualidades da oratória e colocava sua ciência a serviço do Redentor. As suas palavras eram um bálsamo aos que procuravam reconciliação e orientação, por meio do confessionário, ministério ao qual se dedicou durante todo o seu apostolado. Aos que lhe perguntavam qual era o seu lema, dizia: "Deus me enviou para evangelizar os pobres".

Para viver plenamente o seu lema, em 1732, fundou a Congregação do Santíssimo Redentor, ou dos Padres Redentoristas, destinada, exclusivamente, à pregação aos pobres, às regiões de população abandonada, sob a forma de missões e retiros. Ele mesmo viajou por quase todo o sul da Itália pregando a Palavra de Deus e a devoção a Maria, entremeando sua atividade pastoral com a de escritor de livros ascéticos e teológicos. Com tudo isso, conseguiu a conversão de muitas pessoas.

Em 1762, obedecendo à indicação do papa, aceitou ser o bispo da diocese de Santa Águeda dos Godos, diante da qual permaneceu durante treze anos. Portador de artrite degenerativa deformante, já paralítico e quase cego, retirou-se ao seu convento, onde completou sua extensa e importantíssima obra literária, composta de cento e vinte livros e tratados. Entre os mais célebres estão: "Teologia moral"; "Glórias de Maria", "Visitas ao SS. Sacramento"; além do "Tratado sobre a oração".

Depois de doze anos de muito sofrimento físico, Afonso Maria de Ligório morreu aos noventa e um anos, no dia 1º de agosto de 1787, em Nocera dei Pagani, Salerno, Itália. Canonizado em 1839, foi declarado doutor da Igreja em 1871. O papa Pio XII proclamou santo Afonso Maria de Ligório Padroeiro dos Confessores e dos Teólogos de Teologia Moral em 1950.


Oração
Ó Deus, que suscitais continuamente em vossa Igreja novos exemplos de virtude, dai-nos seguir de tal modo os passos do bispo Santo Afonso no zelo pela salvação de todos, que alcancemos com ele a recompensa celeste. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.


Segunda leitura (Ofício Divino)

Das Obras de Santo Afonso Maria de Ligório, bispo
(Tract. De praxi amandi Iesum Christum, edit. latina, Romae 1909, pp.9-14)
(Séc.XVII)

Sobre o amor a Jesus Cristo
Toda santidade e perfeição consiste no amor a Jesus Cristo, nosso Deus, nosso sumo bem e nosso redentor. É a caridade que une e conserva todas as virtudes que tornam o homem perfeito.

Será que Deus não merece todo o nosso amor? Ele nos amou desde toda a eternidade. “Lembra-te, ó homem, – assim nos fala – que fui eu o primeiro a te amar. Tu ainda não estavas no mundo, o mundo nem mesmo existia, e eu já te amava. Desde que sou Deus, eu te amo”.

Deus, sabendo que o homem se deixa cativar com os benefícios, quis atraí-lo ao seu amor por meio de seus dons. Eis por que disse: “Quero atrair os homens ao meu amor com os mesmos laços com que eles se deixam prender, isto é, com os laços do amor”. Tais precisamente têm sido todos os dons feitos por Deus ao homem. Deu-lhe uma alma dotada, à sua imagem, de memória, inteligência e vontade; deu-lhe um corpo provido de sentidos; para ele criou também o céu e a terra com toda a multidão de seres; por amor do homem criou tudo isso, para que todas as criaturas servissem ao homem e o homem, em agradecimento por tantos benefícios, o amasse.

Mas Deus não se contentou em dar-nos tão belas criaturas. Para conquistar todo o nosso amor, foi ao ponto de dar-se a si mesmo totalmente a nós. O Pai eterno chegou ao extremo de nos dar seu único Filho. Vendo-nos a todos mortos pelo pecado e privados de sua graça, que fez ele? Movido pelo imenso, ou melhor – como diz o Apóstolo – pelo seu demasiado amor, enviou seu amado Filho, para nos justificar e nos restituir a vida que havíamos perdido pelo pecado.

Ao dar-nos o Filho, a quem não poupou para nos poupar, deu-nos com ele todos os bens: a graça, a caridade e o paraíso. E porque todos estes bens são certamente menores do que o Filho, Deus, que não poupou a seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele? (Rm 8,32).

Paulo VI protagonista da renovação da Igreja




JOÃO PAULO II
36ª AUDIÊNCIA GERAL
Quarta-feira, 1 de Agosto de 1979

Aproxima-se o primeiro aniversário da morte do Papa Paulo VI. Deus chamou-a a si a 6 de Agosto do ano passado dia em que, todos os anos, decorre a solenidade da Transfiguração do Senhor. Esta solenidade bela e rica de conteúdo, foi o último dia do Papa Paulo VI na terra, o dia da sua morte, o dia da passagem da sua vida à eternidade. «A vida não é retirada, mas transformada» assim rezamos no Prefácio da Missa pelos defuntos. Com efeito, o próprio dia da morte daquele grande Papa, o dia da Transfiguração, tornou-se sinal eloquente desta verdade.

Podemos reflectir sobre o significado do dia que Deus escolheu para concluir uma vida tão laboriosa, tão cheia de dedicação e de sacrifício pela causa de Cristo, do Evangelho, da Igreja. O pontificado de Paulo VI não foi porventura um tempo de profunda transformação, promovida pelo Espírito Santo através de toda a actividade do Concílio, convocado pelo seu Predecessor? Paulo VI, que herdara de João XXIII a obra do Concílio logo após a primeira sessão de 1963, porventura não se encontrou no próprio centro desta transformação, primeiro como Papa do Vaticano II e depois como Papa da realização do Vaticano II, no período mais difícil, imediatamente após o encerramento do Concílio?

Se é lícito reflectir sobre o significado do dia que Deus escolheu como encerramento do seu ministério pontifício, acumulam-se na mente várias interpretações. Recordando a festa da Transfiguração que Deus quis como dia conclusivo da sua fé na terra (Cfr. 2 Tm 4, 7), poder-se-ia dizer que esta data manifestou, de certo modo, o particular carisma e ainda a particular tarefa da sua vida. Carisma da «transformação» e tarefa da «transformação». Poder-se-ia dizer, desenvolvendo este pensamento, que o Senhor, tendo chamado a si o Papa Paulo VI na solenidade da sua Transfiguração, permitiu-lhe, a ele e a nós, conhecer que em toda a obra de «Transformação», de renovação da Igreja no espírito do Vaticano II, Ele está presente como esteve naquele maravilhoso acontecimento verificado no Monte Tabor e que preparou os Apóstolos para a partida de Cristo desta terra, primeiro através da cruz, depois através da ressurreição.

O Papa do Vaticano II! O Papa dessa profunda transformação que era apenas uma revelação do rosto da Igreja, esperada pelo homem e pelo mundo de hoje! Também aqui há uma analogia com o mistério da Transfiguração do Senhor. De facto aquele mesmo Cristo que os Apóstolos viram no Monte Tabor era unicamente O que conheciam de todos os dias, Aquele cujas palavras tinham ouvido e cujas acções tinham visto. No monte Tabor revelou-se a eles o mesmo Senhor, mas «transfigurado». Nesta Transfiguração manifestou-se e realizou-se uma imagem do seu Mestre, que em todas as circunstâncias precedentes lhes era desconhecida, e se encontrava escondida.

João XXIII, e depois, Paulo VI, receberam do Espírito Santo o carisma da transformação, graças ao qual a figura da Igreja, conhecida de todos, se manifestou igual e ao mesmo tempo diferente. Esta «diferença» não significa afastamento da própria essência, mas antes penetração mais profunda na mesma essência. Ela é a revelação daquela figura da Igreja, que se escondia na precedente. Era necessário que através dos «sinais dos tempos», reconhecidos pelo Concílio, se manifestasse e tornasse visível, se tornasse princípio de vida e de acção, nos tempos em que vivemos e naqueles que virão.

O Papa, que nos deixou no ano passado, na solenidade da Transfiguração do Senhor, recebeu do Espírito Santo o carisma do seu tempo. Se de facto a transformação da Igreja deve servir para a sua renovação, é necessário que aquele que a empreende Possua uma consciência particularmente forte da identidade da Igreja. A expressão de tal consciência, manifestou-a Paulo VI sobretudo na sua primeira Encíclica Ecclesiam Suam, e depois continuamente: proclamando o Credo do Povo de Deus e emanando uma série de normas executivas relativamente às deliberações do Vaticano II, inaugurando a actividade do Sínodo dos Bispos, fazendo passos de pioneiro quanto à união dos cristãos, reformando a Cúria Romana, internacionalizando o Colégio Cardinalício, etc.

Em tudo isto se revelava sempre a mesma consciência da Igreja, que confirma mais profundamente a própria identidade na capacidade de renovação, de andar ao encontro das transformações que surgem da sua vitalidade e ao mesmo tempo da autenticidade da Tradição.

Que me seja permitido reevocar neste contexto pelo menos algumas frases das mensagens tão numerosas do Papa que morreu há um ano. Na sua primeira Encíclica, Ecclesiam Suam, que data justamente de 6 de Agosto de 1964, exprimia-se assim: «Por um lado, a vida cristã, como a Igreja a defende e promove, deve com perseverança e tenacidade preservar-se de tudo quanto pode enganá-la, profaná-la e sufocá-la, procurando imunizar-se do contágio do erro e do mal; por outro, a vida cristã deve não só adaptar-se às formas do pensamento e da moral, que o ambiente terreno lhe oferece e impõe, quando elas forem compatíveis com as exigências essenciais do seu programa religioso e moral, mas deve procurar aproximá-las de si, purificá-las, nobilitá-las, vivificá-las e santificá-las ...». A palavra, hoje famosa, do nosso venerando Predecessor João XXIII de feliz memória, a palavra «actualização» sempre a teremos presente como orientação programática; confirmámo-la como critério directivo do Concílio Ecuménico, e continuaremos a recordá-la como um estímulo à vitalidade sempre renascente da Igreja, à sua capacidade sempre atenta a descobrir os sinais dos tempos, à sua agilidade sempre juvenil de tudo provar e de tomar para si exactamente o que é bom (Cfr. 1Tess. 5, 21), sempre e em toda a parte (Ecclesiam Suam n. 44 e 52), alguns anos depois, dizia num discurso: «Quem compreendeu algo sobre a vida cristã, não pode prescindir da sua constante aspiração à renovação. Aqueles que atribuem à vida cristã um carácter de estabilidade, de fidelidade, de estaticidade, estão a ver bem, mas não estão a ver tudo. Certamente que a vida cristã é baseada em factos e em empenhos, que não admitem mutações, como a regeneração baptismal, a fé, a per-tença à Igreja, a animação da caridade; é de natureza sua uma aquisição permanente que nunca se deve comprometer, mas é, como dissemos, uma vida, e portanto um princípio, uma semente, que deve desenvolver-se, que exige crescimento, aperfeiçoamento; e dada a nossa natural caducidade e dadas certas incuráveis consequências do pecado original, exige reparação, restabelecimento, renovação» (Ensinamentos de Paulo VI, vol. IX, pág. 318).

O Papa Paulo foi um semeador generoso da palavra de Deus. Ensinou através dos solenes documentos do seu Pontificado. Ensinou através de homilias em várias circunstâncias; ensinou por fim através da catequese das quartas-feiras que, a partir do seu pontificado, entrou no programa habitual de todo o ano. Graças a isso, pôde continuamente «proclamar o Evangelho» (Cfr. Evangelii Nuntiandi). Considerava o anúncio do Evangelho, seguindo o exemplo do apóstolo Paulo, como seu primeiro dever e como a sua maior alegria. Estas catequeses papais tornaram-se em alimento substancial para toda a Igreja, num período em que esta tinha uma necessidade particular.

Perante as inquietações do período pós-conciliar, aquele singular «carisma da Transfiguração» demonstrou-se «bênção e dom para a Igreja». Assim Paulo VI tornou-se Mestre e Pastor das inteligências e das consciências humanas, em questões que exigiam a decisão da sua suprema autoridade. Serviu Cristo e a Igreja com aquelas admiráveis firmeza e humildade que lhe permitiram ver, com olhos de fé e de esperança, o futuro da obra que estava a construir.

Aproximando-se o primeiro aniversário da sua morte, recomendamos novamente a Sua alma a Cristo no monte da Transfiguração, a fim de que Ele o acolha na glória do eterno Tabor.

Saudações

A peregrinos italianos
Saúdo com afecto os peregrinos italianos presentes na Audiência: os numerosos sacerdotes e os jovens seminaristas, os religiosos e as religiosas, os grupos paroquiais, os conjuntos familiares, como também as pessoas vindas sózinhas.

Desejo enviar uma saudação especial aos rapazes da "Comunidade de Vida Cristã", da cidade de Cúneo, os quais andam há anos a difundir pela Itália, com o canto, a mensagem evangélica.

Ao agradecer-vos a prova canora, com que alegrastes esta audiência, dirijo a cada um de vós, caríssimos jovens, urna recomendação. Faço-o com as palavras do grande Santo Agostinho: "Do mesmo modo que os viandantes costumam cantar, canta também tu e vai andando. Que significa "anda"? Vai para a frente, vai para a frente no caminho da bondade".
Saúdo agora os membros da Comissão proveniente da Ilha de Cápri, presente com uma estátua de bronze de "Nossa Senhora de Socorro", que será colocada no alto do Monte Tibério. Ao benzer a imagem da Virgem, confio à sua especial protecção as vossas pessoas, filhos caríssimos, os vossos familiares, todos os cidadãos da Ilha, e formulo para cada um os Votos duma devoção cada vez mais profunda e esclarecida à Mãe de Cristo.

A peregrinos Sérvios
Durante a Audiência geral de 30 de Maio último, falando de como no decurso da história se foram juntando às várias línguas do Cenáculo no dia do Pentecostes, as várias línguas eslavas, não mencionei a língua sérvia.
Desejo suprir hoje essa falta. Como é sabido, a origem segura do cristianismo na Sérvia remonta ao século IX, acompanhando a actividade evangelizadora e a cultura religiosa dos Santos Cirilo e Metódio. Deve todavia dizer-se que já no século VI houve tentativas de evangelizar os Sérvios. Depois, num documento de 1020 do imperador de Constantinopla, Basilios II,  faz-se menção da Diocese sérvia de Ras. O fundador do estado sérvio medieval, Stefan Njemanja, foi baptizado segundo o rito latino; e seu filho Stefan Prvovencani recebeu a coroa real do Papa Honório III em 1218. Desde então, com alternativas várias, o povo sérvio aumentou e desenvolveu-se, sempre solidamente enraizado na fé cristã.

Agradeço portanto de coração ao Senhor que possa ser anunciado o Evangelho também na língua sérvia como nas outras línguas eslavas e em todas as línguas da grande família humana, que possa ser anunciado com a força do mesmo Espírito Santo, que se manifestou no princípio, no dia do primeiro Pentecostes.

Aos Jovens
Caríssimos Jovens. Vai para vós a minha saudação, cheia de afecto. Sabeis qual é o desejo do Papa a vosso respeito: desejo que sejais bons e generosos, vencendo o mal que há na sociedade, com a vossa vida de graça, com a vossa pureza e com a vossa amizade com Jesus.

Este é o caminho recto da vida: é o caminho da verdadeira alegria e da eterna salvação. Mas como fazer isto que vos digo? Qual o segredo?

Diz-no-lo o grande Santo e Doutor da Igreja que hoje festejamos, Santo Afonso Maria de Ligório, com o livro sempre actual, porque simples e profundo, "Do grande meio da oração". O segredo está na oração.

Também eu, por isso mesmo, vos exorto ao encontro com Deus mediante a oração, dizendo-vos com Santo Afonso: "Quem ora, com certeza que se salva".

Aos Doentes
Caríssimos doentes. Sempre com particular cordialidade vos dirijo a minha saudação, que brota do afecto e da veneração pelos que sofrem. Saber sofrer com amor, com resignação, com ânimo, com confiança e com paciência, eis a grande arte que se aprende só com o auxílio da graça divina, na escola de Cristo Crucificado, que entende e santifica a nossa dor.

Santo Afonso Maria de Ligório escreveu uma obra mística, muito comovedora, que ainda hoje pode consolar a ajudar: "A paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo". Exorto-vos a que a mediteis: levar-vos-á sem dúvida conforto e alívio nas vossas penas. A minha bênção vos acompanhe.

Aos jovens Casais
Caríssimos esposos,

Chegue também a vós a minha saudação, juntamente com os votos e felicitações pela vida nova que encetastes.

Segundo a instante exortação de Santo Afonso Maria de Ligório, convido-vos a colocardes a vossa vida sob a protecção de Nossa Senhora.

Uma sincera e autêntica devoção à Virgem Maria ser-vos-á -de grande auxílio, para serdes esposos cristãos, testemunhas de fé e de caridade, pais alegres e generosos.

Auxilie-vos também a minha Bênção.

LEITURA ORANTE: A perda é salvação

Quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os que, nesta rede da...