quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

APRESENTAÇÃO DO SENHOR



Leituras: Ml 3,1-4; Sl 23(24); Lc 2,22-32

«Hoje, com Simeão e Ana, contemplamos o Divino Menino,
o Verbo feito Carne, que é conduzido ao Templo. 
Aquele que foi dar cumprimento à Antiga Lei, 
como plenamente homem, fez alegrar o coração do povo 
que esperava o Messias prometido, como Divino Filho Encarnado.»

(S. João Crisóstomo)

Quarenta dias após o nascimento, completados os dias da purificação de Maria, conforme prescrito nas Leis de Israel, o Menino Jesus foi apresentado no Templo para ser consagrado ao Senhor, manifestando a abertura de seu coração à vontade de Deus e à cultura do seu povo. A apresentação do Primogênito equivale a um ato de consagração ao Senhor acompanhado da oferta sacrificial de um par de rolas ou de pombinhos, a oferenda dos pobres.

«Maria, a Virgem Mãe, a primeira a ser verdadeiramente o Templo Santíssimo de Deus vivo, aquela que é toda pura e toda santa, sem necessidade cumpriu o ritual da purificação, levou o Primogênito de Deus ao templo para realizar o que foi prometido a Simeão.» (São Basílio)


A Festa da Purificação e da Apresentação do Senhor no Templo é também conhecida como a «Festa da Candelária», devido à procissão de velas que é realizada neste dia, principalmente na Igreja de Jerusalém e nas de tradição eslava. Este rito das velas tem origem nas palavras de Simeão referindo-se ao Menino, «Luz que brilhará sobre todas as nações, e glória do teu povo, Israel.».

São Cirilo de Alexandria exortava que «celebremos o mistério deste dia com lâmpadas flamejantes.». Jesus é a Luz do mundo que ilumina a todos que estão nas trevas. É fonte e principio da luz eterna que faz brilhar no coração de seus filhos a Luz que não se extingue.

A Festa da Apresentação também recebe o nome de "Festa do Encontro" ou "Hypapántê" sublinhando o encontro do velho Simeão com Jesus. É a humanidade que se reconcilia com a Divindade. É as bodas entre Deus e seu povo. Movido pelo Espírito, Simeão veio ao templo onde encontrou José e Maria que conduziam o Menino, cumprindo desta forma, a Lei. Simeão tomou-O em seus braços e bendisse a Deus:

«Agora Senhor, deixa teu servo ir em paz, segundo a tua palavra, porque meus olhos viram a salvação que preparaste ante face de todos os povos, luz que brilhará sobre todas as nações, e glória do teu povo, Israel" . (Lc 2, 29-33)

Deste modo, Cristo é apresentado por Simeão ao mundo como Sacramento do encontro e da reconciliação com Deus. Logo, tal encontro passa necessariamente pela mediação da humanidade de Jesus. A aceitação deste mistério dá nova dimensão à fé. Constitui-se na absoluta necessidade de se encontrar Deus, único Autor da Salvação, na pessoa humano-divina de Jesus. O Santo Encontro entre o velho Simeão e o Menino Jesus representa o encontro entre o Antigo Testamento (Hebreu) com o Novo Testamento (Cristão):

«Na pessoa do Menino, acontece a convergência entre a Antiga e a Nova Lei. É o ponto de chegada daqueles que tanto esperavam o Messias e o ponto de partida para aqueles que vivem a plenitude dos tempos, onde o Reino de Deus se faz presente entre os homens.» São Clemente de Alexandria.

A idade avançada daquele que recebe o Menino nos braços indica a longa espera do povo hebreu frente à novidade recente da promessa cumprida. Por isso, durante a festa canta-se: «O velho Simeão leva o Menino, mas o Menino é quem o conduz.»

Contemplando o Ícone da festa, observamos que resplandece a pessoa do Menino que é apresentado como Senhor e Redentor. Seu rosto não está voltado para a sua mãe, mas para Simeão. Este O recebe em seus braços e seu corpo está inclinado, formando como que um receptáculo que acolhe o Rei de Israel.

De pé sobre um estrado, para simbolizar sua dignidade sacerdotal, tem as mãos cobertas em sinal de veneração e humildade, formando um pequeno trono para o Menino. Um pouco mais atrás, está a profetisa Ana que aponta com o dedo para o menino, simbolizando que também ela contempla o Salvador aguardado por tantas gerações.

A Mãe de Deus, ligeiramente inclinada, eleva suas mãos, também cobertas, num gesto de oferenda. Importante que observemos que o Salvador não se encontra em seus braços. Esta estranha distância entre o Menino e sua Mãe, estão iconografadas na cena de Belém, onde o menino se encontra deitado na manjedoura, e na Festa da Apresentação. Todos os demais ícones de Maria com o Menino mostram a Virgem segurando a Divina criança em seus braços. São João Crisólogo se refere a este fato dizendo:

«Os braços da Mãe que antes era Trono do Salvador, oferecendo o mais precioso dos Dons ao Altíssimo, sente saudades de portar o Rei da Glória. O Cordeiro, ciente que sua vida é pura oblação em prol da humanidade que veio regenerar, deixa os braços calorosos da Mãe e se entrega aos braços da Antiga Lei, como obediente servo de Deus.» São João Crisólogo.

A disposição das figuras ao fundo acentua a relevância daqueles que aparecem em primeiro plano. O templo central indica o lugar donde acontece o encontro. Os dois edifícios laterais, unidos por um véu vermelho, simbolizam que as bodas entre Deus e a humanidade se realizaram com a vinda do Salvador.

«Sião, adorna tua câmara nupcial e recebe o Cristo Rei. 
Acolhe com amor a Maria, Porta do Céu, 
pois ela tem em seus braços o Rei da glória, 
luz nova que resplandece. 
A Virgem avança, apresentando a seu Filho, 
engendrado antes da Aurora. 
Simeão O recebe em seus braços 
e anuncia ao povo que é o Senhor da vida e da morte, 
o Salvador do Mundo.»

(Canto de Procissão da Candelária)

Ao ver o Filho de Deus em seus braços, Simeão se certificou que os homens receberiam a filiação divina e estavam salvos. (Gl 4,4-7). Somos assim agraciados com o título de filhos no Filho e por isso podemos chamar a Deus de Pai. (Ef 1,5;2,18).

Que possamos nesta festa da Igreja ser apresentados ao Senhor, plenamente renovados pelas luzes do Espírito Santo, e que Ele realize em nós a obra da sua Misericórdia como fez com Simeão, dando-nos a alegria de ter, não somente nos braços, mas em nossos corações, o próprio Cristo, Pão Vivo que desceu do Céu. 


Fontes de Consulta:

WEITZMANN, Kurt. Revista Fuentes: "Las Doce Fiestas", Anuário 1994;
GOMES, C. Folch, Antologia dos Santos Padres, Ed. Paulinas. 3ª Ed. São Paulo.

Pe. Pavlos Tamanini, Sacerdote da Igreja Ortodoxa Grega São Nicolau
Florianópolis - SC


«Luz para se revelar às nações»

Saúdo-Te e louvo-Te, ó cheia de graça; trouxeste ao mundo a Misericórdia que veio sobre nós. Foste Tu quem preparou este círio que hoje recebo em minhas mãos. Foste Tu quem deu a cera a esta chama… porque, Mãe sem corrupção, revestiste de carne sem corrupção o Verbo incorruptível.

Vamos, irmãos! Vede o círio que hoje arde entre as mãos de Simeão! Vinde buscar nele a luz, vinde acender nele as vossas velas, quero dizer, as lâmpadas que o Senhor quer ver entre as vossas mãos (Lc 12, 35). «Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes» (Sl 33, 6). Não tanto por levardes círios nas mãos como por serdes vós mesmos círios que brilham por dentro e por fora, para vosso bem e para o dos outros: … Jesus iluminará a vossa fé, fará brilhar o vosso exemplo, inspirar-vos-á uma palavra de bem, tornará ardente a vossa oração, purificará a vossa intenção…

E para ti que possuis interiormente tantas lâmpadas acesas, quando se extinguir a chama desta vida, brilhará a luz da vida que não se extingue. Aparecerá para ti, no ocaso, o esplendor do meio-dia. No momento em que julgues extinguir-te, erguer-te-ás como a estrela da manhã (Jb 11, 17) e as trevas brilharão como a luz em pleno dia (Is 38, 10). Já não haverá sol durante o dia nem a luz da lua te iluminará, mas o Senhor será a tua luz eterna (Is 60,19), porque a lâmpada da nova Jerusalém é o Cordeiro (Ap 21, 23), a Ele a bênção e a glória pelos séculos dos séculos! Amém.

B. Guerrico de Igny (c. 1080-1157), abade cisterciense 
1º Sermão para a Purificação, 5-5 (SC 166, p. 313s) 


«Homilia para a festa das luzes»

«Eu vim como a luz ao mundo, 
para que todo aquele que crê em Mim
não permaneça nas trevas» (Jo 12, 46)

Vamos ao encontro de Cristo, todos nós que veneramos o Seu mistério com fervor, avancemos para Ele de todo o coração. Quando todos, sem excepção, participarem neste encontro, que todos levem as suas luzes. Se os nossos círios dão semelhante luz, é antes de mais para mostrar o esplendor divino Daquele que vem, Daquele que faz resplandecer o universo e o mundo com uma luz eterna, que afasta as trevas do mal. É também, e sobretudo, para manifestar com que esplendor da nossa alma devemos ir ao encontro de Cristo. Com efeito, tal como a Mãe de Deus, a Virgem puríssima, trouxe nos seus braços a luz verdadeira, para ir ao encontro “daqueles que se encontravam nas trevas” (Is 9, 1; Lc 1, 79), assim também nós, iluminados pelos seus raios, e tendo na mão uma luz visível para todos, apressemo-nos a ir ao encontro de Cristo.

É evidente que, dado que a luz veio a este mundo (Jo 1, 9), iluminando os que estavam nas trevas, porque nos visitou a “luz do alto” (Lc 1, 78), esse mistério é o nosso mistério. […] Corramos, pois, todos juntos, vamos todos ao encontro de Deus. […] Deixemo-nos iluminar a todos por Ele, meus irmãos, tornemo-nos todos resplandecentes. Que nenhum de nós permaneça afastado desta luz, como se fosse um estrangeiro; que nenhum se obstine em permanecer mergulhado na noite. Pelo contrário, avancemos para a claridade; caminhemos, iluminados, ao seu encontro, e recebamos, com o velho Simeão, esta luz gloriosa e eterna. Com ele exultemos de todo o coração e cantemos um hino de acção de graças a Deus, Pai da luz (Tg 1,17), que nos enviou a claridade verdadeira, para nos tirar das trevas e nos tornar resplandecentes.

Graças a Cristo, também nós vimos salvação de Deus, que Ele preparou “em favor de todos os povos”, e que manifestou para “glória de Israel” (Lc 2, 30-32). E também nós fomos libertados da noite do nosso pecado, como Simeão o foi dos laços da vida presente, ao ver Cristo.

São Sofrônio de Jerusalém (?-639), monge, bispo

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