sexta-feira, 12 de outubro de 2012

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA, PADROEIRA DO BRASIL



Antífona da entrada: Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas joias (Is 61,10)

Leituras: Est 5,1-2;7,2-3; Sl 44(45),11-12a.12b-13.14-15a.15b-16 (R/.11-12a); Ap 12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11

Hoje é o dia da Padroeira do Brasil e das crianças. Coloquemos sob a proteção de Nossa Senhora todas as crianças do Brasil e do mundo, e cada um de nós, pois “se não vos transformardes e vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus” (Mt 18,3). O Evangelho de hoje é aquele das bodas de Caná (Jo 2,1-11) e, ao escutarmos o conselho de Maria, “fazei o que ele vos disser” (J0 2,5), não só entendemos que a devoção a Nossa Senhora nos conduz sempre a Jesus, mas também aprendemos a acolher o Evangelho com um renovado ardor, também no que se refere ao fato da nossa filiação divina e do nosso “ser criança”. É importante que cada um de nós se transforme numa criancinha, aos pequenos está prometido o Reino. Pode vir à nossa mente aquelas palavras de Nicodemo a Jesus: mas, “como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?” (Jo 3,4). Talvez a historinha abaixo nos ajude a ver a complexidade do assunto.

Eram uma vez, dois vizinhos. O primeiro comprou um coelho como bichinho de estimação para os filhos. Quando os filhos do outro vizinho viram o animalzinho, foram correndo aos seus pais e pediram que comprassem um bicho para eles. O pai da família acedeu e comprou um pastor alemão. Pra quê? Então, os dois vizinhos se enfrentaram numa discussão:

- puxa vida, ele vai comer o meu coelho.
- como você pensar uma coisa dessas. Imagine só: os dois animais são filhotes, eles vão crescer junto e serão amigos. Não se preocupe, dou a minha palavra, eu entendo de animais.

O outro vizinho parece que se convenceu e, com o passar do tempo, se viu que o dono do pastor alemão tinha razão. Os dois animais iam crescendo juntos e era normal ver o cachorro e o coelho compartindo terreno. As crianças estavam felizes. Mas, um belo dia, o dono do coelho foi, com a família, passar o final de semana na fazenda. Saíram na sexta-feira. O coelho não foi. No domingo, aconteceu algo que causou dor e indignação em todos: de repente, o cachorro aparece com o coelhinho sujo de terra, arrebentado e entre os dentes, o coelho estava totalmente morto. Imagine a reação do dono do cachorro: irado, espancou o cachorro, quase matou o animal. E agora, o que fazer quando o vizinho chegar? Pensaram, pensaram, e encontraram uma solução: deram um banho no coelho pra lá de morto, secaram-no com o secador da mãe e o colocaram na “casinha do coelho”, no quintal do vizinho.

Quatro horas depois, os vizinhos chegaram. As crianças gritaram! Descobriram horrorizadas! Cinco minutos depois, estava o dono do coelho à porta do dono do cachorro. Assustado, lívido, parecia que tinha visto pelo menos uns dois fantasmas.

- vizinho, o que aconteceu?
- o coelho… o coelho…
- Mas, o que aconteceu com o coelho?
- Morreu!
- Morreu? Se ontem tinha tão bom aspecto…
- Morreu na sexta-feira e as crianças o tinham enterrado no quintal, mas… apareceu na casinha.
- na sexta-feira?

Quem ler essa historinha estará de acordo comigo que o protagonista é o cachorro. Imagine só: o pobre animal que, desde sexta-feira, procurava em vão pelo amigo de infância, o coelho. Depois de muito farejar descobre o corpo. Morto. Enterrado. O que ele faz? Provavelmente com o coração partido, desenterra o pobrezinho e vai mostrar para os seus donos. Talvez estivesse até chorando, quando começou a ser espancado. O cachorro é o herói!

E o homem continua achando que um banho, um secador de cabelos e um perfume disfarçam a hipocrisia, o animal desconfiado que existe dentro de nós. Julgamos os outros pela aparência, mesmo que tenhamos que deixar esta aparência como melhor nos convir: maquiada. Perdemos a inocência pelo pecado e a recuperamos pela graça. Nossa Senhora nos ajudará a guarda-la para que sejamos essas crianças que Deus quer, ou seja, sempre pequenos diante do Deus incomensurável, sempre discípulos diante do Divino Mestre, sempre necessitados diante do Todo-poderoso, sempre filhos diante dum Pai bondoso.

Lembremo-nos que Nossa Senhora apareceu nas águas do rio Paraíba em 1717, em São Paulo. A partir daquele dia nunca mais deixou de ajudar o Povo brasileiro, de consolá-lo e de conduzir cada pessoa ao Coração de Jesus. Ela quer que sejamos bons filhos, virtuosos, compreensivos, santos e que um dia lhe demos um abraço no céu. “Fazei tudo o que ele vos disser”, é o conselho da nossa querida Mãe do céu. Dessa maneira seremos crianças diante de Deus, venceremos essa capacidade que temos de julgar os outros sem muita misericórdia e aprenderemos a compreender os demais.

Pe. Françoá Costa

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O significado da solidão original do homem




JOÃO PAULO II

AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 10 de Outubro de 1979

1. Na última reflexão do presente ciclo, chegámos a uma conclusão introdutória, tirada das palavras do Livro do Génesis, sobre a criação do homem como macho e fêmea. A estas palavras, ou seja, ao «princípio», referiu-se o Senhor Jesus na sua conversa sobre a indissolubilidade do matrimónio (Cfr. Mt. 19, 3-9; Mc. 10, 1-12). Mas a conclusão, a que chegámos, não termina ainda a série das nossas análises. Deve-mos, de facto, reler a narração do primeiro e do segundo capítulo do Livro do Génesis num contexto mais largo, que nos permitirá estabelecer uma série de significados do texto antigo, a que se referiu Cristo. Hoje reflectiremos portanto sobre o significado da solidão original do homem.

2. O ponto de partida para esta reflexão vem-nos directamente das seguintes palavras do Livro do Génesis: Não é conveniente que o homem (macho) esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele (Gén. 2, 18). Deus-Javé que pronuncia estas palavras. Fazem parte da segunda narrativa da criação do homem e provêm portanto da tradição javista. Como já recordámos precedentemente, é significativo que no texto javista, a narrativa da criação do homem (macho) seja um trecho completo (Gén. 2, 7), que precede a narrativa da criação da primeira mulher (Gén. 2, 21-22), além disso, significativo que o primeiro homem ('adam), criado do «pó da terra», só depois da criação da primeira mulher seja definido como «macho» ('is). Assim portanto, quando Deus-Javé pronuncia as palavras a respeito da solidão, refere-as à solidão do «homem» enquanto tal, e não só à do macho.

É difícil porém, só com base neste facto, chegar muito longe tirando conclusões. Apesar disso, o contexto completo daquela solidão de que fala o Génesis 2, 18, pode convencer-nos que se trata aqui da solidão do «homem» (macho e fêmea) e não apenas da solidão do homem-macho, causada pela falta da mulher. Parece, por conseguinte, com base no contexto inteiro, que esta solidão tem dois significados: um que deriva da própria criatura do homem, isto é, da sua humanidade (o que é evidente na narrativa de Gén. 2), e o outro que deriva da relação macho-fêmea, o que é evidente, em certo modo, com base no primeiro significado. A análise particularizada da descrição parece confirmá-lo.

3. O problema da solidão manifesta-se unicamente no contexto da segunda narrativa da criação do homem. A primeira não conhece este problema. Nesta aparece o homem criado num só acto como «macho e fêmea» (Deus criou o homem à sua imagem ... criou-os homem e mulher (Gén. 1, 27). A segunda narrativa que, segundo já mencionámos, fala primeiro da criação do homem e, só depois, da criação da mulher da «costela» do macho, concentra a nossa atenção em o homem «estar só». Isto apresenta-se como problema antropológico fundamental, anterior, em certo sentido, ao problema apresentado pelo facto de tal homem ser macho e fêmea. Este problema é anterior não tanto no sentido cronológico quanto no sentido existencial: é anterior «por sua natureza». Tal se revelará também o problema da solidão do homem do ponto de vista da teologia do corpo, se conseguirmos fazer uma análise profunda da segunda narrativa da criação em Génesis 2.

4. A afirmação de Deus-Javé, «não é conveniente que o homem esteja só», aparece, não só no contexto imediato da decisão de criar a mulher («vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele»), mas também no contexto mais amplo de motivos e circunstâncias, que explicam mais profundamente o sentido da solidão original do homem. O texto javista liga primeiramente a criação do homem com a necessidade de cultivar a terra (Gén. 2, 5), o que, na primeira narrativa, corresponde à vocação de encher e dominar a terra (Cfr. Gén. 1, 28). Além disso, a segunda narrativa da criação fala de o homem ser colocado no «jardim do Éden», e deste modo introduz-nos no estado da sua felicidade original. Até este momento o homem é objecto da acção criadora de Deus-Javé, que ao mesmo tempo, como legislador, estabelece as condições da primeira aliança com o homem. Já com este recurso é sublinhada a subjectividade do homem. Esta encontra nova expressão quando o Senhor Deus, após ter formado da terra todos os animais dos campos e todas as aves dos céus, os conduziu até junto do homem (macho), a fim de verificar como ele lhes chamaria (Gén. 2, 19). Logo o primitivo significado da solidão original do homem é definido em função dum «test» específico, ou dum exame a que o homem é sujeito diante de Deus (e em certo modo também diante de si mesmo). Graças a esse «test», o homem toma consciência da própria superioridade, quer dizer, de não poder colocar-se em igualdade com nenhuma outra espécie de seres vivos sobre a terra.

Na verdade, como diz o texto, o homem impôs os nomes para que todos os seres vivos fossem conhecidos pelos nomes que o homem lhes desse (Ibid). O homem designou com nomes todos os animais domésticos, todas as aves dos céus e todos os animais ferozes; contudo—termina o autor — o homem (macho) não encontrou para si uma auxiliar adequada (Gén. 2, 20).

5. Toda esta parte do texto é, sem dúvida, preparatória da narrativa da criação da mulher. Esta parte do texto possui contudo significado próprio e profundo, mesmo independentemente desta criação. É o seguinte: o homem criado encontra-se, desde o primeiro momento da sua existência, diante de Deus quase à busca da própria «entidade». A verificação de o homem «estar só» no meio do mundo visível e, em especial, entre os seres vivos, tem nesta busca significado negativo, na medida em que exprime o que ele «não é». Apesar disso, a verificação de não se poder essencialmente identificar com o mundo visível dos outros seres vivos (animalia) tem, ao mesmo tempo, aspecto positivo para esta busca primária: embora esta verificação não seja ainda uma definição completa, constitui todavia um dos seus elementos. Se aceitamos a tradição aristotélica, na lógica e na antropologia, seria necessário definir este eleento como «género próximo» (genus proximum).

6. O texto javista consente-nos todavia descobrir ainda novos elementos naquele admirável trecho, em que o homem se encontra só, diante de Deus, sobretudo para exprimir, através duma autodefinição, a própria autoconsciência, como primitiva e fundamental manifestação de humanidade. O autoconhecimento acompanha o conhecimento do mundo, de todas as criaturas visíveis, de todos os seres vivos a que o homem deu nomes para afirmar em confronto com eles a própria diversidade. Assim portanto, a consciência revela o homem como o ser que possui a faculdade cognoscitiva a respeito do mundo visível. Com este conhecimento que o faz sair, em certo modo, fora do próprio ser, ao mesmo tempo o homem revela-se a si mesmo em toda a peculiaridade seu ser. Está não apenas essencialmente mas subjectivamente só. Solidão, de facto, significa também subjectividade do homem, a qual se forma através do autoconhecimento. O homem está só, porque é «diferente» do mundo visível, do mundo dos seres vivos. Analisando o texto do Livro do Génesis, tornamo-nos, em certo sentido, testemunhas do modo como o homem «se distingue», diante de Deus-Javé, de todo o conjunto dos seres vivos (animalia) como o primeiro acto de autoconhecimento, e de como, por conseguinte, se revela a si mesmo e ao mesmo tempo se afirma no mundo visível como «pessoa». Aquele processo delineado de modo tão enérgico em Génesis 2, 19-20, processo de busca duma definição de si mesmo, não leva só a indicar — voltando nós à tradição aristotélica — o genus proximum, que no capítulo 2.° do Génesis é expresso com as a palavras «deu os nomes», a que corresponde específica» que é, segundo a definição de Aristóteles, noûs, zoón noetikon. Tal processo leva também à primeira delineação do ser humano como pessoa humana, com a própria subjectividade sua característica.

Interrompamos aqui a análise do significado da solidão original do homem. Retomá-la-emos daqui a uma semana.
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Saudações

Aos participantes na XXVII Assembleia geral da União das Superioras-Maiores da Itália (USMI)
Estão presentes na Audiência cerca de 600 Superioras-Gerais e Provinciais, que participam na XXVII Assembleia geral da União das Superioras-Maiores da Itália (USMI) subordinada ao tema: "Presença pastoral dos religiosos na Igreja hoje na Itália e o seu carisma específico".

Agradeço a vossa presença, tão significativa e merecedora de uma Audiência particular. Infelizmente os múltiplos e fatigantes compromissos deste período de tempo não mo permitiram.

Exorto-vos, caríssimas Irmãs, a meditar sempre, com amor e com generosidade, nos grandes documentos que dizem respeito à vossa vida: o capítulo sexto da Constituição Conciliar Lumen Gentium, o Decreto Perfectae Caritatis e a Carta Apostólica Evangelica Testificatio. Aquilo que maiormente tinha a peito comunicar-vos e a todas as Religiosas, manifestei-o recentemente nos discursos que pronunciei a 1 de Outubro em Maynooth na Irlanda, e a 7 de Outubro no Santuário da Imaculada Conceição, em Washington.

Agora, gostaria apenas de sugerir, a vós Superioras, a firmeza e a delicadeza necessárias neste momento. Mostrai-vos principalmente mães, sensíveis e esclarecidas, nunca irritadas nem de maneira alguma amarguradas, mas santamente intrépidas em sugerir a voz do Vigário de Cristo, de modo que nenhuma irmã se sinta oprimida ou marginalizada, mesmo no caso de ter errado.
Também a vós repito o que disse na Irlanda:

"Deveis ser corajosas nas vossas empresas apostólicas, não vos deixando abater nem deprimir pelas dificuldades, pela diminuição de pessoal e pela insegurança do futuro. Lembrai-vos sempre que o primeiro dever apostólico é a vossa santificação" (Discurso em Maynooth, 1 de Outubro de 1979).
A minha Bênção Apostólica vos acompanhe e conforte de modo particular.

Aos participantes no Diálogo Católico-Pentecostal
Meus queridos participantes no Diálogo Romano Católico-Pentecostal, bem-vindos outra vez a Roma. Faz sete ano agora que este esforço de mútua compreensão e reconciliação existe, e desejo assegurar-vos que lhe dedico o mais vivo interesse e piedosa protecção.

Se nós cristãos devemos alcançar a unidade desejada por nosso Senhor, somos chamados à "busca em comum da verdade no pleno sentido evangélico e cristão" (Redemptor Hominis, 6). Estais contribuindo para isso com o vosso trabalho desta semana. O Senhor vos alude nele e com a luz do seu Santo Espírito vos permita conhecer e experimentar a sua verdade, a sua graça e o seu amor.

Aos Membros do Conselho Geral extraordinário da Companhia de Maria e a grupos de peregrinos franceses
Dirijo uma cordial e afectuosa saudação aos membros do Conselho Geral extraordinário da Companhia de Maria, mais conhecida com o nome de Congregação dos Padres Monfortinos. Saúdo o Reverendo Padre-Geral, os seus Assistentes, os Superiores provinciais e, através deles, todos aqueles que se dão a Deus e ao serviço da Igreja segundo o espírito de São Luís Maria Grignon de Monfort, que me é pessoalmente muito querido.

Há um ano, e também recentemente durante esta última viagem, falei muito da vida sacerdotal e da vida religiosa. Meditai nestes pensamentos, queridos Filhos, pois valem também para vós, com as suas exigências. Tereis assim a certeza de ser fiéis à Igreja. Sede fiéis ao espírito do vosso Santo fundador, à fonte inesgotável de espiritualidade que ele nos deixou, ensinando-nos o sentido da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Segundo a sua palavra: "Abri a porta a Jesus Cristo", em cada um de vós, primeiro, pela vossa vida de oração, e depois nos outros, pela vossa vida missionária. E por isso, sede sempre dóceis às lições interiores da Virgem Imaculada, à qual vos recomendo, com uma especial Bênção Apostólica.

Numerosos peregrinos representam hoje as dioceses de Clermont-Ferrand e de Moulins. Sejam bem-vindos. Faço votos por que aprofundem o sentido de Igreja a fim de que depois sintam mais convicção e mais generosidade na sua vida cristã. Abençoo-os de todo o coração.

Aos Membros do Conselho Mundial da Ordem Franciscana Secular
E agora uma particular saudação a vós, Membros da Ordem Franciscana Secular mais conhecida por Ordem Terceira, que tivestes nestes dias, em Assis, a II Assembleia Plenária. Sei que, convosco, estão alguns Observadores Anglicanos aos quais tenho o prazer de dar cordiais boas-vindas.

A todos dirijo a minha palavra sincera de apreço pela vontade que demonstrais em confirmar-vos cada vez mais nos valores evangélicos da Regra Franciscana; quero sobretudo encorajar-vos a que prossigais simples e alegremente no vosso genuíno testemunho cristão oferecido ao mundo.

Faço minha, portanto, a aprovação dada à Regra pelo Papa Paulo VI, de venerada memória, pouco antes da sua morte, com o Breve Seraphicus Patriarcha, e faço votos por que muitos Leigos possam encontrar nela um válido ponto de referência para a edificação da própria vida quotidiana no único fundamento seguro que é Jesus Cristo (cfr. 1 Cor 3, 11).

Em penhor destes votos e como sinal da minha benevolência, concedo, de coração, a todos vós e a todos aqueles que dignamente representais, a propiciadora Bênção Apostólica.

Aos Jovens
Uma cordial saudação a vós Jovens, que, como sempre, fazeis vibrar esta Praça de São Pedro com a vossa exuberante alegria.

Agradeço-vos esta vossa visita e o conforto que ela me proporciona ao ver-vos assim tão entusiastas na manifestação da vossa fé em Cristo e ao mesmo tempo, tão perto do seu Vigário na terra.

Fazendo eco aos meus encontros com os vossos companheiros da Irlanda e dos Estados Unidos da América, e aos repetidos apelos à justiça, à liberdade e à paz, que por ocasião da minha recente viagem apostólica dirigi, exorto-vos sobretudo, a vós filhos da nova geração, a que estejais sempre na vanguarda, com aquele ardor que sabeis pôr em tudo o que é grande e nobre, na defesa e na promoção destes inalienáveis valores, indispensáveis a cada cristão que ambiciona seguir seriamente a Cristo. Seja-vos de ajuda neste esforço o exemplo de Cristo e a sua corroborante assistência.

Aos Doentes
A vós doentes, que trazeis no vosso corpo e no vosso espírito as chagas de Cristo (Gál 6, 17), dirijo de modo muito particular, a minha paterna, afectuosa e abençoadora palavra.

Agredeço-vos a vossa preciosa presença, que oferece ao olhar de todos nós um testemunho sofrido de fortaleza cristã. de coragem e de fé: virtudes estas que vos amparam nas duras provas a que fostes misteriosamente chamados e. ao mesmo tempo, fazem reflectir os outros no verdadeiro significado desta vida terrena tão frágil e efémera, e tão incompreensível sem uma fé superior. Por conseguinte, vós sois os benfeitores da humanidade. O Senhor vos recompense e vos conforte no vosso sofrimento.

Aos jovens Casais
Uma especial saudação vai agora para os jovens esposos, que depois do seu matrimónio vieram junto do Papa receber a Bênção para a sua união matrimonial e para a família que nascerá.

Ao mesmo tempo que vos felicito e vos expresso bons votos por este passo decisivo, que permanecerá no centro da vossa vida, agradeço terdes vindo aqui testemunhar perante a comunidade cristã a beleza e a grandeza do Sacramento, instituído por Jesus para santificar o amor e torná-lo estável. Oxalá o vosso exemplo seja para os mais jovens um apelo salutar aos princípios cristãos, os únicos que podem garantir ao lar doméstico a verdadeira e duradoira felicidade.
A minha Bênção vos acompanhe sempre.

Aos neo-sacerdotes do Pontifício Colégio Germânico-Húngaro
Desejo, nesta audiência, dar boas-vindas muito cordiais aos neo-sacerdotes do Pontifício Colégio Germânico-Húngaro, acompanhados pelos seus pais, familiares e amigos.

Felicito-vos de coração, como meus jovens colaboradores no sacerdócio, pela animosa decisão de consagrardes a vossa vida, como sacerdotes, totalmente ao serviço de Cristo e da Igreja. Quem puder compreender, compreenda! (Mt 19, 12). Estas palavras do Senhor valem hoje mais do que nunca para a eleição da função sacerdotal. A vossa vocação e antes de tudo uma graça, um dom, que deve ser aceite, certamente, com alegria e disposição para o sacrifício. Vós fizeste-lo assistidos pela graça de Deus. Uma das vossas tarefas mais importantes será agora cuidar com zelo e guardar diligentemente esse dom precioso. Só assim será deveras fecunda a vossa tarefa sacerdotal nas comunidades. Oxalá os vossos pais e os vossos familiares continuem ao vosso lado no futuro e vos acompanhem com as suas orações.

A vós, a eles, aos vossos amigos e a todo o Colégio, concedo, em união espiritual, a minha especial Bênção Apostólica.

domingo, 7 de outubro de 2012

27º DOMINGO DO TEMPO COMUM




Leituras: Gn 2,18-24; Sl 127(128),1-2.3.4-5.6 (R/. cf 5); Hb 2,9-11; Mc 10,2-16)

Antífona da entrada: “Senhor, tudo está em vosso poder, e ninguém pode resistir à vossa vontade. Vós fizestes todas as coisas: o céu, a terra e tudo o que eles contém; sois o Deus do Universo!” (Est 1,9ss)

SANTA MISSA NO «CAPITOL MALL»
HOMILIA DO PAPA JOÃO PAULO II
Washington, 7 de Outubro de 1979

Queridos irmãos e irmãs em Jesus Cristo

1. Um dia Jesus, dialogando com o seu auditório, teve de enfrentar uma tentativa da parte dos Fariseus que tinha em vista levá-l'O a aprovar as suas opiniões sobre a natureza do matrimónio. Jesus respondeu reafirmando o ensinamento da Sagrada Escritura: No princípio da criação, Deus fê-los homem e mulher. Por causa disso deixará o homem seu pai e sua mãe; e passarão os dois a ser uma só carne. Portanto, já não são dois, mas uma só carne. Aquilo, pois, que Deus uniu não o separe o homem (Mc 10, 6-9).

O Evangelho segundo São Marcos refere-se logo depois à descrição de uma cena que bem conhecemos. Esta cena mostra-nos a indignação de Jesus ao notar que os seus discípulos procuravam impedir que as pessoas trouxessem os seus filhos junto d'Ele. E disse: Deixai vir a Mim as criancinhas, não as afasteis, pois a elas pertence o reino dos Céus... Depois, tomou-as nos braços e abençoou-as impondo-lhes as mãos (Mc 10, 14-16). Ao propor-nos estas leituras, a liturgia hodierna convida-nos a todos a reflectir em três temas estritamente conexos entre si: a natureza do matrimónio, a família e o valor da vida.

2. É para mim grande alegria deter-me a reflectir convosco na palavra de Deus que a Igreja hoje nos propõe, porque os Bispos de todo o mundo estão discutindo sobre o matrimónio e sobre a vida da família em todas as Dioceses e nações. Os Bispos estão a fazer isto em preparação do próximo Sínodo mundial dos Bispos, que tem como tema: "O papel da Família cristã no mundo contemporâneo". E foram precisamente os vossos Bispos que designaram o próximo ano como ano de estudo, planificação e renovação pastoral da família. Por várias razões há no mundo um renovado interesse pelo matrimónio, a vida da família e o valor da vida humana.

O domingo de hoje assinala o princípio do anual "Programa para o respeito da vida", graças ao qual a Igreja dos Estados Unidos pretende insistir na própria convicção da inviolabilidade da vida humana em todas as suas fases. Renovemos, pois, todos juntos, o nosso respeito pelo valor da vida humana, lembrando-nos que, mediante Cristo, toda a vida humana foi remida.

3. Não hesito em proclamar, perante todos vós e perante todo o mundo, que cada vida humana — desde o momento da sua concepção e durante todas as fases que se seguem — é sagrada, porque a vida humana é criada à imagem e semelhança de Deus. Nada supera a grandeza nem a dignidade da pessoa humana. A vida humana não é apenas uma ideia ou uma abstracção; a vida humana é a realidade concreta de um ser que é capaz de amor e de serviço para com a humanidade.

Permiti-me que repita aquilo que disse durante a peregrinação à minha terra: "Se se inflige o direito do homem à vida no momento em que ele começa a ser concebido no seio materno, ataca-se indirectamente toda a ordem moral que serve para assegurar os bens invioláveis do homem. A vida ocupa entre eles o primeiro lugar. A Igreja defende o direito à vida, não só por respeito à majestade do Criador que é o primeiro dador desta vida, mas também por respeito ao bem essencial do homem" (João Paulo II, Homilia em Towy Targ; em L'Oss. Rom., ed. port., 15.7.79, p. 6).

4. A vida humana é preciosa porque é um dom de Deus cujo amor é infinito: e quando Deus dá a vida, dá-a para sempre. A vida é também preciosa porque é a expressão e o fruto do amor. É esta a razão pela qual a vida deve ter origem no contexto dó matrimónio e pela qual o matrimónio e o amor recíproco dos pais devem ser caracterizados pela generosidade em prodigar-se. O grande perigo para a vida da família numa sociedade cujos ídolos são o prazer, a comodidade e a independência, está no facto de os homens fecharem o coração e tornarem-se egoístas. O medo de um compromisso permanente pode transformar o amor mútuo entre marido e mulher em dois amores de si próprios — dois amores que existem um ao pé do outro, até acabarem por separar-se.

No sacramento do matrimónio o homem e a mulher — que pelo Baptismo se tornaram membros de Cristo e têm o dever de manifestar na sua vida as atitudes de Cristo — recebem a certeza do auxílio de que têm necessidade para o próprio amor crescer numa união fiel e indissolúvel e para conseguirem responder generosamente ao dom da paternidade. Como declarou o Concílio Vaticano II: "Por meio deste Sacramento, o próprio Cristo torna-se presente na vida dos cônjuges e acompanha-os, a fim de que possam amar-se mutuamente e amar os seus filhós, precisamente como Cristo amou a sua Igreja e se deu a si mesmo por ela" (Cfr. Gaudium et Spes, 48; Ef 5, 25).

5. Para que o matrimónio cristão favoreça o bem total e o desenvolvimento do casal, deve ser inspirado pelo Evangelho, e assim abrir-se à nova vida — nova vida dada e aceita generosamente. Os cônjuges são também chamados a criar uma atmosfera familiar em que os filhos sejam felizes e vivam plena e dignamente uma vida humana e cristã.

Para ser possível viver-se uma vida familiar alegre, impõem-se sacrifícios quer da parte dos pais quer da parte dos filhos. Cada membro da família deve tornar-se, de modo especial, o servo dos outros compartilhando as cargas deles. É necessário cada um ter a solicitude não só da própria vida, mas também da vida dos outros membros da família: das suas carências, das suas esperanças e dos seus ideais. As decisões a propósito do número dos filhos e dos sacrifícios que daí derivam não devem ser tomadas só em vista de aumentar as próprias comodidades e manter uma existência tranquila. Reflectindo neste ponto diante de Deus, ajudados pela graça que vem do Sacramento, e guiados pelos ensinamentos da Igreja, os pais recordarão a si próprios que é mal menor negar aos próprios filhos certas comodidades e vantagens materiais do que privá-los da presença de irmãos e irmãs que poderiam ajudá-los a desenvolver a sua humanidade e a realizar a beleza da vida em todas as suas fases e em toda a sua variedade.

Se os pais compreendessem plenamente as exigências e as oportunidades encerradas neste grande Sacramento, não deixariam de se unir a Maria no hino de louvor ao Autor da vida — a Deus —, que os escolheu como seus colaboradores.

6. Todos os seres humanos deveriam apreciar a individualidade de cada pessoa como criatura de Deus, chamada a ser irmão ou irmã de Cristo em razão da Encarnação e da Redenção Universal. Para nós a sacralidade da pessoa humana é fundada nestas premissas. E é nestas mesmas premissas que se funda a nossa celebração da vida — de toda a vida humana. Isto explica os nossos esforços para defender a vida humana de qualquer influência ou acção que a possa ameaçar ou debilitar, assim como os nossos esforços para tornar cada vida mais humana em todos os seus aspectos.

Por conseguinte, reagiremos todas as vezes que a vida humana for ameaçada. Quando o carácter sagrado da vida antes do nascimento for atacado, nós reagiremos para proclamar que ninguém tem o direito de destruir a vida antes do nascimento. Quando se falar de uma criança como de um peso ou se considera a mesma como meio para satisfazer uma necessidade emocional, nós interviremos para insistir em que todas as crianças são dom Único e irrepetível de Deus, que têm direito a uma família unida no amor. Quando a instituição do matrimónio for abandonada ao egoísmo humano e reduzida a um acordo temporâneo e condicional que se pode dissolver facilmente, nós reagiremos afirmando a indissolubilidade do vínculo matrimonial. Quando o valor da família for ameaçado por pressões sociais e económicas, nós reagiremos reafirmando que a família é necessária não só para o bem privado de cada pessoa, mas também para o bem comum de cada sociedade, nação e estado (João Paulo II, Audiência Geral, 3.1.79). Quando depois a liberdade for usada para sujeitar os fracos, esbanjar as riquezas naturais e a energia, e para negar aos homens as necessidades essenciais, nós reagiremos para reafirmar os princípios da justiça e do amor social. Quando os doentes, os anciãos ou os moribundos forem abandonados, nós reagiremos proclamando que eles são dignos de amor, de solicitude e de respeito.

Faço minhas as palavras que Paulo VI dirigiu o ano passado aos Bispos Americanos: "Estamos convencidos, além disso, que todos os esforços empreendidos para salvaguardar os direitos humanos beneficiam actualmente a vida em si mesma. Tudo o que se dirige — no direito ou nos factos — a banir a discriminação baseada na 'raça, origem, cor, cultura, sexo ou religião' (cfr. Octogesima Adveniens, 16), é serviço prestado à vida. Quando os direitos das minorias, são protegidos, quando os diminuídos mental ou fisicamente são assistidos, quando é concedida voz aos marginalizados da sociedade, em todos estes casos, são favorecidas a dignidade da vida humana, a plenitude da vida humana e a santidade da vida humana... Em especial, cada contribuição para melhorar o clima moral da sociedade e enfrentar a permissividade e o hedonismo, e ainda toda a assistência à família, que é a fonte da nova vida, tudo isso é favorecer os valores da vida" (Paulo VI, Discurso aos Bispos Americanos, em L'Oss. Rom., ed. port. 4.6.1978. p. 4).

8. Muito está ainda por fazer a fim de se conseguir ajudar aqueles cuja vida é ameaçada e reavivar a esperança daqueles que têm medo da vida. Requer-se coragem para resistir às pressões e aos falsos "slogans", para proclamar a dignidade suprema de cada vida, e exigir que a própria sociedade a proteja. Desejo pois dirigir uma palavra de louvor a todos os membros da Igreja Católica e das outras Igrejas cristãs, a todos os homens e mulheres da herança judeo-cristã, assim como a todos os homens de boa vontade, a fim de se unirem num esforço comum para a defesa da vida na sua plenitude e para a promoção de todos os direitos humanos:

A nossa celebração da vida faz parte da nossa celebração da Eucaristia. Nosso Senhor e Salvador, mediante a Sua morte e Ressurreição, tornou-se para nós "o pão da vida" e o penhor da vida eterna. N'Ele encontramos a coragem, a perseverança e a inventiva de que temos necessidade para promover e defender a vida nas nossas famílias e no mundo inteiro.

Queridos irmãos e irmãs: temos confiança em que Maria, Mãe de Deus e Mãe da Vida, nos dará a sua ajuda para que o nosso modo de viver reflicta sempre a nossa admiração e reconhecimento pelo dom do amor de Deus que é a vida. Sabemos que Ela nos ajudará a usar todos os dias que nos são dados como oportunidade para defender a vida antes do nascimento e para tornar mais humana a vida dos nossos irmãos, onde quer que eles se encontrem.

A intercessão de Nossa Senhora do Rosário, cuja festa celebramos hoje, nos conceda podermos todos chegar um dia à plenitude da vida em Cristo Jesus nosso Senhor. Amém.

sábado, 6 de outubro de 2012

São Bruno, presbítero




Em meados do primeiro milênio depois de Cristo, Hugo, o bispo da diocese francesa de Grenoble, sonhou certa vez com sete estrelas que brilhavam sobre um lugar escuro, muito deserto. Achou estranho. Algum tempo depois, foi procurado por sete nobres e ricos, que queriam converter-se à vida religiosa e buscavam sua orientação, por causa da santidade e do prestígio do bispo.

Hugo, reconhecendo na situação o sonho que tivera, ouviu-os com atenção e ofereceu-lhes fazer sua obra num lugar de difícil acesso, solitário, árido e inóspito. Assim, tiveram todo o seu apoio episcopal. Esses homens buscavam apenas o total silêncio e solidão para orar e meditar. Tudo o que desejavam, ou seja, queriam atingir a elevação espiritual, cortando definitivamente as relações com as coisas mundanas. Eles eram Bruno e seus primeiros seis seguidores e a ordem que fundaram foi a dos monges cartuxos.

Bruno era um nobre e rico fidalgo alemão, que nasceu e cresceu na bela cidade de Colônia. Sua família era conhecida pela piedade e fervorosa devoção cristã. Cedo aquele jovem elegante resolveu abandonar a vida de vaidades e prazeres, que considerava inútil, sem sentido e improdutiva. Como era propício à nobreza, foi estudar na França e Itália. No primeiro país concluiu os estudos na escola da diocese de Reims, onde também se ordenou e posteriormente lecionou teologia. Como aluno, teve até mesmo um futuro papa.

Mas também conhecia a fama de santidade do bispo de Grenoble, por isso decidiu procurá-lo. Assim, no lugar indicado por ele, Bruno liderou a construção da primeira Casa de Oração, com pequenas celas ao redor. Nascia a Ordem dos monges Cartuxos, cujas Regras foram aprovadas em 1176, mas ele já havia morrido. Lá, ele e seus discípulos se obrigaram ao silêncio permanente e absoluto. Oravam, trabalhavam, repousavam e comiam, mas no mais absoluto e total silêncio.

Em 1090, o sumo pontífice era seu ex-aluno, que, tomando o nome de papa Urbano II, chamou Bruno para ser seu conselheiro. Ele, devendo obediência, abandonou aquele lugar ermo que amava profundamente. Porém não resistiu muito em Roma. Logo obteve aprovação do papa para construir seu mosteiro de Grenoble e também a autorização para fundar outra Casa da Ordem dos Cartuxos, na Calábria, num local ermo chamado bosque de La Torre, hoje chamado Serra de São Bruno, província de Vito Valentia.

Viveu assim recolhido até que adoeceu gravemente. Chamou, então, os irmãos e fez uma confissão pública da sua vida e reiterou a profissão da sua fé, entregando o espírito a Deus em 6 de outubro de 1101. Gozando de fama de santidade, seu culto ganhou novo impulso em 1515. Na ocasião, o seu corpo, enterrado no cemitério no Convento de La Torre, foi exumado e encontrado completamente intacto, tendo, assim, sua celebração confirmada. Em 1623, o papa Gregório XV declarou Bruno santo da Igreja.

Seguindo o carisma de seu fundador, a Ordem dos Cartuxos é uma das mais austeras da Igreja Católica e seguiu assim ao longo dos tempos, como ele mesmo previu: "Nunca será reformada, porque nunca será deformada". Entretanto, atualmente, conta apenas com dezenove mosteiros espalhados pelo mundo todo.

Oração
Ó Deus, que chamastes São Bruno a vos servir na solidão, dai que, por suas preces, estejamos sempre voltados para vós, em meio à agitação do mundo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

São Benedito, o Negro, religioso




Hoje é um dia muito especial para o povo brasileiro. Comemora-se o dia de são Benedito, um dos santos mais queridos e cuja devoção é muito popular no Brasil. Cultuado inicialmente pelos escravos negros, por causa da cor de sua pele e de sua origem - era africano e negro -, passou a ser amado por toda a população como exemplo da humildade e da pobreza. Esse fato também lhe valeu o apelido que tinha em vida, "o Mouro". Tal adjetivo, em italiano, é usado para todas as pessoas de pele escura e não apenas para os procedentes do Oriente. Já entre nós ele é chamado de são Benedito, o Negro, ou apenas "o santo Negro".

Há tanta identificação com a cristandade brasileira que até sua comemoração tem uma data só nossa. Embora em todo o mundo sua festa seja celebrada em 4 de abril, data de sua morte, no Brasil ela é celebrada, desde 1983, em 5 de outubro, por uma especial deferência canônica concedida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB.

Benedito Manasseri nasceu em 1526, na pequena aldeia de São Fratelo, em Messina, na ilha da Sicília, Itália. Era filho de africanos escravos vendidos na ilha. O seu pai, Cristóforo, herdou o nome do seu patrão, e tinha se casado com sua mãe, Diana Lancari. O casamento foi um sacramento cristão, pois eram católicos fervorosos. Considerados pela família à qual pertenciam, quando o primogênito Benedito nasceu foram alforriados junto com a criança, que recebeu o sobrenome dos Manasseri, seus padrinhos de batismo.

Cresceu pastoreando rebanhos nas montanhas da ilha e, desde pequeno, demonstrava tanto apego a Deus e à religião que os amigos, brincando, profetizavam: "Nosso santo mouro". Aos vinte e um anos de idade, ingressou entre os eremitas da Irmandade de São Francisco de Assis, fundada por Jerônimo Lanza sob a Regra franciscana, em Palermo, capital da Sicília. E tornou-se um religioso exemplar, primando pelo espírito de oração, pela humildade, pela obediência e pela alegria numa vida de extrema penitência.

Na Irmandade, exercia a função de simples cozinheiro, era apenas um irmão leigo e analfabeto, mas a sabedoria e o discernimento que demonstrava fizeram com que os superiores o nomeassem mestre de noviços e, mais tarde, foi eleito o superior daquele convento. Mas quando o fundador faleceu, em 1562, o papa Paulo IV extinguiu a Irmandade, ordenando que todos os integrantes se juntassem à verdadeira Ordem de São Francisco de Assis, pois não queria os eremitas pulverizados em irmandades sob o mesmo nome.

Todos obedeceram, até Benedito, que sem pestanejar escolheu o Convento de Santa Maria de Jesus, também em Palermo, onde viveu o restante de sua vida. Ali exerceu, igualmente, as funções mais humildes, como faxineiro e depois cozinheiro, ganhando fama de santidade pelos milagres que se sucediam por intercessão de suas orações.

Eram muitos príncipes, nobres, sacerdotes, teólogos e leigos, enfim, ricos e pobres, todos se dirigiam a ele em busca de conselhos e de orientação espiritual segura. Também foi eleito superior e, quando seu período na direção da comunidade terminou, voltou a reassumir, com alegria, a sua simples função de cozinheiro. E foi na cozinha do convento que ele morreu, no dia 4 de abril de 1589, como um simples frade franciscano, em total desapego às coisas terrenas e à sua própria pessoa, apenas um irmão leigo gozando de grande fama de santidade, que o envolve até os nossos dias.

Foi canonizado em 1807, pelo papa Pio VII. Seu culto se espalhou pelos quatro cantos do planeta. Em 1652, já era o santo padroeiro de Palermo, mais tarde foi aclamado santo padroeiro de toda a população afro-americana, mas especialmente dos cozinheiros e profissionais da nutrição. E mais: na igreja do Convento de Santa Maria de Jesus, na capital siciliana, venera-se uma relíquia de valor incalculável: o corpo do "santo Mouro", profetizado na infância e ainda milagrosamente intacto. Assim foi toda a vida terrena de são Benedito, repleta de virtudes e especiais dons celestiais provindos do Espírito Santo.

Oração
Ó Deus, que em São Benedito, o Negro, manifestais as vossas maravilhas, chamando à vossa Igreja homens de todos os povos, raças e nações, concedei, por sua intercessão, que todos, feitos vossos filhos e filhas pelo batismo, convivam como verdadeiros irmãos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

São Francisco de Assis


Antífona da entrada: Francisco de Assis, homem de Deus, deixou sua casa e sua herança e se fez pobre e desvalido. O Senhor, porém, o acolheu com amor.

Filho de comerciantes, Francisco Bernardone nasceu em Assis, na Umbria, em 1182. Nasceu em berço de ouro, pois a família tinha posses suficientes para que levasse uma vida sem preocupações. Não seguiu a profissão do pai, embora este o desejasse. Alegre, jovial, simpático, era mais chegado às festas, ostentando um ar de príncipe que encantava.

Mas mesmo dado às frivolidades dos eventos sociais, manteve em toda a juventude profunda solidariedade com os pobres. Proclamava jamais negar uma esmola, chegando a dar o próprio manto a um pedinte por não ter dinheiro no momento. Jamais se desviou da educação cristã que recebeu da mãe, mantendo-se casto.

Francisco logo percebeu não ser aquela a vida que almejava. Chegou a lutar numa guerra, mas o coração o chamava à religião. Um dia, despojou-se de todos os bens, até das roupas que usava no momento, entregando-as ao pai revoltado. Passou a dedicar-se aos doentes e aos pobres. Tinha vinte e cinco anos e seu gesto marcou o cristianismo. Foi considerado pelo papa Pio XI o maior imitador de Cristo em sua época.

A partir daí viveu na mais completa miséria, arregimentando cada vez mais seguidores. Fundou a Primeira Ordem, os conhecidos frades franciscanos, em 1209, fixando residência com seus jovens companheiros numa casa pobre e abandonada. Pregava a humildade total e absoluta e o amor aos pássaros e à natureza. Escreveu poemas lindíssimos homenageando-a, ao mesmo tempo que acolhia, sem piscar, todos os doentes e aflitos que o procuravam. Certa vez, ele rezava no monte Alverne com tanta fé que em seu corpo manifestaram-se as chagas de Cristo.

Achando-se indigno, escondeu sempre as marcas sagradas, que só foram descobertas após a sua morte. Hoje, seu exemplo muito frutificou. Fundador de diversas ordens, seus seguidores ainda são respeitados e imitados.

Franciscanos, capuchinhos, conventuais, terceiros e outros são sempre recebidos com carinho e afeto pelo povo de qualquer parte do mundo.

Morreu em 4 de outubro de 1226, com quarenta e quatro anos. Dois anos depois, o papa Gregório IX o canonizou. São Francisco de Assis viveu na pobreza, mas sua obra é de uma riqueza jamais igualada para toda a Igreja Católica e para a humanidade. O Pobrezinho de Assis, por sua vida tão exemplar na imitação de Cristo, foi declarado o santo padroeiro oficial da Itália. Numa terra tão profundamente católica como a Itália, não poderia ter sido outro o escolhido senão são Francisco de Assis, que é, sem dúvida, um dos santos mais amados por devotos do mundo inteiro.

Assim, nada mais adequado ter ele sido escolhido como o padroeiro do meio ambiente e da ecologia. Por isso que no dia de sua festa é comemorado o "Dia Universal da Anistia", o "Dia Mundial da Natureza" e o "Dia Mundial dos Animais". Mas poderia ser, mesmo, o Dia da Caridade e de tantos outros atributos. A data de sua morte foi, ao mesmo tempo, a do nascimento de uma nova consciência mundial de paz, a ser partilhada com a solidariedade total entre os seres humanos de boa vontade, numa convivência respeitosa com a natureza.

Oração
Ó Deus, que fizestes de São Francisco de Assis assemelhar-se ao Cristo por uma vida de humildade e de pobreza, concedei que, trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso Filho, unindo-nos convosco na perfeita alegria. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Beatos André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro e companheiros, protomártires do Brasil


Antífona da entrada: Pelo amor de Cristo, o sangue dos mártires foi derramado na terra. Por isso sua recompensa é eterna.

Dentro da conturbada invasão dos holandeses no nordeste do Brasil, encontram-se os dois martírios coletivos: o de Cunhaú e o de Uruaçu. Estes martírios aconteceram no ano de 1645, sendo que o Pe. André de Soveral e Domingos de Carvalho foram mártires em Cunhaú e o Pe. Ambrósio Francisco Ferro e Mateus Moreira em Uruaçu; dentre outros.

No Engenho de Cunhaú, principal pólo econômico da Capitania do Rio Grande (atual estado do Rio Grande do Norte), existia uma pequena e fervorosa comunidade composta por 70 pessoas sob os cuidados do Pe. André de Soveral. No dia 15 de julho chegou em Cunhaú Jacó Rabe, trazendo consigo seus liderados, os ferozes tapuias, e, além deles, alguns potiguares com o chefe Jerera e soldados holandeses. Jacó Rabe era conhecido por seus saques e desmandos, feitos com a conivência dos holandeses, deixando um rastro de destruição por onde passava.

Dizendo-se em missão oficial pelo Supremo Conselho Holandês do Recife, convoca a população para ouvir as ordens do Conselho após a missa dominical no dia seguinte. Durante a Santa Missa, após a elevação da hóstia e do cálice, a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da igreja e se deu início à terrível carnificina: os fiéis em oração, tomados de surpresa e completamente indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelos flamengos com a ajuda dos tapuias e dos potiguares.

A notícia do massacre de Cunhaú espalhou-se por todo o Rio Grande e capitanias vizinhas, mesmo suspeitando dessa conivência do governo holandês, alguns moradores influentes pediram asilo ao comandante da Fortaleza dos Reis Magos. Assim, foram recebidos como hóspedes o vigário Pe. Ambrósio Francisco Ferro, Antônio Vilela, o Moço, Francisco de Bastos, Diogo Pereira e José do Porto. Os outros moradores, a grande maioria, não podendo ficar no Forte, assumiram a sua própria defesa, construindo uma fortificação na pequena cidade de Potengi, a 25 km de Fortaleza.

Enquanto isso, Jacó Rabe prosseguia com seus crimes. Após passar por várias localidades do Rio Grande e da Paraíba, Rabe foi então à Potengi, e encontrou heróica resistência armada dos fortificados. Como sabiam que ele mandara matar os inocentes de Cunhaú, resistiram o mais que puderam, por 16 dias, até que chegaram duas peças de artilharia vindas da Fortaleza dos Reis Magos. Não tinham como enfrentá-las. Depuseram as armas e entregaram-se nas mãos de Deus.

Cinco reféns foram levados à Fortaleza: Estêvão Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira e Simão Correia. Desse modo, os moradores do Rio Grande ficaram em dois grupos: 12 na Fortaleza e o restante sob custódia em Potengi.

Dia 2 de outubro chegaram ordens de Recife mandando matar todos os moradores, o que foi feito no dia seguinte, 3 de outubro. Os holandeses decidiram eliminar primeiro os 12 da Fortaleza, por serem pessoas influentes, servindo de exemplo: o vigário, um escabino, um rico proprietário.

Foram embarcados e levados rio acima para o porto de Uruaçu. Lá os esperava o chefe indígena potiguar Antônio Paraopaba e um pelotão armado de duzentos índios seus comandados. Repetiram-se então as piores atrocidades e barbáries, que os próprios cronistas da época sentiam pejo em contá-las, porque atentavam às leis da moral e modéstia.

Um deles, Mateus Moreira, estando ainda vivo, foi-lhe arrancado o coração das costas, mas ele ainda teve forças para proclamar a sua fé na Eucaristia, dizendo: "Louvado seja o Santíssimo Sacramento".

A 5 de março de 2000, na Praça de São Pedro, no Vaticano, o Papa João Paulo II beatificou os 30 protomártires brasileiros, sendo 2 sacerdotes e 28 leigos beatificados.

Protomártires do Brasil, rogai por nós!

Oração

Deus de misericórdia, aumentai em nós a fé que, conservada à custa do próprio sangue, glorificou vossos mártires bem-aventurados André, Ambrósio e companheiros. Dai-nos também ser santificados pela vivência da mesma fé. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

LEITURA ORANTE: A perda é salvação

Quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os que, nesta rede da...