quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Aprendendo a viver


Reflexões espirituais de Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará

BELÉM DO PARÁ, segunda-feira, 17 de setembro de 2012 (ZENIT.org) - “Jesus e seus discípulos atravessavam a Galileia, mas ele não queria que ninguém o soubesse. Ele ensinava seus discípulos” (Mc 9,30-31). Jesus foi reconhecido e chamado muitas vezes de Rabi, Mestre. Reuniu em torno de si discípulos que dele aprendiam as lições da vida, aproveitando os encontros e desencontros diários. Uma das mais incômodas de tais lições, e a mais decisiva, foi o anúncio da paixão, repetida pelo menos três vezes. “Mas eles não compreendiam o que lhes dizia e tinham medo de perguntar” (Mc 9,32). Eram como estudantes cujo interesse não tem coragem de ir ao fundo das questões. No final das contas, na hora decisiva, a “turma de alunos” se dispersou. Após a Ressurreição, “Jesus apareceu aos onze discípulos, enquanto estavam comendo. Ele os criticou pela falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que o tinham visto ressuscitado” (Mc 16, 14). Com eles e muitas vezes gazeteiros na Escola do discipulado, aprendamos de novo.

Quando crianças, nossos pais nos ensinaram lições de civilidade. Quantas vezes ouvimos recomendações tão concretas e importantes: não “avançar” na comida, esperar os outros servirem primeiro, dizer “muito obrigado”, pedir a bênção, lavar as mãos, prestar atenção, não dizer palavrões! E se cristãs as nossas famílias, tivemos a alegria de ouvir que o que se faz ao próximo, é ao próprio Jesus que se faz. Quantas e belas lições nos deixaram os gestos de caridade dos que nos precederam no caminho da vida, imprimindo em nossos corações valores que dão um timbre diferente ao que fazemos pela vida afora. Como “é de pequeno que se torce o pepino”, ou aprendemos cedo ou então podemos converter-nos, fazendo-nos crianças depois de grandes!

Os discípulos de Jesus entraram continuamente na escola. Quando disputavam os primeiros lugares ou queriam saber quem era o maior, Jesus convida, numa das lições mais preciosas, a assumirem o último lugar, o espaço do serviço humilde, superando as competições, “criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos outros (Cf. Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes” (Novo Millenio ineunte 43).

O mundo competitivo em que vivemos convida a uma corrida tantas vezes desenfreada e desrespeitosa à dignidade e aos direitos básicos das pessoas humanas. No vale-tudo cotidiano, percorre-se um roteiro que vai do troco da mercearia às grandes fortunas alcançadas a preço de corrupção, lavagem de dinheiro e outras mazelas hoje postas à vista de todos, inclusive nos julgamentos realizados nas mais altas esferas da magistratura e que podem ser assistidos pelos meios de comunicação. Para passar à frente, conquistar e manter o poder, os limites éticos são ignorados ou desprezados e as cifras, descritas pelo menos em milhões, causam indignação aos que têm um mínimo de consciência da cidadania. Menos mal que alguma luz, esperamos consistente, aparece no fundo do túnel.

A disputa pelo poder legislativo e executivo municipal, corrente nos dias que precedem as eleições, é legítima numa sociedade democrática, mas cabe aos cidadãos o filtro da consciência que lhes possibilite decidir bem, alçando aos cargos em jogo pessoas que sejam dignas, as melhores ou pelo menos as “menos piores”.

Se nos referimos às raízes familiares das pessoas no processo educativo, vale aqui recomendar com simplicidade e clareza a todos que os candidatos aos cargos devem ter uma folha de serviços que possibilite conferir o que fizeram e como fizeram pelo bem da sociedade. É bom saber com que “companhia” andaram ou andam, para recordar os antigos e sábios conselhos dos mais velhos. Quem compartilhou aventuras com as muitas quadrilhas existentes, pode até mudar, mas é bom verificar com calma. Foram ainda os nossos pais que ensinaram o quanto são complicadas as pessoas que contam muitas vantagens. O valentão da esquina, o que pensa ser dono da rua ou do mundo, costuma ter muita coisa a esconder! Espero que sejamos mais sábios, pois as promessas correntes nas campanhas são tantas vezes irreais.

Enfim, há valores para nós cristãos irrenunciáveis: a vida desde a fecundação até seu ocaso natural, o plano de Deus que criou o homem e a mulher, no maravilhoso projeto de realização descrito no livro do Gênesis, a dignidade do matrimônio e da família, a não interferência dos poderes públicos na paternidade e maternidade responsáveis, a liberdade religiosa, ao lado de outros deles decorrentes. Dentro de tal horizonte, restam-nos alguns dias para refletir e decidir conscientemente. O Senhor nos ajude, para que possamos contribuir para uma sociedade mais digna e justa.

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Dom Raymundo Damasceno fala sobre Campanha Eleitoral




O cardeal dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da CNBB, concedeu entrevista aos principais jornais de São Paulo, no dia 15 de setembro, na qual afirma que "A Igreja não pode ter pretensões de poder". O jornal O Estado de São Paulo considerou as palavras do cardeal no contexto das discussões sobre participação política de igrejas na campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo (SP).

Leia, na íntegra,  matéria assinada por Roldão Arruda, publicada neste sábado, 15 de setembro, no jornal "O Estado de São Paulo":
As declarações do presidente da CNBB e arcebispo de Aparecida ocorrem um dia após a divulgação de uma nota da Arquidiocese de São Paulo com ataques ao PRB, partido de Celso Russomanno, líder nas pesquisas.

O texto, redigido a pedido do arcebispo d. Odilo Scherer, acusa diretamente o presidente do partido e coordenador da campanha de Russomanno, Marcos Pereira, pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. Diz que ele, em artigo publicado em maio de 2011, fomentou a discórdia e fez críticas destemperadas aos católicos – texto publicado no blog de Pereira vinculava a Igreja Católica ao chamado "kit gay", material que se propunha a combater a homofobia. "Se já fomentam a discórdia, ataques e ofensas sem o poder, o que esperar se o conquistarem pelo voto?", disse a nota da Arquidiocese de São Paulo.

Apesar de ter sido publicado há um ano e meio, o artigo do presidente do PRB voltou a circular nas redes sociais depois que um usuário falso no Twitter passou a enviá-lo várias vezes ao dia a padres e ao perfil do próprio arcebispo. A página falsa foi criada no dia 10 e só publicou mensagens sobre o texto de Pereira.

Na sexta, ao comentar a mistura entre religião e política na campanha eleitoral de São Paulo, d. Raymundo foi enfático: "A posição da Igreja Católica, enquanto instituição, é de que não deve assumir nenhuma posição político-partidária. O papa Bento 16, numa de suas encíclicas, Deus É Amor, foi muito claro ao dizer que a Igreja não pode nem deve tomar nas suas mãos a batalha política. Isso é próprio dos políticos, dos leigos. A Igreja não pode ter pretensões de poder."

Indagado se tal posicionamento deveria valer para outras igrejas, respondeu: "Dentro da minha perspectiva, valeria. No mundo democrático, o papel que cabe ao Estado e aos leigos não é o mesmo da igreja, cuja função é de orientar o eleitor." Ainda segundo o líder da CNBB, "não cabe à igreja assumir papel de protagonista no campo político".

D. Raymundo contou que, assim como líderes evangélicos, também é procurado por políticos de diferentes partidos e que essas visitas são mais frequentes nos períodos de eleições para governador e presidente.

"Sempre o fazem de maneira discreta, sem fotógrafos, nem assessores de imprensa", disse. "Vêm para dialogar e mostrar seus projetos. Eu sempre digo que podem contar com o meu apoio em tudo aquilo que diz respeito ao bem da cidade e da população, independentemente de seu partido. Não podemos instrumentalizar a religião para angariar votos, evidentemente."

O presidente da CNBB não quis comentar diretamente a nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo, alegando que não havia tido acesso à sua íntegra.

Acompanhamento
Dom Raymundo disse que a Igreja acompanha o processo eleitoral em todo o País, com orientações para o voto consciente e estímulos aos leigos que desejam participar como candidato. "A Igreja estimula, apoia, vê com bons olhos o leigo que se sente chamado para a política", afirmou. "Queremos que ele não tenha medo de assumir posições político-partidárias. Isso é fundamental, porque a sociedade justa vai ser resultado da ação de homens políticos, homens públicos. Eles é que devem trabalhar para uma sociedade mais solidária."
Já ao jornal Folha de São Paulo,o cardeal afirmou que a Igreja não quer se colocar no lugar dos políticos.

Leia a íntegra da matéria escrita por Daneil Carvalho para a Folha de São Paulo:
Um dia após a Arquidiocese de São Paulo ter atacado a Igreja Universal, o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Raymundo Damasceno, 75, disse nesta sexta-feira (14) que a Igreja Católica não quer se colocar no lugar dos políticos.

"Damos critérios e deixamos o eleitor muito livre no exercício de seu direito e dever. O papa diz muito claramente que a Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política. Isso é próprio do político, do Estado", declarou.

"A Igreja não quer se colocar no lugar dos políticos, não quer se colocar no lugar do Estado. Mas a Igreja não pode ignorar a política", completou o arcebispo de Aparecida (180 km de São Paulo).

Especificamente sobre a nota da Arquidiocese de SP que ressalta a ligação de Celso Russomanno (PRB) com os evangélicos, dom Raymundo disse que não leu o texto e que essa foi uma "orientação" pontual "porque o problema é lá [SP]".

"Aqui [em Aparecida] não estou tendo nenhum problema com a [Igreja] Universal. Cada diocese tem sua realidade própria", afirmou.
Dom Raymundo recebeu a Folha em sua sala, no Seminário Bom Jesus, em Aparecida. Sentado na cabeceira de uma mesa de reuniões, começou a conversa consultando papéis onde havia frases prontas. Ao longo da conversa, livrou-se do roteiro, mas procurou evitar polêmicas todo o tempo.

Questionado sobre o uso da estrutura da Universal para campanha de Russomanno, por exemplo, disse: "Não entraria nisso porque não é da Igreja Católica. Não sei como eles veem essas questões. Falo da nossa orientação. Você não vê nenhum bispo tomando partido político de nenhum candidato".

Segundo ele, a Igreja Católica só faria campanha eleitoral diante de um caso excepcional: "Por exemplo, todos os candidatos contra a Igreja. Aí, é claro, tem que tomar partido. O correto é orientar, dar critérios, formar".

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

"Chegado o momento da partida, é com pena que deixo este querido Líbano" - Bento XVI de volta a Roma




Apresentamos o discurso pronunciado por Bento XVI no Aeroporto Internacional de Rafiq Hariri de Beirute, ao fim de sua Viagem Apostólica ao Líbano.

Senhor Presidente da República,
Senhores Presidentes do Parlamento e do Conselho de Ministros,
Suas Beatitudes, amados Irmãos no Episcopado,
Ilustres Autoridades civis e religiosas,
Queridos amigos!

Chegado o momento da partida, é com pena que deixo este querido Líbano. Agradeço-lhe, Senhor Presidente, as suas palavras e o ter favorecido, com o Governo cujos Representantes saúdo, a organização dos diversos acontecimentos que marcaram a minha presença no vosso meio, assistida de forma notável pela eficiência dos diversos serviços da República e do setor privado. Agradeço também ao Patriarca Béchara Boutros Raï e a todos os Patriarcas presentes bem como aos Bispos orientais e latinos, aos presbíteros e aos diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas e aos fiéis que se deslocaram para me receber. Visitando-vos, é como se Pedro viesse ter convosco, e vós recebestes Pedro com a cordialidade que caracteriza as vossas Igrejas e a vossa cultura.

Os meus agradecimentos dirigem-se de modo particular para todo o povo libanês, que forma um belo e rico mosaico e que soube manifestar ao Sucessor de Pedro o seu entusiasmo, graças à contribuição multiforme e específica de cada comunidade. Agradeço cordialmente às veneráveis Igrejas irmãs e às comunidades protestantes. Agradeço de modo particular aos representantes das comunidades muçulmanas. Durante toda a minha estadia, pude constatar quanto a vossa presença contribuiu para o bom êxito da minha viagem. O mundo árabe e o mundo inteiro verão, nestes tempos conturbados, cristãos e muçulmanos reunidos para celebrar a paz. É tradicional no Médio Oriente receber o hóspede de passagem com consideração e respeito, e assim o fizestes. A todos agradeço. Mas, à consideração e ao respeito, juntastes um complemento, que se pode comparar a uma daquelas famosas especiarias orientais que enriquece o sabor dos alimentos: o vosso calor e o vosso coração, que me deixaram o desejo de voltar. Eu vo-lo agradeço de forma particular. Deus vos abençoe por isso.

Durante a minha breve estadia, motivada principalmente pela assinatura e entrega da Exortação apostólica Ecclesia in Medio Oriente, pude encontrar os diversos componentes da vossa sociedade. Houve momentos mais oficiais, outros mais íntimos, momentos de alta densidade religiosa e fervorosa oração, e outros ainda marcados pelo entusiasmo da juventude. Dou graças a Deus por estas oportunidades que Ele permitiu, pelos encontros qualificados que pude ter, e pela oração que foi feita por todos e a favor de todos no Líbano e no Médio Oriente, independentemente da origem ou da confissão religiosa de cada um.

Na sua sabedoria, Salomão fez apelo a Hiram de Tiro para o ajudar na construção duma casa ao nome de Deus, um santuário para a eternidade (cf. Sir 47, 13). E Hiram, que evoquei à minha chegada, enviou madeira dos cedros do Líbano (cf. 1 Rs 5, 22). Todo o interior do Templo era revestido de cedro em tábuas entalhadas com flores e frutos (cf. 1 Rs 6, 18). O Líbano estava presente no santuário de Deus. Oxalá o Líbano de hoje, com os seus habitantes, continue a estar presente no santuário de Deus. Possa o Líbano continuar a ser um espaço onde os homens e as mulheres vivam em harmonia e paz uns com os outros, para darem ao mundo, não apenas o testemunho da existência de Deus – primeiro tema do Sínodo passado – mas igualmente o da comunhão entre os homens – segundo tema do Sínodo –, qualquer que seja a sua sensibilidade política, comunitária e religiosa.

Rezo a Deus pelo Líbano, para que viva em paz e resista com coragem a tudo o que poderia destrui-la ou ameaçá-la. Desejo que o Líbano continue a permitir a pluralidade das tradições religiosas e a não dar ouvidos à voz daqueles que a querem impedir. Espero que o Líbano reforce a comunhão entre todos os seus habitantes, seja qual for a comunidade e religião a que pertençam, rejeitando decididamente tudo o que poderia levar à desunião e optando com determinação pela fraternidade. Estas são as flores agradáveis a Deus, virtudes que são possíveis e conviria consolidá-las com um enraizamento ainda maior.

A Virgem Maria, venerada com devoção e ternura pelos fiéis das confissões religiosas aqui presentes, é um modelo seguro para avançar com esperança pelo caminho duma fraternidade vivida e autêntica. Bem o compreendeu o Líbano, ao proclamar há algum tempo o dia 25 de Março como feriado, permitindo assim a todos os seus habitantes poder viver em medida crescente a sua unidade na serenidade. Que a Virgem Maria, cujos santuários antigos são tão numerosos no vosso país, continue a acompanhar-vos e a inspirar-vos.

Deus abençoe o Líbano e todos os libaneses. Que Ele não cesse de atraí-los a Si para lhes conceder a vida eterna. Que Ele os cumule da sua alegria, da sua paz e da sua luz. Deus abençoe todo o Médio Oriente. Sobre cada um e cada uma de vós, invoco de todo o coração a abundância das bênçãos divinas. « لِيُبَارِك الربُّ جميعَكُم » [Deus vos abençoe a todos].

Fonte: Zenit

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

São João Crisóstomo, bispo e doutor da igreja




Por Pe. Pavlos Tamanini, Eparquia Ortodoxa Grega do Brasil

São João Crisóstomo nasceu na cidade de Antioquia. Cresceu no meio da multidão sem deixar-se contaminar por ela. Conheceu os pobres e desafortunados e soube amá-los como eram. Sua família era culta e possuía muitos bens . O pai de João, oficial de alto nível, morrera jovem.

Desde criança foi educado pela mãe, mulher admirável que, aos vinte anos, sacrificou sua juventude, renunciou a novas núpcias, para dedicar-se inteiramente a seu filho. João recebeu o Batismo mais ou menos aos dezoito anos de idade.

Concluídos seus estudos de cultura geral, de retórica e de filosofia, de forma brilhante, renunciou a uma carreira que se apresentava promissora, para receber as ordens menores. Quis partir para o deserto, mas sua mãe, que por ele sacrificara tudo, não lho permitiu. Fugiu, então, da agitação de Antioquia e estabeleceu-se fora das portas da cidade, a fim de encontrar a paz, consagrando-se à ascese e ao estudo bíblico.

Antioquia era um centro teológico de grande reputação. João lá aprende de forma brilhante a exegese bíblica. Depois passou a viver nas montanhas entre monges uma vida austera a ponto de prejudicar sua saúde. Após algum tempo nas montanhas, achou-se preparado para enfrentar a ação missionária. O amor aos outros, mais do que sua saúde abalada, fê-lo voltar a Antioquia, onde o bispo Melécio o ordenou diácono, em 381.

Escreveu aos 34 anos o tratado sobre o Sacerdócio, que é conhecido e estudado até os nossos dias. Com 39 anos foi ordenado padre. Consagrou-se à pregação, substituindo o bispo, nas homilias pois esse era pouco dotado para falar.

Durante doze anos, pregou ao povo contra o paganismo e tinha esperança de transformá-lo em gente de fé cristã. É dele a frase: "Basta um só homem, para reformar todo um povo."

Sua tarefa era séria. Precisava denunciar os abusos existentes no interior da Igreja e na sociedade; defender os pobres, clamar contra as injustiças sociais. Manteve ainda uma intensa atividade literária, respondendo a todos os que lhe pediam conselho.

A maioria de suas homilias era comentários a respeito do Antigo e o Novo Testamento: explicou o Gênesis, comentou Isaías e os Salmos. O que fazia com mais agrado era pregar sobre o Evangelho. Comentou longamente o de Mateus e o de João. São Paulo era seu autor preferido: sentia afinidade com o Apóstolo dos gentios. Cognominaram-no de o "novo Paulo".

Resta-nos, de João Crisóstomo, uma série de catequeses batismais, que preparavam os catecúmenos para o batismo. As últimas foram reencontradas em 1955, no monte Atos. João Crisóstomo era um orador nato e igualmente um moralista que analisava os segredos do coração em profundidade e com rara psicologia. O povo de Antioquia sabia que João só repreendia para corrigir e para converter.

Inúmeras vezes João tomou a defesa dos pobres e dos infelizes, dos que morriam de fome e sede. Com veemência, João-Boca-de-Ouro ergueu sua voz contra os flagelos sociais, o luxo e a cobiça. Lembrou a dignidade do homem, mesmo pobre, e os limites da propriedade. Dizia: "Libertai o Cristo da fome, da necessidade, das prisões, da nudez."

A fama de João ultrapassava as fronteiras de Antioquia e chegava à nova capital do império. Em 397, o bispo da capital, Nectário, que sucedera a Gregório Nazianzeno, acabava de morrer. Intimado a comparecer à Capital do Império, foi eleito o Bispo de Constantinopla, a Sé do Oriente. João começou uma grande reforma, desembaraçando a casa episcopal do luxo, fazia suas refeições sozinho e acabou com as recepções suntuosas. Reformou as ordens de vida dos clérigos e dos monges, organizou a Reforma Litúrgica com a preocupação de levar Deus aos homens pela Divina Liturgia.

O texto da Divina Liturgia (Santa Missa) que toda a Igreja Ortodoxa celebra em todo o mundo, é conhecida como sendo de São João Crisóstomo.

Empreendeu a evangelização das zonas agrícolas e esforçou-se para trazer à ortodoxia aos pagãos, que eram numerosos na região. Combateu as seitas heréticas com intransigência e rudeza.

Em 402, São João Crisóstomo foi deposto e exilado acusado de não coadunar os interesses da Igreja com as do Império. O bispo foi detido em sua catedral, durante a celebração pascal. Depois de uma palavra de despedida, João deixou a sua igreja que jamais haveria de rever. O exílio foi penoso. João foi enviado para uma aldeia, Cucusa, na fronteira com a Armênia.

A saúde do bispo achava-se enfraquecida. O clima era duro e desfavorável para o seu estado. A maior parte de suas cartas data dessa época. Este homem atingido em cheio pela provação procurou mais consolar do que ser consolado.

No sofrimento, pensava nos outros. Finalmente morreu, no dia 14 de setembro de 407, festa da Exaltação da Santa Cruz. Suas últimas palavras foram: "Glória a Deus por tudo."

Os contemporâneos descrevem-nos João Crisóstomo como um homem de estatura baixa, de rosto magro, de testa enrugada, de cabeça calva. Tinha voz fraca. As austeridades comprometeram definitivamente sua saúde. Não falava para ser escutado, falava para instruir, exortar, reformar, preocupado com o combate aos costumes pagãos e com a instauração da moral do Evangelho. Era um reformador, um missionário. Se não era um teólogo original, era um pastor incomparável. Sua pregação desempenhou na liturgia bizantina o mesmo papel que a de Agostinho no Ocidente. Ele foi lido, copiado, traduzido, imitado. De todos os Padres da Igreja, São João Crisóstomo é aquele cuja pregação menos envelheceu. Sua pregação moral e social parece escrita hoje.

A honra da Igreja consiste em contar com homens, como João Crisóstomo, que não pactuaram com o poder, com o dinheiro, e que souberam tomar o partido dos pobres. Toda a fé deste homem exprime-se em sua palavra. E esta palavra vive sempre.

FONTE:
Hamman. Os Padres da Igreja. Ed Paulinas, 1985
Spaneut, Michel. Os Padres da Igreja. Ed Loyola. 1999

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Santíssimo Nome de Maria




O fato de que a Santíssima Virgem leve o nome da Maria é o motivo desta festividade, instituída com o propósito de que os fiéis encomendem a Deus, através da intercessão da Santa Mãe, as necessidades da igreja, agradeçam por seu onipotente amparo e seus inumeráveis benefícios, em especial os que recebem pelas graças e a mediação da Virgem Maria. Pela primeira vez, autorizou-se a celebração desta festa em 1513, na cidade espanhola de Cuenca; daí se estendeu por toda a Espanha e em 1683, o Papa Inocêncio XI a admitiu na igreja do ocidente como uma ação de graças pelo suspensão do sítio a Viena e a derrota dos turcos pelas forças do João Sobieski, rei da Polônia.

Foi imposto este nome à Senhora não casualmente ou por arbítrio humano, senão (como dizem os Santos) por disposição divina e instinto do Espírito Santo; e por ventura foi anunciado à S. Ana por algum Anjo, como foi o do Precursor a seu pai Zacarias. Considera, pois, neste nome, as suas significações.

Quanto às significações, tocaremos só em três das mais principais. A primeira é que Maria, na língua Síria (que era a mais usada naquele tempo em Palestina), quer dizer Senhora. O que bem quadra este nome à Virgem, pois é Senhora absoluta, soberana e pacífica de todas as criaturas no Céu, na terra e debaixo da terra! Os mais sublimes Serafins, aquelas essências mais puras, que servem de lugares à presença de Deus, iluminam, reconhecem, e adoram a esta Princesa; as nações, os reinos e os impérios dependem do seu aceno e favor, tremem da sua ausência e desvio.

Outra significação do nome MARIA na língua hebraica é Estrela do mar; e com este apelido a invoca a Igreja: Ave Maris Stella. Também lhe vem mui próprio, por estrela, e estrela do mar. Por estrela primeiramente: porque a estrela, sem diminuição sua, nos produz o raio luminoso e a Virgem, permanecendo Virgem, nos gerou Cristo, que é luz do mundo. Além disso, porque as estrelas presidem às trevas da noite; e a Virgem é refúgio de pecadores, em que ainda não reina o Sol da graça.

A terceira significação, e de todas a mais própria e digna, é, conforme diz S. Ambrósio, MARIA, isto é, Deus da minha geração. Ó imensa glória! Ó altíssima dignidade! Ó ventura imponderável! Senhora, Deus de vossa geração! O que tudo criou ser de ti gerado! O que gerou o Eterno Pai ab æterno, antes de todos os séculos, nos geraste por obra do Espírito Santo, no meio dos séculos! Maravilhosa definição encerram cinco só letras do nome MARIA; idest Deus ex genere meo.

Pe. Manuel Bernardes

(Fonte: Evangelho Quotidiano)

Santíssimo Nome de Maria: significados segundo Santo Alberto, o Grande

Acredita-se que a festa do Santíssimo Nome de Maria foi instituída pelo Bem-aventurado Papa Inocêncio XI em lembrança da insigne vitória contra os turcos em Viena, no século XVII. Foi a famosa vitória de João Sobieski, rei da Polônia , obtida com ajudas milagrosas.

Dom Guéranger no L’Anné Liturgique cita Santo Alberto Magno, professor de São Tomás de Aquino, sobre os vários sentidos do nome de Maria.

O nome de Maria, ensina Santo Alberto, o Grande, tem quatro sentidos. Ele significa Iluminação, Estrela do Mar, Mar Amargo, Senhora. A variedade de sentidos distintos no nome de Maria está ligada à peculiaridade da língua hebraica em que uma mesma palavra pode ter dois sentidos, ora afins, ora bastante diversos.
Enquanto iluminadora, Ela é a Virgem Imaculada. A sombra do pecado jamais maculou o Santíssimo Nome de Maria. A mulher revestida de Sol, aquela cuja gloriosa vida iluminou toda a Igreja, aquela enfim, que deu ao mundo a verdadeira luz, a luz da vida.

Nossa Senhora é a verdadeira luz. A luz ilumina por natureza, é enquanto tal que Nossa Senhora recebeu o nome de Maria.

A vida dEla iluminou toda a Igreja Católica e, enfim, Ela deu ao mundo a única luz verdadeira que é Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ela é a Virgem Imaculada, sem mancha, é uma alma luminosa, sem nenhuma forma de pecado.

Ela é a mulher revestida de Sol que São João viu como diz no Apocalipse, e cujos vestidos brilhavam como o Sol.

Ainda se pode dizer que Nossa Senhora para nós é uma luz no sentido especial da palavra, que é a esperança, nossa alegria, a solução para todos os casos. Portanto, uma luz que brilha nas trevas.

Enquanto Estrela do Mar, a liturgia saúda Nossa Senhora num hino tão poético que é o “Ave Maris Stella”. A Estrela do Mar é a Estrela Polar, a mais brilhante, mais alta das estrelas.

Ela saúda-A com este belo nome na antífona do Advento no tempo do Natal: “Alma Redemptoris Mater”, ó doce Mãe do Redentor.

“Senhora” no sentido hebraico não se aplica a uma mulher comum, mas àquela que tem certa distinção, relevo, respeitabilidade especial, no sentido antigo da dona que era proprietária de escravos.

Isto lembra a perfeita devoção a Nossa Senhora ensinada por São Luís Grignion de Montfort: a da consagração à Mãe de Deus por meio de uma sagrada escravidão, em virtude da qual nós nos tornamos escravos de amor dEla.

Pronunciando o nome de Maria, Nosso Senhor e a Igreja saúdam Nossa Senhora como aquela que nos possui, e ao mesmo tempo é nossa Mãe.

Como aquela que nos ama particularmente porque somos escravos d’Ela por amor, e porque sendo escravos nos tornamos arqui-filhos dEla.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O ano da fé: um dom para criar o espaço da verdade e da liberdade


Entrevista com monsenhor Waclaw Depo, Arcebispo Metropolitano de Czestochowa, sobre as perspectivas para o ano proclamado pelo Santo Padre
Por Pe. Mariusz Frukacz


CZESTOCHOWA, quinta-feira, 6 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos aqui a entrevista com o Arcebispo Metropolitano de Czestochowa, S.E. mons. Waclaw Depo, Presidente do Conselho para as Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Polonesa, sobre quais serão os pontos e os dons que o Ano da Fé, proclamado pelo Papa, trará para toda a humanidade.



ZENIT: Excelência, o que significa o Ano da Fé para a Igreja e para cada fiel?
Mons. Depo: O Ano da Fé é um dom para a Igreja e para todos os fiéis. Um dom com o qual cada pessoa pode renovar o seu relacionamento com Cristo, assim como o evento por meio do qual os fiéis podem encontrar de novo o seu lugar na Igreja. Podemos dizer que o Ano da Fé será realizado com a adesão de cada pessoa e de cada família a Cristo. Nisto têm grande importância os movimentos católicos em nossas paróquias, cujos membros são as primeiras testemunhas de Cristo na igreja local.

ZENIT: O que entendemos por Nova Evangelização?
Mons. Depo: A Nova Evangelização, como nos ensina Bento XVI, é o dom do Espírito Santo. Penso que ela seja também um dever nosso e não um fardo difícil, mas a cooperação na obra da salvação. A Nova Evangelização também significa uma nova adesão a Cristo, um novo compromisso pessoal da mente e do coração. Toda pessoa recebe o Espírito de Deus para discernir a própria vida e, ao mesmo tempo, obter o desejo de unir-se a Jesus, de falar sobre Ele e testemunhá-lo com a própria vida.
Não estou me referindo apenas às pessoas que já pertencem à Igreja, mas também a todos aqueles que estão à procura de Cristo e da Igreja. O ponto é criar o espaço para a verdade e a liberdade, a liberdade de escolha para todos aqueles que hoje estão distantes da Igreja ou olham-na de modo muito crítico. Tenho certeza de que eles também são abraçados pelo amor de nosso Redentor.
O Credo deve ser a oração diária de um cristão. Todos os dias também temos que perceber em Quem acreditamos: não somente nos artigos de fé, mas em Alguém que é e se revela em cada artigo de fé.

ZENIT: Como presidente do Conselho para as Comunicações Sociais da Conferência Episcopal Polaca, o que vossa Excelência acha do papel dos meios de comunicação na Nova Evangelização?
Mons. Depo: Eu acho que a tarefa dos meios de comunicação é muito importante, mas também muito difícil. Em nossos tempos estamos diante de uma luta dramática pela verdade. Juntos, a Igreja e os meios de comunicação - não apenas os católicos - devem assumir as próprias responsabilidades na pregação da verdade.
É necessário, portanto, que estejam muito comprometidos na promoção da Nova Evangelização e que a Igreja os use como seus instrumentos para anunciar a verdade, que não é apenas uma mensagem, mas para nós cristãos é uma Pessoa, Jesus Cristo.
Penso que por ocasião do Ano da Fé é necessário convidar todos aqueles que queiram servir a verdade - e não apenas a verdade do Evangelho, mas aquela presente na sociedade, no espaço de vida pública – à boa e profunda cooperação. Na minha opinião, no campo da vida social de hoje, é muito perigosa a promoção das mentiras e da falta de respostas claras, até mesmo da mídia, sobre o mal.
Para a Promoção da Nova Evangelização temos necessidade, pelo contrário, de uma verdadeira e genuína pastoral dos meios de comunicação. Essa pode ser construída sobre o fundamento de três importantes valores: “verdade, confiança e comunidade”. Na minha opinião o fator mais importante para esta pastoral será também a fidelidade ao Evangelho, à Cruz, à Maria e ao ensinamento da Igreja. Não podemos esquecer, além do mais, o papel da internet no processo de evangelização. É necessário sempre criar o espaço da verdade, sempre em um espírito de fidelidade à Verdade de Cristo.

***

O arcebispo Waclaw Depo, nasceu no 27 de setembro de 1953, em Szydlowiec perto de Radom, na Polônia. Foi ordenado sacerdote no dia 3 de junho de 1978, pelas mãos do Servo de Deus Mons. Piotr Golebiowski.
Desde 1990 tem sido reitor do Seminário da Diocese Sandomierz-Radom, e, desde 1992, foi o primeiro reitor do Seminário da Diocese de Radom. Dos anos 1995-1999, foi membro do Comitê dos Reitores sobre a Ratio Studiorum, para depois ser eleito, em setembro de 1999, Presidente da Conferência dos Reitores dos Seminarios de Polônia.
No dia 5 de agosto de 2006, Bento XVI o nomeou bispo ordinário da diocese de Zamość-Lubaczów. O mesmo Papa, no dia 29 de dezembro de 2011, o nomeou por fim, Arcebispo Metropolitano de Częstochowa. No dia 21 de junho de 2012 foi eleito como Presidente do Conselho para as Comunicações Sociais na Conferência Episcopal Polaca.

[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Comunidade católica diante da legalização do aborto previsto no Anteprojeto do Código Penal brasileiro (Parte II)


Conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando e o Pe. Paulo Ricardo

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, quarta-feira, 5 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – São três os valores inegociáveis segundo Bento XVI – em discurso ao Partido Popular Europeu no ano de 2006: vida, família monogâmica e educação dos filhos. Valores estes que não podem “seguir a arte da política e da negociação”, - afirma Pe. Paulo Ricardo - em uma conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando Melo, vice-presidente Pró-vida e pró-família e membro da comissão de bioética da arquidiocese de Brasília, e o Pe. Paulo Ricardo Azevedo Junior, do clero da arquidiocese de Cuiabá, e famoso pregador brasileiro.

Oferecemos aos nossos leitores a segunda parte dessa reflexão.



Prof. Paulo Fernando: diante desse quadro da cultura da morte, o que, efetivamente, uma pessoa de bem, um cidadão católico, pode fazer? Será que estaríamos na beira do abismo e realmente não tem mais o que se fazer?
Pe. Paulo Ricardo: Devemos lembrar duas coisas importantes. Primeiro, nós não somos uma minoria insignificante. Nós somos uma maioria. Mas infelizmente somos uma maioria emudecida porque a classe falante está toda contaminada com a mentalidade anticristã e uma maioria mal articulada, não organizada. Nós então, precisamos, em primeiro lugar, nos conscientizar. Depois, uma vez conscientizados daquilo que é a situação que nós vivemos, estar dispostos a nos articular e trabalhar concretamente para este tipo de política favorável à vida. Nós precisamos crer no seguinte: a ação de Deus na história, é sempre uma ação em que, aquele que era aparentemente somente um Davi, pequenino, que lutava contra um Golias, termina alcançando a vitória. Então, existe, em nós, uma consciência de nossa pequenez. Apesar de sermos muitos, nós sabemos que qualquer vitória deve ser uma vitória de Deus. Mas, a vitória de Deus só acontece quando nós agimos. Qualquer pessoa que trabalha nesse campo, na evangelização, no meio da política e na ação social, e trabalha a favor das coisas de Deus, já experimentou o fato de que as nossas pequenas ações, de pequenos Davis, são potenciadas enormemente por Deus, de tal forma que embora sejam poucos os cristãos e católicos conscientes no âmbito da política, as nossas ações são agraciadas. Deus nos dá a graça. Por isso podemos contar com ela. Podemos contar com o fato de que uma pequena pedrinha pode causar uma grande avalanche, de que o pequeno Davi pode sempre destruir o exército dos Filisteus.

Prof. Paulo Fernando: o senhor falou que Deus nos pede a luta e não a vitória, mesmo porque a vitória já é nossa, em Jesus. Agora, qual o conselho que o senhor dá às pessoas que se sentem vocacionadas para isso? Como o senhor falou, que sejam preparadas, que sejam compromissadas, que tenham uma postura como pai de família, como patrão, como empregado, como pessoa engajada na comunidade, na sua paróquia, na sua igreja, na sua diocese; e por que muitas vezes, não há esse estímulo para que as pessoas de bem possam ingressar também no mundo da política?
Pe. Paulo Ricardo: O princípio da sabedoria é o temor de Deus, diz a Sagrada Escritura. Nós temos que ter a plena consciência de que não estamos nesse mundo para vivermos uma comodidade e um paraíso aqui nessa terra. Nós estamos aqui para preparar o céu. Estamos aqui para realizar a vontade de Deus que preparou para nós uma felicidade no céu. Então, qualquer pessoa que entra nessa luta sem fé na salvação que nos é dada por Deus e na esperança de alcançá-la, é uma pessoa que tem uma grande probabilidade de perder a luta porque o inimigo conta com isso. O inimigo – e nosso inimigo maior é Satanás, o demônio, e não as pessoas – conta com o fato que nós, amedrontados, vivamos um cristianismo, mas um cristianismo burguês, acomodado, onde sim faço a vontade de Deus, desde que isso não me custe muito; desde que isso não tenha um preço. A partir do momento em que a fidelidade a Deus começa a exigir um preço, as pessoas desistem. Os conselhos que posso dar bem concretamente aos cristãos leigos e aos sacerdotes inclusive, é ter os olhos fixos em Deus, no céu, para não nos deixarmos distrair pelas seduções do mundo, pela comodidade aqui desta terra. É uma luta a vida do homem sobre a terra. Nós estamos aqui para lutar. E sabemos que Deus irá vencer. Não há nenhuma dúvida de que Deus vencerá. A única pergunta é: de que lado nós estaremos quando Deus vencer? De que lado nós estaremos quando Ele proclamar a sua vitória. Então, precisamos viver esse mundo com os olhos fixos no céu. Sabendo que é essa a nossa missão. Estamos aqui na terra preparando o nosso céu. Qualquer coisa que se distraia dessa realidade vai resultar numa traição. Nós precisamos saber que um dia estaremos diante do trono da graça, seremos julgados por Deus, e que precisamos ser fieis a Ele.

Prof. Paulo Fernando: e agora, nas considerações finais, o senhor acha que nós devemos rezar pela conversão desses abortistas? Quais são as nossas intenções nas nossas orações nessa luta contra a cultura da morte?
Pe. Paulo Ricardo: Veja, a realidade espiritual deve estar sempre ancorada também na ação. As duas coisas devem caminhar juntas: rezar pela conversão deles, rezar também pelas famílias, mulheres, crianças, pessoas que estão envolvidas nos crimes de aborto, mas sobretudo precisamos ter em mente o fato de que no Brasil estamos vivendo uma situação de extrema urgência. Nós temos nesse momento, duas realidades extremamente urgentes nesse país. A primeira que é toda uma ação do executivo, onde o ministério da saúde e a secretaria para a defesa dos direitos das mulheres estão implantando uma série de procedimentos para facilitar o aborto cometido através de medicamentos por mulheres, e estamos também diante de um projeto do código penal que, se não legaliza o aborto de fato, pelo menos o legaliza na prática porque atenua enormemente a penalidade do aborto e o torna uma daquelas infrações de menor importância e portanto não passíveis de punição. Essas duas realidades são verdadeiro golpe na democracia brasileira. Nós brasileiros somos, na sua maioria, contrários à prática infame do aborto e gostaríamos que isso continuasse assim. O valor da vida humana é um direito inegociável, é algo que nós não podemos ceder. Essa realidade deve ser defendida por nós católicos, antes de tudo na oração, na nossa confiança em Deus e entrega à Nossa Senhora, mas também na ação, onde nós estejamos dispostos a pagar o preço pela nossa fidelidade a Deus. Existe um livro escrito por um autor protestante, chamado C S Lewis, “Cartas de um diabo ao seu aprendiz”. Nesse livro o demônio mais velho ensina ao mais novo como levar uma alma ao inferno. E diz assim: mantenha as orações dele, ou seja, da pessoa que você quer levar ao inferno, muito devotas e espirituais, fazendo com que, no entanto, ele não se preocupe nunca com as doenças das pessoas que estão ao seu redor, das suas necessidades concretas e com a ajuda que ele poderia prestar às pessoas que mais necessitam. Precisamos rezar, confiar em Deus, mais precisamos também agir. Por mais que seja uma ação humanamente irrisória, mas esta pequena ação de milhões de pequenos Davis serão potenciadas por Deus, que pela sua graça dará vitória ao seu povo.

LEITURA ORANTE: A perda é salvação

Quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. Preparo-me para a Leitura Orante, rezando com todos os que, nesta rede da...