Entrevista com Dr. Ivanaldo Santos, filósofo, pesquisador e professor
universitário
Por Thácio Siqueira
BRASILIA, quinta-feira, 26 de
julho de 2012 (ZENIT.org) – O atual debate sobre a Reforma do código penal
brasileiro, com a proposta de descriminalização do aborto, etc, está mostrando
que estamos vendo chegar ao Brasil propostas de leis contrárias à vida, à moral
cristã, e, filosoficamente contrárias ao próprio desenvolvimento e progresso da
nação.
Para ajudar nesse debate ZENIT
entrevistou o Dr. Ivanaldo Santos, doutor em filosofia e autor de inúmeros
artigos em revistas especializadas de todo o mundo, perguntando-lhe o
significado da vida, visto desde a filosofia.
O Dr. Ivanaldo Santos é filósofo,
pesquisador e professor universitário. Publicou mais de 70 artigos em revistas
científicas nacionais e internacionais e tem 8 livros publicados.
Publicamos hoje a primeira parte
da entrevista. A segunda parte será publicada amanhã, dia 27 de Julho.
ZENIT: O que é a vida, filosoficamente falando?
DR. IVANALDO: Do ponto de vista estritamente da filosofia não é
possível se construir um conceito fechado de vida. Vale lembrar que as
tentativas de conceitos fechados de vida conduziram a experiências trágicas,
como é o caso dos campos de concentração no regime nazista. Na verdade vida,
podemos assim falar, é a grande manifestação do logos, que engloba, entre
outras coisas, a dimensão biológica, cultural, familiar, psicológica, social e
religiosa. Vida é o mais amplo e complexo movimento que o ser humano tem
acesso.
ZENIT: A vida é propriedade do homem?
DR. IVANALDO: Nos últimos séculos, devido, em grande medida, as
experiências oriundas do capitalismo e do estatismo socialista, tem se
discutido muito a noção de propriedade. Fala-se, por exemplo, em propriedade
privada, em propriedade intelectual e em propriedade do Estado. Nos últimos
anos essa discussão chegou até mesmo a vida humana. Com isso, passou-se a
discutir sobre a propriedade de medicamentos, tratamentos de doenças e até
mesmo do genoma humano. Além disso, é preciso esclarecer que contemporaneamente
o mundo vive um retrocesso nas relações trabalhistas e nos direitos
humanos. Por exemplo, temos o retorno da
escravidão, a exploração de mulheres para fins sexuais, são as chamadas
escravas do sexo, o trágico de sangue e órgãos humanos, uma política agressiva
de legalização do aborto e do infanticídio, dentro do mercado de trabalho está
sendo aceito largamente o trabalho precarizado e semi-escravizado, como o que
acontece em muitas fábricas na China e em outros países que, são apresentados,
como modelos de desenvolvimento econômico. Dentro desse triste quadro passa a
haver uma visão reducionista que a vida é um simples objeto comercial, uma
propriedade, que, como toda propriedade, é possível se vender e comprar. No
entanto, a realidade ontoética do ser humano é bem diferente. O ser humano é a
única espécie capaz de refletir filosoficamente sobre si mesma e sobre, a
sociedade e o cosmo. Ele é capaz de construir a arte, a poesia e tudo mais que
existe de belo e sublime na sociedade. Trata-se, por conseguinte, de uma grande
responsabilidade. A vida humana é um patrimônio de Deus e de toda a sociedade.
Por isso é preciso valorizar todas as formas e manifestações da vida humana,
como, por exemplo, a vida das populações pobres, de regiões isoladas, de
mulheres em risco de prostituição, dos deficientes físicos, e do feto, o bebê
ainda no ventre da mãe. É por esse motivo que não se pode aceitar e incentivar
a cultura da morte, uma cultura que tem como “comércio” a venda da morte para
os seres humanos. Essa cultura, ou melhor uma anti-cultura, se manifesta, por
exemplo, no retorno da escravidão, na exploração de mulheres para fins sexuais,
na tentativa de legalização do aborto, da eutanásia, do infanticídio e de
outras barbaridades.
ZENIT: Em ordem de importância, qual vida é mais importante: a vida
humana ou a vida animal?
DR. IVANALDO: Inicialmente é preciso esclarecer que todas às formas
de vida devem ser valorizadas, preservadas e respeitadas. Sem dúvida que os
maus tratos a animais selvagens e domésticos não devem ser aceitos. Nesse
sentido tem havido no mundo, inclusive no Brasil, um avanço na legislação de
proteção aos animais. Entretanto, é preciso esclarecer que a proteção aos
animais passa pela proteção e valorização da vida humana. Em muitas ocasiões, o
ser humano é o destruidor da natureza e da vida selvagem, mas também é o
promotor da cultura, da arte e da própria preservação da vida animal. Do ponto
de vista ontoético, a vida humana é mais sublime e mais especial do que a vida
animal. É claro que devemos promover a defesa da vida animal, mas, por
compromisso ético, temos que respeitar, promover e garantir as condições
socioculturais de desenvolvimento da vida humana. Neste sentido a vida humana
tem prioridade sobre a via animal. Isso não significa que vamos sair por aí
matando animais, mas, pelo contrário, temos que garantir a, num primeiro plano,
a dignidade da vida humana e, num segundo plano, a vida animal. Levando em
conta o desenvolvimento econômico e científico do mundo, afirma-se que há
condições técnico-científicas suficientes para a realização dessa tarefa.
Para mais informações: Ivanaldo
Santos, doutor em filosofia.
Email:
ivanaldosantos@yahoo.com.br.
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