quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

A Criação é dom do Amor de Deus - Papa João Paulo II



PAPA JOÃO PAULO II

7ª AUDIÊNCIA GERAL

Quarta-feira, 13 de Dezembro de 1978

1. Já pela terceira vez nestes nossos encontros das quartas-feiras, escolho o tema do Advento, seguindo o ritmo da liturgia, que, do modo mais simples e ao mesmo tempo mais profundo, nos introduz na vida da Igreja. O Concílio Vaticano II, que nos deu uma doutrina rica e universal sobre a Igreja, chamou a nossa atenção também para a Liturgia. Por meio dela conhecemos não só o que é a Igreja, mas experimentamos, dia após dia, aquilo de que ela vive. Também nós disso vivemos porque somos a Igreja: "A Liturgia... contribui no mais alto grau para que os fiéis, pela sua vida, exprimam e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja. F. próprio desta, ser humana ao mesmo tempo que divina, visível e dotada de elementos invisíveis, ardente em acção e ocupada na contemplação, presente e no mundo e todavia peregrina" (Const.Sacrosanctum Concilium, 2).

Ora a Igreja vive o Advento e por isso os nossos encontros das quartas-feiras estão centrados em tal período litúrgico. Advento significa "Vinda". Para penetrar na realidade do Advento, procurámos até agora olhar na direcção de quem chega e para quem chega. Falámos portanto dum Deus que, ao criar o inundo, se revela a si mesmo: dum Deus Criador. E na quarta-feira passada falámos do homem. Hoje continuaremos para encontrar resposta mais completa à pergunta: Porquê "o Advento"? Porque vem Deus? Porque quer vir ao homem?

A liturgia do Advento funda-se principalmente sobre textos dos Profetas do Antigo Testamento. Nela fala quase todos os dias o profeta Isaías. Era este, na história do Povo de Deus da Antiga Aliança, especial "intérprete" da promessa, que tal Povo tinha anteriormente obtido de Deus na pessoa do seu tronco de família: Abraão. Como todos os outros profetas, e talvez mais que todos, Isaías reforçava nos seus contemporâneos a fé nas promessas de Deus confirmadas pela Aliança no sopé do monte Sinai. Ensinava sobretudo a perseverança na espera e na fidelidade: Povo de Sião o Senhor virá e fará ouvir a sua voz majestosa para alegria do vosso coração (Cfr. Is. 30, 19.30).

Quando Cristo estava no mundo várias vezes se referiu às palavras de Isaías. Dizia claramente:Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir (Lc. 4. 21).

3. A liturgia do Advento é de carácter histórico. A expectativa da vinda do Ungido (Messias) foi um processo histórico. Penetrou, com efeito, toda a história de Israel, que foi escolhido precisamente a fim de que preparasse a vinda do Salvador.

As nossas considerações vão porém, em certo modo, além da liturgia quotidiana do Advento. Voltemos portanto à pergunta basilar. Porque vem Deus? Por que motivo quer Ele vir ao homem, humanidade? A estas perguntas buscamos respostas adequadas e buscamo-las nos inícios mesmos, isto é, antes ainda de começar a história do Povo eleito. Este ano, a nossa atenção dirige-se aos primeiros capítulos do livro do Génesis. O advento "histórico" não seria compreensível sem cuidadosa leitura e análise daqueles capítulos.

Por conseguinte, ao buscar uma resposta á pergunta "porquê?" o advento, devemos uma vez mais reler atentamente toda a narrativa da criação do mundo e, em especial, da criação do homem. É significativo (como já tive ocasião de insinuar) que os dias da criação, cada um deles termine com a afirmação "Deus viu que isto era bom"; mas, depois da criação do homem, está: "... viu que isto era muito bom". Esta verificação, como já disse na semana passada, une-se à bênção da criação e sobretudo a uma bênção explícita do homem.

Em toda esta descrição ,está diante de nós um Deus que, para usar a expressão de São Paulo, se compraz da verdade, do bem (Cfr. 1Cor. 13, 6). Onde está a alegria, que promana do bem, ai há amor. E só onde há amor, há a alegria que promana do bem. O livro do Génesis, desde os seus primeiros capítulos, revela-nos Deus que é Amor (embora de tal expressão se venha a servir muito mais tarde São João). Ele é Amor, pois goza com o bem. A criação é, portanto, ao mesmo tempo doação autêntica: onde há amor, há dom.

O livro do Génesis indica o início da existência do mundo e do homem. Interpretando-a, devemos sem dúvida, como fez São Tomás de Aquino, construir uma filosofia consequente do ser, filosofia em que virá expressa a ordem mesma da existência. Todavia o livro do Génesis fala da criação como dom. Deus, criador do mundo visível, é dador; e o homem é aquele que recebe o dom. É aquele para o qual Deus cria o mundo visível, aquele que Deus, desde os inícios, introduz não só na ordem da existência, mas também na ordem da doação. Ser o homem "imagem e semelhança" de Deus significa, além do mais, ser ele capaz de receber o dom, ser sensível a este dom e ser capaz de o retribuir. Exactamente por isso Deus, desde o principio, estabelece com o homem, e só com ele, a aliança. O livro do Génesis revela-nos não só a ordem natural da existência, mas ao mesmo tempo, desde o principio, a ordem sobrenatural da graça. Da graça só podemos falar se admitimos a realidade do Dom. Do catecismo recordemos: a graça é o dom sobrenatural de Deus pelo qual nos tornamos filhos de Deus e herdeiros do céu.

4. Que relação tem tudo isto com o Advento? Podemos com razão perguntar-nos. Respondo: o Advento desenhou-se pela primeira vez no horizonte da história do homem; quando Deus se revelou a Si mesmo como Aquele que se compraz do bem, que ama e que dá. Neste dom ao homem, Deus não se limitou a "dar-lhe" o mundo visível — isto é claro desde o princípio — mas, dando ao homem o mundo visível, Deus quer dar-se-lhe também a Si mesmo, assim como o homem é capaz de dar-se, assim como "se dá a si mesmo" a outro homem: de pessoa a pessoa; isto é, dar-se a Si mesmo a ele, admitindo-o à participação dos Seus mistérios, mais, à participação da Sua vida. Isto pratica-se de modo tangível nas relações entre familiares: marido-esposa, pais-filhos. Eis porque os profetas se referem muitas vezes a tais relações, para mostrarem a verdadeira imagem de Deus.

A ordem da graça é possível só "no mundo das pessoas". Diz respeito ao dom que tende sempre à formação e à comunhão das pessoas; de facto, o livro do Génesis apresenta-nos uma tal doação. A forma, desta "comunhão de pessoas" está nele desenhada desde o princípio. O homem é chamado à familiaridade com Deus, à intimidade e amizade cone Ele. Deus quer estar perto dele. Quer torná-lo participante dos seus desígnios. Quer torná-lo participante da sua vida. Quer torná-lo feliz da sua mesma felicidade (do seu mesmo Ser).

Por tudo isto é necessária a Vinda de Deus, e a expectativa do homem: a disponibilidade do homem.

Sabemos que o primeiro homem, que desfrutava da inocência original e duma especial vizinhança com o seu Criador, não demonstrou essa disponibilidade. A primeira aliança de Deus com o homem foi interrompida, mas não cessou da parte de Deus a vontade de salvar o homem. Não se desfez a ordem da graça, e por isso o Advento dura sempre.

A realidade do Advento é expressa também pelas seguintes palavras de São Paulo: "Deus... querque todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tim 2, 4).

Esse "Deus quer" é exactamente o Advento, e encontra-se na base de todos os adventos.

* * *

Saudações

À Academia Sistina

Desejo agora dirigir uma saudação especial ao Senhor Cardeal Palazzini e aos Membros da "Academia Sistina" por ele acompanhados.

Sei que já o meu muito amado Predecessor Paulo VI encontrou modo, o ano passado, de manifestar o Seu apreço pela vossa Associação, nessa altura constituída. Também eu tenho o prazer de confirmar tal sentimento, animando-vos nesta vossa actividade de investigação a respeito da grande figura do Papa Sisto V e, em geral, da promoção cultural e humana no nome e na memória deste ilustre e ainda hoje admirado Pontífice da Igreja Romana.

Convosco Sócios da Academia, desejo também saudar e abençoar os peregrinos que se reuniram aqui, vindos da sua terra natal.

Aos jovens casais

Dirijo depois uma saudação cordial e um augúrio sincero aos jovens esposos que também hoje estão aqui presentes em bons número. Abençoe o Senhor o vosso amor, esteja Ele perto de vós e vos acompanhe durante a vida, que escolhestes percorrer juntos, até à morte.

Aos doentinhos

Uma saudação e uma bênção especial aos doentinhos que estão aqui presentes e a todos os que sofrem. O meu pensamento corre e chega a toda a parta onde a dor física ou moral atormenta e mortifica no mundo seres humanos.

Seguindo as crónicas quotidianas, encontram-se dramas e sofrimentos que apertam o coração. Em especial desejaria recordar todos aqueles que se encontram na aflição por causa duma forma de violência que se tornou, por desgraça, tão frequente nestes últimos anos: a dos sequestros.

É uma praga indigna de Países civilizados, que chegou infelizmente a formas de crueldade que horrorizam.

Em nome de Deus suplico aos responsáveis queiram dar liberdade àqueles que retêm em sequestro e lembro-lhes que Deus castiga as más acções dos homens. Toque o Senhor verdadeiramente os seus corações e leve a que triunfe aquela centelha de humanidade que não pode faltar aos seus ânimos, obtendo-se deste modo remate plausível pala um acto muito lastimoso.

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