Santa Isabel de Portugal Modelo de rainha, esposa e mãe
- Plinio Maria Solimeo
Jaime I de Aragão, avô de Santa Isabel |
Pode-se dizer que nela a piedade nasceu com o despertar para a vida; quando chorava como qualquer outro bebê, bastava alguém mostrar-lhe um Crucifixo ou uma imagem da Virgem para que silenciasse. Daquele pequeno ser emanava tanta unção e suavidade, que as damas do palácio consideravam uma graça o poder contemplá-la.
Aos cinco anos de idade Isabel perdeu seu virtuoso avô e voltou para o lar paterno, onde cresceu em graça e santidade. Aos oito anos já recitava diariamente o ofício divino.
A Santa Rainha dá um grande impulso a Portugal
Isabel pensava em consagrar a Deus sua virgindade, mas por iluminação divina e recomendação do confessor compreendeu que, como princesa, deveria aceitar um esposo e fazer brilhar no trono as virtudes evangélicas. Por isso, aos 12 anos contraiu matrimônio com Dom Dinis, rei de Portugal.
Na corte portuguesa ela continuou a ser um modelo de virtude, como fora na de Aragão. Seu bom exemplo levou muitas damas da nobreza a viver tão cristãmente como a rainha. A fama desse bom exemplo chegou rapidamente a todos os rincões de Portugal, excitando em toda parte uma santa emulação.
Quando Isabel chegou, Portugal já havia varrido de seu território o jugo maometano e ampliado suas fronteiras até os limites atuais, entrando numa nova era de paz e prosperidade. Dom Dinis reconstruiu cidades devastadas pela guerra, fundou hospitais e escolas, entre elas a célebre Universidade de Coimbra. Restaurou e construiu igrejas, orfanatos para os filhos dos mortos na guerra, e sobretudo dedicou-se à agricultura com tal afinco, que recebeu da posteridade os títulos de Rei Lavrador e Pai da Pátria. Evidentemente, Santa Isabel exerceu grande papel em tudo isso, o que lhe valeu na época o epíteto de Rainha dos Agricultores.
Dor e paciência ante infidelidades conjugais
Santa Isabel contrai casamento aos 12 anos com Dom Dinis, rei de Portugal |
Quem não sofria com a mesma resignação os pecados do rei era o Infante Afonso, seu filho, que desejava nobremente fazer cessar o ultraje feito à sua mãe. Certo dia, declarou-se em aberta revolta contra o pai. Este resolveu aprisionar de surpresa o filho e encerrá-lo numa torre até o fim de seus dias. A rainha descobriu o plano do marido e mandou alertar o filho do perigo que corria. Alguns cortesãos mal-intencionados acusaram-na perante o rei de ser partidária do filho rebelde e auxiliá-lo até com armas. Demasiado crédulo, o monarca expulsou Isabel do palácio, privou-a de todas as rendas e desterrou-a para a cidade de Alenquer.
Afonso solicitou o auxílio de Aragão e de Castela contra o pai. A guerra civil era inevitável. Tendo conhecimento do perigo desse conflito, Isabel abandonou Alenquer contra a ordem do marido e dirigiu-se a Coimbra, onde estava o rei. Lançando-se a seus pés, suplicou que perdoasse o filho. Dom Dinis recebeu-a com bondade e autorizou-a a tentar estabelecer a paz com o filho. A rainha foi a Pombal, onde o Príncipe se encontrava à frente de suas tropas, e assegurando-lhe o perdão do rei, conseguiu restabelecer a paz.
Impressionante exemplo da justiça de Deus
A rainha tinha um pajem muito virtuoso e prudente, digno de toda confiança, a quem incumbia de conceder aos pobres grande parte de suas esmolas. Outro pajem, invejando-o, foi dizer ao monarca que a confiança da rainha por aquele pajem era fruto de uma inclinação pecaminosa. O rei, que naquele tempo estava entregue a uma vida irregular, acreditou na calúnia, e planejou matar secretamente o referido pajem. Certo dia, passando pelo local onde havia uma usina de cal, chamou os operários e ordenou-lhes que, quando alguém viesse, de sua parte, perguntar se eles haviam feito o que o rei ordenara, que o pegassem e o lançassem ao grande forno para aí perecer.
No dia seguinte, D. Dinis mandou o pajem da rainha ir à usina perguntar se o que ele havia ordenado havia sido feito. Entretanto, a Providência velava pelo virtuoso jovem. Passando no caminho por uma igreja, o pajem entrou para rezar. E vendo que ia começar uma Missa, permaneceu algum tempo para assisti-la. Terminada a primeira missa, começou uma segunda, depois uma terceira, e o piedoso pajem ficou também na igreja para rezar no transcorrer delas.
Enquanto isso o rei, levado pela impaciência, chamou outro pajem —providencialmente, o mesmo caluniador — e enviou-o à usina, a fim de se inteirar se sua ordem havia sido cumprida. Imediatamente os operários apoderaram-se do infeliz e lançaram-no ao forno.
O primeiro pajem chegou depois àquele local e perguntou se o que o rei ordenara fora executado, recebendo a resposta afirmativa. De volta ao palácio, foi dar conta de sua missão ao soberano, que ficou muito surpreso de vê-lo vivo e quis saber o que acontecera. O pajem contou-lhe então que, quando ia a caminho da usina, passou pela igreja para uma rápida oração. E que seu pai, ao morrer, havia lhe recomendado assistir a todas as missas que visse em andamento. Por isso ele assistira a três missas sucessivas, e só depois fora executar o que o rei ordenara.
O monarca reconheceu no fato um julgamento de Deus, testificando a inocência da rainha, a virtude de seu pajem e a malícia do caluniador.
Numerosos milagres operados ainda em vida
Santa Isabel cura miraculosamente a úlcera de um mulher doente |
Numa noite, durante o sono, Isabel teve uma inspiração do Divino Espírito Santo para edificar uma igreja em seu louvor. Mandou alguns arquitetos ao local que lhe parecia mais conveniente, para estudarem a edificação. Eles voltaram dizendo que os fundamentos já haviam sido lançados, e que se podia, portanto, dar início à construção. Todos se espantaram com esse fato surpreendente, pois até a véspera não havia vestígio desses fundamentos. O rei, tendo em vista constar para a posteridade tal prodígio, mandou que se lavrasse uma ata do sucedido. Tendo a rainha ido ao local para ver o milagre, entrou em êxtase à vista de muitas testemunhas.
É dos mais conhecidos o milagre das rosas. Quando levava no avental dinheiro para socorrer os pobres, encontrou-se com o marido, que perguntou-lhe o que guardava ali. Isabel respondeu-lhe que eram rosas. Ora, estava-se no inverno europeu, quando toda a natureza parece morta, e portanto não vicejam flores. O rei quis então ver o que ela realmente levava no avental. A rainha abriu-o, e surgiram belas e odoríferas rosas.
Dedicação heróica por ocasião da morte do rei
Estando o rei enfermo, desejou ir de Lisboa a Santarém, para mudar de clima. Na viagem, aumentou-lhe muito a febre. Isabel apressou-se em mandar avisar o filho. Ao chegar com o rei em Santarém, não o abandonou mais dia e noite, dele cuidando com suas próprias mãos. Estudava os momentos favoráveis para falar-lhe de Deus, do rigor do julgamento divino, do horror aos pecados, da compunção com que se deve detestá-los e da pureza de consciência com que se deve apresentar diante de Deus. Ao mesmo tempo, distribuía muitas esmolas na intenção do soberano e mandava rezar orações especiais em todo o reino por ele.
Após a morte de D. Dinis, a 6 de janeiro de 1325, a rainha depôs as vestes reais, cortou o cabelo e vestiu um simples hábito da Ordem Terceira de São Francisco. Depois de procurar por todos os meios o sufrágio da alma do falecido rei, entregou-se de corpo e alma ao cuidado dos pobres e enfermos nos hospitais e demais obras de misericórdia. Sendo ela rainha, fazia-o com particular elevação de alma e eficácia.
Nesse mesmo ano, fez uma peregrinação a Santiago de Compostela pelo eterno repouso do marido, e lá deixou sua coroa, jóias, vestes reais e muitos outros dons de grande valor.
A santa rainha faleceu no dia 4 de julho de 1336, aos 65 anos. Junto a seu túmulo multiplicaram-se os milagres. Entretanto Isabel só seria beatificada em 1516 e canonizada em 1625. Nessa ocasião, quando abriram o túmulo, encontraram seu corpo incorrupto, apesar de já terem transcorrido quase trezentos anos de sua morte.
E-mail do autor: pmsolimeo@catolicismo.com.br
Obras consultadas:
Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo 8o., pp. 33 e ss.
Pe. Ribadaneira, Flos Sanctorum, in Dr. Eduardo Maria Villarasa, La Leyenda de Oro, L. González & Compañía, 1897, Barcelona, tomo 3º., pp. 47 e ss.
Edelvives, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S. A., Saragoça, 1948, tomo IV, pp. 81 e ss.
Fr. Justo Perez de Urbel, O.S.B., Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo III, pp. 66 e ss.
Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A.O., Braga, 1998, tomo II, pp. 375 e ss.
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