sábado, 26 de dezembro de 2009

Da devoção ao Natal do Senhor e como queria que todos, então, fossem servidos nessa ocasião

Celebrava com inefável alegria, mais que todas as outras solenidades, a Natividade do Menino Jesus, afirmando que era a festa das festas, em que Deus, feito um menino pobrezinho, dependeu de peitos humanos. Beijava em pensamento, e como esfomeado, as imagens desses membros infantis, e o coração liquefeito em compaixão pelo Menino o fazia balbuciar doces palavras como uma criancinha. Para ele, esse nome era como um favo de mel na boca.
Certa vez em que os frades discutiam se podiam comer carne porque era uma sexta-feira, disse a frei Morico: "Irmão, cometes um pecado chamado sexta-feira (dia de Vênus) o dia em que o Menino nasceu para nós. Quero que nesse dia até as paredes comam carne. Se não podem, sejam esfregadas com carne pelo menos por fora!".
Queria que, nesse dia, os pobres e os esfomeados fossem saciados pelos ricos, e que se concedesse ração e feno mais abundante que de costume aos bois e aos burros. Até disse: "Se eu pudesse falar com o imperador, pediria que promulgasse essa lei universal: que todos que pudessem, jogassem pelas ruas trigo e outros grãos para que nesse dia tão solene estejam na abundância até os passarinhos, e principalmente as irmãs cotovias".
Não podia recordar, sem chorar até as lágrimas, toda a penúria de que esteve cercada nesse dia a pobrezinha da Virgem. Num dia em que estava sentado a almoçar, um dos frades recordou a pobreza da Virgem Bem-aventurada, realçando as privações de Cristo, seu Filho. Ele se levantou imediatamente da mesa, soltou dolorosos soluços e comeu o resto de pão no chão nu, banhado em lágrimas. Dizia que a pobreza era uma virtude real, pois brilhava de maneira tão significativa no Rei e na Rainha.
Quando os frades lhe perguntaram, numa reunião, que virtude faz alguém mais amigo de Cristo, respondeu, como quem abrisse o segredo de seu coração: "Ficai sabendo, filhos, que a pobreza é o caminho especial da salvação, e que seu fruto é múltiplo e conhecidíssimo por poucos".
(2C 151, 199-200)

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