sexta-feira, 17 de abril de 2009

O amargo que se torna doce

"Assim pois, quando ainda no hábito secular, nutria um ânimo religioso; e, procurando mais os lugares solitários que os públicos, era frequentemente exortado pela visita do Espírito Santo. Aquela doçura originária o atraía e o arrebatava de modo tão transbordante que desde o início nunca mais o abandonou durante toda a vida. Mas quando frequentava lugares escondidos, por serem mais convenientes para as orações, o demônio tentava afastá-lo violentamente dessas iniciativas com sua astúcia maligna. Incutiu-lhe no coração a imagem de uma mulher monstruosamente corcunda, que morava em sua cidade e que para todos apresentava um aspecto horroroso. Ameaçava-o torná-lo igual a ela se não desistisse daquelas iniciativas. Mas, confortado pelo Senhor, teve a alegria de uma resposta de salvação e de graça: 'Ó Francisco', disse-lhe Deus em espírito, 'agora que já estás transformado pela apreciação das coisas espirituais no lugar das carnais e vãs, se quiseres me conhecer prefere as coisas amargas às doces, despreza a ti mesmo. Pois, as coisas que te digo, por uma inversão, te parecerão saborosas'. Sentiu-se imediatamente impelido a obedecer às ordens divinas e conduzido a fazer essa experiência.


Dentre todas as coisas monstruosas desgraças do mundo, Francisco sentia um horror natural pelos leprosos. Certo dia, cavalgando perto de Assis, encontrou-se com um deles. Mas, embora fosse assaltado por um grande desgosto e horror, para não quebrar o juramento de fidelidade, como quem transgride uma ordem dada, apeou e correu para beijá-lo. Quando o leproso lhe estendeu a mão, como que para receber alguma coisa, recebeu dinheiro com um beijo. Montando logo no cavalo e olhando para cá e para lá, apesar de estar em campo aberto e livre de qualquer obstáculo, não viu mais o leproso. Cheio de admiração e de alegria por causa disso, poucos dias depois, tratou de fazer algo semelhante. Dirigiu-se para onde moravam os leprosos, deu dinheiro a cada um deles e beijou-lhes a mão e a boca. Foi assim que assumiu o amargo no lugar do doce, preparando-se corajosamente para observar os demais propósitos." (Segunda Vida e São Francisco segundo Celano; 5,1-15)

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